Paulino Afonso.
Cubanet, 08 de Outubro de 2015.
Tradução. Bruno Braga.
Havana, Cuba - Como no mês passado tivemos uma visita papal em Cuba, isso me fez recordar uma das primeiras medidas descaradas e absurdas de Fidel Castro: a expropriação, em 1961, de todos os centros privados de educação cubanos, entre eles, os colégios católicos.
Pregaram nas expropriações a etiqueta de nacionalização, muito em voga na época, embora nenhum desses centros fosse estrangeiro, nem produto de malversações do regime de Batista.
Todos os centros educacionais privados, católicos ou laicos, foram postos sob o controle do Estado com o objetivo de "criar o novo homem", que, claro, deveria ser ateu.
Creio ser oportuno referir-me a isso, tanto para os jovens que não conhecem o assunto como para servir de recordatório para os velhos sem memória ou que não queiram recordá-lo.
Antes de 1959, Cuba era um país formalmente católico. Apesar de se respeitar a liberdade de culto, é inegável que essa religião estava enraizada no povo cubano em geral.
Para atender à educação dos filhos da comunidade católica de vários estratos sociais, foram criadas aproximadamente 80 escolas católicas em Cuba, nas quais eram ministradas aulas do primário ao pré-universitário.
Na capital havia mais de 20. Em Santiago de Cuba, o principal era o "Colegio Jesuita de Dolores".
Relacionarei apenas algumas das principais escolas católicas de Havana: a "Universidad Católica Santo Tomás de Villanueva", a escola jesuita de "Belén" (onde estudou Fidel Castro), os colégios dos "Hermanos Escolapios", o dos "Hermanos Maristas", "La Salle", o do "Sagrado Corazón de Jesús", a escola para meninas e jovens das "Hermanas Ursulinas" e a "Academia Militar San Ignacio de Loyola".
Uma vez que estes centros foram construídos em momentos distintos da história republicana, não é fácil determinar o valor da expropriação.
Tenha-se em conta que em todas essas edificações trabalharam as melhores e mais caras companhias construtoras que havia em Cuba.
De acordo com os processos de construção, e consultando velhos mestres de obra, o custo pode ser estimado em pelo menos 45 milhões de dólares da época, cujo valor com relação ao atual é de oito para um.
Se for somado o mobiliário, os equipamentos próprios para a docência e os insumos que essas escolas tinham no momento da confiscação, o valor total deve subir consideravelmente. Pode ser estimado em 70 milhões de dólares da época. Isto só nos centros da capital listados acima.
Neste levantamento não estão relacionados os inumeráveis conventos que foram confiscados das diversas ordens de religiosos e religiosas, nem a escola de ofícios, custeada com patrocínio popular, que era conhecida como "Ciudad de los Niños".
Situada nas alturas de Bejucal, ao sul de Havana, a "Ciudad de los Niños", no ano de sua expropriação, durante a crise dos mísseis, em 1962, foi transformada em base militar soviética. Depois, por décadas, hospedou uma brigada da defesa aérea.
Aparentemente, a Igreja Católica ignorou as perdas econômicas com as expropriações, já que nunca, em nenhuma das visitas papais, foram mencionadas. Se o fez, foi sob sigilo absoluto.
Este parece ser um assunto esquecido pelo Vaticano. Ou será que a Cúria perdou essa dívida de Fidel Castro? Se assim for, pode ser considerado um verdadeiro gesto de boa fé.
LEITURA RECOMENDADA.
BRAGA, Bruno. "Francisco: Fidel e a Religião" [http://b-braga.blogspot.com.br/2015/09/francisco-fidel-e-religiao.html].
______. "Raúl Castro dá ao Papa uma "calurosa bienvenida" comunista" [http://b-braga.blogspot.com.br/2015/09/raul-castro-da-ao-papa-uma-calurosa.html].
______. "Betto, o 'Senhor Ministro', o 'papa' Boff e os comunistas cubanos no Céu" [http://b-braga.blogspot.com.br/2015/10/betto-o-senhor-ministro-o-papa-boff-e.html].
DONATE OCHOA, Fernando. "Cuba: Pobres 'recolhidos' durante a visita do Papa voltam às ruas". Trad. Bruno Braga [http://b-braga.blogspot.com.br/2015/10/cuba-pobres-recolhidos-durante-visita.html].
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