Bruno Braga.
Nos
debates sobre política os estereótipos e caricaturas não são os recursos prediletos
dos palpiteiros e falastrões apenas. Eles enchem a boca dos formadores de
opinião e preenchem os discursos dos analistas. No caso destes últimos, dos
quais se espera a boa-fé de quem pretende avaliar e descrever, e não influenciar
a disputa como um autêntico agente político, a utilização dos artifícios
discursivos é um equívoco grave e imperdoável. Porque com eles as ideias vagas
e os preconceitos são privilegiados em detrimento da compreensão dos processos
reais e dos fatos concretos.
Certa
vez, em um debate, disse algo que causou perplexidade e até indignação. Afirmei
que a concorrência política no Brasil é apenas uma disputa por cargos e
prestígio. Isto porque, os principais representantes do confronto – configurado
pelos tipos “esquerda” e “direita” - não têm divergências relevantes quanto ao domínio
cultural, isto é, sobre os valores que estruturam e orientam a sociedade.
Pois
é o que constato hoje no noticiário de Barbacena - minha cidade natal - onde
uma das chapas que concorrerá nas próximas eleições municipais será composta
por uma aliança entre o PSDB e o PC do B. Talvez se espante quem ainda se vale
de estereótipos e caricaturas, pois enxergará um estranho acordo entre a
representação da maligna e diabólica “direita”, e o idealismo virtuoso e
“esquerdista” dos Comunistas.
Acontece
que esta rotulação é arbitrária, e promovida por um dos lados da disputa. Sob a
perspectiva partidária, colocar a Sociodemocracia à “direita” significa
desprezar a origem histórica dela: uma opção diferente da luta e do embate
direto, mas fornecida pelo mesmo tronco, o Socialismo. Portanto, o rótulo
“direita” - hoje transformado em acusação - é uma proposta, e uma imputação,
promovida pela própria “esquerda”.
A
configuração do cenário e a modulação dos debates pela “esquerda” são frutos de
uma estratégica revolução, feita sem armas e combates violentos, mas de maneira
silenciosa e indolor: a revolução cultural. Ela que, a partir de pontos
estratégicos na educação, nas Universidades, na mídia “chic” e com os Intelectuais
pretende formar o imaginário das pessoas, e se torna capaz de constranger, até
mesmo, candidatos que trazem algum resquício hereditário do berço. É assim que a
revolução atinge e enfraquece o seu verdadeiro inimigo. Não a “direita” – que é
somente uma fantasmagoria útil para tal propósito – mas o conservadorismo, os princípios
e valores tradicionais que fornecem um senso de orientação, sobretudo através
da estrutura do direito e da religião judaico-cristã.
Nestes
termos, a aliança entre PSDB e PC do B em Barbacena não é apenas uma
conveniência ou um oportunismo político. Tendo como principal adversário o
PMDB-PT, é uma amostra efetiva de que, no domínio da cultura, existe apenas uma
proposta. Este cenário não foi construído ontem. O processo através do qual ele
se formou transcende os estereótipos e as caricaturas. Certo é que, neste jogo,
independentemente do lado, a grande vitoriosa será a revolução, ainda que a
maioria da população seja predominantemente conservadora.
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