O Sinal da Cruz.
Bruno Braga.
A
cruz, se considerada como um símbolo, representa a Alma humana na extremidade
inferior do seu eixo vertical, e no extremo superior, a dimensão Metafísica –
no eixo horizontal estão os polos do Cosmos e da Sociedade. Erguida, “o eixo
horizontal da cruz não se sustenta sem a sua estrutura vertical” [1]. O
significado para este símbolo não é mera apologia religiosa – não é um simples
louvor, mas uma reflexão, sim, sobre o mundo, sobre a existência real e concreta
[2].
No
entanto, com a modernidade, o esforço para compreender o significado da cruz
foi substituído pelo empenho em quebrá-la. A dimensão superior da Metafísica deveria
ser amputada para divinizar o eixo horizontal: o Cosmos, com o entronamento das
Ciências empíricas; e a Sociedade, consagrada pelo Império das Ideologias de
massa. Assim, as principais intermediárias entre a Alma e a Metafísica, isto é,
a Religião e a Filosofia, estariam ameaçadas – se não é possível eliminá-las
completamente, deveriam ser transformadas, reconfiguradas em sua essência,
restando apenas um invólucro, os nomes - o jugo do eixo horizontal estaria
consumado, o domínio da matéria e da utilidade.
Este
é um projeto presunçoso, com o objetivo de reconstruir a própria estrutura da
realidade, mas que, para ser realizado, exige a violação da autoconsciência individual
para submetê-la à autoridade absoluta de um método dito “científico”, e às
obscuras e indefinidas “função” e “utilidade social”.
A Ciência
possui um valor inquestionável. Porém, divinizá-la seria consagrar um método
que, na sua própria essência, seleciona e recorta a realidade total. A
hipervalorização do social, por sua vez, esconde a imposição dos interesses de
alguns “iluminados”, que se autoproclamam os guias da humanidade, sobre o único
reduto no qual o homem preserva a sua liberdade – mesmo submetido às maiores
dificuldades, sofrimentos e atrocidades, resta-lhe ainda a autoconsciência: esta
mesma, na qual se realiza a compreensão de uma dimensão superior que sustenta a
realidade da qual a ciência extrai os seus recortes investigativos, e que é a fonte
e o norte para que o indivíduo e a sociedade se sustentem.
É
esta a estrutura que consagra o esforço de fidelidade do homem à Verdade, ou ao
Transcendente – sem que esteja subordinado à “direita” ou à “esquerda”,
“Partidos” ou Governos. No entanto, não faltam empenho e recursos, senão para destruí-la,
pelo menos para ocultá-la, porque enquanto o homem estiver voltado para o polo
superior da cruz, não se entregará ao projeto revolucionário – redigido e
traçado com método e utilidade social, um plano de “novo mundo” elaborado por
uma casta de “Intelectuais” comprometidos com a “revolta”: a negação do mundo,
da realidade e de seu fundamento; o rompimento do indivíduo consigo mesmo – em
um delírio absurdo de autoglorificação.
Referências.
[1].
Cf. BRAGA, Bruno. “O Mistério do Filho do Homem” [http://b-braga.blogspot.com.br/2011/12/o-misterio-do-filho-do-homem.html].
[2].
O ateu não está absolutamente impedido de concordar com algumas concepções
religiosas. Arthur Schopenhauer e Santo Agostinho estão bem próximos em pontos
fundamentais. Embora em termos absolutamente distintos - o primeiro sob uma
Vontade cega, obscura e insaciável; e o outro em Deus – eles apontam o
fundamento metafísico do mundo, e o esforço da reconciliação, através da moral,
com esta essência que atravessa o indivíduo desde o seu próprio interior. Cf.
BRAGA, Bruno. “A convergência entre um Santo e um Ateu” [http://b-braga.blogspot.com.br/2011/11/convergencia-entre-um-santo-e-um-ateu.html].
Anexo.
. Ilustrações:
(a)
Sobre a divinização da Ciência: “A consagração de um ateísta militante” [http://b-braga.blogspot.com.br/2012/01/consagracao-de-um-ateista-militante.html];
(b)
A respeito do entronamento da Sociedade: “Entre o Mestre e o Intelectual” [http://b-braga.blogspot.com.br/2011/06/entre-o-mestre-e-o-intelectual.html];
“Culto a ‘El Chancho’” [http://b-braga.blogspot.com.br/2011/09/culto-el-chancho_01.html];
“Um teólogo militante sob suspeita” [http://b-braga.blogspot.com.br/2010/10/um-teologo-militante-sob-suspeita.html].
No comments:
Post a Comment