Bruno Braga.
“A
história da revolta, no mundo ocidental, é inseparável da história do
Cristianismo”, Albert Camus [1].
A
renúncia do Papa Bento XVI e o processo de sucessão do Sumo Pontífice tornaram-se
uma funesta oportunidade para potencializar um sentimento que, disseminado na
cultura moderna, alimenta a autodivinização do homem: a “revolta” – que do
plano do indivíduo adquire expressão na atividade política e social.
Uma
“revolta” – observa Camus - só se faz contra alguém. Em um mundo tão cheio de
tensões, repleto de obstáculos à vontade insaciável do homem, a noção do deus
pessoal, criador e, consequentemente, responsável por todas as coisas, fornece
um sentido ao protesto humano [2]. Então, com manifestações e motins, o “homem
revoltado” reivindica para si – e para os seus – um poder demiúrgico para criar
e erguer o reino da sua vontade - fundado sobre a pedra da matéria e proclamado
em nome da “Ciência”. Uma autodivinização que atingiu a dimensão catastrófica
com o Nazismo e a escala, não do “genocídio”, mas do “democídio”, com o ainda
ativo – e expressivo - Socialismo-Comunismo [3].
O
Cristianismo – a religião do deus pessoal e criador – faz o indivíduo erguer a
cabeça e o olhar para alto - sem abandonar este mundo, ao qual deve consagrar a
própria vida para merecer o outro. Para o revoltado – ou para o revolucionário
– esta é uma “blasfêmia” intolerável. O cristão deve ser submetido – dobrar o
pescoço e olhar para baixo como o animal -, sujeitar-se à elite governante e
iluminada, que anuncia à massa de ignaros o “novo mundo”. Os regimes da autoglorificação
colocaram o cristão diante de uma escolha: renunciar a fé ou morrer – e muitos
tombaram gritando “Viva Cristo Rei!”. Políticos e ativistas modernos - e seus
entusiastas - pretendem recolhê-lo dentro do templo, onde deve permanecer
calado sobre a civilização da qual a sua fé é um dos pilares, ou reduzir a sua
crença a uma, entre inúmeras outras, formas de satisfação e contentamento, um mecanismo
de realização dos desejos mundanos.
Não
há dúvida de que a Igreja Católica é a maior expressão do Cristianismo. O Papa é
a pessoa que a representa e dá a ela unidade. Em uma cultura da rebeldia e da
revolta, eles são acusados como os responsáveis pelos males do mundo. Enfrentam
protestos e manifestações. São achincalhados e ridicularizados. Não há um só
grupo entre os “paladinos dos novos tempos” que não os denuncie de obstar o
“progresso da humanidade”. O feminismo, a militância gayzista, os abortistas, o
secularismo, organizações sociais e partidos políticos revolucionários, o ecologismo
– todos berram, esgoelam contra a Igreja Católica e contra o Papa,
frequentemente acusando-os de algo que não fizeram ou que não pregaram.
A
renúncia e a sucessão de Bento XVI potencializaram o sentimento de “revolta” daqueles
que - não apenas se organizam em grupos políticos e sociais, também de
jornalistas, “intelectuais”, formadores de opinião, “teólogos progressistas”, e
até do cidadão que acredita ser ele um autêntico “agente de transformação” – estão
ansiosos para verem a “modernização” da Igreja Católica e a escolha de um Papa
adequado ao “mundo moderno”. É marca do “homem revoltado”, que pretende
transformá-los em instrumentos para a realização de seus caprichos e vontades,
quando não de seus ambiciosos projetos de poder – é o surto da autodivinização
contra o qual Bento XVI bravamente se opôs:
“Falar
para encontrar aplausos, falar orientando-se segundo o que os homens querem
ouvir, falar em obediência à ditadura das opiniões comuns, é considerado uma
espécie de prostituição da palavra e da alma. A ‘castidade’ à qual o apóstolo
Pedro faz alusão não é submeter-se a estes protótipos, não é procurar aplausos,
mas procurar a obediência à verdade” [4].
Notas.
[1].
CAMUS, Albert. “O homem revoltado”. Editora Record: Rio de Janeiro, 2003. p.
45.
[2].
Idem.
[3].
Cf. R. J. Rummel.
[4].
Homilia do Papa Bento XVI na Concelebração Eucarística com os membros da
Comissão Teológica Internacional, 6 de Outubro de 2006 [http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/homilies/2006/documents/hf_ben-xvi_hom_20061006_commissione-teologica_po.html].
Sugestão de leitura.
BRAGA,
Bruno. “O Sinal da Cruz” [http://b-braga.blogspot.com.br/2012/02/normal-0-21-false-false-false-pt-br-x_12.html].
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