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Wednesday, May 24, 2017

2017: o ano de centenários históricos e sua relação com a Maçonaria.

Manuel Guerra.
Tradução. Bruno Braga.


No ano de 2017 coincidem uma série de centenários de primeiríssima categoria: o primeiro da revolução marxista comunista na Rússia (outubro, 2017) das aparições da Virgem Maria em Fátima (maio-outubro, 1917); o terceiro da fundação da Maçonaria (junho, 1717); e o quinto do "protesto" de Lutero (1517), origem do "protestantismo". São quatro acontecimentos relacionados de alguma forma entre si mediante sua conexão com a Maçonaria.

Acaba de sair a edição digital e impressa do meu livro "El árbol masónico. Trastienda y escaparate del Nuevo Orden Mundial" (Digital Reasons, Madrid, 2017, 498 pp.). Dada a importância e atualidade de sua temática, brindo o leitor com o seu primeiro capítulo como um aperitivo.


1. O primeiro centenário do triunfo da revolução bolchevique.

O triunfo da Revolução de Outubro (1917) permitiu que os bolcheviques assumissem o poder na Rússia em novembro desse mesmo ano. Contribuiu de forma eficaz com esse triunfo, entre outros fatores, o apoio que os maçons dos governos ocidentais deram a Kérensky, deputado socialista, presidente do governo provisório antes de Lenin, Grão-mestre do Grande Oriente Russo e secretário do Supremo Conselho Maçônico da Rússia. Na revolução de fevereiro de 1917, todos os ministros de seu governo eram maçons, menos um. O maçom Pavel Milykov, ministro de Assuntos Exteriores do governo provisório, admite em suas "Memórias" que o golpe de Estado de 1917 foi um complô maçônico.

Influenciou também a condição maçônica de Trotski e a do pintor Frederic (Fred) Zeller, Grão-mestre do Grande Oriente da França (1971-1973), secretário de Trotski exilado na Noruega (1935), assim como a de Stepanov Skvotsov, fiel companheiro, e a de Lenin mesmo, comunista e fundador da "Ur-Lodge" ou "superloja" supranacional Joseph Maistre. Influenciou ainda, desde finais do século XIX, o financiamento dos empréstimos à Rússia, concedidos pelos bancos ocidentais que estavam nas mãos de judeus e maçons, como Rothschild e Kuhn Loeb, Morgan, e Rockefeller à frente.

Poucos anos mais tarde, o ponto 22 (III Internacional, 1919), ou seja, o das condições requeridas para que um partido socialista fosse comunista, exige a eleição entre ser "irmão" (maçom) ou "camarada" (comunista), dada a incompatibilidade entre a foice e o martelo e o esquadro e o compasso. Até que Lenin o revelasse na IV Internacional (Moscou, dezembro de 1922), o ponto 22 foi mantido em segredo para não gerar inimizade com os banqueiros ocidentais que, em grande medida, financiaram a Revolução Russa. Ademais, Moscou advertiu que um comunista ocultar a sua filiação à Maçonaria seria considerado como a infiltração de um agente inimigo no partido, e significaria sua ignomínia diante do proletário, linguagem retórica que, na União Soviética, seria traduzida por torturas e mortes. Ludovico-Óscar Frossard, maçom e primeiro secretário do Partido comunista francês, abandonou o Partido e o posto de secretário geral do mesmo (janeiro, 1923). Em 1937, passou a "adormecido" de sua loja em Paris provavelmente por influência de seu filho Andrés, convertido à fé católica em 1925, aos 20 anos, autor, entre outros bestsellers, "Dios existe. Yo me lo encontré" (Rialp, Madrid, 1970). Mas "o comunismo é somente uma etapa, não um fim", proclama o Grande Oriente da França em sua revista oficial "Bulletín du Grand Orient de France" (n. 43, janeiro-fevereiro, 1964). Uma vez desaparecido o marxismo comunista russo, será o tempo da Nova Ordem Mundial maçônica e democrática.

