Gabriel Ariza.
Infovaticana, 17 de outubro de 2016.
Tradução. Bruno Braga.
Arturo Sosa, novo superior dos jesuítas, escreveu em 1978 um artigo publicado na Revista SIC no qual estimava a postura dos cristãos que assumem a linguagem e a ideologia marxista, algo que, formulava ele, pode ser "necessário".
Nesse artigo, intitulado "A mediação marxista da fé cristã" ("La mediación marxista de la fe cristiana") [1], Sosa reflete sobre o tema a partir da experiência concreta e da realidade de grupos cristãos na Venezuela e na América Latina, que viviam sua fé no compromisso com a construção de uma sociedade socialista e que assumiam a linguagem e a ideologia marxista.
A opção desses cristãos, assinala Sosa, levanta dois tipos de problemas: aqueles que se referem ao problema da mediação da fé pelas ideologias e situações históricas presentes e aqueles que se referem concretamente ao marxismo como ideologia transmissora da fé cristã.
Sosa defende nesse artigo que "a fé cristã só é possível encarnada na história" e que ter fé é ter sido capacitado para uma relação com o Deus presente na história humana. Essa relação, observa Sosa, exige o movimento de sair de si mesmo, um ponto de vista que é o pobre e a condição de não ter nenhum outro fundamento que a palavra de Deus comprometida com a realização final da história.
Também afirma que a fé cristã é uma fé mediada, já que a encarnação na história da relação com Deus e da fé cristã traz como consequência sua submissão a todas as mediações próprias da condição humana. Sustenta, ademais, que a estrutura da fé cristã não é contemplativa senão "práxica", e que a fé cristã é mediada por uma práxis histórica determinada.
"A fé cristã passa, portanto, por um compromisso de luta na realidade em que se vive, luta a favor dos mais fracos e com o objetivo de criar o homem novo. Exige uma mediação 'práxica'. Isto é o que fundamenta o compromisso revolucionário dos cristãos latino-americanos", ressalta Sosa.
Esse artigo, portanto, descreve a fé cristã como encarnada na história e mediada pelo conhecimento e pela práxis dos cristãos em sua situação presente. Seguindo esse raciocínio, Sosa continua afirmando que a fé cristã se expressa em ideologias concretas de acordo com a opção que se toma, entendendo ideologia como "um sistema de meios e fins para enfrentar uma determinada época histórica e conduzi-la a uma meta". "Uma fé que não se encarne em ideologias se torna impraticável e, por consequência, inconsistente, fé sem obras, ou seja, fé morta", sustenta Sosa.
Essa relação entre fé cristã e ideologias, afirma o articulista, permite concluir "a legitimidade de uma 'ideologização' marxista da fé" e compreender a existência de cristãos que ao mesmo tempo se proclamam marxistas e se comprometem com a transformação da sociedade capitalista em uma sociedade socialista.
"Caberia perguntar se, além da legitimidade, seria possível postular a necessidade de uma mediação marxista da fé cristã na atual situação latino-americana e diante das alternativas históricas reais que possuímos na Venezuela", acrescenta nesse artigo publicado em 1978.
Frente a essa questão, Sosa assinala que a opção por uma mediação marxista da fé cristã se apresenta para muitos "grupos cristãos comprometidos com os oprimidos latino-americanos" na opção necessária. Mediação marxista que significa seu uso como método de análise da realidade e como inspiração do modelo socialista de sociedade que se pretende construir".
Sosa também defende que uma mediação marxista da fé promoveu no seu momento "um cristianismo criativo e encarnado na luta pelos mais pobres". Ele distingue, no entanto, entre "mediação" e "mediatização", e alerta para o perigo de cair em "mediatizações escravizantes" que convertam a fé em instrumento legitimador de uma situação sociopolítica concreta. "Uma mediatização marxista da fé cristã seria a pior instrumentalização que pode ser feita de uma religião", adverte.
Sosa reconhece, ademais, que a mediação marxista da fé cristã se apresenta "problemática" quando cai na tentação de apelar ao marxismo como um sistema filosófico capaz de explicar todas as coisas em suas últimas causas, quando se entende a luta de classes como única explicação do desenvolvimento da história, quando são ultrapassados os limites de uma ciência social ou projeto político.
REFERÊNCIAS.
ARTIGOS RECOMENDADOS.
I. Sobre os jesuítas.
BRAGA, Bruno. "Bibliografia. 'The Jesuits', Malachi Martin" [http://b-braga.blogspot.com.br/2016/05/bibliografia-jesuits-malachi-martin.html].
II. Sobre a Teologia da Libertação.
PACEPA, Ion Mihai. "A KGB criou a Teologia da Libertação" [http://b-braga.blogspot.com.br/2015/01/a-kgb-criou-teologia-da-libertacao.html]. Tradução do Capítulo "Liberation Theology" (15), que é parte do livro "Disinformation": former spy chief reveals secret strategis for undermining freedom, attacking religion, and promoting terrorism (WND Books: Washington, 2013);
______. "As raízes secretas da teologia da libertação". Trad. Ricardo R. Hashimoto. Mídia Sem Máscara, 11 de Maio de 2015 [http://www.midiasemmascara.org/artigos/desinformacao/15820-2015-05-11-05-32-01.html];
______. "A Cruzada religiosa do Kremlin". Trad. Bruno Braga [http://b-braga.blogspot.com.br/2013/04/a-cruzada-religiosa-do-kremlin.html];
. "Ex-espião da União Soviética: Nós criamos a Teologia da Libertação", ACIDigital, 11 de Maio de 2015 [http://www.acidigital.com/noticias/ex-espiao-da-uniao-sovietica-nos-criamos-a-teologia-da-libertacao-28919/];
Departamento de Estado dos Estados Unidos. Washington. D.C. "Ações ativas soviéticas: The Christian Peace Conference". Trad. Bruno Braga. [http://b-braga.blogspot.com.br/2013/07/christian-peace-conference-disseminacao.html];
NORRIS, Brian. "Crítica do "Christian Peace Conference". Trad. Bruno Braga [http://b-braga.blogspot.com.br/2013/07/critica-do-christian-peace-conference.html].
No comments:
Post a Comment