Uma mensagem pós-natalina.
Bruno Braga.
É tempo de festa. Celebração daquilo que foi chamado "boa nova", quer dizer, o nascimento do "Filho do Homem", que trouxe ao mundo a fé no amor e na caridade. Mensagem que se renova com as comemorações religiosas, mas que é também reaproveitada por discursos políticos. Com palavras que objetivam o coração, o socialismo-comunismo prega a igualdade, a fraternidade e a justiça. Seus correligionários se inflamam para reivindicar a eliminação das distorções sociais, o acolhimento dos excluídos, a distribuição equitativa das riquezas, e, enfim, uma conversão do "olhar" para que as pessoas se tornem mais justas, compassivas e amorosas. Uma bela e sedutora mensagem, que, por possuir um conteúdo nobre, ou seja, o "bem da humanidade", acaba inoculando em seus partidários a certeza de estarem agindo na defesa e na proteção do mundo – estes, então, para concretizarem seu elevado propósito, acreditam que têm permissão para tudo: para insultar, agredir, corromper, destruir, torturar, mutilar, e, inclusive, matar: como se fez no passado, em escalas assustadoras, empunhando bandeiras vermelhas sob os gritos da revolução.
Se neste momento de festejos e trocas de presente qualquer palavra ou ação recebe um estímulo do "espírito natalino", que faz precipitar mensagens de paz, de amor, talvez fosse adequado um momento de silêncio: não só para evitar repetições, mas também manifestações vazias, disparatadas, afetadas. Contra o falatório político partidário, por sua vez, é pertinente quebrar o mutismo, renovando as palavras de Churchill: "As tolices do socialismo são inesgotáveis. Falam de camaradagem e pregam a irmandade dos homens. Quem são eles? São as pessoas mais deploráveis. Falam sobre uma irmandade comum no mundo inteiro! Mesmo entre eles, há vinte facções discordantes que se odeiam umas às outras, até mais do que odeiam você e a mim. Que falsidade! Vocês não podem sentir uma sensação de náusea na presunção arrogante de superioridade dessas pessoas? Superioridade de intelecto! 'Estamos buscando', eles dizem, 'um estágio da humanidade muito melhor do que a atual esquálida raça humana jamais poderá atingir'. E quando se trata da prática, caem por completo não só ao nível dos homens comuns mas a um ponto muito abaixo da média". [Winston Churchill, 11 de Dezembro de 1925, Tow Hall, Baterrsa. In CHURCHILL, W. Jamais ceder! Os melhores discursos de Winston Churchill. Zahar: Rio de Janeiro, 2005].
(*) Nota.
Este breve texto foi redigido sob o estímulo da leitura do artigo "O que devemos esperar em 2011?", de Dimas E. Soares Ferreira, publicado no site "Barbacena On line" – especificamente da passagem:
Hoje, nós cristãos nos esquecemos que há dois mil anos atrás um homem se levantou contra as injustiças impostas ao seu povo por uma elite corrupta que se aliou ao dominador imperialista estrangeiro. Este homem, mais do que "filho de Deus" foi um revolucionário, que ousou dizer que era preciso dividir o pão entre todos e que todos eram filhos de Deus [http://www.barbacenaonline.com.br/noticias.php?c=5139&inf=100].
Não há, aqui, nenhuma pretensão de estabelecer ataques pessoais, nem discutir a biografia do autor do artigo, já que desconheço completamente suas posições políticas, ou sua filiação partidária - embora a imagem de Jesus Cristo utilizada por ele forneça algumas pistas. No entanto, é esta mesma imagem - e não a pessoa que a descreve – que motiva o texto acima, pois é uma distorção, um falseamento, talvez inconsciente, para se adequar a uma concepção política. Porque Jesus Cristo, na descrição de Dimas Ferreira é praticamente um antepassado de "Che Guevara" – "levanta-se contra injustiças impostas ao seu povo", combate uma "elite corrupta" aliada de um "dominador imperialista estrangeiro", enfim, é um "revolucionário" – faltou-lhe apenas uma boina, um uniforme militar, um fuzil, e uma bela palavra de ordem: "Hay que endurecerse, pero sin perder la ternura jámas" (Ernesto Guevara). É preciso, ou desconsiderar o Cristianismo, ou "reler" a Bíblia a partir de outros princípios, para construir esta imagem de Jesus Cristo. Desconsiderar o Cristianismo porque é o mesmo "Filho do Homem" que responde a maliciosa questão dos fariseus se deveriam ou não pagar os impostos a César: "'Por que me quereis armar um laço? Mostrai-me um denário'. Apresentaram-lho. E ele perguntou-lhes: "De quem é esta imagem e a inscrição? – 'De César', responderam-lhe. Jesus então lhes replicou. 'Daí, pois, a César o que é de César e a Deus o que é de Deus" (Mc 12, 15-17 – Cf. Rom. 13, 1-7). Isto não significa conformismo, resignação, mas aponta o destino da mensagem cristã: o indivíduo e sua autoconsciência, reduto onde se dá a experiência efetiva da revelação, da conversão, da "graça". O mundo externo está submetido ao tempo, à corrupção, e à transitoriedade. A "idealização do Estado", por sua vez, é uma "abstração", sem realidade concreta. Por isso o Cristianismo se utiliza da simbologia do "coração", pois é nele que se realiza a mensagem do "amor", da "compaixão", para então ser o fundamento das virtudes, da justiça e da caridade. Agora, sobre a "releitura" da Bíblia, sobre os princípios utilizados para construir aquela imagem distorcida de Jesus Cristo, fica evidente quais são no próprio vocabulário utilizado por Dimas Ferreira: um amalgama do marxismo, socialismo, comunismo, que modela um "anti-imperialista", um "ativista social anti-burguês", quer dizer, "um revolucionário" – uma causa que, como acima destacado, o "filho do Homem" não defende. Ele que replica o Tentador no Deserto: "Não só de pão vive o homem [...]" (Deut. 8, 3) [Mat. 4, 4] – e proclama: "onde está o teu tesouro, lá também está teu coração" (Mt., 6, 21).