CUMERLATO,
Corine. ROUSSEAU, Denis. “A ilha do doutor Castro”: a transição confiscada.
Trad. Paulo Neves. Editora Peixoto Netto: São Paulo, 2001.
“Jamais
poderemos nos tornar ditadores [...] Eu sou um homem que sabe quando é preciso
ir embora”, Fidel Castro, 08 de Janeiro de 1959, primeiro discurso após a
entrada em Havana.
Depois
de mais de meio século desde o seu primeiro pronunciamento, o “Comandante”
permanece firme no poder, fazendo de Cuba a ditadura mais duradoura da face da
Terra. Um regime que resiste aos efeitos do tempo. Conserva-se apesar da decrepitude
de seu líder máximo. Sobrevive mesmo espalhando miséria, destruição e morte. Cuba
segue como modelo inspirador para lideranças políticas e chefes de Estado, para
“pseudo-Intelectuais” engajados, para a juventude rebelde e um sem número de
“idiotizados” por uma publicidade enganosa vagabunda.
Os
jornalistas Corine Cumerlato e Denis Rousseau viveram em Cuba durante três
anos, de 1996 a 1999. “A ilha do doutor Castro” é o registro desta experiência.
O livro é uma boa fonte de informação sobre Cuba – e também sobre a vida cotidiana
dos cubanos, que é regida por Fidel Castro. Ele aborda o aspecto histórico da
revolução, o “sistema” e a arquitetura do regime totalitário, a economia e os
elementos socioculturais. Os autores descrevem a doutrinação
Socialista-Comunista nas escolas. A vigilância das autoridades através dos
comitês de bairro. O mercado duplo – de dólares e pesos. O mercado negro e a
corrupção. Os apagões e racionamentos. A verdadeira medicina cubana, que tem
uma estrutura precaríssima e carece dos medicamentos mais básicos – em que os
pacientes e suas famílias são responsáveis por suas roupas e pela alimentação
durante a internação hospitalar. As estatísticas monstruosas de aborto. A fome
e a prostituição.
O regime
castrista–Socialista-Comunista se auto-elegeu guardião e provedor do “povo”
cubano. Assumiu o projeto de construir um “mundo novo” fundado na “igualdade
entre todos”. No entanto, criou verdadeiramente cidadãos de segunda classe: os
próprios cubanos. Enquanto os estrangeiros – os turistas – são adulados com
todos os mimos e regalias para que, imbecilizados, façam publicidade da ilha e
do regime no exterior – e a elite revolucionária se farta de privilégios instituídos
por ela mesma –, o restante da população é proibido de frequentar certos locais
públicos, tem limitações impostas na assistência médica e até na compra de
medicamentos.
Cumerlato
e Rousseau contam que a visita do Papa João Paulo II, em 1998, levou uma
fagulha de esperança aos cubanos. “Não tenham medo” [...] “sejam os
protagonistas de vossa história”, proclamou o Pontífice. Porém, “El Comandante”
demonstrou desprezo e indiferença: “Escuto com sorriso de Gioconda e paciência
de Jó” [...] “Cuba permanece inamovível em seus princípios”.
Enfim,
o livro dos jornalistas franceses é o relato de uma experiência sob o regime
totalitário conduzido por um ditador sanguinário – e dos efeitos tenebrosos que
eles impõem aos cubanos. Em Fidel Castro uma telespectadora da ilha observou:
“Ele tem olhos de louco!” – e uma pessoa próxima a corrigiu: “Mas ele sempre
teve esses olhos; não tinha notado?” (p. 22). Não, depois de mais de meio
século, a América Latina não notou. Porque quem dita as regras, quem rege o
continente é o Foro de São Paulo - a organização fundada pelo “Comandante” cubano
e por Luiz Inácio – e pelo PT, que hoje detém o poder no Brasil – para fomentar
a revolução Socialista-Comunista. Quer dizer, disseminar não apenas uma cultura
revolucionária, mas cristalizar uma forma de governo de dimensões continentais –
a “Pátria grande” inspirada em um modelo que produziu concretamente apenas destruição,
morte, controle e repressão.
Bruno Braga.
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