2. O quinto centenário do "protesto" de Lutero, origem do protestantismo.

O protestantismo fez-se de dobradiça no plano teológico ou religioso entre o teocentrismo / cristocentrismo medieval e o antropocentrismo / egocentrismo da modernidade. Durante a Idade Média o homem e o seu entorno sócio-cultural gravitavam ao redor de Deus e de Jesus Cristo; a partir do protestantismo giram em torno do homem e do eu, da subjetividade. Com razão Mons. Ernest Jouin, fundador e diretor da revista "Revue Internationale des Societès secrétes" (1912-1939), cataloga a Maçonaria como "filha da Reforma" e o ex-maçom Jean Marquès-Rivière a define como "um protestantismo laicista". Avalie, ademais, o fato de que, na aurora da maçonaria moderna, as quatro lojas de Londres, unificadas em 1717, estavam dirigidas por pastores protestantes e que, dois deles, Anderson e Désaguliers, elaboraram e redigiram as Constituições maçônicas, promulgadas já em 1723 (seis anos depois da fundação da Maçonaria moderna ou atual) e aceitas praticamente por todas as Obediências ou ramos da Maçonaria que existiam e existem hoje. 

"A Maçonaria nunca foi revolucionária e subversiva nos países protestantes. Pelo contrário, apóia o protestantismo na Prússia, Inglaterra e nos Países Baixos para lutar e destruir as nações católicas como a França. A Maçonaria se serviu do protestantismo, mas jamais foi anti-protestante. A Maçonaria é doutrinalmente próxima do protestantismo, embora tenha estado sempre em oposição total ao dogma católico e ao bastião da moral e dos bons princípios que é a Igreja Católica de Jesus Cristo (J. Livernette, pp. 68-69).

No dia 31 de outubro de 1517, o monge agostiniano Martinho Lutero (1483-1546) cravava suas 91 teses na porta da igreja do Palácio de Wittenberg, gesto que simbolizava o "protesto" e rebelião de Lutero frente a Roma e a origem do "protestantismo". Portanto, em 2017 se "comemora" o seu quinto centenário, não se "festeja", pois - pelo menos por parte dos católicos - não é possível celebrar festivamente uma ruptura tão dolorosa e a quebra da cristandade. 

3. O primeiro centenário das aparições da Virgem de Fátima.

É de conhecimento de todos que as aparições da Virgem em Fátima aconteceram do dia 13 de maio a 13 de outubro de 1917. Mas nem todos conhecem a intervenção da Maçonaria, sua oposição às aparições e sua perseguição contra os três videntes (cf. M. F. Sousa e Silva "Los pastorcitos de Fátima, HomoLegens, Madrid, 2008. pp. 211-234). Os três videntes: Francisco (11.06.1908 - 04.04.1919), sua irmã Jacinta (11.03.1910 - 20.02.1920) e a prima de ambos, Lúcia (28.03.1907 - 13.02.2005), nasceram em Aljustrel, aldeia situada a três quilômetros de distância da Cova de Iria, lugar da maioria das aparições, onde está agora a capelinha das aparições.

3.1. A Maçonaria contra as aparições da Virgem em Fátima e contra seus videntes.

As revoluções portuguesas de 1910 a 1921 foram organizadas sob a direção da Maçonaria e dos Carbonários (H. Webster). Entre os dirigentes da nova e sectária República se destacou Magalhães de Lima, Grão-mestre do Grande Oriente de Portugal. Ele foi convidado para o congresso internacional das Obediências maçônicas dos países aliados e neutros, comemorativo ao segundo centenário de fundação da Maçonaria, celebrado em Paris (28-30 de junho de 1917). No dia 13 de maio do mesmo ano de 1917, exatamente a data da primeira aparição da Virgem em Fátima, Magalhães Lima declarou: "a vitória dos aliados deve ser o triunfo dos princípios maçônicos ("Neue Zürcher Nachrichten, 28 de julho de 1917, n. 206). O marechal Ferdinand Foch, Chefe dos exércitos aliados, em 1918, depois de ler o tratado de paz, limitou-se a dizer: "Isto não é a paz, mas um armistício de 20 anos". Exatamente 20 anos depois, uma aurora boreal, a anunciada pela Virgem em Fátima, preludiou o começo da Segunda Guerra Mundial.

