Um Contra-exemplo e uma Controvérsia.
Episódio III.
Bruno Braga.
Como o interlocutor não mais se manifestou, a controvérsia envolvendo o artigo de Dimas Enéas – "Ocupe Wall Street" – transforma-se em uma Trilogia, da qual este é o último episódio.
O formato é o mesmo dos episódios anteriores.
I. Dimas Enéas Soares Ferreira, 04 de Novembro de 2011.
Meu caro Bruno,
ao contrário dos adjetivos a mim direcionados no início e ao longo de toda a sua argumentação, baseada numa "suposta" expertise acadêmica e metodológica, não vou aqui ficar tentando desconstruir suas justificações. Apenas quero lhe dizer que assim como respeito seu ponto de vista, espero que entenda que tenho os meus e não serão seus contra-argumentos que me farão mudar de ideia, ainda que você acredite piamente ser o detentor da verdade dos fatos e da suprema capacidade intelectual de analisá-los da forma como acha que devem ser.
Se queres um bom combate, terás o bom combate, mas não dentro dos parâmetros que pensas ser o ideal. Idealizas um tipo ideal de discussão em torno de ideias, partindo do pressuposto de que se sou militante partidário, sindicalista ou ativista social, isso por si só já desqualifica minhas posições, ideias e referências.
Da mesma forma que se tenho um título de mestre e busco arduamente conseguir o de doutor, isso também me obriga a discutir ideias (e tão somente ideias) baseando-me em referências bibliográficas. Poderia até usá-las, pois não me faltam, mas não vou sacrificar meu precioso tempo de trabalho, pesquisa, militância e ativismo buscando mil referências para lhe convencer. Até porque não é este meu objetivo e ideias são apenas ideias.
Já, V.Sa. usa muitas referências como Veja e Folha de São Paulo, por exemplo, o que considero referências desqualificadas já que trata-se de veículos da grande mídia burguesa que nós da esquerda abominamos e temos denominado de PIG. Poderia me contrapor às suas posições e argumentos usando também fontes que considero mais fidedignas como Princípios, Carta Capital, Le Monde Diplomatiqué Brasil, caros Amigos, Piauí ou pensadores políticos da velha e nova esquerda, mas com certeza não me apoiaria em Folha de São Paulo, O Estado de Minas ou Veja. É uma questão de consciência política, coisa que se constrói ao longo de anos e que se consolida feito rocha. Estou aberto a novas ideias, mas não as que venham da direita, que sejam conservadoras, que estejam calcadas em princípios liberais ou neoliberais.
A suposta "boa" investigação dos fatos que você afirma fazer está contaminada pelo libelo liberal e, pior, pelo ultrapassado e derrotado libelo neoliberal. Me chamar de "infantil", "revolucionário juvenil" ou dizer que o que escrevo não passa de "arroto verbal" não me causa nenhum desconforto, apenas confirmo a tese de Nelson Rodrigues de que "toda unânimidade é burra." Suas posições ficam claras em tudo que escreve, não só quando se refere aos meus artigos, mas quando se refere aos artigos de outros aqui no barbacenaonline.
Enfim, estou sendo o mais sincero possível com V.Sa. e me desculpe se minha militância, ativismo, profissão, idade e títulos lhe incomodam tanto. Não foi esse meu objetivo. Apenas uso um procedimento natural do meio acadêmico e nada mais.
Atenciosamente.
Dimas Enéas Soares Ferreira
Doutorando em Ciência Política – UFMG
Mestre em Ciências Sociais – PUCMinas
Especialista em História do Brasil – PUCMinas
Revisor do eJournal of eDemocracy and Open Government
Professor - Epcar e Unipac
Diretor e 1o Tesoureiro - Sinpro Minas
Coordenador de Comunicação - Inst. 1o de Maio
Currículo Lattes:
(https://wwws.cnpq.br/curriculoweb/pkg_menu.menu?f_cod=97FE97B98AB49150D9F90187ED1A6DFC).
II. Bruno Braga, 08 de Novembro de 2011.
Dimas Enéas, Dimas Enéas...
Não vejo desrespeito algum na minha última mensagem, onde apenas reproduzi as atividades que você mesmo, expressamente, afirmou desempenhar. E quanto aos adjetivos que utilizei para qualificá-lo, eles podem ser facilmente reconhecidos no seu próprio comportamento: embora pareça muito estranho para uma pessoa de 47 anos, só mesmo um "revolucionário juvenil", "infantil", denunciaria "patricinhas e mauricinhos" em um artigo de análise política.
