Bruno Braga.
Disponibilizo
– logo abaixo – a tradução de trechos de uma publicação do Departamento de
Estado dos Estados Unidos sobre o “Christian Peace Conference” (CPC). De acordo
com o “Foreign Affairs Note” de 1985, a União Soviética utilizou o CPC para manipular
a posição de instituições religiosas em questões políticas e sociais – e um dos instrumentos da organização foi a Teologia da Libertação. O documento fundamenta
as revelações de Ion Mihai Pacepa, ex-agente do serviço secreto da Romênia
comunista: a Teologia da Libertação foi uma criação da KGB, um engodo estrategicamente
elaborado – com a sua participação – para instrumentalizar a religião de acordo
com os propósitos revolucionários; e, além de Cuba, o “Christian Peace
Conference” foi uma base determinada para a sua disseminação.
***
Foreign Affairs Note.
Departamento de Estado dos Estados
Unidos.
Washington. D.C.
Ações
ativas soviéticas: The Christian Peace Conference.
Tradução.
Bruno Braga.
O
Christian Peace Conference (CPC) – sediado em Praga – é uma organização
internacional de fachada amparada pelos soviéticos. Desde a sua fundação, em
1958, tem procurado influenciar a opinião dentro de grupos ligados à Igreja em
uma série de questões controversas sobre relações internacionais e de defesa. Desde
o início, o CPC tem sido comandado por um proeminente teólogo ou líder
religioso soviético ou do leste europeu, e seus principais encontros sempre
foram organizados em um país comunista. Após a invasão soviética da Tchecoslováquia,
em 1968, o CPC expurgou os dissidentes para garantir o controle soviético.
Talvez
com as lições dos óbvios laços soviéticos do World Peace Council (WPC. “Conselho
Mundial de Paz”), o CPC tem procurado manter um perfil discreto (ao contrário
do WPC, por exemplo, ele não endossou publicamente o abatimento do avião
coreano pelos soviéticos em Setembro de 1983), apesar de o viés pró-soviético
estar evidente nas resoluções aprovadas em suas reuniões, assembléias e em
outros documentos e comunicações publicados. O CPC compartilha a abordagem da União
Soviética (URSS) dos direitos humanos e dos movimentos de libertação nacional;
desde pelo menos 1978 ele trabalhou para justificar o apoio cristão à luta
violenta contra o que considera ordem social injusta. Como a URSS, o CPC
rejeita o pacifismo (alegando que os pacifistas não fazem a distinção entre
guerra “justa” e guerra “injusta”), mas não descarta, por razões estratégicas,
a cooperação com os pacifistas.
Durante
a década de 1970, o CPC se concentrou na promoção dos interesses soviéticos no
Terceiro Mundo. Com o debate da década de 1980, sobre a implantação de forças
nucleares de alcance intermediário na Europa pela OTAN, ele desviou sua atenção
para as questões do desarmamento e de segurança, invariavelmente apoiando as
iniciativas soviéticas no seu “Strategic Defense Initiative” (SDI). Nunca
criticou publicamente as políticas domésticas e internacionais soviéticas e do
leste europeu, incluindo a supressão da religião. (Para mais informações sobre
as ações da URSS a respeito da religião, ver “Religião na URSS. Leis, Política
e Propaganda”, Maio de 1982, publicado séries “Nota de Relações
Internacionais”).
A Sexta Assembléia de Paz de Todos os
Cristãos (All-Christian Assembly Peace).
O
jornal do Partido Comunista da Tchecoslováquia – “Rude Pravo” – informou (26 de
Janeiro de 1985) que 600 representantes de “igrejas, organizações de paz
cristãs ou ecumênicas”, de mais de 80 países, são esperados neste encontro para
se reunirem em Praga, 2-9 de Julho de 1985. Estas assembléias têm ocorrido em
Praga a cada 4-7 anos (1961, 1964, 1968, 1971 e 1978). O “Rude Pravo” observou
que a reunião fornecerá a oportunidade para uma “discussão franca sobre todas
as questões candentes a respeito da atual situação internacional e para determinar
medidas e meios práticos pelos quais os cristãos e as igrejas podem ajudar a
evitar uma catástrofe nuclear”.
A
utilização do termo “discussão franca” 6 meses antes da assembléia de Julho
indica que os seus organizadores comunistas esperam discordância significativa
sobre questões teóricas e táticas que continuam frustrando as esperanças de
Moscou pela cooperação com não-comunistas – inclusive relacionados à Igreja –
do movimento de paz. A mais notável delas é a dimensão em que a URSS – e seus
aliados do Pacto de Varsóvia – deveriam cooperar com estes ativistas
não-comunistas no movimento que critica as políticas estrangeira e de defesa
soviéticas. Escritos de autoridades soviéticas invariavelmente reclamam a aproximação
junto a ativistas imparciais para a influência dos “serviços especiais” do
Ocidente e têm advogado a “re-educação política” para corrigir a visão deles.
Por exemplo, a edição de Agosto de 1984 do “Kommunist” (jornal teórico do Comitê
Central do Partido Comunista da União Soviética) apresentou as seguintes
instruções de como dissuadir ativistas não-comunistas da noção de que a URSS
tem qualquer culpa pelas tensões internacionais: “diálogo, persuasão e
explicação paciente... bem como uma atitude atenciosa para com a posição dos
outros mesmo quando... essas posições são inconsistentes e erradas”.
“O
Christian Peace Conference não é uma mera organização pacifista; ele está
contribuindo com sua atividade específica para a manutenção da paz e para os
esforços de desarmamento. Por isso é completamente apoiado pelas últimas
propostas de L. Brezhnev, que são um passo significativo para travar o
armamento febril e prevenir o desencadeamento de um conflito nuclear mundial”.
