Bruno Braga.
Vídeo
– em Português - da última Audiência geral do Papa Bento XVI, realizada na
Praça São Pedro, 27 de Fevereiro de 2013. Depois dele o texto lido pelo Sumo
Pontífice, do qual destaco, antes, alguns trechos:
“Amar
a Igreja significa também ter a coragem de fazer escolhas difíceis, dolorosas,
tendo sempre diante dos olhos o bem da Igreja e não a nós mesmos”.
[...]
“Papa
nunca está sozinho, pude experimentá-lo agora mais uma vez e duma maneira tão
grande que toca o coração”.
[...]
“O
que é a Igreja: não uma organização, uma associação para fins religiosos ou
humanitários, mas um corpo vivo, uma comunhão de irmãos e irmãs no Corpo de
Jesus Cristo, que nos une a todos. Poder experimentar a Igreja deste modo e quase
tocar com as mãos a força da sua verdade e do seu amor é motivo de alegria, num
tempo em que muitos falam do seu declínio. Mas vejamos como a Igreja está viva
hoje!”
[...]
“Não
abandono a cruz, mas permaneço de forma nova junto do Senhor Crucificado”.
PAPA
BENTO XVI
AUDIÊNCIA
GERAL
Praça
de São Pedro
Quarta-feira, 27 de Fevereiro de 2013
Quarta-feira, 27 de Fevereiro de 2013
Venerados Irmãos no Episcopado e no Presbiterado!
Ilustres Autoridades!
Amados irmãos e irmãs!
Ilustres Autoridades!
Amados irmãos e irmãs!
Agradeço-vos por terdes
vindo em tão grande número a esta minha última Audiência Geral.
De coração, obrigado!
Sinto-me verdadeiramente comovido e vejo a Igreja viva! E acho que devemos
dizer obrigado também ao Criador pelo bom tempo que nos dá agora, ainda no
Inverno.
Como fez o Apóstolo Paulo
no texto bíblico que ouvimos, também eu sinto em meu coração que devo sobretudo
agradecer a Deus, que guia e faz crescer a Igreja, que semeia a sua Palavra e assim
alimenta a fé no seu Povo. Neste momento, alarga-se o horizonte do meu espírito
e abraça toda a Igreja espalhada pelo mundo; e dou graças a Deus pelas
«notícias» que pude receber, nestes anos de ministério petrino, acerca da fé no
Senhor Jesus Cristo, da caridade que circula realmente no Corpo da Igreja e o
faz viver no amor, e da esperança que nos abre e orienta para a vida em
plenitude, para a pátria do Céu.
Sinto que tenho a todos
comigo na oração, num presente que é o de Deus, onde reúno cada encontro, cada
viagem, cada visita pastoral. Reúno tudo e todos na oração, para os confiar ao
Senhor, pedindo-Lhe que tenhamos pleno conhecimento da sua vontade, com toda a
sabedoria e inteligência espiritual, e possamos comportar-nos de maneira digna
d’Ele, do seu amor, dando frutos em toda a boa obra (cf. Col 1, 9-10).
Neste momento, reina em
mim uma grande confiança, porque sei, sabemos todos nós, que a Palavra de
verdade do Evangelho é a força da Igreja, é a sua vida. O Evangelho purifica e
renova, dá frutos por todo o lado onde a comunidade dos fiéis o escuta e acolhe
a graça de Deus na verdade e na caridade. Esta é a minha confiança, esta é a
minha alegria.
Quando, no dia 19 de Abril de quase oito anos atrás,
aceitei assumir o ministério petrino, uma certeza firme se apoderou de mim e
sempre me acompanhou: esta certeza de que a Igreja vive da Palavra de Deus.
Naquele momento, como já disse várias vezes, as palavras que ressoaram no meu
coração foram: Senhor, porque me pedis isto…, uma coisa imensa!? Este é um
grande peso que me colocais sobre os ombros, mas se Vós mo pedis, à vossa
palavra lançarei as redes, seguro de que me guiareis, mesmo com todas as minhas
fraquezas. E, oito anos depois, posso dizer que o Senhor me guiou
verdadeiramente, permaneceu junto de mim, pude diariamente notar a sua
presença. Foi um pedaço de caminho da Igreja que teve momentos de alegria e
luz, mas também momentos não fáceis; senti-me como São Pedro com os Apóstolos
na barca no lago da Galileia: o Senhor deu-nos muitos dias de sol e brisa
suave, dias em que a pesca foi abundante; mas houve também momentos em que as
águas estavam agitadas e o vento contrário – como, aliás, em toda a história da
Igreja – e o Senhor parecia dormir. Contudo sempre soube que, naquela barca,
está o Senhor; e sempre soube que a barca da Igreja não é minha, não é nossa,
mas é d’Ele. E o Senhor não a deixa afundar; é Ele que a conduz, certamente
também por meio dos homens que escolheu, porque assim quis. Esta foi e é uma
certeza que nada pode ofuscar. E é por isso que, hoje, o meu coração transborda
de gratidão a Deus, porque nunca deixou faltar a toda a Igreja e também a mim a
sua consolação, a sua luz, o seu amor.