É do conhecimento de todos o empenho das autoridades portuguesas, iniciadas na Maçonaria, para apagar as aparições da Virgem Maria em Fátima, chegando inclusive à tortura psíquica dos videntes para que eles revelassem "o segredo", sem consegui-lo. Se não interveio pessoalmente, Magalhães foi informado por Artur Oliveira Santos, administrador e presidente do ajuntamento de Ourém, substituto do Juiz da Comarca, membro da loja de Leiria desde os seus 26 anos de idade, fundador de um "Triângulo" maçônico na sede do ajuntamento e do periódico "O Ouremse". Oliveira Santos foi o responsável pelas ameaças horrorosas, interrogatórios, encarceramento das três crianças videntes com presos comuns depois de tê-los raptado. Por causa dele os videntes não puderam estar no dia 13 de agosto no local das aparições, onde se concentrou mais de 18.000 pessoas. Nos seus informes de 1925 e 1955, Oliveira Santos mente de forma reiterada. Disse que, durante a estada dos videntes na Vila Nova de Ourém, não os "ameaçou ou intimidou, não os encarcerou nem os deixou incomunicáveis", e que "não sofreram a menor pressão ou violência". Mais até, no dia primeiro de dezembro desse ano de 1917, promovido pelos maçons, celebraram o "Congresso de propaganda e protesto contra as agitações clericais", precisamente em Fátima, aldeia então insignificante e desconhecida. Mesmo depois do Milagre do Sol (13 de outubro), os maçons portugueses consideraram as aparições da Virgem como meros truques e manipulações dos clérigos. O Congresso foi um fracasso manifesto.

3.2. A Virgem acertou em suas previsões proféticas.

As profecias da Virgem em Fátima, já realizadas, contradizem os pregadores da morte de Deus e da providência divina. A irmã Lúcia, quatro anos depois das aparições de Fátima, ingressou em 1921 no colégio das Irmãs Doroteias, em Vilar (perto de Porto) com 14 anos de idade. Em 1925, muda-se para o convento da mesma ordem em Tui (Pontevedra, Espanha) e, pouco depois, no mesmo ano de 1925, quando completou 18 anos de idade, para a mesma ordem na cidade de Pontevedra com o nome de Irmã Dolores. Em 1946, retorna a Portugal e, em 1948, ingressa no Carmelo de Santa Teresa de Coimbra, convento de clausura, no qual faz profissão religiosa com votos. Prescindamos agora de se já foram revelados todos os segredos apresentados pela Virgem à Irmã Lúcia durante sua estada fora da casa paterna, especialmente nos anos 1925-1926, já em Pontevedra.

Franklin Delano Roosevelt a princípio está de acordo: "em política nada acontece por acaso. Sempre que há um acontecimento, pode estar certo de que foi previsto para que fosse realizado desse modo". Franklin D. Roosevelt era presidente dos Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial, maçom, grau 33o. e conhecedor das manobras das sociedades secretas econômicas e ideológicas. Evidentemente, ele não se refere à Providência Divina. O Grande Arquiteto do Universo da Maçonaria, é algo mais que um nome, é um conceito deísta, ou seja, o divino que "põe em marcha o relógio do universo" (Voltaire), um relógio que não precisa que lhe deem corda, pois não intervém nem na vida das pessoas nem na história dos povos.

4. A Maçonaria celebra os seus centenários.

É lógico que a Maçonaria, como qualquer outra instituição, celebre os seus centenários. Evidentemente, como é uma associação secreta, não publica o programa de atos, mas algo se chega a saber com o passar do tempo, às vezes é possível entrever, intuir algo antes de sua celebração.

4.1. O segundo centenário da fundação da Maçonaria (1917).

De acordo com a opinião geral, o nascimento da Maçonaria especulativa ou moderna foi em 24 de junho de 1717. De 28 a 30 de junho de 1917 - segundo centenário - não aconteceu nada digno de menção na vanguarda ou nas frentes de batalha; somente o ordinário da Primeira Guerra Mundial. Mas, na retaguarda, em Paris, se estava celebrando um congresso internacional das Obediências maçônicas dos países aliados e neutros. No discurso inaugural, seu presidente centrou as deliberações em dois temas: o Tratado de Paz e a Sociedade de Nações. O congresso anunciou suas conclusões em treze pontos ou propostas. Woodrow Wilson, um dos presidentes maçons dos Estados Unidos, adotou basicamente esses treze pontos, aos quais acrescentou o último de seus famosos "Quatorze pontos". Nele, anunciou "a criação da Sociedade das Nações" [N.T. conhecida também como Liga das Nações], que foi chamada "criatura da Maçonaria" (Epiphanius), um "Super-Estado maçônico" (Léon de Poncins). A Sociedade das Nações foi dissolvida em abril de 1946 e seus bens foram transferidos para a recém-criada ONU. 

