Bruno
Braga.
Por ocasião
de sua 56ª Assembleia Geral, a CNBB publicou dois documentos na tentativa de
explicar a série de denúncias que pesam contra a Conferência dos Bispos, incluindo
o repasse de recursos arrecadados com a Campanha da Fraternidade para financiar
projetos e grupos que contrariam os princípios e as orientações da Santa Igreja
Católica. Os documentos são: I. Nota de agradecimento e esclarecimento do
Conselho Gestor do Fundo Nacional de Solidariedade (FNS) (O fundo responsável
por gerenciar as doações dos fiéis para a Campanha da Fraternidade) (1); e II.
Mensagem da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil ao povo de Deus [2].
Em
síntese, nenhum dos dois documentos responde ou esclarece de forma objetiva e
pontual cada uma das denúncias que recaem sobre a CNBB. Contudo, é importante considerar
determinados pontos dos tais documentos.
I.
Nota do Fundo Nacional de Solidariedade (FNS).
O FNS
menciona somente o escândalo que envolve a ABONG – uma associação abortista –,
como se fosse a única denúncia que pesa contra a CNBB e o gerenciamento dos
recursos oriundos da Campanha da Fraternidade. Não. A CNBB patrocina um
mostruário de aberrações, que vão desde o financiamento de militância política
comunista a dinheiro entregue a associação de homossexuais e prostitutas.
E
mais. O FNS menciona apenas a ABONG, e mesmo assim o faz contrariando os seus
próprios regulamentos. É que, linhas antes de mencionar a associação abortista,
o fundo tenta esclarecer que para pleitear recursos “a entidade proponente e
executora do projeto deverão ser a mesma”, e “a instituição deverá indicar sua
conta corrente (pessoa jurídica, seu CNPJ)”. Muito bem. No mês de fevereiro, a
CNBB publicou uma nota na tentativa de explicar o caso que envolve a ABONG. Um
desastre. A Conferência dos Bispos afirmou que os recursos do FNS não eram
destinados à ABONG; a associação abortista teria apenas utilizado o seu CNPJ
para receber os recursos e então repassá-los para a Plataforma por um Novo
Marco Regulatório para as Organizações da Sociedade Civil – Plataforma que não
teria CNPJ [3]. Ora, tal artifício viola a determinação indicada pelo FNS: a de
que “a entidade proponente e executora do projeto deverão ser a mesma” – que
deverão, portanto, ter o mesmo CNPJ! E não foi só. A CNBB ainda acabou sendo desmentida
pela própria ABONG, que confirmou ter recebido e administrado os R$ 40.500,00
do Fundo Nacional de Solidariedade [4].
O FNS
– na sua recente nota – ainda tenta se justificar, afirmando ter a “prestação
de contas” do Encontro para discutir o Marco Regulatório das Organizações da
Sociedade Civil – evento no qual teria sido investido o dinheiro da Campanha da
Fraternidade sob a administração da ABONG. O que não diminui em nada um repasse
que viola o regulamento do FNS, pois o mero vínculo e parceria com uma
associação abortista já é por si só abominável.
O fundo
se compromete a “analisar mais atentamente os projetos que forem apresentados,
bem como a prestar maior atenção aos objetivos das entidades proponentes”.
Firma tal compromisso após esclarecer que “um pedido de recursos deve ter a
carta de um Bispo” – deixando claro, portanto, que os Bispos foram
completamente negligentes ou mesmo coniventes com a avalanche monstruosa de
aberrações que escandaliza os católicos.
II.
Mensagem da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil ao povo de Deus.
A
CNBB afirma: “vivemos um tempo de politização e polarizações que geram
polêmicas pelas redes sociais e atingem a CNBB”. Ora, as denúncias contra a
CNBB – pelo menos da parte dos leigos católicos que assumiram certo
protagonismo com elas – não são resultado de “politização” ou “polarizações”.
Não se trata simplesmente de questionar se as iniciativas e ações da CNBB
atendem este ou aquele lado, mas se elas são adequadas e fiéis aos valores, aos
princípios e orientações da Santa Igreja Católica.
