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Thursday, June 30, 2011

Segunda intervenção.

Bruno Braga.


 

O texto abaixo – gravado em itálico – é minha segunda intervenção no debate sobre o artigo "Guinada à direita do Governo Dilma Rousseff", de Francisco Fernandes Ladeira. Esta discussão pode ser acompanhada no Blog "ZinneCult" [http://zinnecult.zip.net], onde é permitido também a intervenção de qualquer interessado.

Cordialmente,

Bruno Braga.

Belo Horizonte, 30 de Junho de 2011.

***

Em resposta aos últimos comentários – àqueles que têm relação com os temas lançados pelo texto principal e com as observações que fiz anteriormente - escrevo:

Caro Francisco,

Sugiro que releia atentamente o meu comentário, pois sua postagem (26.06.2011 – 01:36) contém um equívoco de compreensão. Eu não afirmei que há uma aliança entre PT e PSDB para implantar o Comunismo no Brasil. Apontei, no passado, uma aliança entre uma "elite intelectual uspiana" e o "movimento sindical" – ambos com origens no Socialismo-comunismo - que configurou o quadro atual da política brasileira. A polarização PT/PSDB é um desdobramento posterior, apenas para disputa de cargos e poder, mas que não apaga os traços principais daquela raiz comum. Esta explicação está bem clara no meu comentário (Cf. O primeiro parágrafo).

"Golpe de Estado" e "Jair Bolsonaro" são elementos estranhos ao meu texto: são acréscimos e ampliações promovidas por você mesmo, Francisco, pois em minha análise não há nada que faça menção a eles.

Nas mesmas linhas em que acrescenta palavras ao meu texto por sua própria conta, Francisco, você se expressa de maneira aparentemente irônica, assim: "Os Socialistas-comunistas estão querendo dominar o mundo [...]". Gostaria de trazer à sua memória a célebre convocação do mais nobre "Intelectual revolucionário", Karl Marx, que fecha o "Manifesto do Partido Comunista": "Trabalhadores de todo o mundo, uni-vos!" (o grifo é meu) Desde a sua origem, Francisco, o projeto Socialista-comunista é internacional; e, embora não seja o único projeto que disputa o poder no mundo contemporâneo, ele é, sobretudo sob a orientação Russo-chinesa, um deles. Na Rússia a velha KGB (agora FSB) volta ao poder com Vladimir Putin (Sobre o tema recomendo o Documentário "The Putin System"); na China, por sua vez, o Partido Comunista rege o país. Não preciso dizer, Francisco, que "em pleno século XXI", estas não são potencias de segunda categoria.

Supondo que o esquema Russo-chinês possa parecer para você, Francisco, muito distante da realidade nacional – o que até mesmo um olhar displicente sobre o cenário político, econômico e cultural constataria o contrário – estude o Foro de São Paulo. Este é a entidade encarregada de fomentar o Socialismo-comunismo na América Latina sob a orientação de Lula e Fidel Castro – posteriormente foi fortalecido pela esquerda latino-americana que passou a ocupar as principais cadeiras do poder.

Mas é possível reduzir ainda mais o espectro da abordagem, e tratar propriamente do Brasil. Os Ministérios são postos estratégicos para o Governo Federal [http://www.presidencia.gov.br/ministros]. O da educação é ocupado por Fernando Haddad, que publicou livros com títulos sugestivos: "O Sistema Soviético" (1992); "Em Defesa do Socialismo e Desorganizando o Consenso" (1998); "Sindicatos, Cooperativas e Socialismo" (2003). O Ministro dos Esportes é Orlando Silva Jr., do PC do B (Partido Comunista do Brasil), que exerce papel fundamental na preparação do país para a realização dos dois maiores eventos esportivos do mundo – algo que está mobilizando recursos financeiros incalculáveis. O Ministro-chefe da Secretaria de Portos é José Leônidas Cristino, e o Ministro da Integração Nacional é Fernando Bezerra Coelho – ambos do PSB (Partido Socialista Brasileiro). Em outros poderes, como no Legislativo, por exemplo, Manuela D'Ávila, do PC do B (Partido Comunista do Brasil) ocupa a Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados [http://www2.camara.gov.br/atividade-legislativa/comissoes/comissoes-permanentes/cdhm/membros]. Enfim, relacionei, Francisco, apenas algumas autoridades filiadas a siglas nominalmente "Socialistas-comunistas" e que ocupam posições estratégicas, e de grande importância, na esfera do Poder Federal. Não foi preciso nem recorrer ao PT, o partido mais poderoso, para mostrar a força dos "revolucionários". Deste faço menção apenas a Maria do Rosário, Ministra da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, que, embora filiada ao PT, iniciou sua carreira política no PC do B.

Agora, é preciso questionar: será que estas e outras autoridades utilizam as siglas Socialistas-comunista apenas como um "enfeite"? Quer dizer, elas afastam todos os seus princípios e ideais para utilizarem apenas os símbolos, as bandeiras vermelhas, que vestem bem e combinam com qualquer "modelito"?

É preciso esclarecer, particularmente sobre o PC do B, que ele é um partido de orientação maoísta. Isto quer dizer que segue os princípios de um estuprador, genocida, responsável pela morte de mais de 60 milhões de pessoas dentro do seu próprio país. Portanto, mesmo quem não pertence aos quadros do PC do B, mas tem simpatia pelo partido e por seus ideais, é cúmplice de genocídio.

Bom, Francisco, você utiliza a referência temporal, com a expressão "em pleno século XXI", para sugerir que a intervenção comunista no Brasil é uma idéia "ultrapassada". Relacionei, para você, alguns exemplos que demonstram a "atualidade" do Socialismo-comunismo em escala mundial, continental e nacional – a lista é obviamente incompleta neste último nível, pois restaria mencionar autoridades do poder estadual, municipal, as Universidades públicas, os Sindicatos, os "Intelectuais". Talvez você, Francisco, considere o "Socialismo-comunismo" ultrapassado por pensar a partir de estereótipos de almanaque, do tipo "estatização total dos meios de produção", "eliminação da propriedade privada" – este almanaque sim está "desatualizado". Porque o Socialismo-comunismo não é uma doutrina, uma teoria engessada (por isso tomou diversas formas, de acordo com o domínio em que seria implantado); mas é, fundamentalmente, uma estratégia para a concentração de poder.

Dito isto, é necessário acrescentar mais uma observação sobre a sua idéia de que o Socialismo-comunismo é algo "ultrapassado", Francisco – uma observação de ordem conceitual. Uma das características de um agente histórico é a sua continuidade no tempo. Em outras palavras, nós - eu, você – temos um tempo médio de vida, mas logo seremos tragados pela morte; os agentes históricos, ao contrário, ultrapassam o período médio de existência de um indivíduo, e perduram por gerações. São exemplos de agentes históricos, embora não tenham poderes equivalentes, a Igreja Católica, a Comunidade Judaica, a tradição islâmica, as Famílias reais, a Maçonaria, as Grandes fortunas capitalistas, etc. – são projetos perpetuados por décadas, séculos de história, e entre os quais se inclui o Socialismo-Comunismo, materializado nos partidos e movimentos revolucionários.

Bom, Francisco, você se espanta com o que eu "acho" sobre a intervenção Socialista-comunista no Brasil. No entanto, eu não "acho" nada. Isto porque, a respeito deste tema eu lhe forneci uma prova de "Fonte primária": as Atas do Foro de São Paulo. Elas são documentos, Francisco, assinados pelas próprias autoridades, assumindo compromissos de colaboração e solidariedade. Portanto, não sou eu que "acho", mas nos documentos Lula, Fidel Castro, Frei Betto "afirmam" o que vão fazer. Eu apenas reproduzi os objetivos deles. Não precisa "acreditar" no que estou dizendo, examine você mesmo os documentos. Agora, descartá-los preliminarmente é negligenciar os requisitos básicos para uma investigação séria e honesta – e um obstáculo para a compreensão do que aqueles mesmos personagens, e outros, "já estão fazendo".

A minha abordagem sobre o "Kit gay" também é objeto da sua oposição (25/06/2011 16:32). No entanto, neste assunto, como no caso do Foro de São Paulo, forneci-lhe "fontes primárias" – leis, projetos, notas taquigráficas. Portanto, sugiro que as leia.

Em tom de ironia, Francisco, você menciona o termo "subversão". Acontece que esta é uma estratégia extremamente atual, e por isso merece ser tratada com a devida seriedade. Subversão é um processo "legítimo", "público" e "aberto", através do qual se inocula no domínio "cultural" elementos que facilitem os desdobramentos da "Revolução". Em meus textos "Autovitimização de um frade dominicano" [http://dershatten.blogspot.com/2011/01/autovitimizacao-de-um-frade-dominicano.html] e "Reescrevendo a História" [http://dershatten.blogspot.com/2011/04/reescrevendo-historia.html] você pode verificar, de maneira geral, como funciona esta estratégia. Porém, para uma explicação mais detalhada e teórica, sugiro que assista à entrevista de Yuri Bezmenov, um desertor da KGB, a G. Edward Griffin ("Soviet Subversion of the Free World Press"), da qual poderá obter informações preciosas sobre a "atualidade" da estratégia subversiva.

É isso, Francisco.

Sugiro que releia meu comentário novamente e consulte as fontes, sobretudo as primárias. Isto é, não apenas um pré-requisito para a investigação, mas uma atitude prudente, de modo a evitar ser, como dizia Lênin, um "Polyeznyi".

Cordialmente,

Bruno Braga.

Belo Horizonte, 30 de Junho de 2011.

Friday, June 24, 2011

Novo comentário.

Bruno Braga.


 

Abaixo publico um comentário - redigido por mim e gravado em itálico - sobre o texto "Guinada à direita do Governo Dilma Rousseff", de Francisco Fernandes Ladeira. Texto este publicado no Blog "ZinneCult" [http://zinnecult.zip.net], onde é permitido ao leitor, além de acompanhar os debates e discussões, postar as suas próprias observações.

Cordialmente,

Bruno Braga.

Belo Horizonte, 24 de Junho de 2011.

