Comentário.
Bruno Braga.
O texto abaixo, gravado em itálico, é um breve comentário sobre o artigo de Dimas E. Soares Ferreira, "Uma estrada para o futuro", publicado no portal "Barbacena Online" em 28 de Maio de 2011 [http://www.barbacenaonline.com.br/noticias.php?c=6264&inf=30]. Comentário este enviado para o mesmo sítio em 31 de Maio de 2011.
Peço permissão para intrometer-me na conversa, já que raramente se tem a oportunidade de contar com a participação do autor do texto no espaço destinado aos comentários. E a palavra de Dimas Ferreira aqui é fundamental para esclarecer alguns pontos do seu artigo e de seu comentário subseqüente (Cf. 29.05.2011) - embora, mesmo como professor, ele diga "detestar" comentar as postagens, precisamos das luzes de Dimas para livrar-nos das nuvens obscuras da ignorância! Mas não são necessários esclarecimentos sobre as disposições gráficas, as estatísticas, os números, porque sabiamente disse Sertillanges: "as matemáticas isoladas falseiam o julgamento do habitual em um rigor que não comporta nenhuma outra ciência e menos ainda a vida real" (1934, p. 127). É preciso explicar justamente este elemento da "vida real" afirmado pelo pensador francês, subjacente aos quadros e gráficos, e que lhes dão unidade, organização e estrutura.
Depois de um esforço hercúleo para compreender e articular as considerações presentes no texto principal com o comentário que se segue, e até mesmo com os artigos anteriormente publicados pelo autor, eu proponho uma hipótese para elucidar as considerações de Dimas Soares – exposta à correção do próprio, caso se disponha. Aponto primeiro as dificuldades e depois apresento a minha hipótese.
Dimas diz que um dos entraves para que haja investimentos em infra-estrutura é "a resistência "ideológica" em aceitar a participação da iniciativa privada no setor". No entanto, quando comenta as considerações dos leitores fala de "cantinela (sic) neoliberal" (suponho que sua intenção tenha sido dizer "cantilena", isto é, uma "cantiga suave" ou uma "ladainha"), de "burguesia" - além de aparentemente criticar uma obra apenas com o "argumentum ad hominem", apontando a origem do autor, um "norte-americano", sem indicar o equívoco de suas teses. Ora, um discurso construído nestes termos é, para utilizar a tipologia de Dimas Soares, também "ideológico". Então, qual "ideologia oculta" está denunciando o ilustre articulista? A "ideologia" burguesa, neoliberal, ou a sua mesma? Ou será que esta "ideologia" não passa de um simples estereótipo, isto é, uma "projeção" para justificar a sua nobre batalha quixotesca contra o Moinho de Vento burguês-neoliberal?
Esta confusão causa um embaraço insolúvel. Pois, se Dimas está certo de que a "burguesia nacional" não tem "interesse" em investir na infra-estrutura do país, como seria possível para esta "classe", então, cometer o "pecado" da "usura" e o da "exploração da classe trabalhadora" sem as condições que permitem o estabelecimento do "tenebroso" Capitalismo? [Recorro aqui aos "pecados mortais", denunciados pelos opositores do capital "neoliberal", como se arroga o próprio Dimas em seu comentário].
A passagem anterior apresenta outra dificuldade: se a "burguesia nacional" não tem "interesse", nem "capacidade", como afirma Dimas Ferreira, a quem caberia o investimento em infra-estrutura? Mas e o seleto grupo de empresas nacionais privadas arroladas pelo autor do artigo? Seus proprietários não são "burgueses"? Talvez Dimas pense que "estes" são "burgueses", sim, mas são nobres e virtuosos. Ocorre que eles continuam sendo burgueses "nacionais", e, segundo o próprio Dimas, são "desinteressados" e "incapazes". Para resolver o problema do país, então, restaria apenas "burguesia internacional", porque o articulista afirma que o Estado não tem condição de bancar todos os investimentos. Opa, um momento, um momento! Há um sério obstáculo para esta solução: Dimas não gosta muito da "burguesia", do "neoliberalismo"... Para a colaboração de Estados estrangeiros Dimas também impõe algumas restrições: por exemplo, para os americanos, pelo simples fato de serem americanos - mesmo que os Estados Unidos seja apontado, pelo próprio articulista, como um bom exemplo no domínio da "logística".
Mas não há motivo para desespero, porque se os Estados Unidos são "excomungados" por Dimas Ferreira, é permitido seguir outras "tendências" internacionais: afinal, o Brasil não pode ser um país "démodé", e investir no "Trem-bala" seria um belo adorno para a nova temporada "Fashion Week", ou melhor, "Fashion Millennium".
Acontece que, neste desfile, certos trajes parecem não cair muito bem para as concepções de Dimas Soares. Antes ele vestia a coleção "Eco-articulista" (Cf. o artigo do mesmo autor, "De quem é a culpa?" [http://www.barbacenaonline.com.br/noticias.php?c=5346&inf=4]), mas agora ressurge como um "Avatar desertor" para criticar as "licenças ambientais" que atrasam os investimentos no país. Afinal de contas, qual a prioridade para Dimas Ferreira, o "Meio ambiente" ou o "desenvolvimento econômico" nacional? Será que Dimas reformulou suas posições? Para responder arrisco, então, a minha hipótese: não – ele apenas veste o que é adequado à "estação", isto é, à "conveniência".
Porque o capital privado que merece a crítica e oposição do articulista é apenas aquele que não tem acordo fechado com o seu "Partido". No entanto, se for, por exemplo, as notas de Eike Batista (citado no texto principal), que pretende financiar a criação do "Instituto Lula", o "pecado do Capitalismo" é imediatamente absolvido (Cf. http://www1.folha.uol.com.br/poder/877517-cabral-oferece-palacete-no-rio-para-abrigar-instituto-de-lula.shtml). O mesmo se faz com um seleto grupo de empresários, que se inserem em uma estratégia dupla: enquanto lucram com as benevolências do "Partido" que ocupa o poder, fortalecem, política e financeiramente, os seus benfeitores.
Portanto, o artigo em tela é mais uma peça panfletária que, utilizando dados estatísticos, gráficos e números, faz parte de um longo trabalho de militância de seu autor, na defesa e justificativa do seu "Partido" e de seus correligionários.
(*) Observação final: já que o assunto é "economia", adianto um esclarecimento para evitar o desperdício de espaço e caracteres em um possível debate: não tenho nenhuma ambição eleitoral; não sou filiado a nenhum partido, nem me proponho a defender qualquer "ideologia" – preocupa-me apenas a descrição dos fatos.
Cordialmente,
Bruno Braga.
Belo Horizonte, 31 de Maio de 2011.
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