Bruno Braga.
Dimas
Enéas – o eterno Dimas Enéas [1] - resolveu protestar contra a
“espetacularização” do julgamento e das prisões dos mensaleiros. Para isso, redigiu
um artigo intitulado “A manipulação da mídia e a pedagogia das ruas” [2]. O
ilustre articulista denuncia a exposição pública dos condenados como uma
armação promovida pela “grande mídia conservadora”. O objetivo desta trama
ardilosa – segundo Dimas Enéas – seria enfraquecer o PT.
Para
ordenar este comentário e facilitar a compreensão do leitor é pertinente
começar pelo fim. Tomar parte da CONCLUSÃO do artigo de Dimas Enéas:
“Isso tudo [o
articulista refere-se aos argumentos do texto] pode até parecer um DISCURSO
POLÍTICO de quem assume claramente uma posição frente à conjuntura em que
vivemos, mas NA VERDADE é uma ANÁLISE MADURA E CONSCIENTE da realidade em que
vivemos sem se cair em esparrelas midiáticas” [3] (os destaques são meus).
Dimas
Enéas pretende declarar expressamente sua “honestidade intelectual”. Afirma que
“assume CLARAMENTE uma posição”. No entanto, ao firmá-la, ele não diz – em
nenhuma passagem do texto - que é um integrante ativo do Partido dos Trabalhadores,
do PT. Nas últimas eleições municipais, inclusive, o Sr. Dimas Enéas disputou
uma cadeira na câmara de vereadores de Barbacena-MG pelo partido.
O fato
de o autor ser PETISTA compromete o artigo? Calma. É necessário analisar os
argumentos do texto. Porém, antes de examinar alguns deles, é interessante notar
como o Sr. Dimas Enéas – no trecho citado acima – já se previne contra a
suspeita levantada. Mesmo quem não o conhece poderia desconfiar: “este artigo
parece ´discurso político´”... Afinal, o autor se expressa como um militante
panfleteiro, apesar de assinar como um “cientista político”. No entanto, Dimas Enéas,
imediatamente – e em tom de autoglorificação - se põe a dirimir a dúvida: não,
não é “discurso político”, mas uma “ANÁLISE MADURA E CONSCIENTE”. Será mesmo?
Dimas
Enéas está revoltado com a condenação dos mensaleiros. Para ele, as sentenças
contra os PETISTAS José Dirceu e José Genoino estão sustentadas apenas em uma
tese jurídica: a do “domínio do fato”. Não existem “provas materiais” para
incriminá-los, afirma o articulista. Não há “gravações”, DOCUMENTOS ASSINADOS,
“depósitos em conta”, etc.
Bom, das
duas, uma. Ou o Sr. Dimas Enéas está mal informado, e escreve sobre algo que
não conhece. Ou, se conhece a ação penal – pré-requisito indispensável para
redigir um artigo sobre o assunto – ele pretende dar uma de espertalhão para “absolver”
os seus correligionários PETISTAS dos crimes cometidos. Porque a condenação dos
mensaleiros não está fundamentada somente em uma tese jurídica abstrata [4]. O
processo foi instruído sim com um amontoado de “provas materiais”.
Diferentemente do que diz o Sr. Dimas Enéas, existem DOCUMENTOS ASSINADOS –
inclusive pelo próprio José Genoino. “Depósitos em conta”, nobre articulista?
Estão lá, extratos e perícias técnicas. Até um carro-forte foi utilizado – como
está atestado nos autos da ação penal - para transportar o dinheiro movimentado,
o que dá uma ideia da dimensão do esquema de corrupção. Isto sem contar o farto
conjunto de depoimentos que comprovam a formação, a existência da QUADRILHA e o
“modus operandi” dela. Este CONJUNTO PROBATÓRIO está disponível para qualquer
cidadão que pretenda verificá-lo, basta acessar os canais informativos do STF
[5].
Em seu
artigo, Dimas Enéas não responsabiliza diretamente os ministros do Supremo
Tribunal Federal pelas “injustiças” cometidas contra os mensaleiros. Ora, se o
fizesse seria um absurdo. Não só por causa da publicidade dada ao julgamento.
Qualquer pessoa poderia arrogar-se fiscal dele, assistindo às sessões pela
televisão, acessando-as e acompanhando a movimentação processual através da
internet. Mas porque os PETISTAS foram condenados por ministros indicados – a
maioria esmagadora deles – pelos presidentes do PT. O articulista não poderia
contestar sequer a decisão dos ministros que determinou a execução imediata das
penas impostas aos condenados (aquelas relativas às partes das sentenças que
não são objetos de recursos). Porque a decisão foi UNÂNIME – o que inclui o voto
de Ricardo Lewandowski, ministro que se portou pornograficamente como advogado
de defesa dos réus durante o julgamento e foi flagrado ao telefone com seu
irmão: “A tendência era amaciar para o Dirceu” [6]. Então, como não pode
responsabilizar – formalmente - o STF pela “sórdida trama” contra o PT, Dimas
Enéas acusa a “grande mídia conservadora”.