***

Caro Francisco,

O governo Dilma Rousseff não é um desvio de sentido ou de direção das políticas adotadas por seus antecessores imediatos – seja a de seu padrinho e guru Lula, ou a de Fernando Henrique Cardoso. Sim, Fernando Henrique Cardoso. Porque a configuração da política nacional de hoje foi construída no passado, a partir da aliança entre uma elite "intelectual" uspiana – da qual fazia parte o tucano – e os movimentos sindicais – sendo Lula o seu principal líder. Ambos têm raízes no Socialismo e no Comunismo - portanto, são de "esquerda". Os desdobramentos posteriores da disputa eleitoral, incluindo a polarização PT/PSDB, são apenas disputas por cargos e poder, já que os projetos e a ideologia são "quase" idênticos. Digo "quase" porque há apenas uma divergência quanto ao aparelhamento do Estado, que é privilegiado pela esquerda petista. Nos outros domínios não existem divergências substanciais, seja no plano econômico, social, ou nas questões culturais. Sendo assim, não há, entre as principais siglas que disputam o poder no tabuleiro da política nacional, nenhuma de "direita". O termo, "direita", se tornou apenas uma projeção estereotipada – de caráter acusatório e estratégico - promovida pela própria "esquerda" socialista-comunista para denunciar uma "força obscura", indefinida, quando algo obstaculiza as suas ambições.

A estratégia do socialismo-comunismo é a seguinte: avançar de acordo com a recepção pública de seus projetos. Se há uma reação significativa contrária a estes projetos ele recua, apenas adiando suas pretensões; mas se não há oposição, na maioria das vezes por causa da ocultação e da fraude, ele avança. Esta foi a estratégia para o referendo sobre as armas: a população deu a sua resposta, mas, insatisfeitos, os oportunistas não demoraram para explorar a tragédia de Realengo para retomá-lo. Da mesma forma aconteceu com as posições abortistas dos dois principais candidatos na campanha eleitoral para a Presidência da República, e agora se passa o mesmo com o "Kit gay".

Quanto a este último, é um equívoco reduzir o veto da Presidente como resultado exclusivo do "lobby religioso" – para muitos, "fundamentalismo" religioso. Embora protestantes, católicos, tenham realizados manifestações incisivas, houve também uma reação negativa por parte da população quando da publicidade parcial do conteúdo do material didático que seria distribuído nas escolas (Cf. Manifestações em Blogs, Redes sociais, etc.). Aliás, por que o Governo Federal não exibe em cadeia nacional os vídeos incluídos no "Kit" para que os pais decidam sobre a exibição deles para os seus filhos? Qual seria a posição da maioria dos pais? Esta proposta de avaliação pública não agrada muito a Jean Wyllys, deputado LGBT filiado a um partido Socialista (PSOL-RJ), que acredita que o povo brasileiro é "ignorante" para decidir sobre as causas gays (http://www.youtube.com/watch?v=ixm4R63vKt8) – não é preciso observar que o Deputado exerce um mandato público concedido por aqueles mesmos que ele despreza por serem "ignorantes".

A discussão gerada em torno do "Kit gay" ofusca uma questão grave. O Brasil tem um péssimo sistema educacional, comprovado por avaliações nacionais e exames internacionais – nestes o país sempre ocupa as últimas colocações. No entanto, em vez de promover uma campanha publicitária de amplitude nacional para a valorização da alta-cultura, para a melhoria do ambiente escolar, para a formação honesta e sincera dos professores, para investimentos em pesquisa - não, o maior problema da educação brasileira, de acordo com a imensa campanha promovida pela mídia, por jornais, televisão, "Intelectuais", é o ensino da causa gay.

Esta história de "combate à homofobia" é uma falsificação absurda. "Homofobia" é um distúrbio psiquiátrico em que a pessoa apresenta aversão e ojeriza contra homossexuais no grau extremo de desejar matá-los. Agora, quando este mal foi um problema de escala nacional? Nunca. Sim, existe preconceito e discriminação – mas, diante de uma eventual ocorrência, ínfima dentro do senso das proporções, a discrição, o bom senso, o cuidado e o respeito por parte do professor e da escola são suficientes. Acontece que o "Kit gay" não tem nenhuma relação com políticas educacionais; ele é, sim, uma propaganda publicitária do homossexualismo, que seria exibida, Francisco, não para o Ensino Médio, como você afirma, mas já para crianças do Ensino Fundamental [Cf. http://oglobo.globo.com/pais/mat/2011/05/26/diferentemente-do-divulgado-kits-anti-homofobia-eram-para-criancas-de-11-anos-924548005.asp]. E não adianta o Ministério da Educação recuar "estrategicamente" (Cf. exposição acima) ou alegar desconhecimento sobre o conteúdo do projeto e dos vídeos, pois está tudo documentado nas notas taquigráficas da Audiência Pública "Escola sem Homofobia", realizada na Câmara dos Deputados em 23 de Novembro de 2011. Lá consta o público alvo do trabalho, crianças do 6° ao 9° ano (p. 28), além de uma revelação surpreendente do então Secretário de Educação continuada, André Lázaro, de que ele e sua equipe passaram três meses discutindo se deveriam incluir nos vídeos um beijo de língua entre lésbicas (p. 38). Enfim, aberrações como estas demonstram o propósito deste "material didático": vencer o grande desafio do sistema educacional brasileiro, que é, para dizer em termos polidos, ensinar a pederastia, a sodomia. Bom, este é o projeto para a criançada; mas existem propostas para todas as faixas etárias, como a de uma "Bolsa Gay" e o programa, de nome no mínimo estranho, contra a "Homofobia ambiental" (Cf. Promoção da Cidadania e dos Direitos Humanos de LGBT [http://portal.mj.gov.br/sedh/homofobia/planolgbt.pdf], respectivamente Itens 1.2.33 e 1.4.10).

A Presidente Dilma Rousseff vetou o "Kit gay" por causa das reações contrárias ao material didático que seria distribuído nas escolas. No entanto, a proposta foi apenas adiada – ela retornará, de acordo com a "estratégia" socialista-comunista, reajustada ou maquiada. Talvez não precise esperar tanto, pois grupos de Universidades públicas – domínio predominantemente "revolucionário" - já estão desenvolvendo atividades com conteúdo semelhante ao do "Kit gay" nas escolas (Cf. Programa "Globo Educação", http://redeglobo.globo.com/videos/globoeducacao/#/Edições/20110604).

O projeto de lei que criminaliza a homofobia (PL 122/06) é outra aberração. Um de seus artigos (20, §5) adverte que os homossexuais não podem sofrer nenhum constrangimento "filosófico". Ora, o que é um constrangimento "filosófico"? Explico: é todo e qualquer constrangimento; porque seja ele qual for será passível de ser enquadrado neste amplo conceito, "filosófico". Em outras palavras, todas as pessoas podem ser criticadas por causa de seu comportamento – eu, o "João", o "Zé", a Presidente da República, o Padre, o Pastor, o professor, e até Deus; porém, o único que terá imunidade e salvo conduto será o GAY. Se alguém for chamado a opinar sobre a "Parada Gay" deverá se calar ou considerá-la um evento de alta-cultura, uma manifestação artística sublime, ou uma reunião sacro-santa – porque críticas e oposições serão combatidas com o rigor da lei.

É preciso fazer um esclarecimento importante, antes que surja alguma acusação de preconceito ou de "Homofobia" pelo que foi dito. Existe uma diferença entre o Homossexual e a "Ideologia Gay". Ao primeiro o respeito e o cuidado dedicados a toda e qualquer pessoa. Agora, as críticas anteriores são direcionadas à "Ideologia Gay", pois se trata de um grupo de pessoas que diz representar OS -     quer dizer, TODOS – Homossexuais, transformando a sexualidade em instrumento para reivindicar privilégios e construir a carreira política de seus líderes. Um movimento criticado, inclusive, pelos próprios Homossexuais (Cf. Documentário "Não gosto dos meninos" [http://www.youtube.com/watch?v=HHA-WpPSK4s]).

Para concluir sobre o tema da "Ideologia Gay". É parte da estratégia socialista-comunista reduzir a oposição, neste domínio temático, ao "fundamentalismo religioso". Porque um dos seus "Intelectuais" mais ilustres, Georg Lukács, prega que, para a revolução socialista prosperar, é necessário destruir, além do direito romano, da filosofia grega, também a moral judaico-cristã. A grande ironia é comparar o acolhimento dos homossexuais pela religião judaico-cristã com o tratamento dedicado a eles pelos regimes socialistas e comunistas. Casos excepcionais de preconceito e de discriminação são insignificantes perto das práticas de "reeducação", dos "julgamentos públicos", e encarceramentos em hospitais psiquiátricos, promovidos, por exemplo, pelo regime cubano (Cf. Bruno Braga, "Reescrevendo a História" – http://dershatten.blogspot.com).

Os socialistas-comunistas não fazem política apenas com a "Ideologia gayzista". Utilizam também o "Feminismo" e os "Movimentos raciais". Daí a publicidade panfletária: "a primeira mulher Presidente", "o primeiro negro Presidente dos Estados Unidos" [Obs. Não sei se você, Francisco, é pessoalmente socialista-comunista, mas o vocabulário que utiliza é próprio destas correntes de pensamento]. Agora não importa mais o que as pessoas carregam no coração, mas sim a cor com a qual é pintada a sua pele ou o que têm no meio das pernas. Talvez não seja tão profético dizer que, nas futuras eleições, um bom slogan para os pretendentes ao posto mais alto do Executivo seja "o primeiro, ou primeira, Presidente Gay". A julgar o caráter dos candidatos apenas por estes critérios, o poder continuará nas mãos de bandidos, terroristas, sociopatas e fraudes, como Barack Obama – um "liberal" ("esquerdismo" nos Estados Unidos) apoiado por uma elite financeira (que não representa os interesses da população americana, e inclusive sustenta Socialistas-comunistas), cuja verdadeira identidade ninguém sabe qual é.

No que tange às posições do governo brasileiro contra Irã, elas foram muito modestas. A presidente Dilma Rousseff apenas criticou a condenação da iraniana Sakineh Ashtiani à morte por apedrejamento – uma critica mais em defesa do seu sexo do que contra o governo iraniano. No Conselho de Direitos Humanos da ONU o Brasil votou a favor de uma investigação independente sobre os direitos individuais no Irã [http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20110325/not_imp696976,0.php]. Isto é praticamente nada. A Presidente Dilma Rousseff e o corpo diplomático brasileiro subordinado a ela deveriam condenar aberta e explicitamente o governo iraniano por violação dos direitos humanos, patrocínio de grupos terroristas, e por desenvolvimento de armas de destruição em massa (Cf. Documentários "Iranium", "Obsession" e "Third Jihad"). Eles não fazem isto porque o Governo brasileiro, com Dilma Rousseff, não se afastou do Irã, Francisco – tanto que ele não pretende desagradar o seu aliado: para não causar constrangimentos a Presidente não se dispôs a receber a advogada iraniana Shirin Ebadi, ganhadora do Prêmio Nobel da Paz, e crítica do Regime de Teerã [http://www1.folha.uol.com.br/mundo/929973-nobel-acusa-ira-por-repressao-aos-sirios-veja-entrevista.shtml].

