Bruno Braga.
Reproduzo
– em caracteres itálicos – o comentário que redigi sobre o texto “Eleições
americanas: o sufocante direito à informação”, de Rogério Paiva. O conteúdo
dele não esgota, de maneira alguma, o assunto; porém, pareceu-me pertinente
para tecer algumas considerações gerais.
Observo
apenas que, ao comentário original, acrescentei a transcrição de uma passagem
bíblica que havia sido simplesmente mencionada. De qualquer maneira, as
publicações podem ser acessadas em [http://www.facebook.com/groups/308992989125957/permalink/498592116832709/].
***
Rogério,
Não sei se percebe. Você denuncia o
“complexo de vira-lata” do brasileiro; porém, o seu artigo apresenta sintomas
agudos dele, que aparecem na forma de reação. Nos seus protestos, que condenam
a “bajulação dos Estados Unidos” através da “excessiva” cobertura das eleições
americanas. Também nas suas propostas, sobretudo a de que “para sermos mais
inteligentes” é necessário desenvolvermos o “senso de brasilidade” (o que está
entre aspas faz remissão ao seu texto).
A propósito, a imagem do vira-lata é
ilustrativa. Não apenas por revirar depósitos e caixas à procura do que comer.
É na questão da identidade e do comportamento. Roçar timidamente as pernas dos
transeuntes na praça pública, reclamando a atenção deles ou implorando por um
afago.
A cobertura das eleições americanas –
que você, Rogério, considera “excessiva” – é apenas proporcional ao que este
processo eleitoral e o país representam para o mundo - em termos políticos,
econômicos e culturais. Então, é fundamental, sim, acompanhá-los. Estudar o
processo – inclusive na sua forma, na sua história. Em vez de lamentar atenção
– ou expressar carência – é indispensável avaliar a própria cobertura da
imprensa, inclusive da americana. A brasileira é completamente distorcida e de
um “obamismo” pornográfico. A propósito, quem é Barack Obama? Investigar um
Presidente que se elege – e agora se reelege – com documentos falsos é crucial
para compreender o tabuleiro e as articulações do jogo do poder.
A citação do Marcelo é oportuna, mas
pelo efeito contrário. Por ser a consideração de um escritor português e estar
associada a um movimento, o Modernismo. Imbuído do propósito da
“independência”, de livrar-se do colonialismo e do imperialismo mental, esta
proposta voltou-se contra a influência lusitana. Os prejuízos para a língua e
para cultura brasileira foram inestimáveis.
O brasão, a bandeira, ou o
patriotismo, não são condições preliminares para a inteligência, Rogério. Este
nacionalismo afetado – próprio de uma mentalidade caipira – constrói apenas uma
cultura voltada para si mesma, egocêntrica e, consequentemente, idiotizada.
Isto é sintoma do “complexo de vira-lata”. O simbolismo da águia - que surgiu
muito antes de qualquer projeto ou teoria do império, antes que qualquer
ideologia - é de fato o seu contraste. Porque é a busca dos princípios
universais, que se elevam acima das contingências:
“Porém, os que esperam no
Senhor terão sempre novas forças, tomarão asas como de águia, correrão e não se
fatigarão, andarão e não desfalecerão” (Is. 40, 31).
É a águia que não lamenta a sua
condição – nem reclama atenção – Ela, mesmo no pressentimento da morte,
utiliza-se do último suspiro para alcançar os lugares mais altos, onde possa se
deitar com dignidade. Se você se interroga sobre a diferença entre a Independência
americana e a do Brasil, está ai – enquanto a nossa foi apenas uma ruptura com
o que nos fazia Colônia, a da dos Estados Unidos acrescentou um princípio
universal: a liberdade de consciência.
Bruno Braga.
Belo Horizonte, 07 de Novembro de
2012.
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