Estamos no Ano da Fé, que desejei precisamente
para reforçar a nossa fé em Deus, num contexto que parece colocá-Lo cada vez
mais de lado. Queria convidar todos a renovarem a confiança firme no Senhor, a
entregarem-se como crianças nos braços de Deus, seguros de que aqueles braços
nos sustentam sempre e nos permitem caminhar todos os dias, mesmo no cansaço.
Queria que cada um se sentisse amado por aquele Deus que entregou o seu Filho
por nós e nos mostrou o seu amor sem limites. Queria que cada um sentisse a
alegria de ser cristão. Numa bela oração, que se recita diariamente pela manhã,
diz-se: «Eu Vos adoro, meu Deus, e Vos amo com todo o coração. Agradeço-Vos por
me terdes criado, feito cristão...». Sim! Estamos contentes pelo dom da fé; é o
bem mais precioso, que ninguém nos pode tirar! Agradeçamos ao Senhor por isso
mesmo todos os dias, com a oração e com uma vida cristã coerente. Deus nos ama,
mas espera que também nós O amemos!
Mas não é só a Deus que
quero agradecer neste momento. Um Papa não está sozinho na condução da barca de
Pedro, embora recaia sobre ele a primeira responsabilidade. Eu nunca me senti
sozinho, ao carregar as alegrias e o peso do ministério petrino; o Senhor
colocou junto de mim tantas pessoas que, com generosidade e amor a Deus e à
Igreja, me ajudaram e estiveram ao meu lado. E em primeiro lugar vós, amados
Irmãos Cardeais: a vossa sabedoria, os vossos conselhos, a vossa amizade foram
preciosos para mim; os meus Colaboradores, a começar pelo meu Secretário de
Estado que me acompanhou fielmente ao longo destes anos; a Secretaria de Estado
e a Cúria Romana inteira, bem como todos aqueles que, nos mais variados
sectores, prestam o seu serviço à Santa Sé: são muitos rostos que não
sobressaem, permanecem na sombra, mas precisamente no silêncio, na dedicação quotidiana,
com espírito de fé e humildade, foram para mim um apoio seguro e fiável. Um
pensamento especial para a Igreja de Roma, a minha diocese! Não posso esquecer
os Irmãos no Episcopado e no Presbiterado, as pessoas consagradas e todo o Povo
de Deus: nas visitas pastorais, nos encontros, nas audiências, nas viagens,
sempre senti grande solicitude e profundo afecto; mas também eu amei a todos e
cada um sem distinção, com aquela caridade pastoral que é o coração de cada
Pastor, sobretudo do Bispo de Roma, do Sucessor do Apóstolo Pedro. Todos os
dias tinha presente cada um de vós na oração, com o coração de pai.
Depois, queria que a minha
saudação e o meu agradecimento chegassem a todos: o coração de um Papa abraça o
mundo inteiro. E queria expressar a minha gratidão ao Corpo Diplomático junto
da Santa Sé, tornando presente a grande família das nações. Aqui penso também a
todos aqueles que trabalham por uma boa comunicação, e agradeço-lhes o seu
serviço importante.
Neste
momento, queria agradecer verdadeiramente do coração também às inúmeras
pessoas, de todo o mundo, que nas últimas semanas me enviaram comoventes sinais
de atenção, amizade e oração. Sim! O Papa nunca está sozinho, pude
experimentá-lo agora mais uma vez e duma maneira tão grande que toca o coração.