Sobre o PT, não é possível classificá-lo sequer como "partido" - simplesmente porque ele não obedece às regras do jogo político (Obs. Peço encarecidamente que outras siglas não sejam trazidas para um eventual debate, porque o texto principal versa, especificamente, sobre o "Partido dos Trabalhadores"). O PT se utiliza de instrumentos que estão à margem do processo eleitoral, e que violam, inclusive o Código Penal – isto está comprovado nas atas do "Foro de São Paulo", onde o seu presidente de honra estabelece compromissos de apoio e solidariedade a movimentos guerrilheiros, a narcotraficantes e regimes ditatoriais, como o cubano. A título de esclarecimento o "Foro de São Paulo" é a entidade encarregada de promover o Socialismo-comunismo na America Latina.

Ademais, o PT nunca foi "um partido comprometido com os anseios do povo", Francisco. Esta idealização de "partido do povo" foi uma criação promovida através das esferas culturais e também fomentada pela publicidade oficial na medida em que o Partido adquiriu poder. O PT, nos seus primórdios, tinha na classe média letrada o seu principal eleitorado – foi preciso, antes, uma "revolução cultural" para que pudesse alcançar a ascensão política. Sobre o eleitorado "classe média letrada" do PT, consultar o livro "Esquerda e Direita no eleitorado brasileiro", de André Singer.

A respeito dos elogios da mídia "conservadora" - que não é conservadora de maneira alguma, o que pode ser verificado pelo conteúdo de sua programação e publicações. Não é possível associar uma atmosfera pós-eleitoral com concordâncias de linhas de governo, no caso da menção que faz, Francisco, da Revista Veja (se é que a sua referência é a Edição extra da revista, publicada após a eleição presidencial – ou números imediatamente subseqüentes). Agora, sobre os "elogios" da Rede Globo, se possível gostaria da indicação específica da fonte para consulta, para verificar se neste elogio há a assinatura e o carimbo do responsável pela emissora.

Você menciona também, Francisco, os "elogios" da Senadora Kátia Abreu à Presidente Dilma Rousseff em entrevista à Rede TV. Não sei se esta é especificamente a sua referência, pois você não citou a fonte, mas consultei a entrevista dada pela Senadora ao repórter Kennedy Alencar [http://www.redetv.com.br/Video.aspx?113,24,194508,jornalismo,e-noticia,kennedy-alencar-entrevista-katia-abreu-bloco-3 – se a referência for outra, favor indicar]. Nela os "elogios" de Kátia Abreu são feitos, uns, em termos gerais – ela menciona vagamente o "comércio internacional", a questão dos "direitos humanos das crianças, adolescentes e idosos". Outros de maneira equivocada, como o afastamento do Brasil de "governos ditatoriais" - algo que não aconteceu. A Senadora também demonstra indecisão e receio de se comprometer ao tratar da "Comissão da verdade". O único elogio veemente feito por Kátia Abreu foi este: "precisamos, de fato, de uma gestora, e acho que ela pode ser esta gestora". Acontece, Francisco, que o elogio indica, sim, uma "aproximação", mas na ordem inversa da que você indicou: não é a Presidente Dilma que se arrasta para a "direita", mas a Kátia Abreu que passa a apoiar a Presidente da República. Isto fica claro com a fundação do PSD (Partido Social Democrático) – partido para o qual migrou a Senadora, e que nasce negociando apoio ao Governo Federal (Cf. http://www.agora.uol.com.br/brasil/ult10102u902445.shtml). Também sobre isto, confira a entrevista dada por Demóstenes Torres (DEM-GO) à Revista Veja (Edição de 08 de Junho de 2011), da qual transcrevo o seguinte trecho: "Esse novo partido prejudicou muito o DEM. Perdemos políticos expressivos, como a senadora Kátia Abreu, que será uma grande adversária à medida que o PSD se alinhar ao governo. Mas não adianta ficarmos com lamúrias. Por que tentar segurar quem não quer permanecer? Quem quiser ir que vá embora. A maior traição que se pode cometer com o eleitor é ser eleito para integrar a oposição e migrar para a base governista. Vivemos um momento em que muitos políticos se intimidam diante da maioria e se tornam travestis políticos" (os grifos são meus).

Enfim, Francisco, "a guinada à direita do Governo Dilma", como você afirma, não aconteceu, ela "não é fato". De acordo com as considerações anteriores, a Presidente da República continua, sem arrastar o pé, o trabalho do seu padrinho e guru; segue, disciplinadamente, a cartilha dos seus correligionários e dos "Intelectuais revolucionários": a longa marcha Socialista-comunista.

Cordialmente,

Bruno Braga.

Belo Horizonte, 24 de Junho de 2011.

Wednesday, June 15, 2011

Entre o Mestre e o "Intelectual".


Bruno Braga.


É célebre a asserção que abre a "Metafísica" de Aristóteles: "Todos os homens por natureza tendem ao saber" (980 a 21). No entanto, aceitar a afirmação do estagirita não implica dizer que todos os homens têm o mesmo grau de devoção ao conhecimento, nem que utilizam o seu aparato cognitivo da mesma forma. Alguns o aplicam para facilitar as tarefas ordinárias e atividades cotidianas, enquanto outros vão além, e o empregam em investigações abstratas ou na construção de instrumentos, mecanismos e obras arquitetônicas altamente complexas. Há ainda aqueles que se esforçam pela honestidade intelectual, por mais terrível que possa ser a verdade – porém, existem tantos outros que se servem do conhecimento para a elaboração do embuste, a disseminação da fraude, para a orientação e práticas perniciosas. Mas, independentemente do nível de consagração de cada indivíduo, ou do domínio no qual a aplica, o homem se apóia sobre a faculdade que o distingue de todas as outras espécies.

O conhecimento se faz através do primitivo processo de "tentativa e erro" – é assim na cruel batalha pela sobrevivência, no esforço contínuo para suprir as necessidades elementares da existência; e do mesmo modo na incansável busca pela elucidação dos mistérios do mundo e da vida, seja no âmbito da especulação abstrata ou no sofisticado domínio das ciências. Assim muito se conquista e muito se esclarece; mas, ao mesmo tempo, várias são também as confusões, os erros, e as perdas. O conhecimento tem esta dupla face porque a via sobre a qual ele se desdobra está constantemente sob a sombra da incerteza, já que não há no mundo homem dotado de clarividência absoluta - o que faz da cognição humana um processo precário e modesto: embora ela seja o fundamento da glória do homem, é também parte do seu drama.

Muito conhecimento foi produzido ao longo da História. Um material acumulado que pode ser de grande valia para o neófito que toma consciência dos desafios de seu próprio trajeto. De posse dele pode esquivar-se dos erros cometidos pelos antepassados, evitar o desgaste desnecessário com problemas já superados. Para isso o principiante precisa escolher com cuidado os seus Mestres, aqueles que serão a sua companhia no árduo e lento processo de aprendizado para enfrentar as batalhas da vida.

As lições e experiências do Mestre são fundamentais para a formação do discípulo. No entanto, são elas ainda insignificantes se comparadas com o imenso quadro de possibilidades da experiência humana, do qual a fatalidade pode retirar uma ocorrência surpreendente para o pupilo. Assim, neste drama existencial, Mestre e discípulo são os protagonistas de uma história de conquistas e perdas, de "tentativas e erros". Eles são reféns, não apenas da fatalidade, mas também de suas próprias fraquezas e debilidades na busca pela compreensão do homem e de si mesmos, do outro, do mundo e da vida. Diante de desafios complexos e delicados é preciso, então, ser zeloso na escolha da companhia, na escolha dos Mestres – como aprendeu em lição o jovem Meister, de Goethe: "Aprenda a conhecer os homens nos quais se pode confiar!"

Acontece que, mesmo tendo um horizonte repleto de problemas e dificuldades, alguns se arrogaram a capacidade de encurtar o longo e penoso caminho, oferecendo uma solução definitiva para o drama existencial dos homens: diziam ter um projeto para toda a humanidade. Estes, os "Intelectuais revolucionários" substituíram a instável "tentativa e erro" pela "certeza" de um "futuro promissor". Contudo, para a realização do ambicioso projeto reivindicam o poder para guiar a humanidade através do necessário processo de transição - que em princípio exigiria medidas drásticas e violentas, mas imprescindíveis para a concretização do "mundo melhor".

Os "Intelectuais revolucionários" substituíram os antigos Mestres. A ambição dos primeiros ultrapassa o domínio modesto do individual, ou de pequenos grupos, para tomar uma proporção social e mundial. Julgam-se capazes de "reeducar" a humanidade; e mais, de transformar a sua natureza com a "conversão do olhar" de cada mortal, de modo a fazê-lo ver, em tudo, inclusive nas maiores barbaridades, uma necessidade para a realização do "futuro maravilhoso". Assim estabilizariam a complexidade do humano e de suas relações, superariam as limitações e a precariedade do instrumental cognitivo, além de remediarem a instabilidade dos sentimentos e dos afetos.

Os antigos Mestres estavam conscientes das suas limitações e da sua própria miséria, embora não medissem esforços para se manterem na "senda reta". Grandes gênios e honrados santos não afirmavam a sua genialidade ou a sua santidade. No plano cognitivo Sócrates duvidou da sentença do Oráculo de Delfos, que o proclamava o homem mais sábio de Atenas – a sua certeza era a de que nada sabia. E no plano religioso, Santo Agostinho era atormentado pelas fraquezas da carne. Por isso, uma obscuridade eventual na dimensão da vida pessoal dos antigos Mestres pouco representava para refutar as suas concepções, porque eles assumiam o drama existencial, a ameaça do erro e do "pecado" na busca da "Sabedoria" ou na sua devoção à "Verdade".

Mas e quanto aos "Intelectuais revolucionários"? Qual a relevância da vida particular deles para o julgamento adequado de seus projetos? É necessário exigir-lhes honestidade intelectual e autoridade moral para transformar a humanidade, ou estariam absolvidos e perdoados por causa do seu generoso projeto de um "futuro promissor"? Uma tese revolucionária lançou uma crítica aos filósofos, acusando-os de até então terem se limitado a "interpretar" o mundo: eles precisavam agora transformá-lo. Assim, os filósofos passariam a "Intelectuais revolucionários", obedientes a uma nova hierarquia de valores, que tem no seu ápice a "ação", a "práxis". No entanto, seria prudente verificar a aplicação da tese dos "Intelectuais revolucionários" sobre eles mesmos e sondar o que "fizeram", como "agiram", e se "comportaram", de modo a que a humanidade e o mundo, caso neles confiem, não corram o risco de serem modelados à imagem e semelhança de uma obscuridade interior.

