Tradução do Capítulo "Liberation Theology" (15), que é parte do livro "Disinformation": former spy chief reveals secret strategis for undermining freedom, attacking religion, and promoting terrorism (WND Books: Washington, 2013) - escrito por Ion Mihai Pacepa e Ronald J. Rychlak.
Tradução. Bruno Braga.
Krushchev queria entrar para a história como o líder soviético que exportou o comunismo para o continente americano. Em 1959, ele foi capaz de instalar os irmãos Castro em Havana, e logo o meu serviço de inteligência estrangeiro envolveu-se na ajuda dos novos governantes comunistas de Cuba para exportar a revolução por toda a América Latina (NT1). Não funcionou. Diferentemente da Europa, a América Latina daquele tempo não havia sido picada ainda pelo besouro marxista (Em 1967, Che Guevara, uma marionete de Castro, foi executado na Bolívia após falhar no plano de acender a guerrilha naquele país).
Nos anos 1950 e 1960, a maior parte dos latino-americanos era pobre, camponeses devotos que tinham aceitado o "status quo", e Krushchev estava certo de que eles poderiam ser convertidos ao comunismo através de uma manipulação maliciosa da religião. Em 1968, a KGB foi capaz de dirigir um grupo de bispos esquerdistas sulamericanos na realização de uma conferência em Medellín, na Colômbia. Atendendo a uma requisição da KGB, meu DIE [NT2] forneceu assistência logística aos organizadores. O propósito oficial da conferência era ajudar a eliminar a pobreza na América Latina. O objetivo não declarado era legitimar o movimento religioso criado pela KGB apelidado "teologia da libertação", que tinha o propósito secreto de encorajar o pobre da América Latina a se rebelar contra a "violência da pobreza institucionalizada" gerada pelos Estados Unidos [1].
A KGB tinha uma inclinação por movimentos de "libertação". Organização para a "Libertação" da Palestina (OLP), o Exército de "Libertação" Nacional da Colômbia (ELN) [NT3], o Exército de "Libertação" Nacional da Bolívia foram apenas alguns dos movimentos de "libertação" nascidos da KGB. A Conferência de Medellín endossou a Teologia da Libertação e os delegados a recomendaram ao Conselho Mundial de Igrejas (CMI) [NT4] para aprovação oficial. O CMI, sediado em Genebra e representando a Igreja Ortodoxa Russa e outras pequenas denominações em mais de 120 países, já estava sob o controle do serviço de inteligência internacional soviético. Politicamente, hoje ainda permanece sob o controle do Kremlin por meio de muitos sacerdotes ortodoxos que são proeminentes no CMI e ao mesmo tempo agentes da inteligência russa. O padre Gleb Yakunin, dissidente russo que foi membro da "Duma" russa de 1990 a 1995, e que rapidamente teve acesso oficial aos arquivos da KGB, disponibilizou uma grande quantidade de informações através de relatórios clandestinos [NT5], identificando os padres ortodoxos que eram agentes e descrevendo a influência deles nas questões do CMI [2]. Por exemplo, em 1983, a KGB enviou 47 agentes para participarem da Assembléia Geral do CMI em Vancouver, e no ano seguinte a KGB creditou à utilização desses agentes no comitê de seleção do CMI para articular a eleição do homem certo para a Secretaria-Geral [3].
O Secretário-Geral do Conselho Mundial de Igrejas, Eugene Carson Blake - um ex-presidente do Conselho Nacional de Igrejas nos Estados Unidos - endossou a Teologia da Libertação e a tornou parte da agenda do CMI. Em Março de 1970 e Julho de 1971, os primeiros congressos católicos sul-americanos dedicados à Teologia da Libertação aconteceram em Bogotá.
O Papa João Paulo II, que havia experienciado o desastre comunista diretamente, denunciou a Teologia da Libertação na Conferência do Conselho Episcopal Latino-americano (CELAM), realizada em Puebla, México, em Janeiro de 1979: "Essa concepção de Cristo como figura política, um revolucionário, como o subversivo de Nazaré, não se coaduna com o catecismo da Igreja" [4]. Em quatro horas uma refutação do discurso do Papa - em vinte páginas - cobria o chão do evento. O Cardeal López Trujillo, organizador da Conferência, explicou que a refutação era produto de "uns 80 marxistas libertacionistas de fora da Conferência dos Bispos" [5]. Eu me lembro que o DIE romeno tinha sido prontamente parabenizado pela KGB por ter fornecido apoio logístico a esses libertacionistas.
Em 1985, o Conselho Mundial de Igrejas - comandado pela KGB - elegeu o seu primeiro Secretário-Geral, que era um marxista declarado: Emilio Castro. Ele tinha sido exilado do Uruguai por causa do seu extremismo político; porém, ele conduziu o CMI até 1992. Castro promoveu fortemente a criação da KGB - a Teologia da Libertação - que hoje está produzindo fortes raízes na Venezuela, na Bolívia, em Honduras e na Nicarágua. Nesses países, os camponeses têm apoiado os esforços dos ditadores marxistas Hugo Chávez, Evo Morales, Manuel Zelaya (agora exilado na Costa Rica) e Daniel Ortega, para transformar os seus países em ditaduras policiais de tipo KGB. Em Setembro de 2008, Venezuela e Bolívia expulsaram - na mesma semana - os embaixadores dos Estados Unidos e apelaram à proteção militar russa.