O Papa pertence a todos, e muitíssimas pessoas se sentem estreitamente unidas a
ele. É verdade que recebo cartas dos grandes do mundo – dos Chefes de Estado,
dos líderes religiosos, dos representantes do mundo da cultura, etc. –, mas
recebo também muitíssimas cartas de pessoas simples que me escrevem
simplesmente com o seu coração e me fazem sentir o seu afecto, que brota do
facto de estarmos unidos com Jesus Cristo, na Igreja. Estas pessoas não me
escrevem como se faz, por exemplo, a um príncipe ou a um grande que não se
conhece; mas escrevem-me como irmãos e irmãs ou como filhos e filhas, com o
sentido de um vínculo familiar muito afectuoso. Aqui pode-se tocar com a mão o
que é a Igreja: não uma organização, uma associação para fins religiosos ou humanitários,
mas um corpo vivo, uma comunhão de irmãos e irmãs no Corpo de Jesus Cristo, que
nos une a todos. Poder experimentar a Igreja deste modo e quase tocar com as
mãos a força da sua verdade e do seu amor é motivo de alegria, num tempo em que
muitos falam do seu declínio. Mas vejamos como a Igreja está viva hoje!
Nestes últimos meses,
senti que as minhas forças tinham diminuído, e pedi a Deus com insistência, na
oração, que me iluminasse com a sua luz para me fazer tomar a decisão mais
justa, não para o meu bem, mas para o bem da Igreja. Dei este passo com plena
consciência da sua gravidade e também novidade, mas com uma profunda serenidade
de espírito. Amar a Igreja significa também ter a coragem de fazer escolhas
difíceis, dolorosas, tendo sempre diante dos olhos o bem da Igreja e não a nós
mesmos.
Permiti-me, aqui, voltar
mais uma vez àquele 19 de Abril de 2005. A
gravidade da decisão esteve precisamente no facto de que, daquele momento em
diante, me comprometera sempre e para sempre com o Senhor. Sempre: quem assume
o ministério petrino deixa de ter qualquer vida privada. Pertence sempre e
totalmente a todos, a toda a Igreja. A sua vida fica, por assim dizer, totalmente
despojada da dimensão privada. Pude experimentar, e estou a experimentá-lo
precisamente agora, que um recebe a vida precisamente quando a dá. Eu disse,
antes, que muitas pessoas que amam o Senhor, amam também o Sucessor de São
Pedro e estão-lhe afeiçoadas; que o Papa tem verdadeiramente irmãos e irmãs,
filhos e filhas em todo o mundo, e que se sente seguro no abraço da vossa
comunhão; é assim, porque deixou de se pertencer a si mesmo, pertence a todos e
todos pertencem a ele.
Mas o «sempre» é também um
«para sempre»: não haverá mais um regresso à vida privada. E a minha decisão de
renunciar ao exercício activo do ministério não revoga isto; não volto à vida
privada, a uma vida de viagens, encontros, recepções, conferências, etc. Não
abandono a cruz, mas permaneço de forma nova junto do Senhor Crucificado. Deixo
de trazer a potestade do ofício em prol do governo da Igreja, mas no serviço da
oração permaneço, por assim dizer, no recinto de São Pedro. Nisto, ser-me-á de
grande exemplo São Bento, cujo nome adoptei como Papa. Ele mostrou-nos o
caminho para uma vida, que, activa ou passiva, está votada totalmente à obra de
Deus.
Agradeço a todos e cada um
ainda pelo respeito e compreensão com que acolhestes esta decisão tão
importante. Continuarei a acompanhar o caminho da Igreja, através da oração e
da reflexão, com aquela dedicação ao Senhor e à sua Esposa que procurei
diariamente viver até agora, e quero viver sempre. Peço que me recordeis diante
de Deus, e sobretudo que rezeis pelos Cardeais, chamados a uma tarefa tão
relevante, e pelo novo Sucessor do Apóstolo Pedro. Que o Senhor o acompanhe com
a luz e a força do seu Espírito!
Invocamos a materna
intercessão da Virgem Maria, Mãe de Deus e da Igreja, pedindo-Lhe que acompanhe
cada um de nós e toda a comunidade eclesial; a Ela nos entregamos, com profunda
confiança.
Queridos amigos! Deus guia
a sua Igreja; sempre a sustenta mesmo e sobretudo nos momentos difíceis. Nunca
percamos esta visão de fé, que é a única visão verdadeira do caminho da Igreja
e do mundo. No nosso coração, no coração de cada um de vós, habite sempre a
jubilosa certeza de que o Senhor está ao nosso lado, não nos abandona, está
perto de nós e nos envolve com o seu amor. Obrigado!
Fonte.
Vaticano [http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/audiences/2013/documents/hf_ben-xvi_aud_20130227_po.html].
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