Karl Marx é um dos pilares da "intelectualidade revolucionária". Afirmando-se defensor da massa trabalhadora explorada, ele proclama a necessidade de uma revolução da classe proletária contra a minoria usurpadora, a burguesia. Neste processo revolucionário os "Intelectuais" têm um papel fundamental: eles são a elite, os generais; enquanto os trabalhadores são os soldados de infantaria. Para o pensador alemão o privilégio concedido aos "Intelectuais" (comunistas) nesta espécie de "hierarquia militar" se deve ao fato de terem a vantagem da compreensão do andamento e dos resultados do movimento proletariado. Os "Intelectuais", então, seriam os "mestres", profetas e guias, da classe trabalhadora. Mas é preciso perguntar seguindo as sugestões anteriores: qual o grau de devoção ao conhecimento, quer dizer, o nível de honestidade intelectual de Karl Marx? Qual a sua autoridade moral para configurar radicalmente as estruturas da sociedade?

Em certo sentido Marx foi um erudito. Além da vasta leitura, ele passou anos coletando dados em bibliotecas, informações de jornais, revistas, e de documentos oficiais do parlamento inglês. Contudo, não se pode dizer que Marx foi propriamente um investigador, isto é, alguém que estivesse comprometido com a adequada descrição dos fatos, com a busca da verdade. A partir de uma estrutura deturpada do processo cognitivo, Marx já possuía "uma verdade", fazendo de sua pesquisa apenas uma seleção de dados que servissem para confirmar sua proposta. Além disso, mutilava o que era coletado, e freqüentemente o distorcia de modo a que se adequasse às suas teses preconcebidas.

"O Capital", publicado em 1867, é um exemplo concreto das fraudes promovidas pelo seu próprio autor. Quando aborda as condições de trabalho no capitalismo, Marx remete o leitor à obra de Engels, "A situação da classe operária na Inglaterra", de 1845. Este texto, a única fonte do pensador alemão sobre o tema, havia, de fato, sido concebido pelo filho de um industrial bem sucedido, mas que, na verdade, pouco contato teve com o ambiente de trabalho do operariado. Quanto à obra em si, ela, como referência para Marx, poderia ser considerada ultrapassada, se para este julgamento fossem adotados como critérios as constantes modificações do domínio que pretendia descrever e as datas de publicação: entre a obra de Engels e "O Capital" de Marx havia um hiato de mais de duas décadas. Acontece que o problema era ainda mais grave. Em 1958, W. O. Henderson e W. H. Challoner analisaram o texto de Engels e concluíram que ele não possuía qualquer valor histórico ou científico: tratava-se de uma obra panfletária, de propaganda política. Engels já utilizava informações desatualizadas, a partir das quais promovia interpretações distorcidas, quando não maquiava os próprios dados. Marx, por sua vez, não só acobertou as deturpações do amigo e parceiro – muitas delas denunciadas em seu tempo – como ainda ocultou a melhoria das condições de trabalho advinda da execução de exigências legais, como as "Leis Fabris", adotadas desde o início do século XIX. Esta fraude não é uma ocorrência isolada entre os procedimentos intelectuais de Marx.

Em 1863 W. E. Gladstone, então Ministro da Fazenda inglês, em um discurso sobre gastos orçamentários disse o seguinte: "Eu deveria encarar quase com apreensão e com pesar esse aumento inebriante da riqueza e do poder se achasse que tal aumento se limitou à classe que está em condições favoráveis" [...] – e acrescenta: "a situação geral dos trabalhadores britânicos, como temos a felicidade de saber, melhorou ao longo dos últimos vinte anos num grau que, como sabemos, é extraordinário, e que quase devemos declarar como sendo sem paralelo na história de qualquer país em qualquer época" (grifo meu). Em declaração para a Associação Internacional de Trabalhadores – reproduzida em "O Capital" – Marx atribui o seguinte discurso a Gladstone: "Esse aumento inebriante de riqueza e poder se limita inteiramente às classes proprietárias" (grifo meu). Com a manipulação do discurso de Gladstone, Marx estabelecia e estimulava o seu principal objetivo: a "luta de classes" .

Defensor obstinado dos trabalhadores – generosidade que parecia justificar a falsificação, o ocultamento, a manipulação, enfim, a desonestidade intelectual – Marx acabou virando as costas para um de seus protegidos: uma "trabalhadora" que nunca recebeu um tostão sequer, e que estava dentro da sua própria casa. Helen Demuth, ou simplesmente "Lenchen", prestava serviços para a família Marx: cozinhava, passava, além de ser responsável pela administração do orçamento da casa. Ocorre que entre 1849 e 1850 Lenchen se torna amante de Marx, e fica grávida. O pensador alemão se esforça para ocultar de sua mulher, e de seus companheiros revolucionários, o "estado interessante" de Lenchen. Mas Jenny Marx, também grávida, descobre a condição de sua funcionária. Marx não assumiu a sua responsabilidade, e negou ser o pai da criança – registrada com o nome Henry Frederick Demuth, mas chamada simplesmente de "Freddy". O menino foi oferecido para adoção a uma família de operários. Ele tinha permissão para visitar a família Marx, com algumas restrições: não poderia utilizar a porta da frente da casa; e era obrigado a ver a mãe apenas na cozinha. Marx temia que a verdade sobre Freddy fosse descoberta e manchasse a sua reputação enquanto "general", membro da "elite intelectual" da revolução. Engels foi convencido a assumir a paternidade – porém, debilitado por um câncer no esôfago, escreveu em uma lousa o segredo que não deveria ser tragado pela terra junto com o seu corpo: "Freddy é filho de Marx [...]" .

Perfeição e santidade não são atributos que se deva exigir do ser humano, um ser corrompido por natureza. São virtudes relacionadas sempre ao divino. No entanto, se um tipo como o "Revolucionário", que acredita sobrelevar-se como "o escalão mais alto da humanidade" - autoproclamação de Che Guevara - portando um projeto que diz ser "científico" e reivindicando poder para transformar a humanidade e o mundo, então é, no mínimo, prudente checar as suas credenciais. Porque elas são o fundamento de seu próprio discurso. Acontece que, no caso dos revolucionários, como ilustra o exemplo de Marx, há, entre as suas teses, a sua "práxis", e a sua generosa promessa, um conflito insolúvel. Agora, é imprescindível esclarecer: não se trata, aqui, de disputar a defesa da moral para este ou aquele segmento teórico-ideológico ou grupo político-partidário. Nem mesmo fomentar a resignação ou renúncia da vida prática. Mas ponderar sobre ambições aparentemente mais modestas, fundamentais para que ninguém se precipite a querer transformar os outros e o mundo conforme suas trevas interiores – suspeitar como o Julien Sorel de Stendhal: "o homem que quer expulsar a ignorância e o crime da Terra deve passar como a tempestade e semear o mal como ao acaso?" Assim talvez fique claro que o fim é o próprio percurso – o longo, interminável, repleto de transtornos e tropeços sobre o qual havia ensinado o antigo Mestre – e não o projeto pronto e acabado do "Intelectual revolucionário", que para a realização do sempre adiado "futuro maravilhoso", rendeu à humanidade não apenas um aviltamento intelectual como também uma carnificina jamais vista ao longo da História.

 

Bibliografia.

ARISTÓTELES. Metafísica. Comentários de Giovanni Reale. São Paulo: Edições Loyola, 2002.
______. Política. Editora Nova Cultural: São Paulo, 2000. Coleção Os Pensadores.

GOETHE, Johann Wolfgang. Os anos de aprendizado de Wilhelm Meister. Editora 34: São Paulo, 2006.

JOHNSON, Paul. Os Intelectuais. Imago Editora: Rio de Janeiro, 1990.

MARX, Karl. Le Capital. Critique de l'economie politique. Livre premier. Le développement de la producion capitaliste. Editions Socieales: Paris, 1977.

MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Manifesto do Partido Comunista. Editora Martin Claret: São Paulo, 2002.

STENDHAL. O Vermelho e o Negro. Editora Nova Cultural: São Paulo, 2002.

 

Tuesday, May 31, 2011

Comentário.

Bruno Braga.


 

O texto abaixo, gravado em itálico, é um breve comentário sobre o artigo de Dimas E. Soares Ferreira, "Uma estrada para o futuro", publicado no portal "Barbacena Online" em 28 de Maio de 2011 [http://www.barbacenaonline.com.br/noticias.php?c=6264&inf=30]. Comentário este enviado para o mesmo sítio em 31 de Maio de 2011.


 

Peço permissão para intrometer-me na conversa, já que raramente se tem a oportunidade de contar com a participação do autor do texto no espaço destinado aos comentários. E a palavra de Dimas Ferreira aqui é fundamental para esclarecer alguns pontos do seu artigo e de seu comentário subseqüente (Cf. 29.05.2011) - embora, mesmo como professor, ele diga "detestar" comentar as postagens, precisamos das luzes de Dimas para livrar-nos das nuvens obscuras da ignorância! Mas não são necessários esclarecimentos sobre as disposições gráficas, as estatísticas, os números, porque sabiamente disse Sertillanges: "as matemáticas isoladas falseiam o julgamento do habitual em um rigor que não comporta nenhuma outra ciência e menos ainda a vida real" (1934, p. 127). É preciso explicar justamente este elemento da "vida real" afirmado pelo pensador francês, subjacente aos quadros e gráficos, e que lhes dão unidade, organização e estrutura.

Depois de um esforço hercúleo para compreender e articular as considerações presentes no texto principal com o comentário que se segue, e até mesmo com os artigos anteriormente publicados pelo autor, eu proponho uma hipótese para elucidar as considerações de Dimas Soares – exposta à correção do próprio, caso se disponha. Aponto primeiro as dificuldades e depois apresento a minha hipótese.

Dimas diz que um dos entraves para que haja investimentos em infra-estrutura é "a resistência "ideológica" em aceitar a participação da iniciativa privada no setor". No entanto, quando comenta as considerações dos leitores fala de "cantinela (sic) neoliberal" (suponho que sua intenção tenha sido dizer "cantilena", isto é, uma "cantiga suave" ou uma "ladainha"), de "burguesia" - além de aparentemente criticar uma obra apenas com o "argumentum ad hominem", apontando a origem do autor, um "norte-americano", sem indicar o equívoco de suas teses. Ora, um discurso construído nestes termos é, para utilizar a tipologia de Dimas Soares, também "ideológico". Então, qual "ideologia oculta" está denunciando o ilustre articulista? A "ideologia" burguesa, neoliberal, ou a sua mesma? Ou será que esta "ideologia" não passa de um simples estereótipo, isto é, uma "projeção" para justificar a sua nobre batalha quixotesca contra o Moinho de Vento burguês-neoliberal?

