Bruno Braga.
Claudio
Fonteles assumirá temporariamente a coordenação dos trabalhos da Comissão da
Verdade [1]. Assim, o grupo que propôs a consagração de sua própria Hagiografia
– uma “Hagiografia da inversão” [2] – agora estará sob a direção espiritual de
um sacerdote da revolução.
Durante
a guerrilha, o convento dos padres de Conceição do Araguaia era utilizado como base
para transmissões clandestinas de rádio, que deveriam alcançar a Albânia. Porém,
os militares localizaram este núcleo operacional e, com o desmonte do
equipamento, inviabilizaram a comunicação. Um dos religiosos que estava no
convento protestou veementemente contra a intervenção: era Claudio Fonteles [3].
Já
que a Comissão da Verdade irá investigar a atividade das igrejas – a Católica e
as protestantes – “no apoio ao golpe e na repressão e também no da
redemocratização” [4], o Sr. Fonteles – um dos sacerdotes da revolução – tem o
dever de exemplificar a virtude em um testemunho honesto e sincero. O que ele estava
fazendo no convento de Conceição do Araguaia? O Sr. Fonteles se recolheu apenas
para orar? Ele estava efetivamente realizando o voto de renúncia em favor do
divino? Por que ele protestou contra a interrupção das transmissões de rádio
para a Albânia? A intervenção inviabilizou o seu trabalho de catequização? Ou ela
interromperia o seu – e o de outros – sacerdócio da revolução? O que faziam
certos padres e religiosos neste convento durante a guerrilha do Araguaia? Suplicavam
pela graça divina em favor do braço armado da revolução?
Claudio
Fonteles integrou a AP (Ação Popular), o grupo terrorista que nasceu do
movimento revolucionário que pretendia instrumentalizar a Igreja Católica. O “bem-aventurado
Alípio” foi um dos membros ilustres da organização. Ele que, além de outras
obras de caridade e comiseração, foi o mentor intelectual do atentado a bomba no
Aeroporto de Guararapes, em 1966 [5].
Com
a proposta de redigir uma Hagiografia própria, a Comissão da Verdade poderia consagrar
a Claudio Fonteles um lugar no altar da inversão. Não apenas por suas obras do
passado – como a elevada e bendita atividade no convento de Conceição do
Araguaia. Também pela autodivinização de um poder que hoje ele tem nas mãos: coordenar
o grupo encarregado de reescrever – ou melhor, falsificar – a História. Poder para condenar até mesmo a Igreja que ele
assaltou para promover a revolução. Mentira, traição e ocultamento: as virtudes
do sacerdócio da inversão.
Referências.
[1].
CNV, 19 de Novembro de 2012 [http://www.cnv.gov.br/noticias/19-11-2012-2013-claudio-fonteles-assume-a-coordenacao-da-comissao-nacional-da-verdade/].
[2].
BRAGA, Bruno. “Hagiografia da inversão” [http://dershatten.blogspot.com.br/2012/11/hagiografia-da-inversao.html].
[3].
Cf. o depoimento do Coronel Lício Maciel, “Guerrilha do Araguaia – Relato de um
combatente”.
[4].
Cf. referência [2].
[5].
BRAGA, Bruno. “O bem-aventurado Alípio” [http://dershatten.blogspot.com.br/2012/11/o-bem-aventurado-alipio.html].
Leitura sugerida.
BRAGA,
Bruno. “Ainda sobre a Resolução” [http://dershatten.blogspot.com.br/2012/09/ainda-sobre-resolucao.html].
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