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Sunday, April 22, 2018

CNBB: denúncias, uma nota e uma mensagem.


Bruno Braga.

Por ocasião de sua 56ª Assembleia Geral, a CNBB publicou dois documentos na tentativa de explicar a série de denúncias que pesam contra a Conferência dos Bispos, incluindo o repasse de recursos arrecadados com a Campanha da Fraternidade para financiar projetos e grupos que contrariam os princípios e as orientações da Santa Igreja Católica. Os documentos são: I. Nota de agradecimento e esclarecimento do Conselho Gestor do Fundo Nacional de Solidariedade (FNS) (O fundo responsável por gerenciar as doações dos fiéis para a Campanha da Fraternidade) (1); e II. Mensagem da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil ao povo de Deus [2].
Em síntese, nenhum dos dois documentos responde ou esclarece de forma objetiva e pontual cada uma das denúncias que recaem sobre a CNBB. Contudo, é importante considerar determinados pontos dos tais documentos.
I. Nota do Fundo Nacional de Solidariedade (FNS).
O FNS menciona somente o escândalo que envolve a ABONG – uma associação abortista –, como se fosse a única denúncia que pesa contra a CNBB e o gerenciamento dos recursos oriundos da Campanha da Fraternidade. Não. A CNBB patrocina um mostruário de aberrações, que vão desde o financiamento de militância política comunista a dinheiro entregue a associação de homossexuais e prostitutas.
E mais. O FNS menciona apenas a ABONG, e mesmo assim o faz contrariando os seus próprios regulamentos. É que, linhas antes de mencionar a associação abortista, o fundo tenta esclarecer que para pleitear recursos “a entidade proponente e executora do projeto deverão ser a mesma”, e “a instituição deverá indicar sua conta corrente (pessoa jurídica, seu CNPJ)”. Muito bem. No mês de fevereiro, a CNBB publicou uma nota na tentativa de explicar o caso que envolve a ABONG. Um desastre. A Conferência dos Bispos afirmou que os recursos do FNS não eram destinados à ABONG; a associação abortista teria apenas utilizado o seu CNPJ para receber os recursos e então repassá-los para a Plataforma por um Novo Marco Regulatório para as Organizações da Sociedade Civil – Plataforma que não teria CNPJ [3]. Ora, tal artifício viola a determinação indicada pelo FNS: a de que “a entidade proponente e executora do projeto deverão ser a mesma” – que deverão, portanto, ter o mesmo CNPJ! E não foi só. A CNBB ainda acabou sendo desmentida pela própria ABONG, que confirmou ter recebido e administrado os R$ 40.500,00 do Fundo Nacional de Solidariedade [4].
O FNS – na sua recente nota – ainda tenta se justificar, afirmando ter a “prestação de contas” do Encontro para discutir o Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil – evento no qual teria sido investido o dinheiro da Campanha da Fraternidade sob a administração da ABONG. O que não diminui em nada um repasse que viola o regulamento do FNS, pois o mero vínculo e parceria com uma associação abortista já é por si só abominável.
O fundo se compromete a “analisar mais atentamente os projetos que forem apresentados, bem como a prestar maior atenção aos objetivos das entidades proponentes”. Firma tal compromisso após esclarecer que “um pedido de recursos deve ter a carta de um Bispo” – deixando claro, portanto, que os Bispos foram completamente negligentes ou mesmo coniventes com a avalanche monstruosa de aberrações que escandaliza os católicos.
II. Mensagem da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil ao povo de Deus.
A CNBB afirma: “vivemos um tempo de politização e polarizações que geram polêmicas pelas redes sociais e atingem a CNBB”. Ora, as denúncias contra a CNBB – pelo menos da parte dos leigos católicos que assumiram certo protagonismo com elas – não são resultado de “politização” ou “polarizações”. Não se trata simplesmente de questionar se as iniciativas e ações da CNBB atendem este ou aquele lado, mas se elas são adequadas e fiéis aos valores, aos princípios e orientações da Santa Igreja Católica.  