Não "desqualifico" sumariamente suas "posições, idéias e referências", Dimas, porque você é militante partidário, sindicalista ou ativista social. Ainda que tivesse realizado uma leitura desatenta e despretensiosa do meu e-mail, julgo que você seria capaz de identificar o trecho no qual afirmo, categoricamente, que o exercício de papéis sociais não é critério para aferir os fundamentos de uma argumentação – por isso, não o "desqualifico" por causa das suas atividades. A "desqualificação" das suas teses, nobre articulista, advém dos dados objetivos apresentados: bibliografia, artigos, vídeos, documentos.
Agora, não acredito ser o "detentor da verdade dos fatos e da suprema capacidade intelectual", como você pretende me desenhar. Pelo contrário, apresente algo que desminta a minha narrativa, e os fundamentos dela, que me apressarei, modesta e humildemente, a assumir o equívoco. Não tenho compromisso com ideologia, nem filiação partidária. Não pertenço a "lado" nenhum e por isso não sinto constrangimento por adotar a divisa de Pascal: "não me envergonho de mudar de opinião porque não me envergonho de pensar".
Aguardei da sua parte, Dimas, alguma contraposição esclarecedora – ou o "bom combate" que anunciara – mas, a maior expressão de sua luminosa sabedoria foram alguns brados: "Não tenho tempo a perder! Estou ocupado!" Realmente, Dimas, você não tem dever nenhum de prestar a mim, individualmente, qualquer esclarecimento – não precisa perder o seu tempo comigo: mas invista-o em explicações públicas, porque, como articulista de um portal de notícias, você tem a obrigação e responsabilidade de esclarecer uma séria e grave omissão, o massacre de cristãos no artigo em que celebra a "Primavera árabe".
Sua militância, nobre articulista – seu ativismo, profissão, idade e títulos - não me causam qualquer constrangimento, como pensa. Porém, previamente tomá-los – junto com a sua ideologia – como instrumento suficiente para a descrição objetiva dos fatos é, no mínimo, problemático. Porque as suas análises pressupõem um óculos que configura o seu olhar conforme os propósitos de sua militância política – isto é, a disputa pelo poder. Não sou capaz de determinar, meticulosamente, a dose de inocência, ignorância, negligência nas pesquisas, má-fé, ou até de patologia, em artigos que, conseqüentemente, são instrumentos da sua "luta" - somente você poderá identificá-los, para si mesmo, em um sincero exame de consciência. De qualquer maneira, as suas exposições mesmas denunciam os obstáculos advindos da insistência neste expediente – porque, em vez de analisar os fatos objetivos, você fecha os olhos, esgoela um sem número de estereótipos e, quando contestado, desesperadamente esbraveja: "Não! Você não vai me convencer! Eu não vou mudar de idéia!"
Acalme-se, Dimas. Eu não pretendo convencer-lhe de nada. Apenas analisei suas teses e identifiquei nelas equívocos graves. Porém, se você, sem nenhuma justificativa, prefere persistir no erro e na falsificação, não posso lhe constranger, já que não tenho nenhum propósito doutrinal ou político. Acontece, Dimas, que você tem estes propósitos; e, por isso mesmo, as suas idéias não são "apenas idéias" como diz. Nelas você deposita algumas expectativas sutis: que gerem efeitos práticos e, com isso, favoreçam a sua luta, e a dos seus, para a conquista do poder. Com este objetivo, o que você considera simples "idéias", Dimas, foi o fundamento de brutalidades terríveis e de uma carnificina jamais vista na história humana – sobretudo empunhando as suas bandeiras "revolucionárias".
Forneço-lhe uma amostra, nobre articulista, de como a sua metodologia – ou melhor, ideologia – pode distorcer e falsificar "simples idéias", o colocando em situações embaraçosas e comprometendo uma análise aberta e sincera dos fatos.
Na sua última mensagem, Dimas, você reprova sumariamente algumas das minhas referências – Folha de São Paulo, Estado de Minas e Revista Veja – porque as considera parte da "grande mídia burguesa". Para você, e para os seus da esquerda, os veículos de imprensa citados são "PIG": uma sigla que, para além de uma referência depreciativa ao "porco", rotula a "imprensa golpista". Depois da denúncia, Dimas, você providencialmente aponta as fontes que julga serem mais "fidedignas" - entre outras, cita a "Revista Piauí".
Acontece, caro militante e revolucionário, que a "Revista Piauí" foi idealizada por João Moreira Salles, o cineasta brasileiro que é filho do falecido empresário e banqueiro – isto mesmo, BANQUEIRO, Dimas – Walter Moreira Sales. Vale ressaltar que a família perpetua as atividades do patriarca. Ademais, a "Piauí" realiza-se através de uma parceria com o Grupo Abril, o mesmo responsável pela Revista Veja que você diz abominar, Dimas – há, inclusive, participação de ex-diretores da própria Veja na direção da "Piauí" [1].
