Bruno Braga.
“Ernesto,
Zuleide, Luiz Carlos e Samuel eram crianças quando foram presas e banidas do
País pelo regime militar. Mais de 40 anos depois, eles contam como superaram os
abusos da ditadura”. Revista Brasileiros, Edição 68, Março 2013. p. 54 [http://www.revistabrasileiros.com.br/wp-content/virtual/revista-brasileiros/68/].
Reportagem sugerida por Alex Guedes dos Anjos.
Alex,
Apenas
algumas observações sobre a reportagem sugerida.
As
crianças foram detidas porque os seus pais – ou “pais fictícios”, no disfarce
de uma família constituída – as incluíram no surto de fazer do Brasil, através
da via armada, um país comunista. Em momento algum hesitaram em fazer crianças
e bebês de “escudo” em um conflito desencadeado por eles mesmos com os focos da
guerrilha, sobretudo no Vale do Ribeira. O próprio “Ernesto” foi utilizado para
dar segurança ao transporte do traidor e psicopata Lamarca, o bebê estava
dentro de um carro repleto de armamento (Cf. a reportagem). Que pai leva o seu
filho para uma guerra? Ou o cede para ser feito de escudo e proteção?
Uma
observação importante. As crianças não foram banidas, como destaca o início da
reportagem, por serem “inconvenientes”, “nocivas” ou “perigosas à segurança
nacional”. Elas embarcaram para a Argélia, em 1970, porque foram trocadas pelo
embaixador alemão, sequestrado pela VPR e ALN – este esclarecimento não é
sublinhado.
E
por último, sinto muito pela morte de Carlos Alexandre. Agora, é demais afirmar
que um bebê de dois anos tomou uma porrada na boca, foi lançado ao chão, e até
tomou choque porque os “gorilas” militares o consideraram “subversivo”. Até
para mentir é preciso ter um pouco de bom senso. A denúncia de que crianças foram
torturadas está sendo banalizada com o propósito de obter indenizações – e
romantizar a versão da história contada pelos revolucionários. Porém, a própria
justiça já julgou improcedente certos pedidos, como o que foi apresentado pelos
filhos do casal Teles.
É
isso, Alex.
Até
mais,
Bruno
Braga.
Barbacena,
12 de Abril de 2013.
2 comments:
Olá Bruno, o que me chamou a atenção na reportagem é o fato da República Federativa do Brasil classificar Ernesto Carlos Nascimento - que na época era uma criança - nos
arquivos do Departamento Estadual
de Ordem Política e Social (Deops), em São Paulo, como "SUBVERSIVO".
Que Estado é este que classifica uma criança desta forma? Esta é a minha questão. Em relação à "Verdade" histórica, esta pode ser sabida apenas por um Ser Onisciente, pois as versões de ambos os lados são sempre distorcidas e cada qual visa a manipulação de fatos a seu favor. Cada um puxa a sardinha para seu lado. Mas quanto a este não há dúvidas, uma criança foi fichada como "subversiva".
Alex,
Eu reformularia a sua “questão”. No caso de Ernesto Carlos - supondo a autenticidade do documento -, eu perguntaria, não “que Estado” – um ente abstrato -, mas “quem” foi o escrivão – a pessoa de carne e osso – que estranhamente registrou uma criança de dois anos como “subversiva”. Pergunto “quem” porque, a princípio, a classificação de Ernesto não parece ser uma determinação formal, já que outras crianças foram detidas com os seus pais e não foram fichadas como “subversivas”. Mas, ainda que Ernesto não fosse exceção, seria necessário fazer uma verificação para além da referência nominal e da ficha de papel. Ora, Alex, mesmo com a gravação “subversivo”, ninguém, ninguém se referiria – como não se referiu no caso dos filhos do casal Teles e dos de Damaris e Lucena - a uma criança de dois anos da mesma forma que a um guerrilheiro ou a um terrorista. Isto não é matéria de investigação histórica, é um elemento de autoevidência. Nenhum escrivão afirmaria a capacidade de uma criança para empunhar um fuzil ou armar uma bomba.
Portanto, apegar-se a uma classificação nominal que apresenta uma distorção autoevidente – independentemente da causa dela – é aceitar o propósito publicitário da revista, dos ativistas revolucionários e dos demais interessados.
A respeito da “Verdade histórica”, sim, existe a possibilidade de haver manipulação por parte de ambos os lados do conflito. No entanto, esta “manipulação” só pode ser verificada no caso particular – real e concreto. Uma investigação deste tipo – por definição – não tem relação com a “Verdade” de um “Ser onisciente” –, embora, para o pesquisador sério, o esforço é sempre o de manter a “Verdade” no seu horizonte. Apesar da impossibilidade se fazer “Consciência total” ou de se tornar um “Observador privilegiado”, isto não implica liberdade para construir uma “ficção” ou uma “história”. Porque o próprio caso particular – como no da reportagem – o denunciaria.
Até mais, Alex.
Bruno.
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