Bruno Braga.
O
julgamento do mensalão desfiou parte do tecido que há décadas recobre a
história do Brasil. Um véu artificiosamente costurado para elevar as
personalidades mais obscuras à condição de protagonistas do processo. José
Dirceu e José Genoino, os “heróis” que outrora – esta é a história que se
aprende nos bancos das escolas e das Universidades – “lutaram pela democracia”,
agora sentenciados pelo Supremo Tribunal Federal como os “delinquentes” que a
fraudaram.
Advogados
de renome - pagos a peso de ouro – cuidaram da defesa dos “heróis” no Tribunal.
Fora dele foram os correligionários e aliados. A intelectualidade
“progressista”, os sacerdotes da revolução, os simpatizantes – e os “idiotas
úteis”. Eles reclamaram da ausência de provas para fundamentar as condenações.
Denunciaram um julgamento de “exceção” e “político”.
Porém,
basta assistir às sessões do STF – disponíveis na internet para qualquer
interessado – para reconhecer a transparência do processo e a abundância de
provas para condenar os acusados. Bastaria assisti-las para concordar com o
Ministro Celso de Mello: os condenados são de fato “marginais do poder”.
A “delinquência”
dos réus não foi uma distorção injusta promovida pelos Magistrados. Dizer que
ela é um produto do exercício do poder - atividade que lançaria no pecado os próceres
da liberdade – seria exagerar a especulação. No entanto, não é demais verificar
se José Dirceu e José Genoino – enquanto agentes políticos concretos – realmente
lutaram pela Democracia.
Dirceu
foi líder estudantil filiado ao PCB (Partido Comunista Brasileiro). Preso no
Congresso da UNE em Ibiúna (1968), foi banido para o México – resultado de negociações
com organizações terroristas que haviam sequestrado o Embaixador dos Estados
Unidos. Do México foi para Cuba, onde participou de treinamentos de guerrilha e
realizou plásticas no nariz e nos olhos. A transformação do rosto foi o
disfarce utilizado para retornar clandestinamente ao Brasil. Dirceu movimentava
armas, documentos e transmitia informações. Em 1975, quando não havia mais luta
armada – os revolucionários estavam derrotados – ele se estabeleceu
definitivamente no país. Em Cruzeiro do Oeste – município paranaense – se casa.
Porém, a esposa soube da verdadeira identidade do marido somente com a Anistia.
José
Genoino, por sua vez, filiou-se ao PC do B – Partido Comunista do Brasil - em
1968. Em 1970 se ofereceu para lutar na guerrilha do Araguaia – conflito
deflagrado para promover a revolução comunista a partir do campo, sob a inspiração
dos processos cubano e chinês. Porém, o - até então - valente guerrilheiro foi
capturado, e sem tomar um tapa sequer, entregou “companheiros” que participavam
do combate [1].
Atividades
intensas. Mas que – diferentemente da história contada - não convergiam para a
Democracia. Dirceu e Genoino pretendiam instaurar no Brasil um regime comunista
de tipo cubano-soviético-chinês. Empunharam armas com o apoio de governos que
julgavam os réus com o fuzil e executavam as sentenças dos Tribunais
Revolucionários no paredão.
Fuzilamento
de Cornelio Rojas ordenado por Che Guevara, 1959.
Depois
da Anistia José Dirceu e José Genoino estiveram juntos para a fundação do PT. No
domínio eleitoral o Partido dos Trabalhadores sofreu algumas derrotas até
conquistar a Presidência da República com Lula, em 2002. Dirceu ocupou a Casa
Civil e Genoino passou à Presidência do PT. Mas, com a denúncia do esquema de
compra de votos de parlamentares - o Mensalão – ambos se afastaram dos seus
postos.
Em 2003
José Dirceu fez uma declaração significativa:
“A
geração que chegou ao poder com Lula é devedora de Cuba. E me considero um
brasileiro-cubano e um cubano-brasileiro” [2].
Dirceu
não havia abandonado as suas raízes. O Partido dos Trabalhadores era apenas um
dos instrumentos para a consumação do antigo projeto. Um comunicado das Farc à
mesa diretora do Foro de São Paulo – de 2007 – não deixa dúvidas. Os comunistas-narco-terroristas
da Colômbia louvavam o PT como a salvação do movimento revolucionário
Socialista-Comunista, que perdia força desde 1990 [3]. E no III Congresso
nacional do partido – também em 2007 – o projeto de poder foi mais uma vez
afirmado: o “Socialismo Petista”.
Este
percurso mostra que Dirceu e Genoino nunca lutaram pela Democracia. Não a tinham
como horizonte nos tempos do Regime Militar – eles não a estabeleceram como
fundamento do programa do partido que fundaram – e a fraudaram quando subiram
ao poder em pleno Estado de direito.
O “heroísmo”
deles é apenas um véu colocado sobre a história. Não com o fuzil – este
confronto eles perderam -, mas com as armas da cultura, a revolução que eles
promoveram. Com a ocupação de espaços no sistema de ensino, com a colaboração
da Intelectualidade “chic”, dos formadores de opinião e dos idiotas
simpatizantes. Costuraram estrategicamente um tecido que o julgamento do
mensalão, em uma parte ínfima, acabou por desfiar. O véu ainda oculta a
delinquência do ex-Presidente Lula. Esconde a engrenagem da qual faz parte o PT.
Encobre um esquema de poder de dimensões continentais organizado pelo Foro de
São Paulo.
XVIII
Encontro do Foro de São Paulo, 2012.
O véu
está desfiado. O julgamento do mensalão é uma ponta a ser puxada - para descosturá-lo
e expor toda a “delinquência” ainda encoberta. Porém, agulhas já estão
trabalhando. Reparando o tecido – reformando-o. Estendendo-o com a colaboração
de uma Comissão encarregada de costurar uma Verdade, coser uma História – criar
“heróis” - produzir uma Mentira.
Referências.
[1].
BRAGA, Bruno. “Como assim, Genoino?” [http://dershatten.blogspot.com.br/2012/10/como-assim-genoino.html].
Depoimento do Coronel Lício Augusto Macier na Câmara dos Deputados, em 2005.
[2]. Cf. O Globo, 03 de Abril de 2003.
[3]. BRAGA, Bruno. “Um desajuste nocivo” [http://dershatten.blogspot.com.br/2012/07/um-desajuste-nocivo.html].
(*) Artigo revisto em 04 de Dezembro de 2012.
[3]. BRAGA, Bruno. “Um desajuste nocivo” [http://dershatten.blogspot.com.br/2012/07/um-desajuste-nocivo.html].
(*) Artigo revisto em 04 de Dezembro de 2012.