Surto infausto.
Bruno Braga.
Bruno Braga.
Em artigos e textos passados procurei expor algumas perturbações sintomáticas apresentadas por aqueles que reivindicam o poder para “transformar o mundo”, os “revolucionários”. Um destes casos patológicos é a “autovitimização” compulsiva do frade dominicano Betto [1] – uma pessoa que não se contenta com o status e o prestígio de um “intelectual”, e nem com a condição de conselheiro pessoal do ex-presidente Lula; que julga insuficiente o patrocínio e o financiamento dos seus projetos por todas as esferas do poder público, e faz pouco do apoio do maior órgão de mídia do país para a produção cinematográfica que transformou em filme o seu livro. Mesmo com todo este suporte, Frei Betto ainda se sente censurado, constrangido, reprimido por “forças ocultas” – o que representa, caso se confie na sinceridade dos seus lamentos e temores, uma flagrante patologia. Porém, este não é o único surto registrado na biografia do ilustre frade.
No seu livro “Memórias do esquecimento” [2], o jornalista e escritor Flávio Tavares conta que ele, duas militantes da AP (Ação Popular) e Frei Betto, desfrutaram da tradicional cozinha do Restaurante Moraes, em São Paulo. Depois de banquetearem-se, os “camaradas” saíram em um carro chamativo – era “último modelo”, conta o jornalista – à procura de mendigos: em um gesto de generosidade, queriam dar aos pobres o que havia sobrado dos filés e batatas fritas que não conseguiram comer. No entanto, depois de rodarem insistentemente, a bordo da máquina possante, sem encontrar um só mendigo, os revolucionários decidiram jogar os restos em uma lixeira – o fez o piedoso frade, “que como perseguido pelo diabo, voltou correndo ao carro” (sic).
A generosidade dos revolucionários poderia ter saciado a fome de um miserável naquela noite – mesmo com uma oferta de sobras e restos -, caso tivessem se deparado com um pelo caminho. Porém, alguns elementos que compõem este episódio parecem destoar da conduta de “revolucionários” Socialistas-comunistas: restaurante tradicional? Filé e batata frita? Carro “último modelo”? Ora, estes “camaradas” não estavam lutando, ao mesmo tempo, contra o modo de vida “burguês”, contra o “consumismo”? Não estavam eles em guerra para acabar com a opressão imposta pelo “poder do capital” e para destruir o “Imperialismo”? Sim – e eles ainda acreditavam que a revolução seria realizada pelo proletariado, pelo “povo”, mesmo tendo, entre eles, o herdeiro de uma família com título de nobreza, industrial da produção de vinho, e até considerada uma família de “senhores feudais”: o próprio Flávio Tavares [3].
Este episódio poderia ser cômico – uma confusão produzida por jovens idealistas. Acontece que, aquelas mesmas pessoas também estavam armadas, promoveram com tiros e explosões uma série de atentados que vitimaram inocentes. Aqueles “revolucionários” não eram apenas jovens idealistas querendo, generosamente, oferecer batatinha frita para os pobres e famintos. Além de receberem o financiamento e as armas de governos estrangeiros, os revolucionários estavam orientados: seguiam as instruções de uma cartilha redigida pelo companheiro de luta do nobre Frei Betto, Carlos Mariguella. Este, no seu “Manual do Guerrilheiro” revela: "No Brasil o número de ações violentas praticadas é já muito elevado. Entre estas ações estão mortes, explosões de bombas, captura de armas, de explosivos e munições, “expropriações” de bancos, ataques contra prisões, etc., atos que não podem deixar dúvidas sobre as intenções dos revolucionários" [4].
“As intenções” dos “revolucionários” não era derrubar a “ditadura militar”, e nem mesmo implantar um regime democrático - o propósito das organizações terroristas é revelado pelo próprio Flávio Tavares, aquele mesmo das batatinhas fritas: “Todas elas queriam o socialismo” [5].
Para o piedoso Frei Betto o modelo adequado de socialismo seria o de Cuba, um dos “patrocinadores” das organizações terroristas: “Para mim Cuba era o paradigma”, declara de maneira nostálgica o frade. E um dos segredos do regime implantado na ilha, ainda segundo o Frei, está em seu “Comandante” – Fidel Castro - que soube cultivar “valores muito originais” [6].