Mas
que diabo é isso? “Grande mídia conservadora”? Bom, antes de qualquer coisa, é
preciso dizer, a sentença condenatória contra os MENSALEIROS-PETISTAS foi proferida pelo STF, e não pela tal
“grande mídia conservadora”. Isto é óbvio, embora o articulista confunda as
competências. De qualquer maneira, Dimas Enéas entende que a “grande mídia
conservadora” são as principais emissoras de televisão e jornais do país. Porém,
basta um exame superficial para constatar que – em vez de “carrascos”, como denuncia
o articulista – aqueles meios de comunicação e informação são extremamente
benevolentes com os criminosos. Todos eles – sem exceção – assumem a farsa histórica
de que os terroristas e guerrilheiros do passado – mensaleiros hoje –
empunharam armas para “lutar pela democracia”, e lamentam de algum modo a
condenação e a prisão deles. Nenhum jornal ou canal de televisão acusa a participação
do “Chefe” do mensalão: Luiz Inácio, o presidente beberrão que
inexplicavelmente foi excluído do processo, e que o Sr. Dimas Enéas pretende
inocentar [7]. Não apresentam sequer a dimensão monstruosa do esquema de
corrupção – e muito menos a integração dele em um projeto ainda mais ambicioso:
o estabelecido pelo Foro de São Paulo, organização fundada por Lula-PT e por Fidel
Castro para promover o SOCIALISMO-COMUNISMO na América Latina. Durante anos a
“grande mídia” ocultou a existência desta organização; e mesmo hoje – em que
suas articulações são obscenas, e assumidas pelos seus principais agentes – ela
é noticiada muito, mas muito, muito discretamente e sem a denúncia do seu caráter criminoso.
Basta.
O leitor facilmente reconhecerá outros artifícios no panfleto de Dimas Enéas. Identificará
outros estereótipos, como “elite conservadora”; “forças conservadoras”;
“direita conservadora”; etc. No contexto deste comentário, faço uma curiosa
observação sobre este último. DIREITA CONSERVADORA. Não é necessário ser um
exímio analista político para notar que no Brasil a DIREITA não tem expressão política.
Ela tornou-se um artifício utilizado para denunciar toda e qualquer crítica que
se faça aos projetos e ações da esquerda revolucionária. Um “fantasma” criado
para justificar seus fracassos e crimes. Nesta retórica, a DIREITA é frequentemente
associada aos MILITARES – desenhados pelos estereótipos de “reacionários”, “torturadores”,
etc. Dito isso, que coisa... O Sr. Dimas Enéas – que baba contra a “DIREITA
conservadora” e até alardeia o risco de um novo “Golpe Civil-Militar” de 64 – é
professor na EPCAR. Uma escola MILITAR.
Enfim,
o que foi dito é suficiente para constatar que o artigo de Dimas Enéas é mesmo
um “discurso político”. “ANÁLISE MADURA E CONSCIENTE” é somente um disfarce
utilizado pelo autor para maquiar a defesa de seus correligionários PETISTAS.
Referências.
[1]. Dois
textos são úteis para apresentar o nobre articulista ao leitor que não o
conhece: “Fato consumado” [http://b-braga.blogspot.com.br/2012/02/normal-0-21-false-false-false-pt-br-x_22.html]
e “Até um míope e estrábico...” [http://b-braga.blogspot.com.br/2012/08/ate-um-miope-e-estrabico.html].
Na seção “Comentários” do blog estão disponíveis outros.
[2].
Cf. “BarbacenaMais” [http://barbacenamais.com.br/colunistas/dimas-soares-ferreira/2766-opiniao-a-manipulacao-da-midia-e-a-pedagogia-das-ruas].
[3]. Idem.
[4].
Tese que não é uma “inovação”, como também se costuma alegar. Está inserida e
fundamentada no ordenamento jurídico nacional através do “concurso de agentes”.
Cf. PASCHOAL, Janaína Conceição. “Teoria do domínio do fato e teoria do domínio
da organização”.
[5]. STF
[www.stf.jus.br] – acessar
“Processos”/”Acompanhamento processual” e buscar “AP 470”. O Supremo ainda tem
um canal no Youtube [http://www.youtube.com/user/STF],
através do qual é possível assistir às sessões. Para complementar as fontes
primarias, o livro do historiador Marco Antonio Villa é um relatório útil sobre
o caso: “Mensalão: o julgamento do maior caso de corrupção da histórica
política brasileira” (Leya: São Paulo, 2012).
[6].
CABRAL, Otávio. “Dirceu”: Do movimento estudantil a Cuba. Da guerrilha à
cladestinidade. Do PT ao Poder. Do Palácio ao Mensalão. Record: São Paulo,
2013. p. 297.
[7].
Cf. PATARRA, Ivo. “O Chefe”. Livro que aponta: Lula comandou o “mensalão” [http://b-braga.blogspot.com.br/2012/12/o-chefe.html].
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