Brian Norris.
Publicado
no Periódico “Religion in Communist Lands”, Keston Institute, 1979, Vol. 7/3,
pp. 178-179.
Tradução.
Bruno Braga.
No
ano passado eu participei da V Assembleia do “Christian Peace Conference”
(CPC), realizada em Praga [1], como representante britânico. Assentei-me na
condição de membro licenciado do comitê de elaboração, que ajudou a preparar
muitos folhetos de propaganda publicados pela Assembleia. Nós nos acomodamos em
uma sala dos fundos do Hotel Pariz, e um amontoado de policiais do tipo-Kremlin
estava costurado junto a palavras de piedade e uma borrifação de trechos de
textos bíblicos.
Que
o CPC é um movimento pró-comunista, a mim parece ser autoevidente. Não há
necessidade de revisar todos os relatórios, declarações, análises e sermões
emanados da sede de Praga para reconhecer a postura Marxista do CPC. Claro, o
Marxismo teórico, em particular o materialismo dialético, não é advogado pelo
CPC. Antes, o “anticomunismo” é atacado, as indefinidas “forças democráticas e
amantes da paz” são aplaudidas, e os governos da União Soviética e de seus
aliados são tratados invariavelmente com respeito e admiração.
O
defensor ocidental do CPC, prevenido de que não é politicamente ingênuo, pode
dizer: “Bom, claro, nós sabemos que eles estão limitados, mas muito trabalho
cristão genuíno está sendo feito sob a superfície...”. Este tipo de contestação
não conserva o peso que uma vez poderia ter tido. Desde 1968, o criador – com
as precárias possibilidades do CPC – deu lugar a uma uniformidade não inspirada
de subserviência às políticas soviéticas. A menos que alguém queira interpretar
o Cristianismo de maneira completamente politizada e mundana, é absolutamente
difícil discernir qualquer perspectiva religiosa real.
A
palavra “paz” – do modo como é utilizada pelo CPC – não pode ser tomada pelo seu
valor nominal. Assim como “democracia” e “liberdade”, ela adquire
características especiais no contexto do Leste Europeu. Qualquer pessoa que
duvide, ou que não compreenda, o sentido em que a palavra “paz” é utilizada no
vocabulário Marxista não será capaz de entender a estratégia oculta do CPC. A
paz que é advogada (com exceção de referências generalizadas ocasionais à paz
na Terra) se refere a países e situações fora do bloco soviético e a outras
partes “progressistas” do mundo. Assim, Rodésia e África do Sul, mas não Uganda
e Moçambique, figuram na lista do CPC de “berços de crises”. Há uma luta por
paz em Porto Rico e na Coréia do Sul, mas não na Estônia ou Látvia; governos
“imperialistas” são uma ameaça à paz, mas nunca, sob qualquer circunstância, o
governo soviético.
Os
problemas de paz identificados pelo CPC permanecem distantes das fronteiras dos
Estados do Leste Europeu. Este tipo forçado de esquizofrenia é completamente
compreensível, mas a negação pública dela, a ficção de que tudo está bem com os
cristãos (para não falar de outros) nos países socialistas, estão na raiz da
fraude. Um jovem pastor da Brethren tcheca, que entrou em conflito com as
autoridades do Estado por causa de suas críticas ao CPC (ele perdeu sua licença
e agora alimenta uma fornalha), escreveu recentemente ao Dr. Toth, então
secretário-geral do CPC:
“Eu
o reprovo por causa de uma coisa: você diz “paz, paz” onde não há paz. Você
alega que aqui não há interesse, que você vai a qualquer lugar denunciar a
discriminação. Diante das vítimas concretas de despotismo você foge do nosso
tempo e lugar para países exóticos, em um mundo diferente, tão distante quanto
o Terceiro Mundo. E quando tem que falar sobre questões domésticas... você tem
para os irmãos que anseiam por justiça e clamam pela liberdade humana somente
condenação – nós estamos caluniando nossa terra e fomentando a Guerra Fria.
Como alguém pode acreditar que se importa com pessoas tão distantes (às
quais, por exemplo, prontamente oferece a Revolução) se foge das
pessoas próximas a você? (Ver, RCL Vol. 06, N. 03, p. 173).
Conferências
de verdade devem ser lugares onde as pessoas falam, discutem matérias em uma
atmosfera aberta e chegam a conclusões livremente acordadas. As reuniões do
CPC, no entanto, são desenvolvidas em direção a objetivos determinados,
previamente conhecidos; são questões cuidadosamente orquestradas, e há pouca
oportunidade para se desviar do ponto. Em Praga somente uma voz exaltada se
levantou – a de um observador britânico. Por poucos segundos o sistema de som
amplificou esta única perturbação nos cinco dias de Assembleia.