Pois bem. Se aplicarmos os seus critérios metodológicos, ou melhor, "ideológicos", Dimas, à Revista Piauí, ela também faria parte da "grande mídia burguesa" – já que foi concebida por um multimilionário, capitalista, BANQUEIRO, e conta com a colaboração do Grupo Abril, o responsável pela Revista Veja, órgão da "grande mídia burguesa". A Revista Piauí também seria "PIG", Dimas, não? Ou será que você a absolveria desta horrenda acusação simplesmente porque ela defende os seus ideais, os mesmos do seu grupo, ou de seu "Partido"?
Ainda sobre as suas referências, gostaria apenas de fazer-lhe uma advertência - para evitar que você cometa um deslize ainda mais grave que o mencionado anteriormente. A "Princípios" mantém uma parceria com o "Portal Vermelho". Tanto a revista quanto o portal estão ligados ao PC do B. Todos eles fazem apologia de genocidas. Portanto, se você endossa estas idéias, teses, concepções, e políticas, devo-lhe dizer que isto o coloca como cúmplice de milhões de mortes.
Agora, propriamente sobre as minhas fontes, a sua condenação sumária delas o impediu de analisá-las – com esta precipitação, Dimas, você não pôde constatar que uma é a tradução de um artigo do "New York Times" sobre o protesto "Ocupe Wall Street" [2]. Este detalhe é pertinente porque o "New York Times" é um órgão da mídia "esquerdista" americana [3] – e, por isso, está perfeitamente articulado com todas as suas teses e projetos, nobre articulista. Por um descuido, Dimas, você acabou sentenciando um organismo "aliado" e "colaborador".
Enfim, estes são alguns inconvenientes que seu "expediente ideológico" pode lhe trazer, Dimas – sobretudo quando assina artigos como "analista político". A análise séria dos fatos pressupõe, nobre articulista, o exame objetivo dos dados, isto é, "o que" os veículos de imprensa afirmam. Portanto, conteste "o que" as fontes que levantei dizem – o "conteúdo" das reportagens, os dados e informações, sem desprezá-las previamente. Porém, para isso, é necessário que você seja realmente "sincero" – não reafirmando as suas crenças e boas intenções – mas se propondo a descrever as coisas como elas de fato são, mesmo que a verdade seja cruel e brutal, e desminta o seu grupo, o seu "Partido". Mas, como é possível sinceridade em uma pessoa que diz estar "aberto a novas idéias", mas simultaneamente impõe a condição de que elas não venham da "direita", que não sejam "conservadoras", que não estejam calcadas em "princípios liberais" ou "neoliberais"? Não, Dimas, você não está aberto. Você está fechado e o confessa: está preso à sua "consciência política", sólida "feito rocha" - são as suas próprias palavras. Se você já percebeu que há um mundo real e concreto para além dos seus estereótipos, mas insiste em sua metodologia ideológica, resta-lhe apenas a "desonestidade" ou a patologia.
Estas causas devem justificar a sua "hiper-sensibilidade" – que depois de relacionar-me ao "nazismo", à "extrema direita", ao "fascismo", à "ditadura militar" e dizer que meus comentários são "ridículos" – disfarça o escândalo com uma simples figura de linguagem, "um arroto verbal". Além de atingir a sua "consciência moral" e o impedir de julgar os próprios atos, Dimas, há algo que provoca em você uma estranha confusão mental - pois, mesmo discursando em nome do "povo", isto é, da maioria, e dizer que minhas teses estão "ultrapassadas", que foram "derrotadas", você se vale do dito de Nelson Rodrigues para dizer que elas são "unanimidade".
Sobre o portal "Barbacena Online", apenas reitero o meu modesto pedido de esclarecimento: o que você, Dimas, que escreve sobre a "democratização da imprensa" e se escandaliza com os "filtros" da internet, pensa respeito do expediente do Conselho Editorial do "Barbacena Online" – que analisa previamente os comentários sobre os artigos publicados no portal, mas posta apenas aqueles que são "aprovados"? [4]
Cordialmente,
Bruno Braga.
Belo Horizonte, 08 de Novembro de 2011.
Referências.
[1] http://www.dinap.com.br/site/noticias/conteudo_171042.shtml
[2] http://www1.folha.uol.com.br/mundo/996800-apoio-de-artistas-desafina-o-tom-do-ocupe-wall-street.shtml
[3] Cf. A sátira de Andrew Klavan sobre a política esquerdista do "New York Times" [http://www.youtube.com/watch?v=9y8tzEmhm1o&feature=player_embedded] e, para mais detalhes, o "Times Watch – Documenting and Exposing the Liberal Political Agenda of 'The New York Times'" [http://www.mrc.org/timeswatch/].
[4] Cf. BRAGA, Bruno. "Contra os 'filtros da internet': um filtro" [http://dershatten.blogspot.com/2011/09/contra-os-filtros-da-internet-um-filtro.html].