Continua a CNBB: “Queremos promover o diálogo respeitoso, que estimule e faça crescer a nossa comunhão na fé, pois, só permanecendo unidos em Cristo podemos experimentar a alegria de ser discípulos missionários”. Não é o propósito aqui fechar-se ao diálogo, ser radical, teimoso e irredutível. Não. É que para determinadas questões não há diálogo: elas são evidentemente incompatíveis – vou repetir, incompatíveis (!) – com a Santa Igreja Católica. Exemplo evidente é o aborto, mas também a militância comunista. Cito o Papa Pio XI: “O comunismo é intrinsecamente mau” (“Divini Redemptoris”); “[O socialismo] é INCOMPATÍVEL com os dogmas da Igreja Católica, pois concebe a própria sociedade como alheia à verdade cristã” [...] “Católico e socialista são termos antitéticos” [...] “Socialismo religioso, socialismo cristão são termos contraditórios. Ninguém pode ser, ao mesmo tempo, bom católico e verdadeiro socialista” (“Quadragesimo Anno”). Portanto, para essas questões – e para outras tantas - não há diálogo, o que vale é a máxima dada pelo próprio Cristo: “Dizei somente: ‘Sim’, se é sim; ‘não”, se é não. Tudo o que passa além disto vem do Maligno” (Mt. 5, 37).
Segue o documento, e a CNBB então faz uma apologia das Conferências Episcopais. Para tanto, vale-se do Concílio Vaticano II, da “Lumen Gentium”, 23, que – segundo a CNBB – “atribui o surgimento das Conferências à Divina Providência”. Ora, leia o documento e procure se isso está escrito lá [5]. A “Lumen Gentium” em tal número refere-se à Providência divina para tratar da unidade das diversas igrejas locais com a Igreja Universal e, logo depois, diz que “de modo semelhante” – SEMELHANTE! – “as Conferências episcopais podem hoje aportar uma contribuição múltipla e fecunda para que o sentimento colegial leve a aplicações concretas”. A “Lumen Gentium” não “atribui o surgimento das Conferências à Divina Providência”. Tanto é falso o que a CNBB afirma que o então prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé – o Cardeal Joseph Ratzinger, hoje Papa Bento XVI - explica: “não devemos nos esquecer que as conferências episcopais não possuem base teológica e não fazem parte da estrutura indispensável da Igreja, assim como querida por Cristo, têm somente uma função prática e concreta” (“A fé em crise?”, p. 40). O que torna a afirmação da CNBB no mínimo vergonhosa!
No momento de fazer um autoelogio, a CNBB afirma que “a opção preferencial pelos pobres é uma marca distintiva da história desta Conferência”, e cita o Papa Bento XVI para legitimar tal “opção”. “Opção preferencial pelos pobres” – o mantra da nefasta Teologia da Libertação, do simulacro de teologia criado pelos comunistas para assaltar a Santa Igreja, enganar os católicos e ardilosamente utilizá-los na promoção dos seus interesses, bandeiras, do seu criminoso e totalitário esquema de poder. A Teologia da Libertação e a sua “opção preferencial pelos pobres” que de fato são uma “marca distintiva da história” da CNBB, sendo inegavelmente elemento fundamental para a ascensão do PT ao poder e para o fortalecimento e a consolidação do esquema de poder do Foro de São Paulo que visa transformar a América Latina na imensa “Patria Grande” comunista. Mas, não é dessa “opção preferencial pelos pobres” – a da CNBB – que Bento XVI está falando. No mesmo parágrafo do texto citado, o Papa afirma que o que nos liberta é a fé (!) [6] – e não a “luta de classes”, um projeto social ou um regime político, como prega a Teologia da Libertação. Tanto é que, antes de tornar-se Papa, Joseph Ratzinger denunciou a Teologia da Libertação e a sua “opção preferencial pelos pobres”: “Esta advertência não deve, de modo algum, ser interpretada como uma desaprovação de todos aqueles que querem responder generosamente e com AUTÊNTICO ESPÍRITO EVANGÉLICO à ‘opção preferencial pelos pobres’” [...] “Pelo contrário, é ditada pela certeza de que os GRAVES DESVIOS IDEOLÓGICOS que ela [uma certa ‘OPÇÃO PREFERENCIAL PELOS POBRES’] aponta levam inevitavelmente a trair a causa dos pobres” [7]. A Teologia da Libertação faz “um amálgama pernicioso entre o ‘pobre’ da Escritura e o ‘proletariado’ de Marx. Perverte-se deste modo o sentido ‘cristão’ do pobre e o combate pelos direitos dos pobres transforma-se em combate de classes na perspectiva ideológica da luta de classes. A ‘Igreja dos pobres’ significa então Igreja classista, que tomou consciência das necessidades da luta revolucionária como etapa para a libertação e que celebra esta libertação na sua liturgia” [8]. Fica claro, portanto, que o Papa Bento XVI não legitima tal “opção preferência pelos pobres” que a CNBB se vangloria de ser “a marca distintiva da história desta Conferência”.
