Segunda intervenção.
Bruno Braga.
O texto abaixo – gravado em itálico – é minha segunda intervenção no debate sobre o artigo "Guinada à direita do Governo Dilma Rousseff", de Francisco Fernandes Ladeira. Esta discussão pode ser acompanhada no Blog "ZinneCult" [http://zinnecult.zip.net], onde é permitido também a intervenção de qualquer interessado.
Cordialmente,
Bruno Braga.
Belo Horizonte, 30 de Junho de 2011.
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Em resposta aos últimos comentários – àqueles que têm relação com os temas lançados pelo texto principal e com as observações que fiz anteriormente - escrevo:
Caro Francisco,
Sugiro que releia atentamente o meu comentário, pois sua postagem (26.06.2011 – 01:36) contém um equívoco de compreensão. Eu não afirmei que há uma aliança entre PT e PSDB para implantar o Comunismo no Brasil. Apontei, no passado, uma aliança entre uma "elite intelectual uspiana" e o "movimento sindical" – ambos com origens no Socialismo-comunismo - que configurou o quadro atual da política brasileira. A polarização PT/PSDB é um desdobramento posterior, apenas para disputa de cargos e poder, mas que não apaga os traços principais daquela raiz comum. Esta explicação está bem clara no meu comentário (Cf. O primeiro parágrafo).
"Golpe de Estado" e "Jair Bolsonaro" são elementos estranhos ao meu texto: são acréscimos e ampliações promovidas por você mesmo, Francisco, pois em minha análise não há nada que faça menção a eles.
Nas mesmas linhas em que acrescenta palavras ao meu texto por sua própria conta, Francisco, você se expressa de maneira aparentemente irônica, assim: "Os Socialistas-comunistas estão querendo dominar o mundo [...]". Gostaria de trazer à sua memória a célebre convocação do mais nobre "Intelectual revolucionário", Karl Marx, que fecha o "Manifesto do Partido Comunista": "Trabalhadores de todo o mundo, uni-vos!" (o grifo é meu) Desde a sua origem, Francisco, o projeto Socialista-comunista é internacional; e, embora não seja o único projeto que disputa o poder no mundo contemporâneo, ele é, sobretudo sob a orientação Russo-chinesa, um deles. Na Rússia a velha KGB (agora FSB) volta ao poder com Vladimir Putin (Sobre o tema recomendo o Documentário "The Putin System"); na China, por sua vez, o Partido Comunista rege o país. Não preciso dizer, Francisco, que "em pleno século XXI", estas não são potencias de segunda categoria.
Supondo que o esquema Russo-chinês possa parecer para você, Francisco, muito distante da realidade nacional – o que até mesmo um olhar displicente sobre o cenário político, econômico e cultural constataria o contrário – estude o Foro de São Paulo. Este é a entidade encarregada de fomentar o Socialismo-comunismo na América Latina sob a orientação de Lula e Fidel Castro – posteriormente foi fortalecido pela esquerda latino-americana que passou a ocupar as principais cadeiras do poder.
Mas é possível reduzir ainda mais o espectro da abordagem, e tratar propriamente do Brasil. Os Ministérios são postos estratégicos para o Governo Federal [http://www.presidencia.gov.br/ministros]. O da educação é ocupado por Fernando Haddad, que publicou livros com títulos sugestivos: "O Sistema Soviético" (1992); "Em Defesa do Socialismo e Desorganizando o Consenso" (1998); "Sindicatos, Cooperativas e Socialismo" (2003). O Ministro dos Esportes é Orlando Silva Jr., do PC do B (Partido Comunista do Brasil), que exerce papel fundamental na preparação do país para a realização dos dois maiores eventos esportivos do mundo – algo que está mobilizando recursos financeiros incalculáveis. O Ministro-chefe da Secretaria de Portos é José Leônidas Cristino, e o Ministro da Integração Nacional é Fernando Bezerra Coelho – ambos do PSB (Partido Socialista Brasileiro). Em outros poderes, como no Legislativo, por exemplo, Manuela D'Ávila, do PC do B (Partido Comunista do Brasil) ocupa a Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados [http://www2.camara.gov.br/atividade-legislativa/comissoes/comissoes-permanentes/cdhm/membros]. Enfim, relacionei, Francisco, apenas algumas autoridades filiadas a siglas nominalmente "Socialistas-comunistas" e que ocupam posições estratégicas, e de grande importância, na esfera do Poder Federal. Não foi preciso nem recorrer ao PT, o partido mais poderoso, para mostrar a força dos "revolucionários". Deste faço menção apenas a Maria do Rosário, Ministra da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, que, embora filiada ao PT, iniciou sua carreira política no PC do B.
