Christian Gomez.
The New American, 09 de março de 2015.
Tradução. Bruno Braga.
Apesar das notícias de que a Rússia e o Estado Islâmico [ISIS] estão em conflito, pesquisas apontam que os serviços russos de segurança (FSB, sucessora da KGB soviética) e de inteligência militar (GRU) estão por trás da grande ameaça, embora ostentem uma oposição a ela.
"A bandeira do Islã pode levar à guerra pela libertação", declarou Leonid Brezhnev, Secretário-Geral do Partido Comunista da União Soviética (PCUS), em 23 de fevereiro de 1981.
Quando Brezhnev pronunciou estas palavras no seu "Relatório do Comitê Central do PCUS para o XXVI Congresso do Partido Comunista da União Soviética", no Kremlin, ele havia acabado de exaltar a Revolução Islâmica no Irã como uma "revolução essencialmente anti-imperialista" e como um exemplo bem-sucedido de vários movimentos de libertação nacional patrocinados pela União Soviética em seu duplo objetivo global: construir o mundo comunista e derrotar o "colonialismo e imperialismo" ocidentais. A política soviética de Brezhnev para construir o comunismo - utilizando o Islã - culminou na criação dos Partidos do Renascimento Islâmico da URSS, no final dos anos 1980.
Em 1990, o congresso inaugural do Partido do Renascimento Islâmico foi realizado em Astracã, uma área, ou divisão administrativa, na região baixa do Volga russo, fronteira com o Cazaquistão. Na mesma época, a União Soviética também autorizou o estabelecimento do Partido do Renascimento Islâmico na República Socialista Soviética Tajique (Tajique RSS, agora Tajiquistão) e na República Socialista Soviética Uzbeque (Uzbeque RSS, agora Uzbequistão). Em vez do Marxismo-Leninismo, como o PCUS, que autorizou o estabelecimento deles, os Partidos do Renascimento Islâmico proclamam uma ideologia islâmica fundamental.
No livro "Islam V Astrakhanskom Regione" (2008), que contém várias cópias de documentos oficiais publicados pelo Congresso do Partido do Renascimento Islâmico, um ativista do Partido é citado por ter dito: "Somos rotulados de extremistas, mas isso não é verdade. Nós simplesmente defendemos a pureza do Islã e dos seus preceitos. Temos que restaurar nossa religião em todo o mundo".
Com a autorização soviética dos Partidos do Renascimento Islâmico nas áreas muçulmanas da URSS, o PCUS forneceu aos mais radicais uma casa política para promover sua mensagem na esfera local, no exterior e por todo o mundo muçulmano.
Um dos primeiros fundadores do Partido do Renascimento Islâmico da URSS foi Supyan Abdullayev, terrorista checheno e ideólogo wahabita, nascido na República Socialista Soviética Cazaque. De acordo com o "Moskovskij Komsomolets", jornal diário de Moscou, e antes periódico do Comitê de Moscou da Liga Comunista da União da Juventude Leninista, "Abdullayev esteve na posição do radicalismo bem antes do colapso da URSS e da organização do 'Partido do Renascimento Islâmico'". O "Moskovskij Komsomolets" noticiou:
"De acordo com algumas informações, nos anos 1980, Abdullayev foi recrutado pela KGB. Desde 1991, ele participou ativamente das rebeliões na Chechenia, começando pela primeira campanha chechena contra as tropas federais. Por volta de 1996, ele foi nomeado vice-comandante do famoso 'Batalhão Islâmico'. Em agosto do mesmo ano, ele participou do ataque a Grózni.
"Depois, Aslan Maskhadov nomeou Supyan Abdullayev para o cargo de vice-chefe do Ministério de Segurança do Estado Sharia (equivalente da nossa FSB)".
Aslan Maskhadov foi o terceiro Presidente da auto-proclamada República Chechena da Ichkeria, posição que ocupou até a sua morte, em 08 de março de 2005. Como Abdullayev, Maskhadov também nasceu na RSS Cazaque. Foi durante o reinado de Maskhadov que Abdullayev ascendeu ao posto de General-Brigadeiro. Abdullayev permaneceu fiel a Maskhadov até sua morte.