A Conferência dos Bispos diz que “a CNBB não se identifica com nenhuma ideologia ou partido político”. Formalmente, não. Porém, não dá para esconder mais que a CNBB foi e ainda é utilizada para disseminar a ideologia comunista – sobretudo sob o disfarce da Teologia da Libertação – para criar e promover a ascensão do PT e de seus aliados ao poder. Prova disso está no conteúdo do imenso mostruário de denúncias que pesam contra a CNBB - tudo muito bem documentado.
Continua a CNBB: “a Conferência Episcopal, como instituição colegiada, não pode ser responsabilizada por palavras ou ações isoladas que não estejam em sintonia com a fé da Igreja, sua liturgia e doutrina social, mesmo quando realizadas por eclesiásticos”. Sim, é verdade. Porém, as denúncias não tratam de “palavras ou ações isoladas” de “eclesiásticos”, mas de “palavras e ações” dos representantes da CNBB ou de questões que podem ou estão sob os seus cuidados. Então, a Conferência Episcopal deve ser sim responsabilizada.
Por fim, a CNBB conclui a sua “mensagem” ao “povo de Deus” fazendo menção ao “Ano do Laicato”, e convoca novamente ao “diálogo responsável”, pautado pela “verdade, fortaleza, prudência, reverência e amor ‘para com aqueles que, em razão do seu cargo, representam a pessoa de Cristo’ (LG 37)”. Uma consideração sobre este último aspecto. Os Bispos são os sucessores dos apóstolos. Apóstolos que foram martirizados, crucificados, mortos pelo fio da espada... Será que esses Bispos não podem suportar uma palavra mais dura, um xingamento de alguém mais indignado, que não consegue se conter com uma situação que é realmente escabrosa? Será que os Bispos da CNBB perderam a força e o vigor, a coragem e a fortaleza - tornaram-se de tal forma efeminados - que não conseguem suportar nem isso para responder diretamente as denúncias? Santo Deus... E um detalhe, se um “diálogo responsável” deve ser pautado pela “verdade”, não há como evitar a “divisão” – como quer a CNBB – pois é preciso separar a verdade da mentira, o que é próprio e compatível com a Santa Igreja Católica do que é inadequado e contrário a Ela.
Conclusão.
Com os dois documentos mencionados, a CNBB - na sua 56ª Assembleia Geral - não respondeu mesmo as denúncias feitas. O presidente da Conferência dos Bispos – Dom Sérgio da Rocha – recebeu o professor Hermes Rodrigues Nery e teria se comprometido a esclarecê-las pontualmente, comprometendo-se também com a criação de uma comissão de leigos e Bispos para investigar os fatos e um Portal da Transparência para tratar dos recursos da Campanha da Fraternidade [8]. A dúvida que fica é se – diante de tal nota e mensagem, das iniciativas da CNBB e das declarações dos seus representantes – se ainda é possível alimentar a esperança de que um dia uma resposta e um esclarecimento virão.
REFERÊNCIAS.
[3]. Cf. “A CNBB e a desastrada tentativa de explicar o injustificável” [http://b-braga.blogspot.com.br/2018/02/a-cnbb-e-desastrada-tentativa-de.html].
[8]. Idem, 10.

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