4.2. Como a Maçonaria celebra o seu terceiro centenário (2017)?

Estou ciente de que os maçons reagirão como se estivesse impulsionados por uma mola: não se pode falar sobre "a Maçonaria", pois ela não é um bloco homogêneo. É o que faz o maçom francês Jean-Claude Féraud-Garganti no texto que enviou ao Papa Francisco em 08 de março de 2016 (cf. os artigos na internet "¿Es posible y aconsejable el diálogo entre católicos y masones?" e "Algunos objetivos de la masonería en la celebración del su tercer centenario" em [https://infovaticana.com/blogs/manuel-guerra]). Se é assim, não se poderia falar de nenhuma abstração ou idéia universal como "o homem", "a laranja", nem sobre alguma outra realidade ou idéia universal. Como será visto, os diversos ramos ("Obediências", "Potências" em seu léxico) da árvore maçônica coincidem nas suas raízes, no tronco e na seiva. São muito mais homogêneas do que às vezes se pensa, se diz e até se escreve.

4.2.1. A transformação da sociedade: de religiosa e cristã a maçônica.

Então, depois de trezentos anos de atividade silenciosa, secreta, a Maçonaria está conseguindo transformar o ambiente sociocultural dos países tradicionalmente cristãos, a saber, os ocidentais (Europa, América) e os ocidentalizados (Filipinas, Austrália, etc.), que estão - em grande parte - deixando de ser cristãos e fazendo-se relativistas, laicistas, gnósticos, dominados por uma nova ética sexual, etc., ou seja, maçônicos. Já em 1964, Yves Marsaudon, maçom grau 33o, membro do Conselho Supremo maçônico da França, sentenciou: "podemos afirmar que a Europa se fez maçônica" ("L'Oecumenisme vu par un franc-maçon de tradition". Vitiano: Paris, 1964. p. 25. Prólogo de Charles Riandey, maçom grau 33o). E agora ela se estenderia da Europa ao mundo ocidental, e inclusive a toda a Terra ou humanidade. É a Nova Ordem Mundial.

4.2.2. A imposição do comum a todas as religiões.

Mais a longo prazo, a Maçonaria aspira impor o laicismo a todos os países, ou seja, o comum a todas as religiões e a todas as éticas, restando as religiões tradicionalmente existentes e suas éticas específicas condenadas a uma espécie de prisão domiciliar, isto é, reclusas no foro da consciência individual e dentro de seus templos. Este é um programa em grande parte já realizado, especialmente nos países tradicionalmente cristãos, como se verá. 

4.2.3. A anulação e o enfraquecimento do principal bastião, que até agora tem resistido às investidas maçônicas.

A julgar por vários sintomas e algumas manifestações, com a ocasião do terceiro centenário de sua fundação, entre outros objetivos a Maçonaria aspira eliminar o obstáculo, talvez o único consistente e resistente até agora, que freia o transbordamento maçônico e a consequente inundação e a impregnação de todos os setores e estratos da sociedade e da humanidade. Refiro-me à Igreja Católica na sua unidade interna e na sua recusa dos princípios maçônicos. A Maçonaria pretende consegui-lo mediante a instauração do diálogo oficial entre a Igreja e a Maçonaria, assim como por meio da anulação da Declaração sobre as associações maçônicas, promulgada em 1983 pela Congregação para a Doutrina da Fé com a aprovação de São João Paulo II.

4.2.4. "Reconhecimento da Honra da Maçonaria".

No dia 06 de dezembro de 2016, Dia da Constituição Espanhola, a Grande Loja da Espanha iniciou uma campanha de recolhimento de assinaturas em favor do "Reconhecimento da Honra da Maçonaria" com o lema "Orgulho de ser maçom". Com um mês foram recolhidas 2.625 assinaturas em uma carta dirigida às "instituições democráticas espanholas, das Cortes ao menor dos Ajuntamentos" e "às pessoas de boa vontade". Surpreende-me o número tão baixo de adesões. Somente de maçons espanhóis há muito mais assinaturas. É de supor que, ao final, contabilizarão também assinaturas de maçons de seis idiomas não hispânicos, nos quais está redigido o núcleo do documento.

Eis aqui o núcleo da carta, escrita em espanhol, basco, galego, inglês, francês, italiano, alemão, português e árabe: "Em 2017 a Maçonaria em todo o mundo comemora o tricentenário dos seus ideais fraternos de pensamento livre e tolerância fraterna entre todos os seres humanos. Através desta declaração institucional juntamos-nos ao reconhecimento da honorabilidade destes princípios com o desejo de ver, no século XXI, o dia em que pare o sofrimento daqueles que ainda hoje suportam a perseguição, sanções, condenações penais, exílio, ou são executados por razão da defesa da Maçonaria e dos seus ideais profundamente democráticos".