Abdullayev, então, se juntou ao Emirado do Cáucaso, onde ele mais uma vez galgou postos servindo como um dos principais comandantes e ideólogo chefe do seu líder, Dokka Umarov. Organizado originariamente como Fronte do Cáucaso ou Mujahadeen Caucasiano, o Emirado do Cáucaso é uma organização terrorista separatista militante Jihadista Salafista, que tem como aliados a al-Qaeda, o Talibã, o Fronte al-Nusra, na Síria, e o Estado Islâmico [ISIS]. De fato, Abu Omar al-Shishani, um dos principais comandantes do Estado Islâmico, admitiu em uma entrevista para o site jihadista russo - Beladusham.com [1] - que ele chegou a lutar na Síria "sob as ordens de Amir Abu Uthman (Dokka Umarov) e por um determinado tempo ele nos apoiou financeiramente".
Em uma entrevista para o DELFI, um site de notícias diárias que cobre a Estônia, Latvia (Letónia), Lituânia e Ucrânia, o ex-Primeiro-Ministro checheno, Akhmed Zakayev, admitiu que Umarov era na verdade um agente dos serviços de segurança russos, FSB e GRU (inteligência militar russa):
"Nós anunciamos isso várias vezes. Em 2007, Umarov declarou guerra contra os Estados Unidos, Inglaterra e Israel. Antes, Dokka estava no radar dos serviços secretos russos, mas foi liberado por algum milagre, e fez essa declaração de guerra. Umarov está sob completo comando dos serviços especiais russos. Até hoje ele está (e estará, tenho certeza) executando as tarefas que lhe são atribuídas por essas estruturas" [2].
Se a confissão é correta, ela confirma que a Rússia está por trás do terrorismo islâmico, embora pareça em oposição a ele. A declaração de guerra de Umarov, em 2007, não apenas contra os Estados Unidos, mas contra o Estado judeu de Israel, também seria coerente com o papel histórico da KGB: fermentar o terrorismo islâmico utilizando o disfarce do medo dos Muçulmanos e do ódio contra Israel.
No seu livro "Desinformação" (2013) [3], Ion Mihai Pacepa, desertor de alta patente do bloco soviético, Ex-Tenente-General - que serviu como chefe da "Securitate", o Departamento de Segurança de Estado da Romênia Comunista - revelou o papel de Moscou e da KGB na exploração e na radicalização do anti-Semitismo Islâmico e do terrorismo, especialmente contra Israel:
"Por volta de 1972, a máquina de desinformação de Andropov trabalhava o tempo todo para persuadir o mundo Islâmico que Israel e os Estados Unidos pretendiam transformar o resto do mundo em um feudo Sionista. De acordo com Andropov, o mundo Islâmico era uma placa de Petri, na qual a KGB poderia nutrir um tipo virulento de ódio contra os americanos, crescendo da bactéria do pensamento Marxista-Leninista. O anti-Semitismo islâmico era profundo. A mensagem era simples: os Muçulmanos tinham um gosto para o nacionalismo, para o chauvinismo e para a vitimização".
Yuri Vladimirovich Andropov foi o Presidente que por mais tempo serviu a KGB, de 1967 a 1982, e ocupou brevemente a posição de Secretário-Geral do Partido Comunista da União Soviética (SG-PCUS), de 1982 até a sua inesperada morte, em 1984. Em "Desinformação", Pacepa explica como a KGB de Andropov explorou o anti-Semitismo e a radicalização dos Muçulmanos:
"A primeira maior tarefa de desinformação da Securitate na nova Terceira Guerra Mundial foi ajudar Moscou a reacender o anti-Semitismo na Europa Ocidental, espalhando milhares de cópias de uma velha falsificação russa - 'Os Protocolos dos Sábios de Sião" - naquela parte do mundo. Ela tinha que ser realizada secretamente para que ninguém soubesse que as publicações vinham do bloco Soviético".
De acordo com Pacepa, "'Os Protocolos', que denunciavam uma conspiração dos judeus para tomar o mundo, eram uma falsificação russa, compilada por Petr Ivanovich Rachkovsky, um especialista em desinformação que trabalhou para a Okhrana (Departamento de Proteção da Ordem e da Segurança Públicas), no tempo do tsar.
Cópias dos "Protocolos dos Sábios de Sião", traduzidas para o árabe e para o persa, circulam pelo Oriente Médio e pelo mundo Muçulmano, e permanecem no topo da lista de leituras dos jihadistas. À luz de décadas de patrocínio soviético do terrorismo internacional e das conexões entre a FSB e o Estado Islâmico [ISIS] relatadas neste artigo, o papel do Kremlin por trás do Estado Islâmico está se tornando cada vez mais evidente.
REFERÊNCIAS.
[1]. Cf. [http://ww2.beladusham.com/].
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