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Wednesday, October 09, 2013

A História psicótica costurada pela Comissão da MENTIRA.

Bruno Braga.

Solange Lourenço Gomes


Não é preciso muita perspicácia para identificar os absurdos promovidos pela Comissão da Verdade. No entanto, há um obstáculo para reconhecê-los. Um véu cultural costurado - sobretudo no meio universitário - e disseminado pelo sistema educacional e pela intelectualidade engajada, que consagra a idealização do revolucionário e – de forma simultânea e sumária - condena aos infernos os seus opositores e críticos. O público em geral vê e fala a partir deste “tecido”, de modo que os disparates mais evidentes – que seriam suficientes para rasgá-lo – passam-lhe despercebidos. Exemplo disso – mais um, entre tantos outros – foi a audiência realizada pela Comissão da Verdade de São Paulo no de 07 de Junho de 2013, que tinha o propósito de reconstituir a história da revolucionária Solange Lourenço Gomes.

Belisário dos Santos Júnior, advogado que foi relator do caso na Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos da Secretaria de Direitos Humanos, abriu a sessão. Ele apresentou algumas teses no mínimo “extravagantes”. Para determinar o que aconteceu com Solange, reivindicou um tipo especial de tortura: a “tortura presumida”. Apesar de a militante revolucionária não ter sido torturada, para o doutor Belisário, não importa. Não interessa se houve tortura “real” ou “imaginária” – “tortura imaginária?!” -, porque segundo o ilustre advogado, Solange Lourenço Gomes – ainda que somente presa - encarnou todos – TODOS! - os revolucionários detidos e barbaramente torturados.

Logo depois falou o irmão de Solange. Um depoimento que exibiu – de maneira “desvelada” – os desatinos do doutor Belisário, e também os da Comissão da Verdade. Gilberto Lourenço Gomes contou que Solange se entregou ESPONTANEAMENTE à polícia, em um SURTO PSICÓTICO. A “doença mental” já havia conduzido uma irmã ao suicídio, e levou Solange à mesma atitude anos mais tarde. Enquanto esteve presa - Gilberto afirmou - Solange não sofreu torturas físicas. Ela sofreu, disse o irmão, por ter ficado afastada da família durante o período de detenção. Depois do julgamento que a considerou inimputável, determinando que ela cumprisse medida de segurança em um manicômio, o advogado da família – contou Gilberto como se fosse uma conquista - conseguiu a permanência de Solange na prisão, que segundo o irmão era melhor que o manicômio.

Solange Gomes freqüentou um curso sobre “Marxismo”, relembrou Gilberto. Nele a irmã compreendeu que a solução para o Brasil era a “ditadura do proletariado”. Por este ideal ela lutou, e não contra o governo militar, revela Gilberto. A propósito, o historiador Daniel Aarão Reis Filho, que foi o “grande amor” de Solange, tem o mesmo entendimento:  

“As ações armadas da esquerda brasileira não devem ser mitificadas. Nem para um lado nem para o outro. Eu não compartilho da lenda de que no final dos anos 60 e no início dos 70 (inclusive eu) fomos o braço armado de uma resistência democrática. Acho isso um mito surgido durante a campanha da anistia. Ao longo do processo de radicalização iniciado em 1961, O PROJETO DAS ORGANIZAÇÕES DE ESQUERDA QUE DEFENDIAM A LUTA ARMADA ERA REVOLUCIONÁRIO, OFENSIVO E DITATORIAL. PRETENDIA-SE IMPLANTAR UMA DITADURA REVOLUCIONÁRIA. Não existe um só documento dessas organizações em que elas se apresentassem como instrumento da resistência democrática” (“O Globo”, 23 de Setembro de 2001).

O irmão de Solange lembrou que o povo não aderiu ao movimento revolucionário. As pessoas – disse ele – não entendiam as propostas, porque o governo militar era não só “poderoso”, mas BEM-SUCEDIDO. Apesar disso, Solange – assim como os seus “companheiros” – apostava que o sucesso revolucionário compensaria a violência cometida.

Dentro do projeto por uma “ditadura do proletariado” Socialista-Comunista, há pelo menos uma ação registrada com a participação de Solange Gomes. No dia 13 de Setembro de 1970, o grupo terrorista “Dissidente da Guanabara – MR-8” assaltou a churrascaria Rincão Gaúcho, situada na Tijuca, Rio de Janeiro. Os revolucionários se irritaram com o slogan “Ninguém segura o Brasil”, colado em um painel de vidro. Eles então o explodiram e deixaram outra bomba armada, que acabou sendo desativada pela polícia (USTRA, 2012, pp. 376-377).

Gilberto lamenta que a irmã não tenha abandonado as atividades subversivas e terroristas. Principalmente porque – ele conta – Solange NÃO ESTAVA SENDO PERSEGUIDA nem AMEAÇADA. Se ela deixasse o crime não seria identificada. Poderia voltar para casa sem qualquer problema.

Como é possível conservar intacto o véu da mitologia revolucionária depois de ouvir as considerações do Dr. Belisário e o depoimento do irmão de Solange Gomes? Glorificá-lo e, sobretudo, consagrá-lo como a história oficial do país, como é o propósito da Comissão da Verdade, quer dizer da MENTIRA? Os próprios revolucionários, sem vergonha nem pudor, desmentem os seus mitos. No entanto, o público em geral parece hipnotizado por este heroísmo fajuto – ou constrangido por imaginar a conseqüência de contestá-lo: ser apontado como “reacionário”, “direitista” ou “torturador”. É assim que a Comissão da Verdade – quer dizer, da MENTIRA – promove o poder revolucionário – ao custo de transformar o surto de um grupo de “reformadores do mundo” na história psicótica que o público conta como se fosse a memória do seu país.

  

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