Peter Kwasniewski.
Adelante la fé, 01 de setembro de 2018.
Tradução. Bruno Braga.
Sabemos que existem sacerdotes bons e santos, imagens vivas do Sumo Sacerdote e Bom Pastor. Eles nos servem incansáveis, empenhados com afinco na nossa salvação. São uma das razões pelas quais ser católico é a maior das alegrias. Cada um de nós conhece um ou vários sacerdotes assim. Sabemos também que, com frequência, eles não são valorizados o suficiente e que, em momentos como o que vivemos, são objeto de ceticismo e suspeita não merecidos, mas por culpa dos pecados de alguns irmãos seus no clero. Culpa que eles repudiam e condenam tanto quanto os leigos.
No entanto, todos, leigos nos bancos e sacerdotes no presbitério, devemos formular algumas perguntas difíceis. Talvez a mais importante seja: como é que tantos homens de Deus, incluindo Bispos, se converteram em instrumentos do diabo? Fora causas importantes, como a queda de Adão, uma concupiscência desordenada e perigos inerentes aos postos de autoridade, podemos identificar uma causa concreta nos últimos cinquenta anos? Isto é, no período de tempo em que aconteceram a imensa maioria dos abusos desonestos cometidos por sacerdotes.
Uma causa sistêmica do distanciamento dos seus deveres por parte do clero, o relaxamento moral e a libertinagem, está no ambiente de falta de regras e de anarquia proclamado pelos hippies no festival de Woodstock, e que acompanhou as reformas e deformações nos anos sessenta e setenta. Naquele tempo, o ideal católico do sacerdote que se submete à disciplina de um exigente rito litúrgico cheio de rubricas reverentes que incutem o temor de Deus foi substituído por uma rebelde exaltação pessoal. Essa situação não aconteceu em todos os lugares, mas foi exigida em todas as partes. Antes, o sacerdote era um homem consagrado ao sóbrio e estrito serviço do altar. Com as vertiginosas mudanças operadas nas épocas mencionadas, não tardou em converter-se no centro da atenção, em um presidente que manipulava a congregação, expressando-se no idioma dela. Os sacerdotes foram lançados no foço dos leões da vaidade, popularidade, sentimentalismo e relaxamento, e nem todos saíram ilesos como Daniel. Perdeu-se de vista o ascetismo, e se deu rédea solta a todos os males que havia impedido o código de honra antes vigente.
Os católicos de certa idade sabem muito bem o que quero dizer. Nasci em 1971, e me lembro de várias liturgias originais. Não tem nada de surpreendente que os sacerdotes culpados por aqueles disparates se encontrem entre os que mais tarde foram investigados por comportamento imoral. Demorei muito tempo para descobrir a relação (talvez eu seja um pouco lento), mas finalmente a entendi: os abusos que durante décadas foram cometidos na Santa Missa e no restante dos Sacramentos e atos litúrgicos - e, assim, por extensão, a agressão perpetrada contra os fiéis católicos, que têm o direito de que a Liturgia lhes seja oferecida na sua plenitude, como declara a instrução Redemptionis Sacramentum - são a forma primária e fundamental dos abusos contra os leigos por parte do clero, e da qual os abusos sexuais são uma variante mais perturbadora.
Dada a absoluta centralidade e a infinita dignidade da Missa e da Sagrada Eucaristia, os abusos perpetrados contra a Liturgia e os Sacramentos são o maior delito que se pode cometer contra Deus e os homens. Se o maior e mais santo que existe não merece a nossa máxima veneração, como serão dignos de respeito alguns simples seres humanos? Somos pó e cinza comparados com o divino Sacrifício do Altar. Ao contrário, se reverenciamos profundamente e tememos a Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, reconheceremos sua imagem na alma e no corpo de todo ser humano, e o trataremos bem. A reverência a Deus está intimamente associada com o respeito aos simples.
Em seu popular blog, o padre Zuhlsdorf reproduz esta mensagem de um leitor:
"Se não somos capazes de tratar com respeito o Corpo de Nosso Senhor e Salvador, como vamos respeitar o corpo do próximo? Não haverá uma espécie de rampa escorregadia entre a Missa mal rezada e o pecado? [...] Se levamos a sério a Missa e a Eucaristia, e deixamos que toda relação com os demais derive dessa relação primeira e essencial com Cristo, não poderemos utilizar os outros como se fossem objetos. Quando a Missa é prejudicada, tudo o mais se arruina também [...] Ao meu juízo, a Liturgia reverente nasce de modo natural do amor a Cristo na Eucaristia e da compreensão de que estamos na presença de Deus. [...] O padre Zuhlsdorf tem razão: 'Se salva-se a Liturgia, salva-se o mundo'. Não é por acaso que o Papa Bento XVI, que está trabalhando para limpar a Igreja dos abusos, esteja também empenhado em limpar a Liturgia. Se não somos capazes de respeitar Deus, não respeitaremos uns aos outros".
O padre Zuhlsdor também disse com a sua habitual energia:
"A Eucaristia, tanto a sua celebração quanto Ela mesma, por ser o Sacramento extraordinário, é fonte e ápice da vida cristã. Se verdadeiramente cremos, devemos crer igualmente que o que fazemos na igreja, o que cremos que acontece no tempo, é um fator determinante. Realmente cremos que a consagração tem um efeito? Ou cremos que o que se diz e a maneira com que se diz, os gestos e a nossa atitude são totalmente indiferentes? Por exemplo, se optamos por não nos ajoelhar diante de Cristo Rei e Juiz, verdadeiramente presente em cada Hóstia consagrada, terá um efeito mais generalizado?"
Em certas ocasiões, o católico sente a necessidade de dizer aos sacerdotes secularizadores e liberais das últimas décadas: vocês e os seus seguidores arruinaram a teologia com o Modernismo; devastaram a Liturgia com as suas reformas. Logo deram o golpe de misericórdia destruindo a vida de menores. É uma espantosa inversão do Reino de Deus. Chegará o dia em que todo esse mal será purgado, embora haja ainda tempo para o arrependimento, certamente enquanto o Senhor nos prepara um Céu novo e uma Terra nova.
Dizemos também a nossos sacerdotes bons e santos: sigam fazendo o que estão fazendo bem. Amem a Sagrada Liturgia, celebre-A com encantamento, devoção, temor reverencial, silêncio e beleza. Vão à nossa frente, guiando-nos na direção do oriente em nossa peregrinação até o Senhor. Dessa forma, realizarão uma verdadeira transformação cultural na Igreja, devolvendo a honra devida à instituição, ao pessoal e às cerimônias.
No comments:
Post a Comment