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Friday, November 02, 2012

Para não ser mais um.




Bruno Braga.


O “Manual do perfeito idiota latino-americano” poderia muito bem integrar o material didático destinado a estudantes e universitários. Não, o propósito de adotá-lo não é transformar o jovem em um “perfeito idiota”; pelo contrário, o objetivo é evitar que ele seja mais um.

Apesar de descrever o “perfeito idiota latino americano”, o efeito produzido pelo “Manual” é justamente o oposto do que indica o seu título. Plinio Apuleyo Mendoza, Carlos Alberto Montaner e Alvaro Vargas Llosa – os autores dele – pretendem livrar o latino-americano da “idiotice”. Este mal pode ser diagnosticado com o reconhecimento de alguns sintomas: a “falsa causalidade” – por exemplo, afirmar que o subdesenvolvimento dos países pobres é o produto histórico do enriquecimento de outros; e a “falsa identificação do inimigo” – denunciar fantasmas como o “Capitalismo”, o “Liberalismo” (ou “Neoliberalismo”), o “Sistema”, os “Ianques”, etc.

Para expurgar este peculiar destrambelhamento, ou amenizar os seus sintomas, o “Manual” aponta algumas de suas raízes na história, na cultura, na economia, e até mesmo na psicologia. Neste último caso, sugere a hipótese de uma mistura doentia de admiração e rancor que engendra a inveja.

Nestes termos, a “idiotice latino-americana” aparece como um produto “cultural”, ou um “estado mental”. Algo que pode ser remediado. Um destes tratamentos é a contestação dos estereótipos e esquemas febrilmente sustentados pelo “idiota”. O “antiianquismo”, por exemplo - a regra de ouro da idiotologia política latino-americana é: “Todo idiota latino-americano tem de ser antiianque ou – do contrário – será classificado como falso idiota ou um idiota imperfeito” (p. 219). Também a “mitologia revolucionária” de Cuba. Frei Betto é um de seus arautos: “Em nossos países se nasce para morrer, em Cuba, não!” – cantá-la com milhares de fuzilamentos é sintoma da “perfeita idiotice” ou da má-fé abjeta. A propósito, os Padres e Teólogos revolucionários não são apenas “idiotas”, mas blasfemos, pois assaltaram a Igreja Católica com o Marxismo para celebrar a “Teologia da Libertação”. E “Manual” contesta ainda a bíblia – porém, é a “bíblia do idiota”, o livro de Eduardo Galeano, “As veias abertas da América Latina”.

Mario Vargas Llosa fornece uma descrição precisa do protagonista do “Manual”:

Acredita que somos pobres porque “eles” são ricos e vice-versa, que a história é uma bem sucedida conspiração dos maus contra os bons, onde “aqueles” sempre ganham e nós sempre perdemos (em todos os casos está entre as pobres vítimas e os bons perdedores), não se constrange em navegar no espaço cibernético, sentir-se “online” e (sem perceber a contradição) abominar o consumismo. Quando fala de cultura, ergue a seguinte bandeira: “O que sei, aprendi na vida, não em livros; por isso, a minha cultura não é livresca, mas vital”. Quem é ele? É o idiota latino-americano. (p. 15).         

Acontece que, grande parte dos “Intelectuais”, educadores, pedagogos, professores, os que redigem as cartilhas e apostilas, que definem as diretrizes do sistema educacional, apresenta estes traços e características. Por isso é tão difícil livrar a jovens estudantes e universitários da “idiotice” – por isso o “Manual” não é item de sua bibliografia.  


Referência.

MENDOZA, Plínio Apuleyo. MONTANER, Carlos Alberto. VARGAS LLOSA, Alvaro. Manual do perfeito idiota latino americano. Apresentação Mario Vargas Llosa; prefácio Roberto Campos; tradução Rosemary Moraes e Reinaldo Guarany. 9a. ed. Bertrand Brasil: Rio de Janeiro, 2011.

4 comments:

G. Salgueiro said...

Excelente!
Agora, o que tem esse livro de bom, apesar de eu só gostar de Plinio Apuleyo, tem o segundo - "O retorno do..." - de ruim.
Vou sugerir de novo para o Mídia Sem Máscara, você permite?
Abração!
MG

Bruno Braga. said...

Oi, Graça!

Agradeço a congratulação.

Sobre sugerir o artigo para o “Mídia Sem Máscara”, você nem precisa da minha “permissão”.

E a respeito do livro “O retorno do Idiota”, li apenas uma resenha. Mas ele está na minha Bibliografia, no meu esforço “para não ser mais um” – para utilizar o título do artigo.

Um abração,
Bruno Braga.
http://dershatten.blogspot.com

Belo Horizonte, 03 de Novembro de 2012.

Ale Costa said...

Feliz em descobrir o seu blog. Estarei sempre por aqui.
Vou colocar um link no Ordem Natural.
Abraços,
Ale.
http://ordem-natural.blogspot.com

Bruno Braga. said...

Oi, Ale.

Agradeço pelas palavras. Apareça sempre, sim, e fique à vontade para fazer suas considerações.

Obrigado também pelo apoio. Li algumas matérias do seu blog, que tem um conteúdo muito bom.

Grande abraço.
Bruno Braga.

Belo Horizonte, 04 de Novembro de 2012.