Bruno Braga.
Não,
o que escrevo não é “política pura”, como ouvi outro dia. O elemento “político”
é parte da questão – ou melhor, é uma das expressões dela. Porque a política é
feita por pessoas de carne e osso, que carregam certas habilidades e virtudes, sentimentos
e paixões, fragilidades e fraquezas, e as transformam em projetos sociais ou
planos de governo. Sendo assim, o correlato necessário da política é a pessoa
concreta e a sua interioridade: sem este elemento fundamental e originário o
jogo político seria uma fantasmagoria - uma encenação composta por emanações
fugazes e sem realidade viva, da qual os discursos de “Intelectuais” e
analistas, repletos de espectros e abstrações estratosféricas, são frequentemente
amostras assombrosas.
Exemplifico
o que disse. Não raro exponho temas relacionados ao movimento revolucionário. Engana-se
quem vê nestas exposições somente uma análise ou descrição da luta pelo poder –
uma disputa por cargos, prestígio e dinheiro. Porque enxerga apenas uma parte
do problema – ou, como dito anteriormente, apenas a sua expressão. Falta o
elemento originário e fundamental.
O movimento
revolucionário é promovido por pessoas, gente viva que na complexidade de sua
alma traz um conjunto de habilidades, fraquezas e tensões. Esta interioridade é
acessível a qualquer um que nela mergulhe para apreendê-la: é necessário o
esforço do recolhimento e um sincero exame de consciência. Assim é possível sondar
o grau de ruptura e a carga de revolta que preenchem o peito. Não contra fatos
ou eventos particulares, mas sim contra o mundo na sua totalidade, contra a humanidade.
É possível verificar ainda se este descontentamento atingiu o ódio avassalador,
aquele dirigido até mesmo contra as instâncias superiores da existência, e que
no ato mesmo do assalto reivindica para si – ou para o seu grupo – o poder
divino destronado para remodelar, ao seu gosto e capricho, o mundo e a
humanidade que tanto o desagradam.
Que
ninguém se espante por guardar e alimentar todos estes sentimentos. Nem mesmo
os santos, com a superioridade de seu caráter, com os seus milagres e prodígios,
se viram completamente livres deles: estavam cientes da tensão da vida humana e
dos sentimentos baixos que precisavam dominar. Porém, se esta tensão interior é
definitivamente rompida, e aqueles sentimentos são transformados em movimento
político, então a revolta adquire uma expressão pública.
A
vida de Che Guevara – não a do mito, mas a da pessoa viva – representou isto: uma
ruptura interior radical, que em um surto de autodivinização, fez de si mesmo
um Anjo Vingador, justificado a fuzilar e a matar para transformar o mundo e a
humanidade.
Nestes
termos, não se trata, aqui, de “política pura” – na acepção ordinária do termo
-, mas de algo mais. Porque o jogo de poder é travado por pessoas reais de
carne e osso que expressam o seu fundo interior em projetos sociais e planos de
governo – como os promovidos pelo movimento revolucionário. Se o leitor carece
de uma amostra mais efetiva para compreender o que foi dito, que mergulhe na sua
intimidade interior para sondar a condição da sua própria semente
revolucionária.
Sugestão de leitura.
BRAGA,
Bruno. “Delírio de onipotência” [http://dershatten.blogspot.com.br/2012/05/delirio-de-onipotencia.html].
______.
“Sinceridade e Conhecimento” [http://dershatten.blogspot.com.br/2012/02/normal-0-21-false-false-false-pt-br-x_26.html].
Filmografia.
“Che,
Anatomia de um Mito”, Luis Guardia, 2005 [http://dershatten.blogspot.com.br/2012/06/filmografia-che-anatomia-de-um-mito.html].
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