Muitos
representantes e observadores ocidentais e do Terceiro Mundo ficam impressionados
com a generosa hospitalidade oferecida pelo CPC nas capitais do Leste Europeu.
Imediatamente após a V Assembleia, muitos deles viajaram a Moscou e
permaneceram durante uma semana em um dos melhores hotéis, com todas as
despesas pagas. Pelo menos um deles sentiu-se envergonhado quando percebeu que
o Fundo de Paz imposto pelo Estado, recolhido nas igrejas soviéticas, estava
sendo utilizado para pagar a festança. Então ele se lembrou das palavras de um
padre húngaro em Praga: “você está sendo usado”.
Notas.
[1].
A V Assembleia do “Christian Peace Conference” aconteceu no ano de 1978.
I. Apenso.
Bruno Braga.
Ion
Mihai Pacepa – ex-agente do serviço secreto da Romênia comunista – esteve
envolvido diretamente com a criação do “Christian Peace Conference” (CPC) e da Teologia
da Libertação. Dois engodos criados pela KGB para instrumentalizar a religião,
colocando-a, de maneira maquiada, a serviço do movimento revolucionário:
“Lançar
uma nova religião foi um evento histórico, e a KGB tinha se preparado
cuidadosamente para isso. Naquele momento a KGB estava construindo uma nova
organização religiosa internacional em Praga, chamada “Christian Peace
Conference” (CPC), cujo objetivo seria espalhar a Teologia da Libertação pela
América Latina” [1].
O
CPC foi falsamente apresentado ao mundo como uma organização ecumênica global comprometida
com os problemas da paz. Porém, na realidade, ele era um braço da KGB para
desacreditar o Vaticano – e também os Estados Unidos, como apoiador político –
pelo mundo cristão [2].
O “Christian
Peace Conference” mantinha um site na internet. Contudo, no ano 2000, os
responsáveis anunciaram o fim da instituição enquanto organização internacional
sediada em Praga. O motivo alegado para o término das atividades foi
“insolvência do departamento econômico”. De qualquer maneira, ainda é possível
acessar alguns artigos e textos publicados pelo CPC. Apesar de não haver um
documento que determine o grau de comprometimento dos autores com os propósitos
da organização, é inegável que, na mais branda das hipóteses, eles foram, de
alguma forma, úteis para os seus objetivos. Entre os brasileiros estão Marcos
Arruda, Pedro Casaldáliga e Leonardo Boff.
Leonardo
Boff e o Christian Peace Conference (os destaques em vermelho nas fotos são
meus).
Em 1988
o CPC publicou uma edição de “Fidel y la Religión, Conversaciones com Frei
Betto” (foto abaixo) [3]. É preciso lembrar que, de acordo com Pacepa, Cuba foi
a “arma secreta”, o “trampolim” utilizado para disseminar a religião concebida
pela KGB – a Teologia da Libertação – pela América Latina [4].
Os
destaques em vermelho são meus.
Notas.
[1].
PACEPA, Ion Mihai. “A Cruzada religiosa do Kremlin”. Front Page Magazine, 2009.
Trad. Bruno Braga. [http://b-braga.blogspot.com.br/2013/04/a-cruzada-religiosa-do-kremlin.html].
[2].
PACEPA, Ion Mihai. “Disinformation”:
former spy chief reveals secret strategies for undermining freedom, attacking
religion, and promoting terrorism. WND Books: Washington, DC, 2013. Cf. Cap.
16, “Khrushchev’s War in the Vatican”.
[3].
BRAGA, Bruno. “A promoção efetiva da Teologia ‘Socialista-Comunista’ da
Libertação” [http://b-braga.blogspot.com.br/2013/05/a-promocao-efetiva-da-teologia.html].
[4].
Cf. [1].
II. Artigos recomendados.
PACEPA,
Ion Mihai. “A Cruzada religiosa do Kremlin”. Front Page Magazine, 2009. Trad.
Bruno Braga. [http://b-braga.blogspot.com.br/2013/04/a-cruzada-religiosa-do-kremlin.html].
BRAGA,
Bruno. “Christian Peace Conference, a disseminação da Teologia
‘Socialista-Comunista’ da Libertação” [http://b-braga.blogspot.com.br/2013/07/christian-peace-conference-disseminacao.html].
______.
“A promoção efetiva da Teologia ‘Socialista-Comunista’ da Libertação” [http://b-braga.blogspot.com.br/2013/05/a-promocao-efetiva-da-teologia.html].
______.
“Notas sobre a Teologia da Libertação” [http://b-braga.blogspot.com.br/2013/05/notas-sobre-teologia-da-libertacao.html].
______.
“Não, a guerra não acabou” [http://b-braga.blogspot.com.br/2013/07/nao-guerra-nao-acabou.html].
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