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Sunday, February 12, 2012

O Sinal da Cruz.





O Sinal da Cruz.
Bruno Braga.


A cruz, se considerada como um símbolo, representa a Alma humana na extremidade inferior do seu eixo vertical, e no extremo superior, a dimensão Metafísica – no eixo horizontal estão os polos do Cosmos e da Sociedade. Erguida, “o eixo horizontal da cruz não se sustenta sem a sua estrutura vertical” [1]. O significado para este símbolo não é mera apologia religiosa – não é um simples louvor, mas uma reflexão, sim, sobre o mundo, sobre a existência real e concreta [2].

No entanto, com a modernidade, o esforço para compreender o significado da cruz foi substituído pelo empenho em quebrá-la. A dimensão superior da Metafísica deveria ser amputada para divinizar o eixo horizontal: o Cosmos, com o entronamento das Ciências empíricas; e a Sociedade, consagrada pelo Império das Ideologias de massa. Assim, as principais intermediárias entre a Alma e a Metafísica, isto é, a Religião e a Filosofia, estariam ameaçadas – se não é possível eliminá-las completamente, deveriam ser transformadas, reconfiguradas em sua essência, restando apenas um invólucro, os nomes - o jugo do eixo horizontal estaria consumado, o domínio da matéria e da utilidade.

Este é um projeto presunçoso, com o objetivo de reconstruir a própria estrutura da realidade, mas que, para ser realizado, exige a violação da autoconsciência individual para submetê-la à autoridade absoluta de um método dito “científico”, e às obscuras e indefinidas “função” e “utilidade social”.

A Ciência possui um valor inquestionável. Porém, divinizá-la seria consagrar um método que, na sua própria essência, seleciona e recorta a realidade total. A hipervalorização do social, por sua vez, esconde a imposição dos interesses de alguns “iluminados”, que se autoproclamam os guias da humanidade, sobre o único reduto no qual o homem preserva a sua liberdade – mesmo submetido às maiores dificuldades, sofrimentos e atrocidades, resta-lhe ainda a autoconsciência: esta mesma, na qual se realiza a compreensão de uma dimensão superior que sustenta a realidade da qual a ciência extrai os seus recortes investigativos, e que é a fonte e o norte para que o indivíduo e a sociedade se sustentem.

É esta a estrutura que consagra o esforço de fidelidade do homem à Verdade, ou ao Transcendente – sem que esteja subordinado à “direita” ou à “esquerda”, “Partidos” ou Governos. No entanto, não faltam empenho e recursos, senão para destruí-la, pelo menos para ocultá-la, porque enquanto o homem estiver voltado para o polo superior da cruz, não se entregará ao projeto revolucionário – redigido e traçado com método e utilidade social, um plano de “novo mundo” elaborado por uma casta de “Intelectuais” comprometidos com a “revolta”: a negação do mundo, da realidade e de seu fundamento; o rompimento do indivíduo consigo mesmo – em um delírio absurdo de autoglorificação.     


Referências.

[1]. Cf. BRAGA, Bruno. “O Mistério do Filho do Homem” [http://b-braga.blogspot.com.br/2011/12/o-misterio-do-filho-do-homem.html].   

[2]. O ateu não está absolutamente impedido de concordar com algumas concepções religiosas. Arthur Schopenhauer e Santo Agostinho estão bem próximos em pontos fundamentais. Embora em termos absolutamente distintos - o primeiro sob uma Vontade cega, obscura e insaciável; e o outro em Deus – eles apontam o fundamento metafísico do mundo, e o esforço da reconciliação, através da moral, com esta essência que atravessa o indivíduo desde o seu próprio interior. Cf. BRAGA, Bruno. “A convergência entre um Santo e um Ateu” [http://b-braga.blogspot.com.br/2011/11/convergencia-entre-um-santo-e-um-ateu.html].


Anexo.

. Ilustrações:

(a) Sobre a divinização da Ciência: “A consagração de um ateísta militante” [http://b-braga.blogspot.com.br/2012/01/consagracao-de-um-ateista-militante.html];

(b) A respeito do entronamento da Sociedade: “Entre o Mestre e o Intelectual” [http://b-braga.blogspot.com.br/2011/06/entre-o-mestre-e-o-intelectual.html]; “Culto a ‘El Chancho’” [http://b-braga.blogspot.com.br/2011/09/culto-el-chancho_01.html]; “Um teólogo militante sob suspeita” [http://b-braga.blogspot.com.br/2010/10/um-teologo-militante-sob-suspeita.html].

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