Ora, apenas uma cabeça profundamente perturbada poderia considerar como “valores muito originais” a perseguição de seus inimigos, a prisão política, o encarceramento de homossexuais, o assassinato de cristãos, e o fuzilamento [7]. Acontece que, valores deste tipo são cultivados inclusive pelo próprio frade guerrilheiro, que certa vez esclareceu: “Quero deixar claro que admito a pena de morte em uma única exceção: no decorrer da guerra de guerrilhas” [8]. Portanto, as medidas do regime cubano não espantariam o “camarada”, já que, por se tratar de um “governo revolucionário” – e por isso mesmo em uma revolução permanente -, é a instalação do “modus operandi”, das estratégias, táticas e dos valores morais dos seus militantes no poder político e administrativo.
Contudo, se em um momento de instantânea lucidez hipócrita, no qual considera o fuzilamento um “excesso”, o singelo e generoso frade dominicano tem a solução: “reinventar o Socialismo” [9]. E Frei Betto está empenhado nesta tarefa, não apenas em Cuba e no Brasil, mas na América Latina. Ele foi promovido, de “intermediário”, “contato”, e encarregado do setor de imprensa no período do regime militar, a “Intelectual” e colaborador do Foro de São Paulo, o órgão que promove o Socialismo na região [10].
Agora, quem ocupa o antigo posto do frade, que juntamente com o movimento estudantil, artistas, pastores de diversas confissões e religiosos, são engrenagens fundamentais para o processo revolucionário – como destaca o seu manual de estratégias? [10]. E quem atua entre os sindicalistas, jornalistas, professores, membros do corpo docente universitário, políticos, líderes comunitários e de movimentos de minorias, promotores culturais, ONGs, capitalistas aliados, etc.? Quem está comprometido com a revolução e quem colabora indiretamente com ela como um mero simpatizante ou como um “idiota útil”?
O grito de Rousseau é pertinente: “Sors de l’enfance, ami, réveille-toi!” [“Sai de tua infância, amigo, acorda!”] Um episódio envolvendo batatinhas fritas, um carro “último modelo”, se desdobra em movimento revolucionário internacional, em terrorismo. O presente capítulo da história apresenta a sociopatia do passado com o poder nas mãos. Com recursos incalculáveis e inúmeros mecanismos de ação disponíveis, ela ainda brada discursos de “autovitimização” – um surto psicótico, gerador de trágicos efeitos reais e concretos, cujo ápice é promover a revolução. “Imperialismo”? “Capitalismo”? “Moral burguesa”? “Socialização”! “Democratização”! – “Acorda, amigo!”, diria Rousseau.
Referências.
[1]. BRAGA, Bruno. A autovitimização de um frade dominicano [http://dershatten.blogspot.com/2011/01/autovitimizacao-de-um-frade-dominicano.html].
[2] O detalhe curioso é que, antes de sair em nova edição, revista e ampliada, pela Editora Record, o livro de Flávio Tavares havia sido publicado pela editora “burguesa”, “conservadora”, “saudosista da Ditadura Militar”, etc., etc., Globo – mesmo assim, os “revolucionários” continuem esbravejando contra as organizações da família Marinho.
[3] Cf. a entrevista de Flávio Tavares para a Revista Brasileiros [http://www.revistabrasileiros.com.br/edicoes/42/textos/1352/].
[4]. Cf. MARIGHELLA, Carlos. Manuel de Guerilla Urbaine. p. 06. [Tradução livre da versão eletrônica].
[5]. Cf. “Civis e a ditadura militar: a Revolução no Brasil” [http://guiadoestudante.abril.com.br/estudar/historia/civis-ditadura-militar-revolucao-brasil-435432.shtml].
[6]. Cf. “Claudia Korol – Diálogo con Frei Betto en Cuba” [http://www.panuelosenrebeldia.com.ar/content/view/335/245/].
[7] Cf. CORTOUS, 1991.
[8] Cf. BETTO, Frei. Paraíso Perdido: nos bastidores do Socialismo.
[9] Cf. referência 6.
[10]. Na principal revista da instituição, “América Livre”, Frei Betto declarou: [...] “é preciso não ceder à ingênua pretensão de fazer a revolução pelo voto”.
[11]. MARIGHELLA, p. 02.
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