Esta confusão causa um embaraço insolúvel. Pois, se Dimas está certo de que a "burguesia nacional" não tem "interesse" em investir na infra-estrutura do país, como seria possível para esta "classe", então, cometer o "pecado" da "usura" e o da "exploração da classe trabalhadora" sem as condições que permitem o estabelecimento do "tenebroso" Capitalismo? [Recorro aqui aos "pecados mortais", denunciados pelos opositores do capital "neoliberal", como se arroga o próprio Dimas em seu comentário].

A passagem anterior apresenta outra dificuldade: se a "burguesia nacional" não tem "interesse", nem "capacidade", como afirma Dimas Ferreira, a quem caberia o investimento em infra-estrutura? Mas e o seleto grupo de empresas nacionais privadas arroladas pelo autor do artigo? Seus proprietários não são "burgueses"? Talvez Dimas pense que "estes" são "burgueses", sim, mas são nobres e virtuosos. Ocorre que eles continuam sendo burgueses "nacionais", e, segundo o próprio Dimas, são "desinteressados" e "incapazes". Para resolver o problema do país, então, restaria apenas "burguesia internacional", porque o articulista afirma que o Estado não tem condição de bancar todos os investimentos. Opa, um momento, um momento! Há um sério obstáculo para esta solução: Dimas não gosta muito da "burguesia", do "neoliberalismo"... Para a colaboração de Estados estrangeiros Dimas também impõe algumas restrições: por exemplo, para os americanos, pelo simples fato de serem americanos - mesmo que os Estados Unidos seja apontado, pelo próprio articulista, como um bom exemplo no domínio da "logística".

Mas não há motivo para desespero, porque se os Estados Unidos são "excomungados" por Dimas Ferreira, é permitido seguir outras "tendências" internacionais: afinal, o Brasil não pode ser um país "démodé", e investir no "Trem-bala" seria um belo adorno para a nova temporada "Fashion Week", ou melhor, "Fashion Millennium".

Acontece que, neste desfile, certos trajes parecem não cair muito bem para as concepções de Dimas Soares. Antes ele vestia a coleção "Eco-articulista" (Cf. o artigo do mesmo autor, "De quem é a culpa?" [http://www.barbacenaonline.com.br/noticias.php?c=5346&inf=4]), mas agora ressurge como um "Avatar desertor" para criticar as "licenças ambientais" que atrasam os investimentos no país. Afinal de contas, qual a prioridade para Dimas Ferreira, o "Meio ambiente" ou o "desenvolvimento econômico" nacional? Será que Dimas reformulou suas posições? Para responder arrisco, então, a minha hipótese: não – ele apenas veste o que é adequado à "estação", isto é, à "conveniência".

Porque o capital privado que merece a crítica e oposição do articulista é apenas aquele que não tem acordo fechado com o seu "Partido". No entanto, se for, por exemplo, as notas de Eike Batista (citado no texto principal), que pretende financiar a criação do "Instituto Lula", o "pecado do Capitalismo" é imediatamente absolvido (Cf. http://www1.folha.uol.com.br/poder/877517-cabral-oferece-palacete-no-rio-para-abrigar-instituto-de-lula.shtml). O mesmo se faz com um seleto grupo de empresários, que se inserem em uma estratégia dupla: enquanto lucram com as benevolências do "Partido" que ocupa o poder, fortalecem, política e financeiramente, os seus benfeitores.

Portanto, o artigo em tela é mais uma peça panfletária que, utilizando dados estatísticos, gráficos e números, faz parte de um longo trabalho de militância de seu autor, na defesa e justificativa do seu "Partido" e de seus correligionários.

(*) Observação final: já que o assunto é "economia", adianto um esclarecimento para evitar o desperdício de espaço e caracteres em um possível debate: não tenho nenhuma ambição eleitoral; não sou filiado a nenhum partido, nem me proponho a defender qualquer "ideologia" – preocupa-me apenas a descrição dos fatos.

Cordialmente,

Bruno Braga.

Belo Horizonte, 31 de Maio de 2011.

Wednesday, April 27, 2011

Novo comentário.

Bruno Braga.


 

Logo abaixo, em itálico, dou publicidade ao comentário referente ao texto "Ande como um egípcio", da autoria de Dimas E. Soares Ferreira, postado no site "Barbacena Online" [http://www.barbacenaonline.com.br/noticias.php?c=5949&inf=8]. O comentário foi enviado para o site em 18 de Abril; porém, não foi publicado no espaço apropriado. Ao Conselho Editorial do site, através de contato feito em 21 de Abril, foi solicitada a fundamentação para a não publicação do comentário – no entanto, não houve resposta por parte dos responsáveis. Sendo assim, neste espaço, torno publico o referido comentário.

Cordialmente,

Bruno Braga.

Belo Horizonte, 27 de Abril de 2011.

***

Caro Dimas,

No início do seu texto você pretende contar um pouco da História. Porém, a sua narração suprime elementos fundamentais para a compreensão dos fatos, além falsificar vários outros.

Por que você não menciona que o Sindicalismo, junto com o Movimento Estudantil e o Movimento Camponês – e a luta armada - foi um dos braços da Revolução Comunista que se pretendia desencadear no Brasil? E que as Forças Armadas reagiram a esta tentativa de se instaurar no país a "Ditadura do Proletariado"?

Por que você suprime da sua narração o "milagre econômico brasileiro" ocorrido durante o regime militar? Aliás, período sobre o qual Lula diz o seguinte: "Se houvesse eleições, o Médici ganhava. [...] A popularidade do Médici no meio da classe trabalhadora era muito grande. Ora, por quê? Porque era uma época de pleno emprego. Era um tempo em que a gente trocava de emprego na hora que a gente queria. Tinha empresa que colocava perua para roubar empregado de outra empresa" (in "Memória Viva do Regime Militar". Record, 1999).

Você afirma que "A hegemonia de classe, como já dizia Marx, é o primeiro passo para o fascismo e o totalitarismo". Mas o que seria a hegemonia do poder de tendência marxista-leninista instaurado hoje no Brasil? Lembro a você que o Comunismo-Socialismo também é uma forma de Totalitarismo.

A sua interpretação dos acontecimentos nos Estados Unidos demonstra um completo desconhecimento dos fatos. Ao contrário do que você afirma, é o movimento conservador – que tem como um de seus representantes o "Tea Party" – uma reação ao domínio dos "liberais", que lá são os esquerdistas. Reação esta que tem amplo apoio da população norte-americana. Aliás, pintar os Republicanos ou Conservadores como "radicais" e "insanos" é simplesmente reproduzir os estereótipos da mídia esquerdista norte-americana, que representa apenas metade, repito, metade dos americanos.

Inúmeros pontos da sua narração histórica, Dimas, poderiam ser contestados. A dúvida que fica é se você a constrói enquanto Cientista Político – procurando contar, como diz von Ranke, os fatos como eles realmente acontecerem – ou como militante, enquanto "intelectual orgânico" e agente de influência do "Partido". Se você decidir pelo primeiro caminho, há muitos pontos no texto que precisam ser corrigidos – no entanto, se escolhe a segunda via, a sua narrativa atende, com o recurso do artifício, perfeitamente os seus propósitos.

Grande abraço.

Bruno Braga.

Belo Horizonte, 18 de Abril de 2011.

Saturday, April 02, 2011

Reescrevendo a História.

Bruno Braga.

 

 
A memória de uma comunidade é preservada quando os seus membros transmitem, para as novas gerações, as experiências vividas por eles no passado. Assim se constitui uma tradição, repassada por meio da oralidade, dos testemunhos, das lições dos mestres, dos registros escritos, dos documentos e livros. Aos mais jovens é recontada a trajetória de sua família – e a de seu povo - despertando neles uma consciência ainda adormecida, a consciência histórica. Ocorre que neste processo que se refaz através do tempo, o elo se rompe quando alguém decide reescrever o passado, e contar a história da sua maneira – quer dizer, transmitir uma versão particular dos fatos, e não aquela que envolve toda a comunidade. Pois é deste modo que um grupo está narrando, há algum tempo, parte das experiências do Brasil: ele conta a sua versão da história e a transforma na memória de todo um país – o faz em um coro quase uníssono, que sussurra com voz melíflua um discurso romântico, capaz de entorpecer uma geração quase inteira e prestes a reconstruir totalmente a consciência histórica da futura.
 
Neste processo os educadores seguem as lições de seus "novos" mestres – a intelectualidade. Estes, por sua vez, estão intimamente articulados com os ocupantes das altas instâncias do poder político: das alturas, confabulam uma versão do passado - a versão do grupo, ou do "Partido" - que deverá ser transformada em cartilha. Um Manual que os professores seguirão rigorosamente para formar a "consciência crítica" de seus pupilos. Deste modo os educadores da nação cumprem a sua função, transmitem a história "reescrita": são, junto com seus mestres, "intelectuais orgânicos", quer dizer, uma raiz do "Partido" que forma a consciência histórica de jovens e adolescentes nos bancos escolares e universitários, e que contribui fortemente para a construção de uma cultura. Uns o fazem como militante decidido, outros como um "idiota útil", um "Polieznyi".
 
No entanto, diante desta engrenagem intelectual-político-educacional, seria prudente interrogar: antes que ela pudesse funcionar, como mestres e políticos alcançaram o status e a autoridade para reescrever a História e ensiná-la em quase uníssono? Para além do simplesmente "contado", o que foi realmente "vivido"? Talvez um fato cotidiano possa lançar algumas pistas para elucidar esta trama.
 
Há poucos dias uma entrevista do Deputado Federal Jair Bolsonaro (PP-RJ) causou certa repercussão. Em um programa humorístico o parlamentar respondia a perguntas que lhe eram repassadas através de uma gravação em computador. Entre as questões, feitas por pessoas comuns, havia uma da cantora Preta Gil, que motivou toda a polêmica. Interrogado sobre como reagiria se seu filho se casasse com uma negra, o parlamentar não hesitou: "Não vou discutir promiscuidade com quem quer que seja. Eu não corro esse risco porque meus filhos foram muito bem educados, e não viveram em ambiente como lamentavelmente é o teu". Imediatamente o Deputado – conhecido por sua oposição, não a negros e homossexuais, e sim aos movimentos políticos que se utilizam da "raça" e da "sexualidade" - foi acusado de "racista" por líderes de grupos negros e LGBT's, por artistas, intelectuais e também por políticos.
 
