Bruno
Braga.
Aquele
que nunca se enfrentou diante do espelho, ou que encarando os próprios olhos de
sua face refletida, não foi capaz de reconhecer, para si mesmo – “Eu sou uma
farsa” – não sabe o que é sinceridade. E esta é uma deficiência que compromete
os que se dedicam à busca da Verdade, seja nos dilemas da vida particular, ou
nos diversos campos investigação intelectual. Porque um autoexame sincero do
próprio interior revela ao indivíduo que se lança em qualquer domínio do
conhecimento algo, nele mesmo, de mentira, falsidade, farsa, fingimento,
afetação, histrionismo, perfídia, fraude – enfim, elementos, tensões, nódulos
que obstaculizam a aproximação da Verdade, e que servem ao sujeito apenas como uma
roupagem, uma máscara, um disfarce para as suas fraquezas e deficiências, ou um
adorno que inflama a sua vaidade, o seu orgulho e egoísmo. Este fundo obscuro
permanece como uma sombra, mesmo que sobre ele se dedique um esforço absurdo de
compreensão. De qualquer maneira, enfrentá-lo, e reconhecê-lo, é estar
consciente daquilo que é preciso dominar para expressar cada uma das conquistas
individuais na esfera intelectual. Esta tarefa se inicia com as perguntas mais
simples e modestas: “o que eu de fato sei sobre esta questão?”; “se sei alguma
coisa, há algo que aqui acrescento por minha própria conta?”; “o que eu
exagerei?” “o que eu omiti, e sobre o que eu menti?”; “quais são os interesses
que se ocultam por trás deste comportamento?” – “Entre estes interesses, há
algum que seja superior à busca da Verdade?”
Porém,
o autoexame não é suficiente. Se o indivíduo identifica em si mesmo o elemento
da farsa e da mentira, se ele reconhece os seus erros, equívocos e tropeços,
mas é incapaz de assumir a responsabilidade sobre as suas concepções,
comprometer a própria pessoa com a busca da Verdade e com a expressão do que
modestamente encontrou, então ele não sabe o que é o autêntico conhecimento.
(*)
Nota.
As
“Confissões”, de Santo Agostinho, são uma ilustração real e efetiva sobre o que
é a sinceridade.
Indicações.
BRAGA,
Bruno. A lucidez dos momentos traumáticos
[http://dershatten.blogspot.com/2011/10/lucidez-dos-momentos-traumaticos.html].
______.
O artifício de negar “a” Verdade para
afirmar as “suas próprias” verdades [http://dershatten.blogspot.com/2011/09/o-artificio-de-negar-verdade-para.html].
______.
As dimensões do debate intelectual:
Dialética e Erística [http://dershatten.blogspot.com/2011/09/as-dimensoes-do-debate-intelectual.html].
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