Bruno Braga.
Em
outras ocasiões considerei a importância didática da utilização do
“contraexemplo”. O mesmo valor tem, em certas circunstâncias, a discussão. Ela ajuda a delinear as concepções dos debatedores e, de alguma forma, apresenta
e expõe à análise certas ideias e esquemas que circulam no domínio público
através dos contendores.
Transcrevo
abaixo o comentário de um “Anônimo” sobre o artigo “Habilidade de leitura –
Exercício prático e uma consideração sobre Estado e Religião” [http://dershatten.blogspot.com.br/2012/05/habilidade-de-leitura-exercicio-pratico.html]. Este
comentário carrega alguns estereótipos que frequentemente são utilizados como
argumentos fundamentados, mas que o são somente na aparência.
O
comentário está acompanhado de uma resposta.
***
I. Anônimo.
Anonymous said...
Bruno Braga,
de fato, as convicções políticas, culturais e sociais que seu blog apresenta
são assustadoras. Você gostaria de enxergar a si mesmo como um objetivista,
defensor dos "fatos" e da "verdade" (belas palavras, não?),
mas não se preocupa em analisar os pressupostos mais enraízados de suas opções
teóricas e políticas. Todas as suas pseudoanálises pressupõem, no mínimo, a
crença ingênua de que há um ponto de vista teórico neutro (também sob esse
aspecto, você é um autêntico positivista) a partir do qual a
"verdade" poderia vir à tona, ponto este que você -- ingenuamente --
acredita ocupar.
O ressentimento que todas as suas pseudoanálises deixam transparecer pode ser
uma boa explicação para o seu temperamento político e teórico, mas não pretendo
aqui fazer divagações psicológicas. Só diria uma coisa: se você pretende ser um
homem teórico, faça o esforço mínimo de uma severa autocrítica. O pior e mais violento
ódio é aquele que se mascara por trás de uma suposta "objetividade",
"racionalidade", "clareza" e "nitidez", sem
confessar as suas próprias intenções.
19.5.12
II. Bruno Braga.
Caro
“Anônimo”,
É
no mínimo curioso que você ensaie fazer uma “análise psicológica” da minha
personalidade sem assinar o próprio nome. O anonimato, aqui, é, por um lado, o
refúgio de quem quer evitar o compromisso da própria pessoa com as
considerações que profere; e, por outro, a tentativa de poupar-se da
responsabilidade advinda das suas palavras. Este autoexame elementar não faltou
a mim – Bruno Braga – para emitir qualquer consideração, mas está ausente em
você mesmo – caro, “Anônimo” – para esboçar uma “análise psicológica”.
A
fraqueza que o impede de assinar o próprio nome é a mesma que o estimula a
projetar um modelo de máxima “objetividade”, “racionalidade”, “nitidez” e de
“clareza” – que você acredita piamente ser a imagem que faço de mim mesmo. Sem
se dar conta, está imediatamente se rebaixando na medida em que, em vez de
argumentos contra o que considera “pseudocríticas”, recorre apenas à simples
sugestão de que meus textos escondem o “ressentimento” e o “ódio”.
Não
- caro “Anônimo” – estes, provavelmente, são os sentimentos de quem se intimida
com sombras projetadas. Eu, que assino “Bruno Braga”, estou no mesmo plano que
você, esforçando-me para compreender alguma coisa. Por isso, não tenha nenhum
constrangimento: se as minhas “convicções políticas, culturais e sociais” – que
você foi incapaz de determinar – o escandalizam tanto, apresente alguma
consideração contrária que não os sentimentos de alguém que preliminarmente se
inferioriza diante de uma sombra projetada.
Para
aproveitar a sua tentativa de análise psicológica, sugiro um esforço
imaginativo. Suponha – caro Anônimo - que eu seja o “ser” que você projetou: a
presunção da Suma Sabedoria, carregado de ódio e ressentimento no coração.
Imaginou? Pronto – eliminamos esta discussão secundária. Agora determine o que
você chamou de “os pressupostos mais enraizados das minhas opções políticas e
teóricas”; descreva as minhas “intenções” – depois estabeleça as críticas.
Acho
que depois disso estará pronto para explicar também a elegante consideração que
fez: o “mais violento ódio é aquele que se mascara por trás
de uma suposta "objetividade", "racionalidade",
"clareza" e "nitidez", sem confessar as suas próprias
intenções”. Porque, supondo que você tenha partido da “racionalidade humana”
para emitir “objetivamente” as suas “divagações psicológicas”, fico pensando
quais são os sentimentos que você mesmo oculta por trás delas.
Não
se esqueça do autoexame inicial: comprometer a própria pessoa com as
considerações que proferir; e assumir a responsabilidade das próprias palavras
– um indício disso é a assinatura do próprio nome abaixo das suas declarações.
Bruno
Braga.
Belo
Horizonte, 20 de Maio de 2012.
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