A carta aponta aqueles contra os quais se opõe: "Todos os fundamentalismos religiosos, todos os totalitarismos políticos, todos os pensamentos únicos conhecidos pelo mundo tem perseguido os ideais de uma instituição que hoje segue estando severamente ameaçada em 23 países".

Neste contexto, o que se entende por "pensamento único"? O relativismo maçônico afirma a igualdade de todas as religiões, de todas as crenças e ideologias, menos a "oficial, politicamente correta", que é "a verdade", a "verdadeira" em cada época, agora a relativista, laicista, naturalista e livre-pensadora, ou seja, a maçônica. Isso não é "pensamento único", embora circunstancial ou de época? Os maçons dão a palavra e têm dado por escrito a resposta afirmativa para essa pergunta. Por exemplo, Armando Corona, ex-Grão-Mestre do Grande Oriente da Itália: "eis aqui o princípio maçônico fundamental: 'não existe uma única religião para alcançar a salvação'", embora "a Igreja Católica tenha dogmas e considera-se a única religião verdadeira" ("30 Giorni" 10, 12, dic., 1992, 50). Pensar que algumas crenças religiosas, políticas, etc. - as suas - são a verdade, se é coerente, afirmará, por exemplo, que a sua religião é a verdadeira. Mas este, como todos os demais "pensamentos únicos", é compatível com a tolerância que respeite os diferentes, ao menos porque o ser humano está dotado de uma dignidade básica, ontológica e teológica, vigente ainda que haja adesão ao erro e ao mal. A Igreja Católica sempre ensinou que é preciso condenar o pecado e perdoar, acolher misericordiosamente o pecador. Em nossos dias parece às vezes que pensa de modo distinto e até contrário.

4.2.5. A "bondade" da Maçonaria e o já "anacrônico" e superado confronto entre a Maçonaria e a Igreja Católica?

A lula, quando se sente em perigo, lança uma espécie de tinta que a esconde, confunde e desorienta os seus perseguidores. A Maçonaria semeou a confusão à sua volta de várias maneiras. Primeiro, por meio do "segredo" - "discrição", chamam eles - e por meio de organizações ainda mais secretas quanto a sua existência e atividades (fraternidades maçônicas [1], organizações de fachada [2], "Ur-Lodges" ou "superlojas" [3]). Segundo, proclamando de forma simples e natural as bondades da Maçonaria, que os documentos maçônicos destinados ao público e as publicações de autores maçons definem como associação filantrópica e iniciática. Enfim, é a insistência de que a incompatibilidade e até confronto entre a Maçonaria e a Igreja Católica, se houve, é coisa do passado, algo já superada ou que, se existe algum resíduo dessa realidade já anacrônica, se dá em Obediências ou ramos maçônicos sem importância pelo escasso número de seus membros ou, evidentemente, não na Obediência do maçom com quem se está falando. Ademais, a experiência ensina que os maçons, em sua maioria, caracterizam-se por sua suavidade, pela delicadeza e serenidade no trato, enquanto os católicos, talvez mais os clérigos, mostramo-nos com um grau notável de insegurança por causa do desconhecimento da complexa realidade maçônica e certa ingenuidade, possivelmente por indisposição, quase conatural para supor duplicidade nos interlocutores e para mover-nos na suspeita. Por fim, quantos não-maçons são conscientes de que o Rito em que "trabalham" os membros de uma loja e Obediência é tanto ou mais importante e influente que a Obediência mesma em que foi iniciado?

O Papa Leão XIII, autor do documento pontifício mais importante sobre a Maçonaria, chamada de "seita maçônica" por ele, recorda que vários de seus predecessores a condenaram; menciona expressamente Clemente XII (1738), Bento XIV, Pio VII ("os maçons se apresentam como cordeiros, mas não são senão lobos vorazes", Encíclica "Ecclesiam a Iesu", 13 de setembro de 1821), Leão XII, Pio VIII, Gregório XVI e Pio IX. E falaram repetidas vezes, "por certo sempre no mesmo sentido", porque uma e outra vez se estava difundindo o boato de que a condenação tinha sido extinta ou que, pelo menos, já não havia motivo para semelhante condenação ("Humanum genus", n. 4, 1884), como se a incompatibilidade entre a Maçonaria e a Igreja Católica ou a impossibilidade do duplo pertencimento (maçom e católico) dependesse de determinadas circunstâncias socioculturais e históricas, não da "inconciliabilidade dos princípios maçônicos e a doutrina cristã".


NOTAS.

