Verdade mutilada.
Terceira parte – Mea culpa.
Bruno Braga.
A palavra “Verdade” foi usurpada no ato mesmo de criação da Comissão que leva o seu nome, e está sendo vilipendiada no contexto que envolve este grupo – porque a Verdade deixou de ser o horizonte para o esforço de compreensão dos fatos para se transformar em instrumento de autoglorificação dos revolucionários e de desmoralização das Forças Armadas [1]. Os militares, porém, pavimentaram parte do caminho que os conduziram, hoje, até o carrasco, colocando-os de joelhos para os “revolucionários”.
O equivoco fundamental aconteceu dentro do próprio regime. O General Golbery do Couto e Silva, valendo-se da “teoria da panela de pressão”, cedeu o domínio cultural aos revolucionários, sobretudo as Universidades – ele acreditou que, com isso, os seus adversários teriam uma válvula de escape, e o conflito com eles não explodiria. Assim, Intelectuais, mestres e professores comprometidos com a causa, receberam um território livre para que pudessem trabalhar uma estratégia peculiar: não a das armas, mas a “pedagógica” e “educacional” – a revolução era também cultural. As ideias revolucionárias foram introduzidas e inoculadas de forma maquiada: a crítica à ordem; a desconstrução dos valores morais, da herança tradicional; o estímulo das transformações comportamentais, sobretudo sexuais – um processo lento, gradual e silencioso.
Preparados apenas para a estratégia das armas, os militares negligenciaram o aspecto cultural – um domínio de importância reconhecida, e já explorado, pelo próprio Stálin; mas que fora aperfeiçoado por Antonio Gramsci. No entanto, se foram surpreendidos em um primeiro momento, os militares se calaram quando a estratégia e o método adquiriram ampla publicidade, sobretudo com a abertura do regime – ataques, calúnias, farsas, mentiras: e os militares não reagiram à altura. Não – não era preciso recorrer aos mesmos expedientes dos revolucionários. Bastaria revelar a realidade do Comunismo-socialismo em todas as suas faces: expor o morticínio gerado pelos regimes soviético, chinês, cubano, e por aqueles que empunharam suas bandeiras e adotaram suas ideias; demonstrar a face real e concreta dos seus ídolos e mártires, como Marx e Che Guevara, e dos seus herdeiros e seguidores – expor a degradação intelectual promovida por uma ideologia que não só multiplicou as confusões teóricas, mas adotou a farsa e o embuste como método “científico” para reivindicar o poder de “transformar o mundo”. Porém, com a Democracia os militares deram a guerra por encerrada – o que expôs ainda mais o despreparo para o conflito cultural, porque desprezaram a lição leninista na qual os revolucionários foram formados: a revolução será vitoriosa somente com “a categórica destruição do inimigo” (Lênin, “Entre dois combates”).
Sem oposição que pudesse lhes fazer frente no domínio cultural, os revolucionários alcançaram o poder político – então, transformaram a passividade dos militares em subserviência. É simbólico quando os adversários, que por todos os meios tentam destruí-los, recebem a “Medalha da Vitória”, destinada a reconhecer o feito dos combatentes da Segunda Guerra Mundial - por exemplo, José Genoíno [2], que além de receber a distinção honrosa, é, hoje, assessor do Ministério da Defesa.
Nas últimas semanas aconteceu um episódio curioso, que ilustra o desalento, a falta de vigor, a subserviência, e a humilhação das Forças Armadas. No dia 28 de Fevereiro o apresentador Marcelo Tas esteve na Escola Preparatória de Cadetes do Ar (EPCAR), em Barbacena-MG. Recebido com distinção e decoro, ele ministrou uma palestra para os alunos, na qual falou sobre a sua experiência na escola e na cidade, além de abordar a “evolução da comunicação” e “a rapidez com que as informações chegam até nós” [3]. Tas participou também da cerimônia de passagem de comando de Brigadeiros-do-Ar [4].
No dia 02 de Abril, na semana seguinte à presença do apresentador na EPCAR, o programa CQC, comandado pelo próprio Marcelo Tas, exibiu uma reportagem sobre o Debate no Clube Militar – a ação das Forças Armadas em 1964 -, realizado em 29 de Março. A matéria, inteiramente construída sobre o fio condutor histórico dos revolucionários, fazia chacota com a condição, com a idade dos militares da reserva. O repórter encarregado de cobrir o evento, Maurício Meirelles – que com ares de justiceiro adolescente deixava transparecer uma ignorância absurda sobre o assunto – relacionou o regime militar ao nazismo, abordou os presentes com perguntas sugestivas sobre a “tortura” e sobre a ação policial no tumulto que acontecia na porta do local [5]. Diante de uma reportagem fanfarronesca e desonesta como esta, o que fez o comando da EPCAR e as Forças Armadas? Alguma reação à altura? Um processo? Ou, pelo menos uma nota crítica? Naquele evento os seus pares de farda, veteranos octogenários, foram insultados, agredidos, apedrejados, receberam cusparadas na cara como condenação sumária [6].
Dito isto, o mais grave. Aceitar passivamente, com humilhante subserviência, todo este jogo sugere uma traição da nação brasileira por parte dos militares – exceção feita a um grupo restrito entre eles. Isto não apenas com relação à proteção do território nacional, mas no que diz respeito à confiança que grande parte das pessoas deposita neles – porque, ainda que a população em geral não tenha uma noção clara do propósito de ardilosamente desmoralizá-la através da “Comissão da Verdade”, as Forças Armadas ocupam a segunda posição entre as instituições, ao lado das Igrejas, no índice de Confiabilidade Social do Ibope [7].
Referências.
[1]. BRAGA, Bruno. “Verdade mutilada – Primeira parte” [http://b-braga.blogspot.com.br/2012/04/v-behaviorurldefaultvmlo.html]; “Verdade mutilada – Segunda parte [http://b-braga.blogspot.com.br/2012/04/normal-0-21-false-false-false-pt-br-x.html].
[2]. Ministério da Defesa [https://www.defesa.gov.br/index.php/noticias-do-md/2454350-06052011-defesa-personalidades-que-difundiram-o-nome-do-brasil-serao-condecoradas-em-cerimonia-pelo-dia-da-vitoria.html].
[5]. A matéria pode ser assistida no link: [http://www.youtube.com/watch?v=LTifiZd_Zzs].
[6]. BRAGA, Bruno. A Verdade mutilada – Primeira parte [http://b-braga.blogspot.com.br/2012/04/v-behaviorurldefaultvmlo.html].
No comments:
Post a Comment