Bruno Braga.
Comentários publicados no Facebook.
I.
Evandro Cruz,
Permita-me algumas considerações sobre o seu texto [1].
Quando afirma que o "bem" é uma
"característica inata", ou "a pessoa o tem na sua formação
genética, ou não tem", o senhor está utilizando uma figura de linguagem ou
pretende afirmar um dado objetivo? Se for este último o caso - e penso que seja
o mais provável, uma vez que é um ateu declarado - seria importante que o
senhor indicasse para o leitor o "gene do bem".
O senhor menciona a existência de (1) um "bem
orientado", de (2) um "bem oportuno" e de (3) "pessoas
realmente do bem". Muito bem. O senhor escreve a partir de qual deles? Do
"bem orientado", do "bem oportuno", ou escreve convicto de
que o senhor mesmo é uma "pessoa realmente do bem"? Trata-se de
elemento importante para que o leitor possa compará-lo inclusive com aqueles
tipos contra os quais o senhor faz acusações.
Ademais. Eu não sei que tipo de pessoa o senhor tomou
como amostra para julgar a existência das "igrejas" - e a partir
daqui é preciso considerar a única Igreja. Uma pessoa que pratica o bem por
"conveniência", a que "se apóia em aparências" (e parece
que o senhor se equivoca na expressão, pois pelo contexto não seria
"cordeiros em pele de lobo", mas "lobos em pele de
cordeiro"), pessoas "cheias de si", etc. Espero que não tenha
tomado como amostra qualquer paroquiano, pois cometeria um erro metodológico.
Todo cristão sabe que está manchado - Imaculada é uma só -, e que os modelos da
Igreja são os santos. Nestes termos, aponte, por favor, um só santo de
"conveniência", de "aparência", "cheio de si", e
que estivesse certo de ser ele mesmo um santo. Eu já lhe adianto: não existe!
Para concluir, o senhor parte de um falso pressuposto:
o de que a existência das "igrejas" - ou melhor, da Igreja, como
observei acima - se justifica apenas para as pessoas "exercerem a sua bondade".
Ora, é uma afirmação pueril e limitada que desconsidera a ordem dos
Sacramentos, sobretudo o da Santa Eucaristia.
Atenciosamente,
Bruno Braga.
***
[Evandro Cruz II] Meu caro Bruno Braga, não vou
prolongar este assunto aqui, por se tratar de questões em que eu teria que lhe
responder com um verdadeiro Tratado de Teologia. No entanto, não vejo
necessidade de lhe explicar nada. Primeiro que você já faz as suas perguntas
sugerindo as respostas, segundo porque você levanta falso testemunho em relação
à minha pessoa ao me chamar de acusador, e terceiro porque vejo que és um homem
religioso que atribui santidade às coisas da Igreja. Eu não debato filosofia
com beatos. Eu trabalho com o uso da Razão. Me norteio pelas discussões
acadêmicas. Mas, de antemão já lhe aviso em relação à classificação do bem: se
você não tem consciência de que és um homem do bem através do que você faz e
representa para a sociedade, por meio dos seus próprios recursos cognitivos,
certamente você sofre de alguma enfermidade mental. ABRAÇOS! Quanto à expressão
do lobo e do cordeiro, eu já corrigi. É que eu tenho 3 perfis no Facebook e só
corrigi o primeiro porque mudei o texto. Não é equívoco como você faz questão
de colocar. É falta de atenção na hora de escrever. (Ricardo Luis Chaves)
***
Evandro Cruz,
Pare com o chilique. Trate as questões de forma
objetiva, em vez de ficar se esquivando delas com desculpinhas, estereótipos
bobocas e insultos. Sim, eu sou o que diz ser um "homem religioso":
sou católico. O que não me desqualifica em nada para o debate dos temas, já que
me sirvo da mesma faculdade cognitiva que o senhor: a razão. No que escrevi,
não consta que eu tenha me colocado a rezar ou feito nenhum pedido de
intervenção divina. Ademais, se o senhor conhece de fato a filosofia, deveria
estar ciente de que os temas religiosos estão intimamente relacionados à sua
história, sendo a cisão entre "razão" e "fé" uma ocorrência
posterior no tempo e uma separação arbitrária - uma separação, aliás,
frequentemente invocada por aqueles que se julgam representantes da razão com o
objetivo de impor uma mordaça aos religiosos ou para fugir das discussões. Ora,
Evandro, se é este afeito às "discussões acadêmicas", um exímio
conhecedor da filosofia, "paladino da razão", capaz inclusive de
conceber um "Tratado de Teologia" diante de simples questões, não
custaria nada ao senhor responder a um mero "beato", corrigindo as
suas perguntas e dando a elas os legítimos esclarecimentos, livrando-o da
ignorância. Talvez possa começar pela consideração do último comentário,
explicando a relação de causa e efeito entre (1) a falta de consciência de
"um homem do bem através do que você [ele] faz e representa para a
sociedade" e (2) uma "enfermidade mental". Parece que há ai um
"non sequitur". Poderia explicar também uma das incongruências deste
seu comentário com o texto da publicação. Deduzindo das suas próprias palavras,
o senhor é "consciente" de ser um "homem do bem" pelo que
"faz e representa para a sociedade"; contudo, com toda esta
convicção, o senhor diz que são as "igrejas" que estão repletas de
pessoas "cheias de si". A propósito, eu simplesmente reproduzi as
suas "acusações": entre elas, a de que as "igrejas" estão
cheias de "lobos em pele de cordeiro" - se levantei "falso
testemunho" por isso, simplesmente por reproduzir as suas palavras, fico
imaginando quantos o senhor mesmo não levantou com tal acusação.
