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Tuesday, February 12, 2013

O Legado - Bento XVI.


Bruno Braga.



Na manhã de 11 de Fevereiro o Papa Bento XVI anunciou – em discurso ao Consistório de Cardeais – que estava renunciando ao Ministério do Bispo de Roma, Sucessor de São Pedro.

[...] “Depois de ter examinado repetidamente a minha consciência diante de Deus, cheguei à certeza de que as minhas forças, devido à idade avançada, já não são idóneas para exercer adequadamente o ministério petrino. Estou bem consciente de que este ministério, pela sua essência espiritual, deve ser cumprido não só com as obras e com as palavras, mas também e igualmente sofrendo e rezando. Todavia, no mundo de hoje, sujeito a rápidas mudanças e agitado por questões de grande relevância para a vida da fé, para governar a barca de São Pedro e anunciar o Evangelho, é necessário também o vigor quer do corpo quer do espírito; vigor este, que, nos últimos meses, foi diminuindo de tal modo em mim que tenho de reconhecer a minha incapacidade para administrar bem o ministério que me foi confiado. Por isso, bem consciente da gravidade deste acto, com plena liberdade, declaro que renuncio ao ministério do Bispo de Roma, Sucessor de São Pedro” [...]. [1].

Imediatamente surgiram inúmeras teses e teorias – profecias – sobre a renúncia de Bento XVI. Especulações sobre quem será o sucessor do Papa. Apostas nas quais jornalistas, apresentadores e palpiteiros exibem sem constrangimento um estreito horizonte mental - capaz de conceber a religião apenas como fazer parte de uma espécie de grupelho estudantil e supor a escolha do Sumo Pontífice como uma eleição de síndico de prédio -, colocando para o público a sua “desesperadora” preocupação: se o próximo Papa será, enfim, “brasileiro”.

Concentrei-me na questão sobre o “legado” de Bento XVI. Coloquei para mim o problema, não para avaliá-lo do ponto de vista da Igreja Católica, e nem sob a perspectiva da História. Optei por um domínio mais modesto, porém, dentro do qual eu poderia concebê-lo com um pouco mais de convicção: qual foi o legado de Bento XVI para mim? Da herança que até o momento eu descobri – ou que de alguma maneira eu recebi - destaco dois, sem o desprezo dos outros, bens inestimáveis.    

[...] “Busca de conhecimento e compreensão sempre pretende ser também uma aproximação da verdade. [...] Quanto a permanecer fiéis à própria identidade, seria demasiado pouco se o cristão, com a sua decisão a favor da própria identidade, interrompesse por assim dizer por vontade própria o caminho para a verdade. Então o seu ser cristão tornar-se-ia algo de arbitrário, uma escolha simplesmente factual. Nesse caso, evidentemente, ele não teria em conta que a religião tem a ver com a verdade. A propósito disto, eu diria que o cristão possui a grande confiança, mais ainda, a certeza basilar de poder tranquilamente fazer-se ao largo no vasto mar da verdade, sem dever temer pela sua identidade de cristão. Sem dúvida, não somos nós que possuímos a verdade, mas é ela que nos possui a nós” [2].           

Pronunciamento de uma honestidade escandalosa. Significativo, penso eu, mesmo para os que o leem e não guardam qualquer vínculo com a Igreja Católica.

Ocorreu-me, ainda, um patrimônio que, pessoalmente, computo ao Pontificado de Bento XVI. Apesar de ter sido publicado bem antes do seu Ministério – 1968 -, eu o li durante o seu exercício: o livro “Introdução ao Cristianismo” (Documento em PDF ao final do texto para que o interessado possa ler). Esta é uma leitura obrigatória para todos os que se aprontam a ridicularizar a Religião ou que têm o cacoete e a ânsia de criticar qualquer posição da Igreja Católica - estes, se colocarem diante de si o horizonte sugerido acima por Bento XVI – a Verdade -, enriqueceriam a compreensão que têm do Cristianismo, repetindo tantas e tantas vezes o que Santo Agostinho confessou: “A Igreja Católica não ensinava aquilo de que a acusava” (“Confissões”, p. 150).

Este é o testemunho de um “herdeiro” em particular, que considera o “legado” ainda incompleto. Efeitos que ainda não foram dimensionados, e tesouros superficialmente mapeados. Trata-se de um testamento em aberto, porque Joseph Ratzinger permanece vivo. Mas, daquilo que recebi, ouso dizer que Bento XVI, que renuncia o Ministério do Bispo de Roma, deixa, além da valiosa herança, uma enorme dívida para o seu sucessor: continuar aquilo que ele admiravelmente cultivou.    
     

Joseph Ratzinger. “Introdução ao Cristianismo”: Preleções sobre o Símbolo Apostólico. Editora Herder: São Paulo, 1970.



Notas.


[2]. Cf. Bento XVI, Discurso à Cúria Romana, 21 de Dezembro de 2012 [http://www.acidigital.com/noticia.php?id=24640].




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