Bruno Braga.
A
vigarice intelectual do Sr. Leonardo Boff não tem limites. Recentemente, ele
alardeou: “Roma e Teologia da Libertação, fim da guerra” [1]. Bofou, assim, por
causa da publicação do livro “Da parte dos pobres: Teologia da Libertação,
Teologia da Igreja”. A obra é assinada por Gustavo Gutiérrez, tido como o fundador
da Teologia da Libertação, e Gehrard Ludwig Müller, que é o atual prefeito da
Congregação para a Doutrina da Fé, órgão da Igreja que - através de Joseph
Ratzinger, Bispo Emérito de Roma Bento XVI – documentou os perigos e os desvios
da teologia revolucionária com relação à Fé católica. Para Leonardo Boff, o
livro é uma “confissão” de que as acusações contra a Teologia da Libertação –
de ser “inspirada no Marxismo” e de “representar o Cavalo de Tróia pelo qual
entraria o Marxismo na América Latina” - eram falsas.
Leonardo
Boff é de fato um espertalhão. Ele sugere ao leitor que o livro escrito por Gerhard
Müller e Gustavo Gutiérrez é de 2013. No entanto, a publicação é de 2004,
quando Müller ainda era Bispo e, portanto, não respondia pela Congregação que
tem a função de “tutelar” a doutrina sobre a Fé da Igreja Católica. É preciso
notar que a carreira de Müller na Congregação foi conduzida por Bento XVI – e,
já como prefeito dela, uma declaração desmente o que o Sr. Boff sem nenhum
pudor se esforça para forjar:
“Queria
destacar que não existe nenhuma ruptura entre Bento XVI e o Papa Francisco no
que se refere à Teologia da Libertação. Os documentos do então prefeito da Congregação
para a Doutrina da Fé serviram para esclarecer o que era necessário, da maneira
de fazer a Teologia da Libertação à autêntica teologia da Igreja. MINHA
NOMEAÇÃO NÃO SIGNIFICA QUE SE ABRE UM NOVO CAPÍTULO NAS RELAÇÕES COM ESTA
TEOLOGIA; PELO CONTRÁRIO, É UM SINAL DE CONTINUIDADE” (os destaques são meus)
[2].
A análise
de Joseph Ratzinger – Bento XVI – sobre a Teologia da Libertação é inquestionável.
Não é possível negá-la sem romper com a própria Igreja. Nela, a teologia
revolucionária aparece despida de seus artifícios retóricos e hermenêuticos. Os
fundamentos do Marxismo – como as chaves do materialismo e da “luta de classes”
– são exibidos para demonstrar a incompatibilidade deles com a Fé cristã e
católica [3]. Gerhard Müller – como prefeito da Congregação para a Doutrina da
Fé – não sustenta entendimento diferente:
“A
teologia cristã que fala da salvação dada por Deus não pode ser misturada com a
ideologia marxista que fala de uma auto-redenção do homem. A antropologia
marxista é completamente diferente da antropologia cristã, porque trata o homem
como um ser privado de liberdade e dignidade. O comunismo fala da ditadura do
proletariado e a boa teologia, ao contrário, da liberdade e do amor” [4].
Se
o Sr. Leonardo Boff pretende mesmo afastar a “inspiração” marxista da Teologia
da Libertação, ele precisaria maquiar os seus próprios escritos. Por exemplo, o
seu livro “Igreja: Carisma e Poder” (1981) [5], que é totalmente estruturado
sobre conceitos provenientes do marxismo. Nele, o teólogo revolucionário chega
inclusive a acusar a Igreja Católica de deter “os MEIOS DE PRODUÇÃO do
religioso” (pp. 83-84).
Nem
mesmo o próprio Gustavo Gutiérrez – considerado o pai da Teologia da Libertação
– poderia apagar a “inspiração” marxista - e a influência socialista-comunista
– de sua teologia. Gutiérrez afirma explicitamente - com referência a Antonio
Gramsci, fundador do Partido Comunista Italiano – que o teólogo deve ser um
“intelectual orgânico”. Quer dizer, o teólogo deve promover uma revolução
“silenciosa”. Não empunhando armas ou fazendo propaganda aberta do
Socialismo-Comunismo. Não. A revolução é cultural. Subversão e re-significação de
conceitos, manipulação de expressões - de modo que as pessoas se tornem
colaboradoras do processo revolucionário sem jamais terem ouvido falar de Antonio
Gramsci ou do projeto revolucionário. Pois esta é exatamente a função da
Teologia da Libertação. Infiltrar-se dentro da Igreja e se apropriar do seu legado.