Karaly Toth, Presidente do CPC. “Rude Pravo”, 26 de Março de 1982.
O que acontecerá nesta assembléia? O
Kremlin vê a sexta assembléia do CPC como um elemento importante de sua
campanha global para influenciar a opinião religiosa internacional contra as
políticas externas e de defesa do Ocidente. Realmente, a atividade e o
comentário dos soviéticos e do CPC desde a última assembléia, em 1978 – e
particularmente durante 1984 e os primeiros meses de 1985 -, sugerem que o
principal propósito da reunião de Julho é orientar religiosos e setores do
movimento anti-nuclear ligados à Igreja na direção contra os Estados Unidos,
enquanto evitam qualquer crítica contra as políticas externa e de defesa
soviéticas.
Se
as assembléias passadas apresentavam qualquer indicação, a próxima reunião irá
“eleger” e “re-eleger” os principais agentes e órgãos de gestão do CPC, e
emitir várias resoluções e apelos endereçados às igrejas do mundo. Estes
documentos – destinados a moldar a atividade do CPC nos próximos anos – irão
novamente se conformar as posições políticas externas dos soviéticos em todos
os aspectos.
Ademais,
os organizadores comunistas do encontro tentarão restringir as discussões às
iniqüidades da sociedade ocidental e aos ataques contra os Estados Unidos e a
aliança da OTAN. Opiniões contrárias, onde for possível, serão ativamente
desencorajadas, e não aparecerão em documentos e comunicados da conferência, os
textos que a maioria dos delegados normalmente não vê até serem publicados na
mídia comunista (Ver p. 06, sobre a reação de delegados contra esta tática na
conferência de paz do CPC em Granada, 1981). Por exemplo, de acordo com o “Le
Monde” (07 de Outubro de 1970), no início de 1970, a liderança do CPC – sob o
Metropolitano Soviético Nikodim – exonerou dois vice-presidentes do CPC ocidental
– George Casalis, da França, e Heinz Kloppenburg, da Alemanha Ocidental – que
se recusaram a endossar várias resoluções pró-soviéticas emitidas em uma
reunião prévia do CPC. Nikodim, posteriormente, removeu a Secretaria
Internacional do CPC, o Comitê de Trabalho, e a vice-presidência de todos os
dissidentes; o resultado foi a dissolução de várias filiais do CPC.
Finalmente,
qualquer tentativa de discutir as controversas ações soviéticas – tais como
repressão doméstica da religião na URSS, a supressão dos direitos humanos de
ativistas, ou a perseguição ou encarceramento de ativistas soviéticos
“não-oficiais” – será suprimida pelos organizadores da reunião. Moscou repudia
costumeiramente este tipo de crítica alegando que é “propaganda anti-soviética”.
[...].
Teologia da Libertação e Direitos
Humanos.
De
acordo com os documentos da assembléia de 1971, os cristãos devem prestar apoio
às forças de paz que promovem os movimentos armados de libertação nacional do
Terceiro Mundo contra o imperialismo. A mesma conferência caracterizou o
imperialismo ocidental como a “maior ameaça à existência pacífica da
humanidade”. Rejeitou o pacifismo “per se”, porque ele não faz distinção entre
paz “justa” e paz “injusta”; mas não exclui a possibilidade de cooperar com os
pacifistas.
A
“teologia da libertação” do próprio CPC procura fornecer um suporte filosófico
para a “luta de paz” e para a guerra de libertação nacional. Esta “teologia”
aconselha o apoio aos movimentos de libertação nacional e reclama que as
igrejas do ocidente se libertem da burguesia: “as igrejas desses países devem
se livrar dos vínculos sociais burgueses. As igrejas existentes na sociedade
ocidental necessitam de uma libertação tão urgente quanto a massa proletária”.
O
CPC se declara, conseqüentemente, contra o “conceito individualista” de
direitos humanos e exige que “distinções sejam feitas de acordo com a
respectiva situação” (desse modo, exclui aparentemente desta extensão de
direitos humanos as violações na URSS e em outros regimes comunistas). Sustenta
ainda que os cristãos têm o dever de reconhecer que “qualquer realização em
direitos humanos deve conduzir em direção ao socialismo”.
O
CPC estabeleceu especificamente:
“Os
direitos humanos não têm que ser vistos somente como direitos individuais à
liberdade, mas também e de preferência como direitos e deveres de grupos e
comunidades... A interpretação liberal de direitos humanos não está de acordo
com a mensagem da Bíblia. Consideramos um conceito absoluto de direitos humanos,
que não leva em consideração o desenvolvimento histórico, como inaceitável”.
[...].
(*) Nota. O
documento original – e completo - pode ser consultado no site do “Hathi Trust
Digital Library” [http://babel.hathitrust.org/cgi/pt?id=mdp.39015054429124;view=1up;seq=1].
Artigos recomendados.
PACEPA,
Ion Mihai. “A Cruzada religiosa do Kremlin”. Front Page Magazine, 2009. Trad.
Bruno Braga. [http://b-braga.blogspot.com.br/2013/04/a-cruzada-religiosa-do-kremlin.html].
BRAGA,
Bruno. “A promoção efetiva da Teologia ‘Socialista-Comunista’ da Libertação” [http://b-braga.blogspot.com.br/2013/05/a-promocao-efetiva-da-teologia.html].
______.
“Notas sobre a Teologia da Libertação” [http://b-braga.blogspot.com.br/2013/05/notas-sobre-teologia-da-libertacao.html].
______.
“Não, a guerra não acabou” [http://b-braga.blogspot.com.br/2013/07/nao-guerra-nao-acabou.html].
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