Agora, é preciso questionar: será que estas e outras autoridades utilizam as siglas Socialistas-comunista apenas como um "enfeite"? Quer dizer, elas afastam todos os seus princípios e ideais para utilizarem apenas os símbolos, as bandeiras vermelhas, que vestem bem e combinam com qualquer "modelito"?
É preciso esclarecer, particularmente sobre o PC do B, que ele é um partido de orientação maoísta. Isto quer dizer que segue os princípios de um estuprador, genocida, responsável pela morte de mais de 60 milhões de pessoas dentro do seu próprio país. Portanto, mesmo quem não pertence aos quadros do PC do B, mas tem simpatia pelo partido e por seus ideais, é cúmplice de genocídio.
Bom, Francisco, você utiliza a referência temporal, com a expressão "em pleno século XXI", para sugerir que a intervenção comunista no Brasil é uma idéia "ultrapassada". Relacionei, para você, alguns exemplos que demonstram a "atualidade" do Socialismo-comunismo em escala mundial, continental e nacional – a lista é obviamente incompleta neste último nível, pois restaria mencionar autoridades do poder estadual, municipal, as Universidades públicas, os Sindicatos, os "Intelectuais". Talvez você, Francisco, considere o "Socialismo-comunismo" ultrapassado por pensar a partir de estereótipos de almanaque, do tipo "estatização total dos meios de produção", "eliminação da propriedade privada" – este almanaque sim está "desatualizado". Porque o Socialismo-comunismo não é uma doutrina, uma teoria engessada (por isso tomou diversas formas, de acordo com o domínio em que seria implantado); mas é, fundamentalmente, uma estratégia para a concentração de poder.
Dito isto, é necessário acrescentar mais uma observação sobre a sua idéia de que o Socialismo-comunismo é algo "ultrapassado", Francisco – uma observação de ordem conceitual. Uma das características de um agente histórico é a sua continuidade no tempo. Em outras palavras, nós - eu, você – temos um tempo médio de vida, mas logo seremos tragados pela morte; os agentes históricos, ao contrário, ultrapassam o período médio de existência de um indivíduo, e perduram por gerações. São exemplos de agentes históricos, embora não tenham poderes equivalentes, a Igreja Católica, a Comunidade Judaica, a tradição islâmica, as Famílias reais, a Maçonaria, as Grandes fortunas capitalistas, etc. – são projetos perpetuados por décadas, séculos de história, e entre os quais se inclui o Socialismo-Comunismo, materializado nos partidos e movimentos revolucionários.
Bom, Francisco, você se espanta com o que eu "acho" sobre a intervenção Socialista-comunista no Brasil. No entanto, eu não "acho" nada. Isto porque, a respeito deste tema eu lhe forneci uma prova de "Fonte primária": as Atas do Foro de São Paulo. Elas são documentos, Francisco, assinados pelas próprias autoridades, assumindo compromissos de colaboração e solidariedade. Portanto, não sou eu que "acho", mas nos documentos Lula, Fidel Castro, Frei Betto "afirmam" o que vão fazer. Eu apenas reproduzi os objetivos deles. Não precisa "acreditar" no que estou dizendo, examine você mesmo os documentos. Agora, descartá-los preliminarmente é negligenciar os requisitos básicos para uma investigação séria e honesta – e um obstáculo para a compreensão do que aqueles mesmos personagens, e outros, "já estão fazendo".
A minha abordagem sobre o "Kit gay" também é objeto da sua oposição (25/06/2011 16:32). No entanto, neste assunto, como no caso do Foro de São Paulo, forneci-lhe "fontes primárias" – leis, projetos, notas taquigráficas. Portanto, sugiro que as leia.
Em tom de ironia, Francisco, você menciona o termo "subversão". Acontece que esta é uma estratégia extremamente atual, e por isso merece ser tratada com a devida seriedade. Subversão é um processo "legítimo", "público" e "aberto", através do qual se inocula no domínio "cultural" elementos que facilitem os desdobramentos da "Revolução". Em meus textos "Autovitimização de um frade dominicano" [http://dershatten.blogspot.com/2011/01/autovitimizacao-de-um-frade-dominicano.html] e "Reescrevendo a História" [http://dershatten.blogspot.com/2011/04/reescrevendo-historia.html] você pode verificar, de maneira geral, como funciona esta estratégia. Porém, para uma explicação mais detalhada e teórica, sugiro que assista à entrevista de Yuri Bezmenov, um desertor da KGB, a G. Edward Griffin ("Soviet Subversion of the Free World Press"), da qual poderá obter informações preciosas sobre a "atualidade" da estratégia subversiva.
É isso, Francisco.
Sugiro que releia meu comentário novamente e consulte as fontes, sobretudo as primárias. Isto é, não apenas um pré-requisito para a investigação, mas uma atitude prudente, de modo a evitar ser, como dizia Lênin, um "Polyeznyi".
Cordialmente,
Bruno Braga.
Belo Horizonte, 30 de Junho de 2011.