Bruno Braga.
Caro
Francisco,
Penso
ser necessário fazer algumas observações sobre a tese de Stuart Hall – sem
saber se você a adota completamente. Porque assumi-la pode gerar uma grande
confusão mental e conduzir a resultados práticos funestos.
Note
o caso de Karl Marx: “Não é a consciência do homem que lhe determina o ser,
mas, ao contrário, o seu ser social que lhe determina a consciência”. Este
decreto padece de autorreferência - porque, se Marx estivesse correto, ele
jamais o poderia ter proferido. O pensador alemão não era pessoalmente um
“proletário”, e, por isso, segundo a sua própria tese, não poderia ter a
“consciência” de um “revolucionário”. Isto não parece ser problema para o
pensador alemão, devido ao caráter profético de suas orientações – ele se
considera um “Iluminado”, superior a toda a humanidade, e, por isso mesmo, deve
ser o “Guia” dela: ele é um Comunista, que tem a vantagem, sobre todo o
restante da massa do proletário, de compreender as condições, o andamento e os
resultados gerais do movimento proletário (MARX, 2002, p. 59). Não é preciso
muito para perceber o “messianismo” das teses marxistas, quando não a expressão
do puro charlatanismo [2] – mas, é assim que funciona a cabeça de um
revolucionário.
A
respeito de Schopenhauer a consideração está “em parte” correta. Sim, para o
filósofo alemão o homem, como qualquer outro ser, é a objetivação de uma
Vontade metafísica insaciável – e a razão serve-lhe apenas como instrumento
para a satisfação de seus imediatos e obscuros desejos. Acontece que a Vontade
se objetiva – se torna objeto – em graus distintos, sendo a vontade humana o
mais perfeito dos seus fenômenos, no qual ela aparece desenvolvida e iluminada
pelo conhecimento. Este não é um conhecimento racional, conceitual, mas intuitivo,
através do qual, na autoconsciência humana, a vontade conhece a si mesma: neste
instante, em vez da busca por satisfação, e do conflito, ela silencia, e redime
todo o mundo. O homem redime todo o restante da natureza (MVR, p. 483). Vale à
pena citar o próprio Schopenhauer:
A
possibilidade de a liberdade exteriorizar-se a si mesma é a grande vantagem do
homem, ausente no animal, porque a condição dela é a clarividência da razão,
que o habilita a uma visão panorâmica do todo da vida, livre da impressão do
presente. O animal está destituído de qualquer possibilidade de liberdade,
assim como a possibilidade de uma real, logo com clareza de consciência,
decisão eletiva segundo um prévio e completo conflito de motivos, que para tal
fim teriam de ser representações abstratas. (MVR, p. 510).
Mas,
é preciso fazer uma observação para que não haja confusão com o que foi dito
sobre Marx: Schopenhauer não era um Materialista, e nem mesmo um
“Revolucionário” – era uma espécie de “conservador”, como o próprio Freud.
Já
sobre os movimentos feministas, a artificialidade de suas propostas e ações
mostra que, em vez de destruírem um “sujeito moderno”, uma “abstração teórica”,
estão lutando contra a própria estrutura da realidade – e os resultados,
intelectuais e morais, são degradantes.
Enfim,
o homem, Francisco, definitivamente, não é um ser “angelical”. E mesmo que não
seja considerado uma “obra prima” da natureza, ou de Deus, ele não é um
“primata bípede” – considerá-lo assim, é negar a evidência diante dos próprios
olhos. O “Pós-modernismo”, o esforço de “desconstruir”, de assassinar o “sujeito”
e o “homem”, promete um “novo mundo” – uma “nova lógica”, diferente da
clássica; uma “nova moral” diferente da tradição -, e um novo “sujeito”; mas, o
que produziu, de fato, foi, confusão, absurdidade, sonambulismo, alheamento,
charlatanismo e serve, inclusive, para a legitimação da morte.
Referências.
[1].
Francisco Fernandes Ladeira, “Nascimento e Morte do Sujeito Moderno” [http://www.barbacenaonline.com.br/noticias.php?c=8188&inf=11].
[2].
Cf. BRAGA, Bruno. “Entre o Mestre e o Intelectual” [http://dershatten.blogspot.com.br/2011/06/entre-o-mestre-e-o-intelectual.html].
Bibliografia.
MARX,
Karl; ENGELS, Friedrich. Manifesto do
Partido Comunista. Trad. Pietro Nassetti. Editora Martin Claret: São Paulo,
2002.
SCHOPENHAUER,
Arthur. O mundo como vontade e como
representação. Editora Unesp: São Paulo, 2005.
No comments:
Post a Comment