[1]. Lojas de "irmãos" ("frater", em latim) ou maçons da mesma profissão (todos políticos, todos médicos, juízes, jornalistas, etc.), embora não necessariamente da mesma Obediência, ramo maçônico ou do mesmo rito. Têm por objetivo a ajuda mutua e a influência sobre a sociedade.

[2]. Seus membros são todos maçons, embora de profissões diferentes. Seus diretores são maçons geralmente não conhecidos  como tal ou não-maçons, mas identificados com o ideário e os projetos da Maçonaria, por exemplo: a "Institución Libre de Enseñanza", Europa Laica. 

[3]. Termo que está atualmente em moda, híbrido do inglês "Lodge" (s), "loja" (s) e do alemão "Ur" = "originário, primordial, autêntico"; no alemão, tem a virtualidade de ser convertido em uma espécie de superlativo ao substantivo ao qual está ligado, por exemplo: "alt"  = "antigo", Ur-alt = "muito, muito antigo). Daí "Alta Idade Média". "Ur-Lodge" (s) pode ser traduzido por "superloja" (s). São lojas maçônicas autocéfalas, autônomas, supranacionais, integradas por maçons de personalidade eminente no seu âmbito (político, financeiro, midiático, etc.), pode-se afirmar que os políticos ocidentais, também os espanhóis e hispanos, que estão substituindo o paradigma cristão pelo maçônico (laicismo, relativismo, divórcio, aborto, matrimônio homossexual, ideologia de gênero, etc.) pertencem a uma ou mais dessas superlojas.

Por outra parte, para semear a confusão, os maçons se servem de católicos, especialmente de clérigos - quanto mais elevado na hierarquia da Igreja, melhor e mais eficazes - que são maçons ou filo-maçônicos. Por isso, é lógica a significativa reação dos maçons, e inclusive de alguns pouco religiosos e Bispos, ante a restrição indicada na conclusão da Declaração sobre as associações maçônicas da Congregação para a Doutrina da Fé (1983), embora seja uma excelente forma de prudência e unidade pastoral: "Não compete às autoridades eclesiásticas locais pronunciarem-se sobre a natureza das associações maçônicas com um juízo que implique derrogação de quanto foi acima estabelecido". 

Seguramente, dentro de poucos anos serão conhecidos os objetivos e projetos das distintas Obediências ou ramos maçônicos programados por conta da celebração do terceiro centenário da fundação da Maçonaria, assim como o grau de sua realização.

Saturday, May 06, 2017

Feminismo: uma entrevista para o IESB.

Bruno Braga.


Entrevista concedida para o "Projeto Integrador", promovido por estudantes de jornalismo do Instituto de Ensino Superior de Brasília (IESB). 


1 - Qual a sua opinião sobre feminismo? Você acha que a causa existe? Que é importante?

Para emitir uma opinião sobre o feminismo seria necessário "depurá-lo". Não se trata aqui de me esquivar da pergunta. Porém, o "feminismo" não é um movimento homogêneo. Nele existem grupos com interesses meramente políticos. Tem os que o utilizam apenas como um meio eficiente de propaganda e auto-promoção. Existem as organizações que desenvolvem projetos de engenharia social e comportamental a partir de um conceito de "feminino" totalmente esvaziado - como os que se promovem com as reivindicações de "gênero". Enfim, nesta mistura toda, quais agentes e grupos têm uma preocupação genuína com a mulher? "Mulher" no sentido próprio e natural do termo. 

2 - Você acha que o Brasil é um país machista? 

Penso que para constatar o "machismo" é necessário verificar cada ocorrência particular. Uma por uma, sobretudo numa cultura já saturada de estereótipos que tornam as pessoas "hipersensíveis" a qualquer diferença ou contrariedade. Portanto, não é possível dizer se "o Brasil" é um país "machista", uma vez que ele não é sequer um agente. 

3 - Na sua opinião os homens são tratados ou/e se comportam como superiores (socialmente, sexualmente, politicamente, economicamente...) perante as mulheres?

Existem sim homens que têm tal comportamento. Contudo, não é possível afirmar que "os" homens são assim. Observo mais uma vez a necessidade de sempre verificar a ocorrência particular, e não estabelecer uma análise a partir de generalizações.

4 - De acordo com dados, mulheres são vítimas de estupro e agressões físicas, verbais e psicológicas diariamente. Na sua opinião, isso ocorre devido a um machismo enraizado na sociedade?