Para quem assiste ao vídeo [http://www.youtube.com/watch?v=HyaqwdYOzQk&feature=topvideos] é possível perceber, claramente, que a resposta de Bolsonaro não se ajusta à pergunta – indício de que, ou não compreendeu a questão ou se confundiu, supondo tratar-se de um casamento imaginário entre seu filho - não com uma "negra" - mas com um homossexual. Aliás, grande parte das questões anteriores à de Preta Gil tratavam da homossexualidade, com o objetivo explícito de fazer o parlamentar manifestar as posições que fizeram dele um deputado "polêmico".
 
No entanto, a reação dos indignados não estava fundada no que viam ou ouviam – uma resposta mal-educada, ou "politicamente incorreta", para uma questão não compreendida. Não se prestou atenção no conteúdo e na condução das perguntas - e nem mesmo na edição do programa, que acrescentou, a determinadas respostas do deputado, uma série de sons que insinuavam ironia. Ademais, ninguém deu importância para um contexto que ultrapassa a exibição do vídeo – não o contexto imediato da polêmica, mas o que se estende desde o passado, no qual estão inseridos o deputado e seus principais opositores. Nenhum destes elementos serviu para uma ponderação anterior ao julgamento – a condenação deveria ser imediata, e a sentença sumária foi dada, com fundamento nas lições aprendidas na escola e reforçadas por toda uma cultura: Bolsonaro é um "racista", "fascista"; um representante da "extrema direita" – por ser militar reformado, e defensor do regime conduzido por seus companheiros de farda no Brasil, é um "resquício" da "ditadura militar", da "repressão" e da "tortura".
 
Neste coro harmônico duas vozes se destacaram: as dos Deputados Federais Manuela D'Ávila do PC do B-RS e Jean Wyllys do PSOL-RJ. Juntamente com outros parlamentares eles assinaram uma representação contra Bolsonaro, enviada para o Presidente da Câmara.
 
Manuela e Jean são filiados a partidos fundados na doutrina marxista-leninista, partidos comunistas-socialistas. Os parlamentares empunham bandeiras de regimes que, ao longo da história, foram verdadeiras máquinas de produzir cadáveres. No século XX tombaram mais vítimas que a soma das duas guerras mundiais, das ditaduras de direita, das epidemias, dos desastres e catástrofes naturais enfrentados pela humanidade – mais que todos estes eventos juntos. Para R. J. Rummel os regimes comunistas-socialistas não praticaram o "genocídio", mas um verdadeiro "Democídio" (Cf. http://rudyrummel.blogspot.com/ - também para uma apresentação detalhada destes cálculos). Mataram mais que o regime Nazista: na contabilidade são 100 milhões de mortos contra 25 do séquito do Führer (Cf. COURTOIS, 1998, p. 29).
 
Já no contexto nacional, Manuela D'Ávila representa uma sigla que, desde 1922, ano de sua fundação, busca – seja através dos meios legais, ou da clandestinidade – a implantação da "ditadura do proletariado". Para isso contou com o financiamento da extinta União Soviética, de Cuba e da China – recebendo não apenas dinheiro, mas também treinamentos de guerrilha e armas. Para conquistar o poder os correligionários julgaram necessário empunhar armas – o que os fundadores do partido de Manuela, seus herdeiros, e outros grupos solidários aos mesmos ideais, fizeram muito antes da "Ditadura Militar" que os combateu: em um momento em que não se podia justificar o conflito com a "luta pela Democracia". Porém, para cumprirem o projeto marxista-leninista, os "revolucionários" promoveram atentados, detonaram bombas, assaltaram bancos, carros pagadores, seqüestraram, fizeram reféns – inclusive crianças. Nestas ações feriram e mataram inocentes. Convocaram "Tribunais Vermelhos" para os "justiçamentos", isto é, a condenação sumária à morte de pessoas que não tiveram qualquer direito à súplica. Sentenciaram à pena capital militares sem chance de defesa, como Alberto Mendes Júnior, e gente simples, que não está nem entre os figurantes da história contada nas salas de aula: Osmar, "Pedro Mineiro", "João Mateiro". Decidiram a morte de seus próprios companheiros, suspeitos de "vacilação em convicções ideológicas e divergências políticas" (Para todos estes relatos Cf. USTRA, "A Verdade Sufocada: A História que a esquerda não quer que o Brasil conheça", 2007).
 
Jean Wyllys, por sua vez, é filiado a uma sigla que, há bem pouco tempo, tinha como presidente uma entusiasta do regime cubano – patrocinador da luta armada no Brasil. Ligado a grupos LGBT o parlamentar talvez desconheça o tratamento dedicado pelo "Comandante" aos homossexuais. O processo de "reeducação" imposto por ele seguia uma disciplina rígida: os homossexuais eram submetidos a um "julgamento" público, no qual deveriam confessar abertamente os seus "vícios" (COURTOIS, 1998, p. 735). Isto quando não eram afastados do convívio social, trancafiados em Hospitais psiquiátricos sob o diagnóstico de "comportamento desviante". Se Jean não abraçasse a bandeira comunista-socialista, mas adota-se somente a cor dela, talvez estivesse mais próximo de sua causa, simbolizando o sangue de muitos, que semelhantes a ele na sexualidade, foram executados em Cuba sob a condenação de "delito moral".
 
Manuela e Jean se auto-intitulam, respectivamente, "a nova cara da política" (www.manuela.org) e o "novo" deputado (http://jeanwyllys.com.br). No entanto, apenas colaboram com os seus correligionários que, um dia "revolucionários", alcançaram e têm agora o poder. Foram derrotados nas armas, mas habilidosamente vitoriosos em outra batalha - a da "revolução cultural". A partir dela passaram a reescrever o passado, contaram a sua versão sobre o combate travado contra os militares, e o romance que criaram se transformou na memória de um país, transmitido aos jovens, formando uma cultura – a "ditadura do proletariado" se transformou em "luta pela democracia". Assim, os "revolucionários" de outrora, membros do "Partido" agora, adquiriram o status e a autoridade para, com base nos estereótipos por eles mesmos criados, "justiçarem" os antigos inimigos: "fascista", "ditador", "direitista radical", "torturador". E Bolsonaro é um representante dos velhos rivais, e no âmbito da política, um dos últimos que restaram para contar uma História que está sendo reescrita por apenas uma das partes. Quantos já ouviram o que ele tem para dizer fora de um programa humorístico? O que ele tem para contar sobre as ações militares, e, sobretudo, a respeito da esquerda? (Cf. os discursos de Bolsonaro na Tribuna da Câmara e nas Comissões do Congresso [www.youtube.com]) Nesta história o deputado não é apenas uma figura "caricata", um político "conservador" e exaltado. Dentro da estratégia política ele seria um personagem no mínimo "inconveniente". Porque com a instauração da "Comissão da verdade" - encarregada de apurar os "crimes cometidos pela repressão", mas composta predominantemente por entidades e pessoas ligadas ao "Partido" – ele recordaria um pouco da História do Brasil que os "revolucionários" que agora ocupam as instâncias de poder pretendem reformular, reescrever: o da "Ditadura" – ou será da "Contra-revolução"? – Militar. Reescrever não em nome da nobre "Democracia", mas para estabelecer uma verdadeira "Hegemonia".
 
Diante destes fatos, coincidência, ou não, a polêmica com o Bolsonaro ocorreu nas vésperas de 31 de Março - uma das datas favoritas dos "revolucionários" para promoverem atentados de impacto durante o período da luta armada; agora, com ambição de instaurar uma "Comissão da verdade", a polêmica sugere uma oportunidade estratégica.                  

Friday, March 25, 2011

Mais três comentários.

Bruno Braga.


 

Na última postagem (15 de Março de 2011) disponibilizei dois "comentários" enviados para o site "Barbacena Online" (www.barbacenaonline.com.br) que continham observações sobre determinados textos publicados no canal. O Conselho Editorial do referido site, no entanto, encarregado de um exame prévio das manifestações dos leitores, decidiu por não dar-lhes publicidade. Aos "dois comentários" anteriores somam-se agora "mais três", que também aqui decido estampar, já que, após insistente pedido de esclarecimento sobre a fundamentação destas novas "filtragens", não houve nenhum retorno por parte dos responsáveis.

A seguir os comentários - textos em itálico, na versão original enviada para o site "Barbacena Online" - com as respectivas referências.


 

I. Bruno Braga. Comentário referente à notícia "'A cor da cultura' entra em nova etapa" [http://www.barbacenaonline.com.br/noticias.php?c=5612&inf=100].


 

Cara Maria Eneida,


 

Antes desta "formação continuada", pela qual passam professores e técnicos em educação, seria pertinente que estes profissionais se inteirassem sobre o projeto maior, do qual "A cor da cultura" é apenas um dos seus braços. Assim constatariam que propostas deste tipo trazem consigo: a elaboração de uma narrativa, reduzida e distorcida, da História; a introdução na cultura da "consciência da "raça"", que fere lições básicas de genética; a instauração da bipolaridade entre "negros" e "brancos", desprezando os "pardos" ("mestiços") – estes que são quase metade da população e assim se auto-declaram como não possuindo raça nenhuma, ou seja, não se consideram nem negros nem brancos, mas uma "mistura" [Cf. http://noticias.uol.com.br/especiais/pnad/2010/ultimas-noticias/2010/09/08/cresce-proporcao-de-pardos-e-pretos-no-pais-brancos-amarelos-e-indigenas-perdem-espaco.jhtm?action=print]; uma interpretação equivocada do "princípio de igualdade", que objetiva estabelecer a igualdade através da "diferença"; manipulações políticas e inclusive legislativas (Cf. Lei 12.288/2010 – Estatuto da Igualdade Racial – Exemplo: Considerar a pessoa que se auto-declara "parda" como parte da população negra [Art. 1, IV]).

Agora, uma observação importante, criticar projetos deste tipo não significa adotar a posição contrária, a do Racismo. Pelo contrário, pretendo indicar que, para amparar os mais necessitados não é preciso recorrer à diferença da "cor da pele", nem à ancestralidade: basta considerar que eles são simplesmente seres humanos.

Grande abraço.

Bruno Braga.

Barbacena, 14 de Março de 2011.

***

II. Bruno Braga. Comentário a respeito do texto de Geraldo Trindade intitulado "O que está acontecendo no mundo?" [http://www.barbacenaonline.com.br/noticias.php?c=5733&inf=100].

