Bruno Braga.
É preciso pensar sobre a relevância de uma "reflexão ética" no interior dos paradigmas da técnica e do prazer – modelos que regem a vida cotidiana na contemporaneidade. Não se trata de exorcizar a busca por satisfação, ou o gozo; nem mesmo de condenar a utilização dos sofisticados aparatos tecnológicos. Tanto o prazer, como o usufruto de mecanismos que facilitam atividades rotineiras, que eliminam determinados inconvenientes da existência, são benefícios incontestáveis. No entanto, são elementos que, sozinhos, não preenchem completamente a vida, como se esforça a "propaganda" para persuadir, de forma apelativa. Um domínio reduzido a maquinarias, e indivíduos que simplesmente operam estas tecnologias, é, de forma paradoxal, estéril: porque, se produz instrumentos em escalas cada vez maiores, não fecunda a dimensão interior e subjetiva de seus operadores, atrofiada e repreendida pela execução robotizada de tarefas mecânicas. Por sua vez, um ambiente habitado por pessoas preocupadas apenas com o gozo estaria marcado: por um lado, pelo conflito generalizado, já que todos buscariam, de forma desmedida, a satisfação de seus desejos particulares; por outro, pelo profundo entorpecimento dos capazes de satisfazerem imediatamente seus desejos, atormentado pelo tédio, e alheios à presença do "outro". Ocorre que, embora o egoísmo seja algo "congênito", e por isso cada indivíduo permanece preso ao seu próprio mundo, o particular está interligado por uma "teia" de relações a "outros" semelhantes, às coisas, ao mundo, além de situar-se na história.
Sob as duas perspectivas mencionadas - a de um domínio simplesmente técnico, e a caracterizada pela busca cega por prazer - em ambas, seja considerado na relação consigo mesmo, ou na interligação com o mundo, o indivíduo aparece cindido: não apenas o externo, o "outro", lhe é estranho, mas, para si mesmo, é um desconhecido. Esta sensação de "estranhamento" pode ser uma abertura para o esforço de "compreensão" angustiado: "o que sou?"; "por que sou assim?"; "qual a razão destes eventos, destas fatalidades?"; "como devo agir?"; "o que devo esperar?" – questões clássicas entre as ponderações filosóficas. No entanto, não são problemas restritos às altas elucubrações dos pensadores catedráticos, e perpassam sim, independentemente da sofisticação conceitual, a mente de qualquer pessoa. Esta obscuridade estimula, no interior do próprio indivíduo, uma tentativa de "compreensão" de si e do mundo, do seu interior sombrio e o "outro" estranho. Seria este, então, o domínio da "reflexão ética", enquanto o intermediador entre a individualidade e a exterioridade. Ocorre que este tipo de "reflexão" não oferta fórmulas certas e fáceis para um enigma que parece indecifrável, mas se faz no "esforço" de "compreensão" intelectual para agir no mundo – entender as dimensões da "realização", da "satisfação", do viver "com-o-outro", "conviver". Algo que o maquinário tecnológico e a busca desenfreada por prazer não respondem.
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