No
artigo “Não é ‘política pura’” [1] observei que o exame da política deve pressupor
o seu correlato necessário: a pessoa real – de carne e osso – que integra as
relações de poder. Ao considerar as teses de Leonardo Boff e de sua Teologia da
Libertação, dei destaque ao elemento político [2]; agora chamo a atenção para o
correlato subjetivo da proposta – na figura da “consciência” - para indicar uma
das fraudes promovidas pelo teólogo militante.
No
livro “Igreja: Carisma e Poder” Leonardo Boff considera que é necessário, para
estabelecer uma “práxis nova” e “libertadora”, estabelecer, no “nível de
compreensão do povo”, uma “análise científica da realidade”. Porém, adverte
ele:
“Científico”
neste caso não significa utilizar termos técnicos e realizar exaustivas
investigações, senão conhecer o que há por trás dos fenômenos (BOFF, 1992, p.
215) [3].
Para
o teólogo, “científico” é substituir os dados apreendidos da realidade efetiva
e da investigação dela para revelar à comunidade os mecanismos ocultos que
orientam a sociedade – entre eles o da “luta de classes” – de forma a torná-la
“crítica”: este é o processo de “conscientização” das pessoas.
O expediente
adotado por Boff já é, por si mesmo, uma fraude, pois é o esforço para
implantar nos olhos das pessoas os óculos que formatam previamente a visão que
elas têm do mundo e da sociedade – assim, os estereótipos e esquemas prontos
tomam o lugar do exame e da investigação da realidade. Porém, o expediente é
ainda mais perverso quando o teólogo se compromete a inoculá-lo dentro da
Igreja Católica – e contra ela - para converter o olhar dos seus fiéis. Uma
passagem da Bíblia traduz bem esta perversão.
João
Batista toma conhecimento dos feitos de Jesus. Mas, estando encarcerado,
precisa enviar dois discípulos para interrogar o filho de Maria, para questioná-lo
se seria ele de fato aquele que havia de vir ou se era preciso esperar por
outro – ao que Jesus respondeu:
Ide
contar a João o que ouvistes, e vistes. Os cegos vêem, os coxos andam, os
leprosos limpam-se, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam, aos pobres
anuncia-se-lhes o Evangelho (Mt. 11, 2-5).
Em
contraste com a proposta de Boff – de gênese Marxista -, não há, aqui, nenhum
propósito de substituir a realidade: apenas “ouça” e “veja” – e no interior da
consciência a liberdade para acreditar ou não.
Por
esta – e outras questões - a intervenção da Igreja Católica nas atividades de
Leonardo Boff, submetido então à disciplina do Magistério, está justificada. A
reação histérica do teólogo e dos seus sectários é compreensível, porque uma
teologia “da libertação” já pressupõe um “opressor”, que é, automaticamente, qualquer
um que se oponha a ela – mesmo sendo a Igreja para preservar a sua herança da
perversão -, por isso, pouco importa se a oposição é justa ou legítima, o
discurso será sempre o da vitimização. Comportamento coerente dos que entre
eles renunciaram os olhos, a razão e a consciência, e dos que estrategicamente investem
contra uma das resistências ao seu ambicioso projeto de poder.
Leonardo
Boff deixou a Igreja Católica por iniciativa própria. No entanto, ele não era o
único pastor da teologia revolucionária, que permanece viva no interior dela, para
corrompê-la desde dentro, em um esforço contínuo para “conscientizar” e
converter o olhar dos seus fiéis, instaurando o culto da inversão.
Referências.
[1].
Cf. BRAGA, Bruno. "Não é 'política pura'" [http://b-braga.blogspot.com.br/2012/07/nao-e-politica-pura.html].
[2].
Cf. “Gato escondido com o rabo de fora” [http://b-braga.blogspot.com.br/2012/10/gato-escondido-com-o-rabo-de-fora.html];
“Leonardo BofFETADA” [http://b-braga.blogspot.com.br/2012/10/leonardo-boffetada.html];
“O parasita da terra” [http://b-braga.blogspot.com.br/2012/10/o-parasita-da-terra.html];
“O engodo da libertação e o poder” [http://b-braga.blogspot.com.br/2012/10/o-engodo-da-libertacao-e-o-poder.html].
[3].
BOFF, Leonardo. “Iglesia: Carisma y Poder”. Editorial Sal Terrae: Santander,
1992.
Leituras sugeridas.
BRAGA,
Bruno. “O Sinal da Cruz” [http://b-braga.blogspot.com.br/2012/02/normal-0-21-false-false-false-pt-br-x_12.html].
______.
“A Cruz apeada” [http://b-braga.blogspot.com.br/2012/03/normal-0-21-false-false-false-pt-br-x_11.html].
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