Quais são os dados? Os dados às vezes não contribuem para a emissão de um juízo. Um exemplo mesmo é o estupro. Tratava-se de um crime objetivamente definido, que para ser caracterizado deveria haver a consumação de uma conjunção carnal. Hoje, uma série de iniciativas e atos bastariam para constatá-lo. Uma mudança que faz inchar as estatísticas e que acaba não descrevendo propriamente a realidade. É preciso lembrar que as pesquisas sobre estupro já foram objeto de polêmica, uma vez que apresentaram cenários falseados. A "agressão psicológica" também apresenta dificuldades, pois nela não há nenhum critério que a defina de forma objetiva, de modo que toda e qualquer contrariedade possa ser caracterizada como "agressão psicológica". 

5 - O cenário atual de violência, assédio e feminicídio tem influência do passado? Quanto da história é refletido nos dias atuais?

A pergunta pressupõe que existe de fato um "feminicídio". Porém, é necessário fazer uma pergunta simples: em quantos casos o assassino investiu na morte da vítima por ela ser mulher? Eu me arrisco a dizer que dificilmente será encontrado um episódio assim, de modo que o tal "feminicídio" é totalmente superestimado. Portanto, se os métodos, critérios e termos não são capazes de descrever sequer a realidade atual, seria muita pretensão querer investigar as causas remotas na "história". Ademais, a investigação de um crime se dá no âmbito de suas motivações imediatas.   

6 - Pesquisas também apontam diferenças de salários em cargos iguais. Nesta situação ocorre de homens ganharem uma quantia maior do que as mulheres. A causa disso seria o machismo? Se não, o que você acha que pode causar essa diferenciação?

Penso que a questão da diferença salarial é um falso problema. Porque há uma série de outros fatores que definem essa diferença, como a experiência, o tempo de trabalho, o nível da formação, as habilidades específicas, os planos de carreira e quadros de promoção, o que não impede inclusive de existir diferenças salariais entre as próprias mulheres e de permitir que mulheres ganhem mais que homens.

7- Se sua namorada/ esposa/ parceira (caso você seja heterossexual) ganhasse mais do que você, quisesse sair sozinha, usasse roupa curta, entre outros comportamentos que podem ser considerados "modernos’’... Qual seria sua postura em relação a isso? 

No meu caso seria a minha esposa - e não haveria nenhum problema se ela tivesse um salário maior que o meu. Porém, usar "roupa curta" e certos comportamentos ditos "modernos" são incompatíveis com a condição de esposa. Mais que isso, afetam a condição de pessoa - por exemplo, a própria "roupa curta", que transforma a mulher em objeto, tanto de desejo quanto de sedução.

8 - Você acha que pesando na balança, o movimento feminista causa mais malefício e atraso para a sociedade do que benefícios e evolução? 

O que posso dizer é que o movimento feminista que tem voz, meios de ação e força política está se esforçando para fazer o impossível: substituir a natureza da mulher por uma ideologia, a realidade material e biológica por conceitos e ideais. O resultado disso, parece nítido no debate público e no ambiente cultural, é a histeria, a hipersensibilidade e uma relação conflituosa não só com os homens mas com elas mesmas.  

9 - Você se imagina em um relacionamento com uma mulher militante do movimento feminista? Seria um problema? 

Não, não me imagino. Primeiro, porque eu não saberia estabelecer o que a militante feminista entende por ser mulher. E depois, seria preciso saber o que ela entende por ser "homem", e se ela se relacionaria comigo como tal - o que acho bastante difícil. 

10 - A mulher tem um papel na sociedade? Qual seria esse papel?

Seria necessário perguntar a cada mulher qual ela entende ser o seu papel na sociedade. Eu me casei com uma que tem o seu trabalho profissional e quis comigo constituir uma família.

11 - Nos dias de hoje onde vários assuntos e questões sociais são problematizados, debatidos e tem uma repercussão imensa, as mulheres se vitimizam em relação a assédio sexual?

Como disse anteriormente, é necessário verificar as ocorrências particulares seriamente e, daí, ter subsídios para afirmar se houve vitimização ou assédio sexual efetivo.

12- Qual sua opinião a respeito de manifestações e marchas feministas? 

Não são protestos espontâneos de mulheres. São manifestações organizadas por agentes e grupos com ligações e interesses políticos, e que recebem financiamento de fundações internacionais para promoverem bandeiras que a maioria das mulheres abominam - por exemplo, o aborto. 