Embarcações militares e bombardeiros russos estão de volta a Cuba - pela primeira vez desde a crise cubana dos mísseis, em 1962 - e também à Venezuela. O Brasil, a décima maior economia do mundo, entrou também para o grupo do Kremlin com o seu presidente marxista, Lula da Silva. Em 2011, Lula foi sucedido por uma ex-guerrilheira marxista, Dilma Rousseff. No mesmo ano, o recém-eleito Presidente do Peru, Ollanta Humala, correu até Buenos Aires para buscar inspiração na Presidente guerrilheira-marxista do Brasil. Com a inclusão da Argentina, onde a atual Presidente, Cristina Fernández de Kirchner, também está levando o país para o grupo Marxista, o mapa da América Latina aparece, sobretudo, em vermelho.
Há poucos anos, uma versão negra da Teologia da Libertação começou a crescer entre algumas igrejas radicais-esquerdistas negras nos Estados Unidos. Os teólogos da libertação negra, James Cone, Cornel West, e Dwight Hopkins, declararam explicitamente a preferência pelo Marxismo, porque o pensamento marxista é baseado em um sistema da classe opressora (brancos) contra a classe oprimida (negros), e para o qual se vê apenas uma solução: a destruição do inimigo. James Cone explica:
"A teologia negra aceitará somente o amor de Deus que participa da destruição do inimigo branco. O que nós precisamos é do amor divino tal como é expresso no Black Power, que é a força do povo negro para destruir aqui e agora e por quaisquer meios os seus opressores. Se Deus não participar desse trabalho sagrado, nós devemos rejeitar o seu amor" [6].
A Trinity United Church of Christ - predominantemente negra - é parte desse novo movimento. Seu pastor, o Reverendo Jeremiah Wright, que em 2008 tornou-se conselheiro religioso da campanha presidencial do Senador Barack Obama, ficou famoso, não por gritar "Deus abençoe a América", mas "Deus condene a América!". A campanha presidencial do Senador Barack Obama desculpou-se pela língua solta do Reverendo Wright. No entanto, até Junho de 2011, o mesmo Reverendo Wright estava percorrendo os Estados Unidos para pregar, em igrejas negras abarrotadas, que "o Estado de Israel é ilegal, genocida", e que "equiparar o Judaísmo ao Estado de Israel é equiparar o Cristianismo a Flavor Flav [rapper]" [7].
Obama, claro, estava então na Casa Branca.
__________
Nos anos 60, Che Guevara tornou-se uma espécie de ícone para o movimento da Teologia da Libertação. Naquele tempo, a popularidade do Kremlin estava muito baixa. A repressão brutal dos soviéticos contra a insurreição húngara de 1956 e a instigação que eles promoveram na crise dos mísseis em Cuba, em 1962, causou repugnância no mundo, e todo governante do bloco soviético tentou livrar a cara à sua própria maneira. Krushchev substituiu a "imutável" teoria marxista-leninista da revolução proletária mundial pela política de coexistência pacífica, fingindo ser um defensor da paz. Alexander Dubcek apostou em um "socialismo com um rosto humano", e Gomulka em "deixar a Polônia ser Polônia". Ceausescu anunciou sua independência de Moscou e se apresentou como um "maverick" entre líderes comunistas.
A Cuba dos irmãos Castro, que temia qualquer tipo de libertação, decidiu que seria mais simples revestir o seu comunismo com uma romântica fachada revolucionária. Eles escolheram Che como garoto-propaganda porque ele já tinha sido executado na Bolívia - país aliado dos Estados Unidos; depois de fracassar na tentativa de incendiar a guerrilha, ele poderia ser pintado como mártir do imperialismo americano. A KGB imediatamente ofereceu apoio. O DIE romeno, que naquela época gozava de relações estreitas com seu congênere cubano, o DGI, recebeu ordens para também dar uma mão, e me colocou diretamente no projeto [8].
A "Operação Che" foi lançada com o livro "Revolução na Revolução" [NT6], uma cartilha para insurreições de guerrilha comunista e que elevava Che aos céus. O autor, o terrorista francês Régis Debray, foi um agente da KGB altamente conceituado [9]. Em 1970, os irmãos Castro aceleraram a santificação de Che. Alberto Korda, um oficial do serviço de inteligência de Cuba que trabalhava disfarçado como fotógrafo no jornal cubano "Revolución", produziu uma foto romantizada de Che. O agora famoso Che, com cabelo longo e cacheado, vestindo uma boina revolucionária com uma estrela, e olhando diretamente nos olhos do observador, inundou o mundo desde então [10].
A foto de Che tornou-se o logotipo do épico filme de Steven Soderbergh - "Che", lançado em 2009, com 4 horas de duração e em língua espanhola - que retrata um sádico assassino que dedicou sua vida para colocar a América Latina no grupo do Kremlin como um "verdadeiro revolucionário sob a perspectiva do seu martírio".