Continua
a CNBB: “Queremos promover o diálogo respeitoso, que estimule e faça crescer a
nossa comunhão na fé, pois, só permanecendo unidos em Cristo podemos
experimentar a alegria de ser discípulos missionários”. Não é o propósito aqui fechar-se
ao diálogo, ser radical, teimoso e irredutível. Não. É que para determinadas
questões não há diálogo: elas são evidentemente incompatíveis – vou repetir,
incompatíveis (!) – com a Santa Igreja Católica. Exemplo evidente é o aborto,
mas também a militância comunista. Cito o Papa Pio XI: “O comunismo é intrinsecamente
mau” (“Divini Redemptoris”); “[O socialismo] é INCOMPATÍVEL com os dogmas da
Igreja Católica, pois concebe a própria sociedade como alheia à verdade cristã”
[...] “Católico e socialista são termos antitéticos” [...] “Socialismo
religioso, socialismo cristão são termos contraditórios. Ninguém pode ser, ao
mesmo tempo, bom católico e verdadeiro socialista” (“Quadragesimo Anno”).
Portanto, para essas questões – e para outras tantas - não há diálogo, o que vale
é a máxima dada pelo próprio Cristo: “Dizei somente: ‘Sim’, se é sim; ‘não”, se
é não. Tudo o que passa além disto vem do Maligno” (Mt. 5, 37).
Segue
o documento, e a CNBB então faz uma apologia das Conferências Episcopais. Para
tanto, vale-se do Concílio Vaticano II, da “Lumen Gentium”, 23, que – segundo a
CNBB – “atribui o surgimento das Conferências à Divina Providência”. Ora, leia
o documento e procure se isso está escrito lá [5]. A “Lumen Gentium” em tal
número refere-se à Providência divina para tratar da unidade das diversas
igrejas locais com a Igreja Universal e, logo depois, diz que “de modo
semelhante” – SEMELHANTE! – “as Conferências episcopais podem hoje aportar uma
contribuição múltipla e fecunda para que o sentimento colegial leve a
aplicações concretas”. A “Lumen Gentium” não “atribui o surgimento das
Conferências à Divina Providência”. Tanto é falso o que a CNBB afirma que o então
prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé – o Cardeal Joseph Ratzinger, hoje
Papa Bento XVI - explica: “não devemos nos esquecer que as conferências
episcopais não possuem base teológica e não fazem parte da estrutura
indispensável da Igreja, assim como querida por Cristo, têm somente uma função
prática e concreta” (“A fé em crise?”, p. 40). O que torna a afirmação da CNBB no
mínimo vergonhosa!
No
momento de fazer um autoelogio, a CNBB afirma que “a opção preferencial pelos
pobres é uma marca distintiva da história desta Conferência”, e cita o Papa
Bento XVI para legitimar tal “opção”. “Opção preferencial pelos pobres” – o
mantra da nefasta Teologia da Libertação, do simulacro de teologia criado pelos
comunistas para assaltar a Santa Igreja, enganar os católicos e ardilosamente
utilizá-los na promoção dos seus interesses, bandeiras, do seu criminoso e
totalitário esquema de poder. A Teologia da Libertação e a sua “opção
preferencial pelos pobres” que de fato são uma “marca distintiva da história”
da CNBB, sendo inegavelmente elemento fundamental para a ascensão do PT ao poder
e para o fortalecimento e a consolidação do esquema de poder do Foro de São
Paulo que visa transformar a América Latina na imensa “Patria Grande”
comunista. Mas, não é dessa “opção preferencial pelos pobres” – a da CNBB – que
Bento XVI está falando. No mesmo parágrafo do texto citado, o Papa afirma que o
que nos liberta é a fé (!) [6] – e não a “luta de classes”, um projeto social
ou um regime político, como prega a Teologia da Libertação. Tanto é que, antes
de tornar-se Papa, Joseph Ratzinger denunciou a Teologia da Libertação e a sua
“opção preferencial pelos pobres”: “Esta advertência não deve, de modo algum,
ser interpretada como uma desaprovação de todos aqueles que querem responder
generosamente e com AUTÊNTICO ESPÍRITO EVANGÉLICO à ‘opção preferencial pelos
pobres’” [...] “Pelo contrário, é ditada pela certeza de que os GRAVES DESVIOS
IDEOLÓGICOS que ela [uma certa ‘OPÇÃO PREFERENCIAL PELOS POBRES’] aponta levam
inevitavelmente a trair a causa dos pobres” [7]. A Teologia da Libertação faz “um
amálgama pernicioso entre o ‘pobre’ da Escritura e o ‘proletariado’ de Marx.
