Publico,
logo abaixo, a resposta de Ronaldo Sérgio da Silva ao meu artigo “Que futuro
‘recente’?” [http://dershatten.blogspot.com.br/2012/03/normal-0-21-false-false-false-pt-br-x_15.html] – resposta que está acompanhada de uma contra-argumentação.
I. Explicações.
Ronaldo Sérgio da Silva, 19 de Março de 2012.
Primeiramente,
venho agradecer por ter gasto parte do seu tempo com o artigo que escrevi.
Depois disso venho pontuar algumas de suas observações e tendo como ponto de
partida a suposta “contradição entre os conceitos no título do texto”.
Dentre os significados de “recente”, que é um adjetivo, temos: feito ou
acontecido há pouco tempo; novo, fresco: descoberta recente. Portanto, o termo não
nos aprisiona ao passado e pode nos remeter à dialética daquilo que se mistura
entre passado e futuro sem alteração. É uma provocação sobre o continuísmo da
servidão, falta de cultura, interesses egoístas, etc.. O que aconteceu e está
acontecendo vai continuar a acontecer (futuro recente, futuro que trará coisas
“frescas” de uma cultura velha), mas é passível de “mudança”. Não podemos
permitir que o uso das palavras nos aprisione também, pois são as armas mais
efetivas para a mudança.
Ao questionar se “os indivíduos assumem a posição de uma ou outra “classe”?, eu
me surpreenderia se fosse desta forma, pois existiria mobilidade e a liberdade
de escolha, além do exercício da cidadania.
Pelo próprio IBGE a sociedade brasileira está dividida em classes de A a E, e ainda com subdivisões, e todas limitadas pela renda per capita, mostrando a influência do capital nesta divisão.
Pelo próprio IBGE a sociedade brasileira está dividida em classes de A a E, e ainda com subdivisões, e todas limitadas pela renda per capita, mostrando a influência do capital nesta divisão.
Ao citar que “Isto não aconteceu na Idade Média, como observa o articulista,
período no qual não havia separação...”, posso lhe dizer que as características
gerais do feudalismo, dentre outras, são: poder nas mãos dos senhores feudais,
e utilização do trabalho dos servos. Prevaleceram da Idade Média as relações de
vassalagem e suserania, sendo que este último deveria prestar fidelidade e ajuda
ao seu suserano. O vassalo oferecia ao suserano, fidelidade e trabalho, em
troca de proteção e um lugar no sistema de produção que o escravizava tornando,
assim, o suserano mais poderoso. Além do mais, todos os poderes, jurídico,
econômico e político concentravam-se nas mãos dos senhores feudais, donos de
lotes de terras. A sociedade feudal possuía pouca mobilidade social e já era
hierarquizada. Os nobres detinham o poder em detrimento dos servos e
camponeses. A maioria da população era analfabeta e não tinha acesso aos
livros. O feudalismo foi enfraquecendo e cedendo espaço para o capitalismo, com
várias mudanças sociais, políticas etc. Prestar fidelidade e ajuda ao seu
suserano é uma das marcas das amarras políticas de hoje. Pode observar em todo
o país este acontecimento.
Pena que tudo continue como antes. E com maior grau de sofisticação. Não é? Concorda ou não que as origens da nossa sociedade, no feudalismo, ainda continuam vivas e sem previsão de rompimento?
Pena que tudo continue como antes. E com maior grau de sofisticação. Não é? Concorda ou não que as origens da nossa sociedade, no feudalismo, ainda continuam vivas e sem previsão de rompimento?
Pois bem, observando os meus artigos com publicações nacionais e internacionais
poderá ter maior clareza da minha posição e preocupação social, que não é
estática.
Para maiores esclarecimentos, terei o maior prazer em promovermos uma roda de
bates sobre este e outros temas.
Atenciosamente,
Ronaldo.
Fonte: http://www.facebook.com/l/3AQEAI4KJAQF7VMaup79KU29nFCmz5MVkFhimR6Q8c--LAA/www.suapesquisa.com/feudalismo/
Ronaldo.
Fonte: http://www.facebook.com/l/3AQEAI4KJAQF7VMaup79KU29nFCmz5MVkFhimR6Q8c--LAA/www.suapesquisa.com/feudalismo/
História do Feudalismo na idade Média, sistema feudal de produção,
trabalho servil no feudalismo, se...
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II. Contra-argumentação.
