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Thursday, November 08, 2012

Comentário. Eleições americanas.



Bruno Braga.


Reproduzo – em caracteres itálicos – o comentário que redigi sobre o texto “Eleições americanas: o sufocante direito à informação”, de Rogério Paiva. O conteúdo dele não esgota, de maneira alguma, o assunto; porém, pareceu-me pertinente para tecer algumas considerações gerais.  

Observo apenas que, ao comentário original, acrescentei a transcrição de uma passagem bíblica que havia sido simplesmente mencionada. De qualquer maneira, as publicações podem ser acessadas em [http://www.facebook.com/groups/308992989125957/permalink/498592116832709/].

***

Rogério,

Não sei se percebe. Você denuncia o “complexo de vira-lata” do brasileiro; porém, o seu artigo apresenta sintomas agudos dele, que aparecem na forma de reação. Nos seus protestos, que condenam a “bajulação dos Estados Unidos” através da “excessiva” cobertura das eleições americanas. Também nas suas propostas, sobretudo a de que “para sermos mais inteligentes” é necessário desenvolvermos o “senso de brasilidade” (o que está entre aspas faz remissão ao seu texto).

A propósito, a imagem do vira-lata é ilustrativa. Não apenas por revirar depósitos e caixas à procura do que comer. É na questão da identidade e do comportamento. Roçar timidamente as pernas dos transeuntes na praça pública, reclamando a atenção deles ou implorando por um afago.

A cobertura das eleições americanas – que você, Rogério, considera “excessiva” – é apenas proporcional ao que este processo eleitoral e o país representam para o mundo - em termos políticos, econômicos e culturais. Então, é fundamental, sim, acompanhá-los. Estudar o processo – inclusive na sua forma, na sua história. Em vez de lamentar atenção – ou expressar carência – é indispensável avaliar a própria cobertura da imprensa, inclusive da americana. A brasileira é completamente distorcida e de um “obamismo” pornográfico. A propósito, quem é Barack Obama? Investigar um Presidente que se elege – e agora se reelege – com documentos falsos é crucial para compreender o tabuleiro e as articulações do jogo do poder. 

A citação do Marcelo é oportuna, mas pelo efeito contrário. Por ser a consideração de um escritor português e estar associada a um movimento, o Modernismo. Imbuído do propósito da “independência”, de livrar-se do colonialismo e do imperialismo mental, esta proposta voltou-se contra a influência lusitana. Os prejuízos para a língua e para cultura brasileira foram inestimáveis.

O brasão, a bandeira, ou o patriotismo, não são condições preliminares para a inteligência, Rogério. Este nacionalismo afetado – próprio de uma mentalidade caipira – constrói apenas uma cultura voltada para si mesma, egocêntrica e, consequentemente, idiotizada. Isto é sintoma do “complexo de vira-lata”. O simbolismo da águia - que surgiu muito antes de qualquer projeto ou teoria do império, antes que qualquer ideologia - é de fato o seu contraste. Porque é a busca dos princípios universais, que se elevam acima das contingências:

“Porém, os que esperam no Senhor terão sempre novas forças, tomarão asas como de águia, correrão e não se fatigarão, andarão e não desfalecerão” (Is. 40, 31).

É a águia que não lamenta a sua condição – nem reclama atenção – Ela, mesmo no pressentimento da morte, utiliza-se do último suspiro para alcançar os lugares mais altos, onde possa se deitar com dignidade. Se você se interroga sobre a diferença entre a Independência americana e a do Brasil, está ai – enquanto a nossa foi apenas uma ruptura com o que nos fazia Colônia, a da dos Estados Unidos acrescentou um princípio universal: a liberdade de consciência.   

Bruno Braga.

Belo Horizonte, 07 de Novembro de 2012.

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