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Sunday, April 22, 2012

Um destrambelhado nada ingênuo.


Bruno Braga.


Emir Sader é o tipo de intelectual que procura compensar a confusão dos seus pensamentos e ideias com um tom de convicção. Desta maneira ele intimida, faz com que o desavisado duvide das próprias faculdades e suspeite: “por trás daquele discurso obscuro, mas pronunciado com intrépida certeza, deve haver algo, sim, deve haver alguma coisa que a minha ignorância não me permitiu apreender”. No entanto, atrás das diversas e turvas camadas do seu discurso, resta o que Emir Sader se esforça para esconder, a sua própria confusão mental. Aparentemente, nem ele mesmo se compreende – pois, depois de criticar a Ministra da Cultura, chamá-la de “autista”, e, por isso, ser “demitido” da Fundação Casa de Rui Barbosa antes mesmo de ser nomeado, ele saiu alardeando por todos os cantos que a sua “demissão” fora uma “uma reação com a brutalidade típica da direita brasileira”, um “golpe dos setores da mídia conservadora”.

Mas, Emir Sader não é um destrambelhado ingênuo. Ele é um agente político – um “Intelectual orgânico”, no sentido gramsciano do termo. Daqueles que não têm no seu horizonte a busca da Verdade, mas a promoção do seu grupo político e de seus aliados. O discurso, para Emir, é somente um instrumento útil para alimentar e legitimar os ideais e as bandeiras revolucionárias. Pois foi no exercício de suas atribuições que ele redigiu um artigo recente, intitulado “O golpe de 2002 na Venezuela: a praia Giron da mídia golpista” [1]. Nele, Emir recorre ao documentário “A Revolução não será televisionada” (Chavez: Inside the Coup - 2003) para denunciar a participação da mídia venezuelana em uma suposta tentativa de golpe contra o governo de Hugo Chávez, em 2002.

Acontece que a referência utilizada pelo “Intelectual” é uma peça publicitária, fomentada pelo próprio governo Chávez, e contém inúmeras distorções e manipulações de imagens. É o que demonstra, com vasto material probatório, outro documentário, “X-ray of a Lie” (Radiografia de una mentira - 2004). Por exemplo: os chavistas armados na Ponte Llaguno, que aparecem atirando no vazio no primeiro filme, na verdade disparavam contra um carro blindado da polícia, como revelam outras imagens; os tanques, que teriam sido utilizados por militares ditos “golpistas”, estavam, ao contrário, a serviço do Presidente venezuelano; a televisão estatal não foi invadida ou tomada, como conta o documentário citado por Emir, na verdade ela havia sido abandonada voluntariamente - as emissoras de televisão privadas é que, sim, foram atacadas por militantes do governo, além de terem os seus sinais cortados. E, o “povo venezuelano”, que Emir Sader enaltece por ter reconduzido Hugo Chávez ao poder depois da suposta tentativa de golpe, eram os próprios partidários chavistas que estavam em volta do Palácio Miraflores – Emir, porém, omite a marcha que pedia a renúncia do Presidente venezuelano, estimada em quase um milhão de pessoas.

O artigo de Emir Sader não é apenas mais um de seus disparates. O recurso a uma montagem “cinematográfica” tem o objetivo de legitimar um projeto, que é o mesmo de Chávez: o controle da mídia. É assim que um destrambelhado se transforma em agente de “desinformação”, comprometido com planos estrategicamente desenhados que, obviamente, o incluem como um de seus beneficiários.


I. Referências.

[1]. SADER, Emir. O golpe de 2002 na Venezuela: a praia Giron da mídia golpista [http://www.cartamaior.com.br/templates/postMostrar.cfm?blog_id=1&post_id=947].

II. Anexo.

Documentário, “X-ray of a lie” (Radiografia de una mentira - 2004) – um contraponto omitido por Emir Sader.


   

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