Até o dramaturgo que recebeu os créditos por escrever a peça que difamou o Papa Pio XII - "The Deputy" - foi recrutado para o esforço de promover Che. A revista "Time" publicou em Outubro de 1970: "Atualmente, Che aparece toda tarde em uma nova peça, 'The Guerrillas', do dramaturgo alemão Rolf Hochhuth". Na peça, "um jovem senador nova-iorquino, que também é líder de um movimento clandestino americano estilo-Che, pede a Guevara que ele abandone sua batalha na Bolívia. Che se recusa. 'Minha morte aqui - em um juízo calculado - é a única vitória possível', diz ele. 'E devo deixar uma marca'" [12]. Além de promover os interesses da KGB, a peça também acusou os Estados Unidos de ser um assassino político e racista.
A KGB também contribuiu para fantasiar um diário que Che manteve durante os seus anos como estudante e transformá-lo em um livro-propaganda, "Das Kapital Meets Easy Rider", depois renomeado "Diários de Motocicleta" [NT7]. Hoje Che é um ícone do movimento da Teologia da Libertação e da Teologia da Libertação negra.
Durante o período da eleição presidencial de 2008, a emissora Fox de Houston transmitiu um vídeo dos voluntários em um escritório da campanha Obama naquela cidade. As paredes estavam enfeitadas com uma grande foto de Che sobreposta a uma bandeira cubana [13]. Obama seguiu por quase vinte anos a igreja da teologia da libertação negra do Reverendo Wright em Chicago.
Raúl Castro uma vez se vangloriou dizendo para mim: "Che é o nosso maior sucesso público".
NOTAS.
[1]. Cf. Koehler, 26.
[3]. Keith Armes. "Chekists in Cassocks: The Orthodox Church an the KGB [http://www.spiritoftruth.org/orthodoxchurch.pdf].
[5]. Ibid.
[6]. James H. Cone, "A Black Theology of Liberation" (New York: Orbis Books, 1990), p. 27.
[7]. Marta H. Mossburg, "Reverend Wright brings his anti-American crusade to Baltimore", The Baltimore Sun, 21 de Junho de 2011 (Edição online).
[8]. Cf. Humberto Fontova, "Fidel: Hollywood´s Favorite Tyrant" (Regnery Publishing, Inc. 2005).
[9]. Debray inicialmente lecionou na Universidade de Havana, na Cuba dos Castro. Depois tornou-se assessor do Presidente socialista francês François Mitterrand. Debray dedicou sua vida a exportar o Comunismo estilo-cubano pela América Latina, mas em 1967 uma unidade das forças especiais bolivianas - treinada pelos Estados Unidos - o capturou junto com todo o bando guerrilheiro de Che. Che foi condenado à morte e executado por terrorismo e assassinato em massa. Debray foi condenado a 30 anos de prisão, mas foi solto depois de três anos após a intervenção do filósofo francês Jean Paul Sartre. Em Fevereiro de 2003, Debray publicou "The French Lesson" no New York Times (que o descreveu como "ex-assessor do Presidente François Mitterrand", mas omitiu o fato de que ele passou anos na cadeia por terrorimo). Régis Debray, "The French Lesson", New York Times, 23 de Fevereiro de 2003 (Edição online).
[10]. A foto de Che foi originalmente lançada no mundo por um agente da KGB disfarçado de escritor - I. Lavretsky, livro "Ernesto Che Guevara", editado pela KGB. I. Lavretsky, "Ernesto Che Guevara" (Moscow: Progress Publishers, 1976). A KGB deu à foto o título de "Guerrillero Heroico" e a espalhou pela América do Sul - área de influência de Cuba. Giangiacomo Feltrinelli, um milionário editor italiano, e comunista romanticamente envolvido com a KGB, inundou o resto do mundo com a foto de Che em posters e camisas. De um dia para o outro o terrorista Che tornou-se um ídolo esquerdista internacional. Feltrinelli virou terrorista, e morreu enquanto plantava uma bomba nos arredores de Milão, em 1972.
[11]. A. O. Scott, "Saluting the Rebel Underneath the T-Shirt", New York Times, 12 de Dezembro de 2008; Humberto Fontova, "Fidel: Hollywood´s Favorite Tyrant" (Regnery Publishing, Inc. 2005).
[12]. "World: Che: A Myth Embalmed in a Matrix of Ignorance", Time, 12 de Outubro de 1970.
[13]. Humberto Fontova, "Che Guevara and the Obama Campaign", Human Events, 18 de Fevereiro de 2008 [http://www.humanevents.com/2008/02/18/che-guevara-and-the-obama-campaign/].
NOTAS DO TRADUTOR.
[NT1]. Pacepa foi general da "Securitate" - a polícia secreta da Romênia comunista.
[NT2]. Serviço de Inteligência Internacional da Romênia.
[NT3]. No texto original a sigla entre parênteses é "FARC".
[NT4]. World Council of Chuches (WCC)
[NT5]. "'samizdat' reports".
[NT6]. "Revolution in Revolution".
[NT7]. "The Motorcycle Diary".