Perverte-se deste modo o sentido ‘cristão’ do pobre e o combate pelos direitos
dos pobres transforma-se em combate de classes na perspectiva ideológica da
luta de classes. A ‘Igreja dos pobres’ significa então Igreja classista, que
tomou consciência das necessidades da luta revolucionária como etapa para a
libertação e que celebra esta libertação na sua liturgia” [8]. Fica claro,
portanto, que o Papa Bento XVI não legitima tal “opção preferência pelos
pobres” que a CNBB se vangloria de ser “a marca distintiva da história desta
Conferência”.
A
Conferência dos Bispos diz que “a CNBB não se identifica com nenhuma ideologia
ou partido político”. Formalmente, não. Porém, não dá para esconder mais que a
CNBB foi e ainda é utilizada para disseminar a ideologia comunista – sobretudo
sob o disfarce da Teologia da Libertação – para criar e promover a ascensão do
PT e de seus aliados ao poder. Prova disso está no conteúdo do imenso
mostruário de denúncias que pesam contra a CNBB - tudo muito bem documentado.
Continua
a CNBB: “a Conferência Episcopal, como instituição colegiada, não pode ser
responsabilizada por palavras ou ações isoladas que não estejam em sintonia com
a fé da Igreja, sua liturgia e doutrina social, mesmo quando realizadas por
eclesiásticos”. Sim, é verdade. Porém, as denúncias não tratam de “palavras ou
ações isoladas” de “eclesiásticos”, mas de “palavras e ações” dos
representantes da CNBB ou de questões que podem ou estão sob os seus cuidados.
Então, a Conferência Episcopal deve ser sim responsabilizada.
Por
fim, a CNBB conclui a sua “mensagem” ao “povo de Deus” fazendo menção ao “Ano do
Laicato”, e convoca novamente ao “diálogo responsável”, pautado pela “verdade,
fortaleza, prudência, reverência e amor ‘para com aqueles que, em razão do seu
cargo, representam a pessoa de Cristo’ (LG 37)”. Uma consideração sobre este
último aspecto. Os Bispos são os sucessores dos apóstolos. Apóstolos que foram
martirizados, crucificados, mortos pelo fio da espada... Será que esses Bispos
não podem suportar uma palavra mais dura, um xingamento de alguém mais
indignado, que não consegue se conter com uma situação que é realmente escabrosa?
Será que os Bispos da CNBB perderam a força e o vigor, a coragem e a fortaleza - tornaram-se de tal forma efeminados - que não conseguem
suportar nem isso para responder diretamente as denúncias? Santo Deus... E um
detalhe, se um “diálogo responsável” deve ser pautado pela “verdade”, não há
como evitar a “divisão” – como quer a CNBB – pois é preciso separar a verdade
da mentira, o que é próprio e compatível com a Santa Igreja Católica do que é inadequado
e contrário a Ela.
Conclusão.
Com
os dois documentos mencionados, a CNBB - na sua 56ª Assembleia Geral - não
respondeu mesmo as denúncias feitas. O presidente da Conferência dos Bispos –
Dom Sérgio da Rocha – recebeu o professor Hermes Rodrigues Nery e teria se
comprometido a esclarecê-las pontualmente, comprometendo-se também com a
criação de uma comissão de leigos e Bispos para investigar os fatos e um Portal
da Transparência para tratar dos recursos da Campanha da Fraternidade [8]. A
dúvida que fica é se – diante de tal nota e mensagem, das iniciativas da CNBB e
das declarações dos seus representantes – se ainda é possível alimentar a
esperança de que um dia uma resposta e um esclarecimento virão.
REFERÊNCIAS.
[1].
Cf. [http://www.cnbb.org.br/fundo-nacional-de-solidariedade-emite-nota-de-agradecimento-e-esclarecimento/].
[2].
Cf. [http://www.cnbb.org.br/bispos-reunidos-em-sua-56a-assembleia-geral-enviam-mensagem-ao-povo-de-deus/].
[3].
Cf. “A CNBB e a desastrada tentativa de explicar o injustificável” [http://b-braga.blogspot.com.br/2018/02/a-cnbb-e-desastrada-tentativa-de.html].
[8].
Idem, 10.
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