PS. Não sei que pré-requisitos o senhor exige para
estabelecer "discussões acadêmicas", mas tenho um título de nível
superior em Filosofia, que - já lhe adianto- não vejo como exigência para o
debate: é só um papel e pode servir inclusive de papel higiênico. Mas, se é o
que precisa, fique à vontade para tratar dos temas postos.
Atenciosamente,
Bruno Braga.
II.
Evandro Cruz, a questão
sobre os “desígnios de Deus” – que está na base das dúvidas e sugestões que o
senhor coloca neste seu comentário – são próprias de uma criança ansiosa por
desvendar os mistérios divinos, mas inconcebíveis para quem afirma ter um
conhecimento mínimo de Filosofia e de Teologia.
Ora, se há um Deus – e aqui
eu coloco a existência como hipótese simplesmente porque o senhor se
autoproclama “ateu” -, se há um Deus, por natureza o homem não é capaz de
apreender com as suas próprias faculdades os planos e intenções Dele, a não ser
que este mesmo Deus os revele. É por isso mesmo que as verdades de fé são
chamadas verdades “reveladas”. Dou-lhe um exemplo. O homem poderia pensar, raciocinar,
calcular, pesquisar; mas, se Deus não o revelasse, ele jamais saberia que este
mesmo Deus tem um Filho. É algo expresso na natureza humana – que tem
evidentemente as suas limitações – e na própria natureza divina – pois, se é
Deus, ele deve transcender e abarcar o próprio homem. A Bíblia apresenta esta
verdade óbvia: “Ó Deus, como são insondáveis para mim vossos desígnios!” (Sl.
139 / que trata da onisciência de Deus); “Pois meus pensamentos não são os
vossos, e vosso modo de agir não é o meu, diz o Senhor; mas tanto quanto o céu
domina a terra, tanto é superior à vossa a minha conduta e meus pensamentos
ultrapassam os vossos” (Isaias 55, 8-9); “Ó abismo de riqueza, de sabedoria e
de ciência em Deus! Quão impenetráveis são os seus juízos e inexploráveis os
seus caminhos! Quem pode compreender o pensamento do Senhor?” (Romanos 11,
33-34).
Portanto, cogitar que “Deus
calculou mal” é no mínimo de uma infantilidade escabrosa.
Atenciosamente,
Bruno Braga.
***
[Evandro Cruz] Caro Bruno
Braga, vc está equivocado duas
vezes. A primeira em se atrever a me classificar. E a segunda na audácia de
afirmar a existência de Deus. Limite-se na sua insignificância, que é
exatamente igual a minha.
***
Muito bem, Evandro. Já bateu
o pé e acusou dois equívocos. Porém, parece que esqueceu de apresentar as
razões. Então, responda o que eu escrevi, o conteúdo do meu comentário, que
está fundado nas suas próprias especulações sobre os “desígnios de Deus”. No
meio da sua resposta, o senhor pode contestar a classificação de “ateu” e
tratar sobre a existência de Deus. É simples. Atenciosamente, Bruno Braga.
III.
Evandro Cruz,
É uma caracterização pueril atribuir ao fiel uma “manifestação de
inteligência” simplesmente porque ele fica quieto e não incomoda os outros.
Pueril, porque enfatiza mais os aspectos secundários da fé, e conflitante com o
que você chama de “egoísmo estúpido”.
No caso do cristão, por exemplo, ele recebeu uma ordem dada pelo próprio
Jesus: “IDE, pois, e ENSINAI a TODAS AS NAÇÕES; batizai-as em nome do Pai, do
Filho e do Espírito Santo. ENSINAI-AS a OBSERVAR TUDO O QUE VOS PRESCREVI” (Mt.
28, 19-20). Ademais. Esses ensinamentos não são apenas um caminho para o “bem”,
para a “moral”, “prosperidade” e “dignidade humana” – como afirma o senhor –
eles apontam o horizonte da salvação, e é por isso mesmo que o cristão tem o
dever de evangelizar, para que os outros também possam se atentar para isto que
é o principal, a salvação eterna.
Portanto, o que o senhor exige – para o caso de um cristão – é que ele
desobedeça o próprio Cristo, que ele permaneça fechado “no seu íntimo”, “junto
com os seus”, “em silêncio” e “com racionalidade” (é preciso se perguntar
inclusive se é razoável recusar a determinação de Jesus). O senhor exige que um
cristão guarde para si mesmo a boa nova, o caminho da salvação, deixando que os
outros se percam por outros caminhos, arriscando-se em condenação. Ora, este
sim, para o cristão, seria um autêntico “egoísmo estúpido”.
Atenciosamente,
Bruno Braga.
REFERÊNCIAS.
[1]. Disponível para a leitura em [https://www.facebook.com/permalink.php?story_fbid=472646049743825&id=100009953016181&pnref=story].
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