Caro
Ronaldo,
Com
a explicação que você forneceu eu compreendi a sua intenção de estabelecer uma
“provocação” no título do seu artigo. No entanto, a pretensão não se realiza com
os termos que você selecionou – nenhum dos significados que apresentou, por
mais que queira torcer e retorcer a palavra “recente”, está destituído do
sentido de passado. Embora você considere que “não podemos permitir que o uso
das palavras nos aprisione”, é necessário observar que elas, as palavras, têm
significado e referência. Se você, Ronaldo, esvazia as palavras do seu conteúdo
para utilizá-las como “armas mais efetivas para a mudança” – a expressão é sua –
então, você não só está promovendo uma revisão do vernáculo, mas está também se
valendo da estratégia da falsificação, do embuste e do engano – aliás, esta é
uma estratégia revolucionária.
Ronaldo,
quando você recorta a frase do meu artigo – “os indivíduos assumem a posição de
uma ou outra classe” -, acaba cometendo um equívoco. Porque, neste trecho,
contesto a existência de uma “luta de classes”, organizada e definida entre
“burguesia” e “proletariado”. Esta articulação é espontânea? Quem distribuiu as
“armas” e os “uniformes”? Quem estabeleceu os critérios que irão definir o
preenchimento das fileiras de cada “exército”? Suponho, pelo seu discurso, que
você não se considere um “burguês” – mas, o que faz de você um “proletário”?
Estas definições são tão artificiais quanto o sistema de classificação do IBGE
utilizado por você como exemplo – ele estabelece apenas critérios
quantitativos, e não uma “luta de classes”. Será que todos que estão na classe
A alcançaram este status através da opressão e do engano? Em que medida eles,
os “burgueses” estão meticulosamente articulados para subjugar a classe E? E,
será possível que na classe E não haja um só que não esteja contente e
satisfeito com o seu modesto trabalho, com a relação com patrão, e ache muito
estranho esta história de “luta de classes”?
Agora,
não vou julgar as suas intenções, ou se foi um lapso, mas ao estabelecer outro
recorte no meu texto, Ronaldo, você selecionou apenas o que atendia a sua
argumentação, afastando o que realmente estava em jogo. Explico. Você citou
assim o meu artigo: “Isto não aconteceu na Idade Média, como observa o
articulista, período no qual não havia separação...” – e, a partir daí, você
acrescenta, por sua conta, uma descrição da “sociedade feudal”. Ora, o que
estava em questão, neste trecho, não era a distinção de papéis sociais – isto
sempre existiu -, mas, sim a existência da “Ideologia”. Então, Ronaldo, você
deveria citar não uma parte, mas o meu argumento todo, assim: “NÃO HAVIA
SEPARAÇÃO – lacuna – entre o discurso de legitimação e o próprio exercício do
poder” – é assim que está no meu artigo, basta relê-lo. Portanto, estava
contestando a Ideologia, e não diferenças de papéis sociais, que existem em
qualquer lugar – mas, estas diferenças, nem sempre são justificadas por um
discurso de legitimação, de reivindicação, por um corpo de ideias, por uma
Ideologia. E isto, estava, de fato, ausente na Idade Média, porque o próprio
discurso se confundia com a estrutura da sociedade – embora não estivesse livre
de tensões, a sociedade medieval estava estabelecida sobre um mesmo pano de
fundo, em uma espécie de unidade orgânica. Para compreender esta questão eu
sugiro o livro de Christopher Dawson, “La religion y el Origem de la Cultura
Medieval”.
Ademais,
não é possível falar em “Ideologia” se não há uma “política de massas”, para
qual é voltada o seu discurso de legitimação, ou de reivindicação, do poder.
Isto não existia na Idade Média. Enfim, Ronaldo, você – como o próprio Marx –
está projetando a “Ideologia” em um passado no qual ela, de fato, não existia.
Dito
isto, eu não entendo o que você, Ronaldo, acredita que teve origem no
Feudalismo, que permanece até os dias de hoje, e que precisa ser “rompido”. Agora,
se você diz que a sua “preocupação social” e a sua “posição” não são
“estáticas”, então, como é possível percebê-las com “clareza”, como você mesmo
acredita? Não, não é possível, Ronaldo. Porque estes discursos são montados com
uma série de estereótipos vazios, sem conteúdo, e que são utilizados para fazer
uma revisão equivocada do passado e uma análise distorcida do presente – são
confusões com aparência de descrição dos fatos, mas que maquiam apenas a
legitimação, ou a reivindicação, do poder.
Estou
à disposição para o debate.
Atenciosamente,
Bruno
Braga.
Belo
Horizonte, 23 de Março de 2012.
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