13- Se você tivesse dois filhos, menino e menina, a criação, educação e regras se aplicariam da mesma forma para os dois? Qual seria a diferença? E quais razões você atribui essa diferenciação (se ela existir)? É necessário um cuidado maior com uma garota? 

A educação seria diferente naquilo que os fazem naturalmente diferentes como menino e menina. O cuidado obedeceria o mesmo critério.  

14 - Você acha que a mulher pode ter o mesmo comportamento sexual e social que a maioria dos homens tem e são ensinados a ter desde jovens?

Para responder seria necessário saber qual é o "comportamento sexual e social que a maioria dos homens tem e são ensinados a ter desde jovens"?

15 - No seu ponto de vista o feminismo é "radical’’? O que poderia melhorar?

Penso que é "radical" porque os agentes e grupos que protagonizam o debate público têm a disparatada ambição de mudar a natureza da mulher com ideologias. Não sei se é uma questão de "melhorar", mas seria importante saber como seria o movimento feminista liderado por mulheres de fato - e não por lésbicas, bissexuais, etc. (e aqui não faço nenhum julgamento moral ou de valor). Ademais, seria oportuno avaliar o que as mulheres pensam sobre o próprio movimento femininista. Apresentar para elas as "causas" e "bandeiras" sem slogans e palavras de efeito, com os efeitos reais e concretos - como o aborto -, mostrar a sua fonte de renda e o interesse dos seus patrocinadores, e então perguntar - para a mulher comum - se ela se sente representada pelo movimento feminista. Eu me arrisco a dizer que o resultado seria decepcionante.

Tuesday, May 02, 2017

COMENTÁRIO.

Bruno Braga.


No último fim de semana, o site "Barbacena online" publicou o artigo "Manipulações midiáticas sobre a greve geral", redigido por Francisco Fernandes Ladeira e Vicente de Paula Leão [1]. No texto, os autores denunciam a "imprensa hegemônica brasileira" por "distorcer a realidade" na cobertura da paralisação do dia 28 de abril.

Sim, a imprensa é sim capaz de manipular as informações que oferecem ao público. Contudo, os motivos que fundamentam a denúncia de Francisco e Vicente não têm nenhuma base de sustentação.

Os articulistas alegam que a "grande mídia" apresentou as manifestações como se elas não tivessem "causa", destacando apenas as "consequências", ou seja, os "transtornos", os "engarrafamentos quilométricos", a "violência dos grevistas", a quebradeira que eles promoveram e os danos ao patrimônio público. Ora, de qual "grande mídia" Francisco e Vicente estão falando? Porque qualquer pessoa que tenha assistido a um noticiário ou mesmo a um breve boletim de notícias pôde constatar que os veículos de informação divulgaram sim as supostas "causas" do protesto: as reformas trabalhista e previdenciária propostas pelo governo de Michel Temer. Sobre as "consequências" destacadas pelos articulistas, não há como negar que elas tiveram mesmo como "causa" a "greve geral" - não foi uma "distorção da realidade" promovida pela "grande mídia", foi a mais pura realidade. A propósito. O telespectador mais desavisado já deve estar se perguntando: por que será que as quebradeiras, os mascarados e black bloc's só aparecem em manifestações promovidas por determinados agentes e grupos?

Francisco e Vicente afirmam que a "imprensa hegemônica" destacou as bandeiras vermelhas para alimentar o "medo" e associar a greve aos "comunistas / petistas". Ora, mas foram eles mesmos que organizaram e convocaram o protesto através da sua rede de sindicatos e ditos "movimentos sociais", tendo à frente a CUT - central sindical que, não é segredo para ninguém, é um braço do PT.

Muito bem. Os motivos que Francisco e Vicente levantam para denunciar a imprensa não se sustentam. Para utilizar um termo dos articulistas: eles não têm base na "realidade". Mas, para concluir, é pertinente perguntar, diante de um texto infundado que acusa a "grande mídia" de distorcer a realidade para favorecer "um determinado viés ideológico", se não é esse mesmo o caso dos autores do artigo. O vocabulário que eles utilizam já dão uma pista e instauram a suspeita. Uma imagem basta para indicar o "viés ideológico"  que orienta a sua escrita: Francisco Fernandes Ladeira utiliza um jornal comunista para se manifestar a favor de Lula e contra o tal "golpe" (Cf. imagem).

É a delinquência intelectual na imprensa barbacenense.

(*) Para mais comentários sobre as "posições" de Francisco Fernandes Ladeira, acesse: [http://b-braga.blogspot.com.br/p/comentarios.html].


REFERÊNCIAS.