Caro Geraldo Trindade,

Em sua dissertação você simplifica os eventos ocorridos no mundo árabe. Isto é um equívoco na medida em que se coloca ocorrências que têm motivações distintas em um mesmo plano – como você faz com os eventos da Líbia e do Egito. Este equívoco metodológico – ou por desconhecimento de causa – tem conseqüências desastrosas, sendo uma delas a afirmação de que os manifestantes "não pertencem nem defendem as tradições nacionalistas, de um estado árabe e teocrático". Ora, no caso específico do Egito quem articula protestos, manifestações, e age como protagonista da oposição política é a Irmandade Muçulmana – uma entidade de origem obscura, que já esteve associada com o Nazismo, que está intimamente ligada a organizações terroristas (Hamas) [Cf. Jim Mars e Peter Levanda], e tem compromisso radical com a instauração do "Califado Universal". Neste caso não é o "povo", ou a "grande massa", que protesta e realiza manifestações – trata-se de certo número de pessoas que funciona como "grupo de pressão" em favor dos interesses de uma entidade muito bem organizada.

Além disso, apresentar os árabes como povo "explorado" e "dócil" a governos ditatoriais é reduzir uma história – repleta de conflitos religiosos, batalhas contra ocupações estrangeiras, lutas de independência, movimentos libertários, guerras de invasão, ocupação e dominação na Ásia, África e Europa, e até exploração do trabalho escravo (Cf. MAGNOLI, p. 196) – para criar estereótipos panfletários ou idealizações políticas.

Grande abraço.

Bruno Braga.

http://dershatten.blogspot.com/


 

Belo Horizonte, 20 de Março de 2011.

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III. Bruno Braga. Comentário sobre o texto de Dimas E. Soares Ferreira, "Ensaio crítico sobre a corrupção: teoria, percepção e realidade" [http://www.barbacenaonline.com.br/noticias.php?c=5740&inf=100].

Caro Dimas,

Em seu texto você aponta o responsável pelos "desvios éticos": as ambições e a ganância das sociedades humanas. No entanto, as "sociedades" não são ambiciosas ou gananciosas, pois as "sociedades" não têm realidade efetiva, mas somente os "indivíduos" que a compõem – estes sim são ambiciosos, gananciosos, e responsáveis por "desvios éticos". É assim porque "sociedade" é uma abstração, é um "universal" que não tem existência própria senão na "substância primeira" que a corporifica, ou seja, em cada um dos homens que dela faz parte – o indivíduo concreto, portador de sentimentos e paixões, e capaz de agir. Ademais, falta à "sociedade" a unidade de intenções e autoconsciência – pré-requisito necessário para a ação e, conseqüentemente, para a culpabilidade, isto é, para ser responsabilizado por "desvios éticos".

Sobre o levantamento histórico e teórico que você estabelece ao longo do texto poder-se-ia fazer algumas observações – selecionei duas.

A primeira diz respeito à consideração da política e do pensamento grego. Você utiliza uma chave interpretativa que não se aplica, de maneira nenhuma, àquele período – a da velha e conhecida "luta de classes", recorrendo ao vocabulário, "oligarquia", "povo", etc.. É pertinente apontar o equívoco de se aplicar esta chave interpretativa porque ela contamina a sua utilização do termo "democracia" – que no mundo grego tinha um significado bem peculiar, muito diferente das suas pretensões. Por exemplo, a democracia grega não atingia os "escravos", que eram, em Atenas, 3/5 da população e não tinham qualquer direito político (DURANT, 2000, p. 31). Nestes termos, a sua consideração, feita sob a luta entre "oligarquia" e "povo" não se sustenta.

A segunda observação se refere à incapacidade dos liberais, alegada por você, de explicar "os índices altíssimos de corrupção registrados na Rússia logo após sua opção pelo modelo liberal quando se deu um intenso processo de privatizações e desregulamentações". Para explicar o fato – sem vincular-me a nenhuma corrente teórica ou política – basta recorrer às considerações feitas anteriormente: não são os modelos políticos os culpados, os responsáveis pela "corrupção", mas os "indivíduos concretos", efetivos, que se utilizam deles enquanto "instrumento" para a realização de suas "ambições" pessoais, ou as do seu grupo – formando, por sua vez, por indivíduos concretos que compartilham os mesmos interesses. Nestes termos, quais são, em sua maior parte, os indivíduos que permaneceram após a derrocada do socialismo soviético? A própria elite burocrática do modelo de Estado antigo. Ou você pensa que, abandonado o socialismo soviético, toda a elite burocrática, membros do partido, comandantes militares, e agentes da KGB, voltaram para suas casas, para cuidar da família e do cachorro? Não. E cito apenas um exemplo de que estes mesmos permanecem no poder: Vladmir Putin, filho de um ex-agente da NKVD (antiga KGB [Sobre o orçamento e as atividades da KGB, Cf. COURTOIS, 1998; "Conversation with Yuri Bezmenov" – Video]). A questão está, então, explicada.

É isso, Dimas. Outros pontos do seu texto poderiam ser discutidos – mas, estes me pareceram os mais pertinentes para uma primeira consideração.

Cordialmente,

Bruno Braga.

http://dershatten.blogspot.com/


 

Belo Horizonte, 20 de Março de 2011.


 

Tuesday, March 15, 2011

Dois comentários.

Bruno Braga.


 

Dou publicidade a dois "comentários" enviados para o site "Barbacena Online" [www.barbacenaonline.com.br] – ambos destinados ao espaço aberto para a manifestação dos leitores dos textos publicados pelo canal. Disponibilizo aqui os comentários porque o Conselho Editorial do site supra citado, responsável por uma análise prévia das considerações dos leitores, não o fez no domínio e no contexto apropriados. A seguir, os comentários (caracteres em itálico) acompanhados das respectivas referências.

I. Bruno Braga – Comentário sobre o texto de Dimas Soares Ferreira, "Barbacena e sua encruzilhada" [http://www.barbacenaonline.com.br/noticias.php?c=5451&inf=100].

A título de esclarecimento, seria importante repassar alguns comentários postados recentemente – os de Marco Aurélio Lima (14.02.2011) e os de Alcides Brenan (14.02.2011).

Caro Marco Aurélio, argumentos não são desmontados com "votos", mas sim com outros argumentos, quer dizer, com o esclarecimento fundamentado exposto na análise e no exame pretendido dos primeiros – é assim porque a discussão séria se orienta, não por um critério "quantitativo"; pelo contrário, está em jogo o elemento "qualitativo", ou seja, o conteúdo das idéias articuladas. Além disso, Marco Aurélio, você se utiliza de outro estranho parâmetro de julgamento ao indicar que "posicionamentos" são medidos pela publicidade: se são "ultrapassados" e "antigos", isto já seria suficiente para descartá-los – como se fundamentados fossem as "posições" que aparecem na revista "Caras", ou os que desfilam nos discursos das modelos do "São Paulo Fashion Week", enfim, os "posicionamentos" que estão "na moda". Sugiro o seguinte, Marco Aurélio: conteste "o que" eu disse, o conteúdo "objetivo" dos meus comentários; porque, embora você tenha dito que eu "nunca consigo" desmontar os argumentos de Dimas Ferreira, você mesmo não apresentou nenhuma justificação, nenhuma análise, nenhum exame, esclarecimento ou explicação das concepções expostas na minha postagem.

Agora, não tenho nenhuma filiação partidária, nenhuma pretensão política, e, por isso mesmo, qualquer intenção de obter "ressonância" – meu interesse é a "compreensão": neste domínio são débeis os critérios da "publicidade", da "audiência". De qualquer maneira você pode consultar o que escrevo no meu Blog particular [http://dershatten.blogspot.com], no Blog "Zinnecult" [http://zinnecult.zip.net/], ou conferir os artigos publicados no próprio Barbacena On line ("Um teólogo militante sob suspeita" [http://www.barbacenaonline.com.br/noticias.php?c=4736&inf=4] e no "Barbacena Cultural" ("Uma reflexão ética" [http://barbacenacultural.wordpress.com/2010/07/01/barbacena-cultural-nasce-tertulia/]. Em todos estes canais você pode postar os seus comentários e criticar o meu modesto esforço, porque a discussão intelectual não é nenhum ato "preconceituoso".

Passo a comentar a postagem de Alcides Brenan (14.02.2011). Não conheço a Tabata Costa, não tenho procuração para defendê-la, e nenhuma pretensão de fazê-lo, nem mesmo pelos elogios que ela, com relação à minha postagem, teceu. No entanto, Alcides, não é vergonha nenhuma mudar de posição, porque não é vergonha pensar. Um célebre filósofo francês disse certa vez: "Não me envergonho de mudar de opinião porque não me envergonho de pensar" (Blaise Pascal). Afinal, aqui não está em jogo a "fidelidade" – porque, manter-se fiel a argumentos abatidos em seus alicerces (não faço referência à minha análise do texto de Dimas Ferreira) poderia ser um sintoma da "espiral do silêncio", quer dizer, manter-se ao lado do grupo por medo de ficar sozinho; ou mesmo conservar sua posição por temor de acusações de "traição" ou de "desvio de ideologia", o que era uma prática recorrente nos tribunais socialistas comunistas (Cf. COURTOUS, 1997). Aliás, por falar em "acusação", Alcides, não "acuso" Dimas Ferreira de "marxista radical" ou "petista inveterado" – porque abraçar ideologias e tomar posições políticas não é crime, é algo permitido a qualquer pessoa; porém, isto não significa que estas mesmas opiniões estejam imunes a análises e críticas.

Você se espanta, Alcides, porque eu aponto o PT como um partido de "esquerda social-comunista". Acontece que, este escândalo talvez seja devido ao desconhecimento da estratégia adotada por partidos que têm esta tendência. Estes jogam em duas frentes: uma ala mais moderada, e a outra mais radical, que articulam suas propostas conforme a recepção pública delas. É assim dentro dos quadros do próprio partido, como também na relação com os seus aliados - porque, embora se oponham em algum momento, no final estão juntos, sob a bandeira de uma só cor (que agora é também "verde").

Caro Alcides, você fala em "ódio", em "rancor". No entanto, leio no seu, isto, no SEU comentário, que determinadas pessoas deveriam tirar suas "máscaras" – pessoas que você, Alcides, de maneira impressionante, fantástica, mágica, dotado de um poder premonitório "estratosférico", aponta como defensores do "status quo", das "desigualdades sociais", que "odeiam" a "classe trabalhadora" e "sonham com um mundo de riquinhos burgueses cheirando lavanda"; pessoas, Alcides, que você diz, "não passa de GENTE ciumenta e invejosa". Quanta amabilidade, Alcides. É para ficar comovido com tanta benevolência, ainda mais quando se identifica que estas doces palavras foram redigidas a partir de um conhecido estereótipo, o da "luta", ou melhor, o da "luta de classes" – afinal, é preciso que aconteça a "derrubada VIOLENTA da burguesia", porque a existência dela "não é mais compatível com a sociedade" (MARX, "Manifesto do Partido Comunista", 2002, pp. 56-57), não é Alcides? Quanta ternura... Sua postagem me faz lembrar uma máxima do Lênin, "acuse-os daquilo que você faz" – porém, não sei se ela é pertinente, Alcides, porque do alto da sua nobreza, depois de ter dito tudo isto, você se compadece, sente "pena" daqueles "monstros horríveis" que você, sem qualquer conhecimento, simplesmente rotula de "burgueses". Quanta benevolência e virtude...