Falsificá-lo para promover um simulacro de religiosidade que transforme o fiel
em um “agente de transformação” – acreditando ser o portador de uma “autêntica”
fé católica, ele apenas serve à revolução. É neste plano que Gutiérrez coloca a
“utopia da libertação”: a “criação de uma nova consciência social não apenas
dos MEIOS DE PRODUÇÃO mas também da GESTÃO POLÍTICA e, definitivamente, da
liberdade” [...] (os destaques são meus) [6]
Mas,
a Teologia da Libertação não é apenas uma elaboração teórica “inspirada” nas
teses do Marxismo e no Socialismo-Comunismo. Não. A Teologia da Libertação foi
de fato uma criação da KGB. Ion Mihai Pacepa participou diretamente do processo
de elaboração da “nova religião”. O ex-agente do serviço secreto da Romênia
comunista ouviu do próprio Krushchev: “A religião é o ópio do povo; então vamos
dar-lhes ópio”. Krushchev mesmo escolheu o nome – “Teologia da Libertação” – e
utilizou Cuba como trampolim para disseminá-la pela América Latina [7]. Em
outras palavras, a Teologia da Libertação é um instrumento forjado para fortalecer
a Revolução Socialista-Comunista. Ela é parte integrante de um projeto de
poder.
Enfim,
Leonardo Boff teatraliza. Em uma auto-vitimização abjeta, exibe publicamente o
ressentimento que carrega contra quem justamente o julgou – Joseph Ratzinger,
Bispo emérito de Roma Bento XVI. Finge o fim de uma “guerra” da qual a sua
própria encenação é a prova inequívoca de que não acabou. Mas, não basta identificar
e apontar as trapaças do teólogo. Agora são estas, amanhã serão outras. É
preciso reconhecer que Boff está comprometido – não com a coerência e com a
verdade -, mas sim com um projeto de poder. Por isso ele pode dizer – desdizer -
e se contradizer. Não importa. O que importa é assumir a posição conveniente no
momento que possa favorecer a revolução. Fazer referência indiscriminada a um livro. Ou apropriar-se da ênfase do discurso do Papa Francisco nos pobres,
associá-lo de maneira rasteira ao engodo retórico de uma teologia revolucionária
que proclama “a opção preferencial pelos pobres”. Este oportunismo pode ser
identificado nas transformações da própria Teologia da Libertação. Hoje ela está
inserida no Ecologismo – nas teses do próprio Boff -, na religiosidade Feminista,
na “Nova Espiritualidade”, e no Ecumenismo. Assim disfarça a sua origem, o seu
projeto de fundo - e os seus agentes. No entanto, permanece a ambiciosa e
macabra pretensão de realizar o ideal Socialista-Comunista de dominação e concentração
de poder.
Apenso.
I.
Trecho
do livro “Fidel y La Religion. Conversaciones com Frei Betto”. Frei Betto não
esconde como a Teologia da Libertação pode servir para instrumentalizar a
Igreja Católica – através das Comunidades Eclesiais de Base – e ser útil na
promoção da revolução Socialista-Comunista (as observações entre parênteses são
minhas):
[...]
“na medida em que os pobres invadiram a Igreja, padres e bispos começaram assim
a se converter ao cristianismo (“os pobres”, aqui, é uma figura retórica; a “invasão”
é da TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO). Então, hoje há um número infinito de Comunidades
Eclesiais de Base em toda a América Latina; no Brasil existem cerca de 100 mil
Comunidades Eclesiais de Base, que são grupos de cristãos, operários,
campesinos, marginalizados, nas quais se reúne perto de 3 milhões de pessoas”
[...] “Não é fácil convencer um operário, ou um campesino, de que deve lutar
pelo socialismo, mas é muito fácil dizer o seguinte: ‘Olha, homem, nós cremos
em um só Deus” [...] (Ou seja, Betto admite que manipula o fiel em favor da
revolução socialista utilizando um simulacro de religiosidade, quer dizer, a TEOLOGIA
DA LIBERTAÇÃO) (Cf. “Fidel y La Religion”. Conversaciones com Frei Betto.
Oficina de Publicaciones del Consejo de Estado: La Havana. pp. 282-283).
II
Trecho
da entrevista concedida pelo Pe. Marcelo Rossi à Folha de São Paulo, publicada no
dia 29 de Abril de 2013. Nele, fica claro como o Socialismo-Comunismo se
infiltrou dentro da Igreja Católica – no caso, nas Comunidades Eclesiais de
Base (CEB’s) – com o propósito de utilizá-la para promover um projeto político.
Folha.
