Bruno Braga.
Se há
alguma seriedade na “Comissão da Verdade” – isto é, uma preocupação honesta e sincera
com a história do país – os seus integrantes deveriam incluir em suas pautas
investigativas o depoimento de Ladislav Bittman, autor do livro “The KGB and
Soviet desinformation”. Bittman, sem dúvida alguma, prestaria um enorme serviço
à nação, principalmente no domínio pedagógico, derrubando a mitologia
revolucionária que atribui aos Estados Unidos a trama do golpe de 31 de Março
de 1964.
Bittman
é um desertor da inteligência da Tchecoslováquia comunista, país satélite da
matriz soviética. De quatorze anos em que trabalhou para a revolução, dois
foram como Vice-comandante do Departamento de Desinformação. Em seu livro,
Bittman revela como ele e o serviço secreto tcheco atuaram no Brasil. O
objetivo da operação era desenhar artificialmente as novas diretrizes da política
externa americana, ressaltando, sobretudo, os propósitos da exploração
econômica e da interferência nas condições internas dos países
latino-americanos - além disso, havia o propósito de responsabilizar a CIA pela
trama de intrigas antidemocráticas e de planejar golpes de Estado.
Para
o sucesso da operação foram disseminadas três falsificações. A primeira era um
falso comunicado da Agência de Informação dos Estados Unidos, que trazia os
princípios fundamentais da “nova política externa americana”. O documento
forjado apareceu em meados de Fevereiro de 64 na publicação “O Semanário”. A
segunda falsificação foi promovida através de circulares emitidas por uma
organização inexistente - “Comitê para a luta contra o Imperialismo Yankee” -, que
denunciavam a presença no país de agentes da CIA, do DOD e do FBI disfarçados
de Diplomatas.
A
terceira falsificação – e um dos pilares da mitologia revolucionária - foi uma
carta redigida por J. Edgar Hoover, então diretor do FBI, destinada a um de
seus agentes, Thomas A. Brady. A correspondência creditava ao FBI e à CIA o
sucesso da execução do golpe de 64. Com este falso documento os comunistas
pretendiam envolver os americanos diretamente na deposição de João Goulart. Sobre
esta conspiração Bittman faz uma observação curiosa: a inteligência tcheca
incluiria somente a CIA na trama; foi obrigada a envolver o FBI porque não
tinha em mãos o papel timbrado da CIA para ser utilizado na falsificação.
Diante
destas informações, o depoimento de Ladislav Bittman seria imprescindível para
uma “Comissão” que pretende a “Verdade”. Ele poderia esclarecer outros dados
presentes no seu livro, como os nomes dos jornalistas que a inteligência tcheca
tinha à sua disposição na America Latina e do jornal político do qual era
proprietária até 1964 no Brasil.
Mas,
os integrantes da “Comissão da Verdade” estariam, de fato, interessados em, no
mínimo, conferir estas informações? Não. Porque o propósito deste grupo é atestar
a versão – e a mitologia - revolucionária dos acontecimentos, e assim falsificar
a História de um país. Este é o procedimento sutil e indolor da revolução
cultural, que em vigência no Brasil há décadas, foi capaz de esconder o próprio
livro de Bittman, publicado desde 1985.
De
qualquer maneira, o leitor comprometido com o conhecimento, pode verificar por
conta própria o testemunho do ex-espião tcheco. Disponibilizo abaixo o link
para o livro de referência de Ladislav Bittman em formato PDF. Os trechos que
descrevem a operação comunista no Brasil podem ser lidos da p. 08 até a 11. Se
o inglês for um obstáculo, é possível consultar uma tradução do trecho publicada
pelo grupo Ternuma [1] com uma excelente introdução de Olavo de Carvalho, que
há tempos alerta sobre a importância do testemunho de Ladislav Bittman. Mas, que
o interessado não se contente apenas com este fragmento: eu recomendo a leitura
integral do livro.
Referências.
No comments:
Post a Comment