Sobre a sua indignação a respeito do que postei sobre as "minorias" pergunto o seguinte: você já se questionou quem indica as "minorias"? Você já investigou quem as classifica, quem as isola, reivindica um "gueto" para elas? Quais critérios são utilizados? Os critérios que você apontou são de uma amplitude imensa – aplicados a Barbacena, como é a proposta de Dimas Ferreira, não têm qualquer efeito. Por exemplo, o critério "lingüístico", que você menciona: qual a diversidade lingüística na circunscrição da cidade? Há alguma característica fundamental, própria, natural, essencial, para estabelecer "distinções"? Porque não são as generalizações que você indicou, mas as particularidades que definem cada grupo, cada estereótipo - estes sim são "forjados" e "construídos", porque exigem uma narrativa histórica, freqüentemente artificial, para identificar os tipos associados a eles. Uma identidade não apenas supérflua, mas que fere o "princípio da igualdade", pois os tipos não são "diferenciados" por nenhum critério exterior, mas iguais por serem humanos. Resta lembrar que, medidas deste tipo violentam da mesma forma a liberdade individual, isto é a possibilidade de traçar, projetar seu futuro independente de qualquer "ancestralidade", vínculo ou laço que o identifique ou classifique em determinado grupo. Agora, quanto às conseqüências políticas deste "pseudo-multiculturalismo", elas estão delineadas no meu último comentário.

No que diz respeito à "imparcialidade" do texto de Dimas Ferreira, da minha parte não reivindiquei nenhuma. Sugiro, Alcides, que releia atentamente a introdução da minha postagem anterior, na qual esclareço que as minhas observações seriam baseadas "não apenas no texto de Dimas E. Ferreira, mas também nos comentários subseqüentes". Nestes últimos – nos "comentários subseqüentes" - algumas pessoas apontaram a "imparcialidade" do texto. A minha proposta foi mostrar que este diagnóstico está equivocado. Quanto às posições de Dimas Ferreira, mais uma vez ressalto: sustentá-las é um direito que a ele é garantido, embora sejam passíveis de crítica.

Por último, apenas uma correção. O homem é, sim, um "zoon politikon" (Aristóteles). No entanto, reconhecer este traço essencial do homem é completamente diferente de conceber a sociedade com uma realidade, uma concretude, e efetividade independente e acima dos homens concretos que dela fazem parte – nos termos em que você colocou, Alcides, o "homem" e as "ideologias" fazem "PARTE da sociedade". No entanto, "sociedade" é um "universal", uma abstração, quer dizer, é uma entidade que não existe em si mesma, mas somente nos entes que a corporifica, ou seja, nos homens mesmos. A "substância primeira" é o homem, o indivíduo concreto, vivente, com a capacidade de agir, repleto de sentimentos e paixões. Acontece que o seu discurso apresenta uma inversão fantástica: em um passe de mágica a "sociedade" foi promovida a substância primeira, real, concreta, agente, enquanto o indivíduo se tornou uma mera abstração. Interessante que, esta inversão é própria também de tendências socialistas-comunistas, cujos simpatizantes, ou partidários, discursam a partir de uma "abstração" – quer dizer, do alto de sua nobreza e virtude falam em nome da "sociedade", em nome do "povo". Porém, simpatizantes, militantes, partidários, candidatos, intelectuais, ou simplesmente "Polieznyi", talvez não tenham consciência da sua posição neste esquema, enquanto "indivíduos". Por isso, inebriados pelas alturas, pensam que não podem ser criticados, pois estão justificados a fazer qualquer coisa para realizar seus "elevados" projetos – por isso, sem autoconsciência, apontam nos outros, o que eles mesmos fazem.

Sem mais observações.

Bruno Braga.

http://dershatten.blogspot.com

Barbacena, 17 de Fevereiro de 2011.

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II. Bruno Braga – Comentário sobre o texto de Dimas Soares Ferreira, "Uma revolução no rumo da democracia" [http://www.barbacenaonline.com.br/noticias.php?c=5598&inf=100].


 

Caro Dimas,

É preciso observar que não há "Revolução popular", "levante em massa", nem no Egito nem em qualquer outro lugar. Isto pelo simples fato de que o cidadão comum não decide espontaneamente sair da sua casa para ocupar a praça pública e protestar contra o que quer que seja. Para realizar este tipo de manifestação é necessário uma "organização" mínima, como por exemplo: data; horário; local; definição dos pontos de crítica e das reivindicações; destino da marcha; etc. A "organização" é articulada por um "grupo", ou, por um "partido". Portanto, a "revolução" é resultado da ação de um grupo extremamente organizado. Esta é uma orientação básica em qualquer estratégia subversiva, sobretudo naqueles de orientação marxista-leninista (Cf. Yuri Bezmenov, embaixador da extinta União Soviética na Índia, sobre os mecanismos de atuação da KGB – "Conversation with G. Edward Griffin").

No Egito a mesma estratégia descrita foi utilizada. É possível verificá-la através de um simples exemplo: um folheto distribuído para o público intitulado "Como protestar de formar inteligente" (Cf. http://colunas.epoca.globo.com/ofiltro/2011/01/28/o-manual-dos-manifestantes-do-egito/). Este folheto certamente não foi elaborado, impresso, e distribuído de maneira espontânea por um "João", quer dizer, por um "Mohamed", qualquer. Talvez não tenha sido a autora deste "manual", mas a protagonista das manifestações no Egito é a "Irmandade Muçulmana". Ocorre que esta organização não só tem uma origem obscura (Cf. Jim Marrs; Peter Levenda, que menciona até uma colaboração com o Nazismo) e um histórico de ações violentas, como mantém ligações estreitas com grupos terroristas, inclusive com o Hamas (citado no texto como se estivesse absolutamente dissociado daquela organização). Sendo assim, se Irmandade Muçulmana apresenta ao público a sua face "higienizada", é impossível estabelecer, recorrendo ao seu histórico, às suas ações e articulações recentes, que seja a única, como indica a dissertação.

Agora, no que diz respeito à "democracia" – uma imaginária democracia "como os povos árabes a pensam" – e a expectativa de um "estado laico", "separando de uma vez por todas a política da religião" (citações do texto), é algo completamente disparatado dentro do Islamismo. Porque nele política e religião estão articulados já na sua raiz - no Corão – e sob uma orientação fundamental, a instauração do "Califado Universal". Nestes termos, por trás da aparente "democracia" de alguns países orientados pelo islã, o governo está subordinado à autoridade religiosa – exemplo disso é o que acontece no Irã, onde uma "aparente" democracia no processo eleitoral oculta a subordinação do poder civil e político à autoridade religiosa: basta verificar a relação entre Marmud Ahmadinejad e Ali Khamenei.

Em um país fundado no Islã, o Corão é a lei – não há distinção entre "lei civil" e "lei religiosa". Obviamente o Corão não contém todas as diretrizes; então, cabe à comunidade dos teólogos ("Umma") a interpretação do livro e o estabelecimento das orientações. Agora, Dimas, que espécie de Democracia é esta? Que Estado laico poderia ser constituído sobre estes fundamentos? Como é possível estabelecer uma separação entre política e religião se na própria raiz do poder islâmico elas são indissociáveis?

Enfim, falar em "revolução popular", "mundo mais fraterno, humano, socialmente justo", "democracia", "estado laico" – e, além disso, na "emancipação da mulher do jugo machista" – neste caso específico, é analisar os fatos e eventos, ou sob intenções panfletárias e propagandísticas, ou simplesmente examiná-los com palavras imantadas, quer dizer, fundadas apenas no "sentimento", na "paixão". O perigo de uma opção que "não passa necessariamente pela razão" é adotar a as paixões como único critério de verdade de suas crenças, e então ser estimulado a transformar o mundo na imagem e semelhança de uma obscuridade interior.

Grande abraço.

Bruno Braga.

Barbacena 28 de Fevereiro de 2011.


 

Thursday, February 10, 2011

Nos bastidores da realidade efetiva.


Bruno Braga.

 
"É porque então eu era louco que hoje sou sensato. Oh filósofo, que não vês nada além do instantâneo, como é estreita tua visão! Teu olho não está feito para seguir o trabalho subterrâneo das paixões", Goethe, 848. In STHENDAL, 2002, "O Vermelho e o Negro", p. 237.

 
Os esquemas que permitem a compreensão da realidade estão em camadas abaixo – ou detrás – à dos eventos, dos fatos concretos. Para que estes esquemas sejam trazidos para o primeiro plano é necessário desvelar, escavar, os eventos organizados, orientados e arquitetados por eles: trabalho que é da máxima importância, porque são estes mesmos esquemas os fornecedores do sentido, do significado, dos eventos do mundo concreto, tornando-os inteligíveis, compreensíveis, em um plano unificado. Nestes termos, qualquer tentativa de entender a realidade, quer dizer, um fato, um evento – e até um comportamento, uma ação - baseada apenas no exame superficial da ocorrência, é sem conteúdo, fundada apenas na aparência, no belo discurso, na retórica. Acontece que este método tem sido amplamente utilizado para explicar, não apenas o comportamento, as idéias e os sentimentos individuais, mas também manifestações políticas e sociais. No que diz respeito a estes últimos, os analistas de tais eventos, quando não têm a intenção de fraudar, por ingenuidade se fixam apenas no que aparece diante dos seus olhos, sem se atentarem para o que ocorre nos "bastidores", ou no "subterrâneo". Porém, é destas instâncias que emana o combustível que mobiliza as camadas visíveis da realidade. É na obscuridade onde são tomadas as decisões, onde é planejado e ensaiado o espetáculo assistido por todos, um evento previamente concebido. Por isso, a precariedade da luz na ilustração do subterrâneo não significa falta de consciência nas decisões – pelo contrário, na maioria dos casos as resoluções são muito bem arquitetadas, como verdadeiras obras de engenharia. Pois são estes planos, ou melhor, estes esquemas, que precisam ser revelados, para que seja possível compreender a unidade das ações, dos fatos, eventos, o sentido e o significado deles, no esforço de prever, sobretudo, as suas conseqüências.

 

 
(*) Nota. Estas considerações teóricas podem ser remetidas aos exemplos práticos descritos nos textos: "Um teólogo militante sob suspeita" e "A autovitimização de um frade dominicano" - publicados em 26 de Outubro de 2010 e 21 de Janeiro de 2011, respectivamente.