Na assembléia da CNBB, neste mês, a igreja indicou que quer incentivar as
Comunidades Eclesiais de Base para recuperar espaço em áreas pobres. Deve ser
esse o caminho?
Pe. Marcelo.
Aí eu questiono. Acho as CEB’s importantes, mas hoje o nosso povo precisa de
grandes espaços. Vejo nas missas do Santuário. Uma vela ilumina? E dez? E 20
mil? O Palmeiras estava sem 13 titulares, mas a torcida foi e eles se
classificaram na Libertadores. Faz diferença. Os evangélicos estão erguendo
grandes locais, porque reúne as pessoas. SE FICAR FECHADO NA CEB, ESQUECER A
ORAÇÃO, FICAR SÓ NA POLÍTICA... SE OLHAR TODOS OS QUE ESTÃO NO GOVERNO, A
MAIORIA SURGIU DA CEB.
Folha. A
CEB ESTÁ NA ORIGEM DO PT.
Pe. Marcelo. O
PT SURGIU DA CEB. ENTÃO, QUE NÃO POLITIZE. O PERIGO É ESSE: CAIR NA POLÍTICA.
III.
No
vídeo abaixo, Luiz Inácio confessa como a Teologia da Libertação foi
fundamental para a sua promoção política e para a do PT (a observação que está entre parênteses é minha):
“Mas
por que é que eu cheguei aonde cheguei? Porque eu tenho por detrás de mim UM
MOVIMENTO. Eu tenho por detrás de mim uma grande parte dos estudantes, do PT, a
CUT, a “base da Igreja Católica” [quer dizer, a TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO] [...]
EU ERA FRUTO DA TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO [01:39] [...] (os destaques são meus).
Referências.
[1].
BOFF, Leonardo. “Roma e Teologia da Libertação: fim da guerra” [http://leonardoboff.wordpress.com/2013/07/04/roma-e-a-teologia-da-libertacao-fim-da-guerra/].
[2].
IHU-Unisinos, Maio de 2013 [http://www.ihu.unisinos.br/noticias/520360-e-necessario-distinguir-entre-uma-teologia-da-libertacao-equivocada-e-uma-correta-afirma-gerhard-mueller].
[3].
Congregação para a Doutrina da Fé, “Libertatis nuntius” [http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/documents/rc_con_cfaith_doc_19840806_theology-liberation_po.html];
“Libertatis conscientia” [http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/documents/rc_con_cfaith_doc_19860322_freedom-liberation_po.html].
[4].
Cf. [2].
[5].
BOFF, Leonardo. “Iglesia: Carisma y Poder”. Editorial Sal Terrae: Santander,
1992.
[6].
GUTIÉRREZ, Gustavo. “Teologia da Libertação”. Perspectivas. Edições Loyola: São
Paulo, 2000 (1ª. Ed. 1971). pp.71; 304.
[7].
PACEPA, Ion Mihai. “A Cruzada religiosa do Kremlin”. Front Page Magazine, 2009.
Trad. Bruno Braga. [http://b-braga.blogspot.com.br/2013/04/a-cruzada-religiosa-do-kremlin.html].
Artigos recomendados.
PACEPA,
Ion Mihai. “A Cruzada religiosa do Kremlin”. Front Page Magazine, 2009. Trad.
Bruno Braga. [http://b-braga.blogspot.com.br/2013/04/a-cruzada-religiosa-do-kremlin.html].
BRAGA,
Bruno. “Notas sobre a Teologia da Libertação” [http://b-braga.blogspot.com.br/2013/05/notas-sobre-teologia-da-libertacao.html].
______.
“A promoção efetiva da Teologia ‘Socialista-Comunista’ da Libertação” [http://b-braga.blogspot.com.br/2013/05/a-promocao-efetiva-da-teologia.html].
______.
“O engodo da libertação e o poder” [http://b-braga.blogspot.com.br/2012/10/o-engodo-da-libertacao-e-o-poder.html].
______.
“Um teólogo militante sob suspeita” [http://b-braga.blogspot.com.br/2010/10/um-teologo-militante-sob-suspeita.html].
______. “Gato escondido com o rabo de fora” [http://b-braga.blogspot.com.br/2012/10/gato-escondido-com-o-rabo-de-fora.html].
______. “Leonardo BofFETADA” [http://b-braga.blogspot.com.br/2012/10/leonardo-boffetada.html].
______. “O parasita da terra” [http://b-braga.blogspot.com.br/2012/10/o-parasita-da-terra.html].
______. “Francisco” [http://b-braga.blogspot.com.br/2013/03/francisco.html].
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