Bruno Braga.
Nicolás
Maduro, vice-presidente da Venezuela, anunciou: Hugo Chávez está morto. A
precisão em apontar a hora exata do falecimento - 16:25 [17:55, Brasília] –
contrasta com o esforço anterior, o de ocultar informações sobre o estado de
saúde da principal autoridade do país.
Desde
que revelou padecer de um câncer, a saúde física do ditador venezuelano
tornou-se um mistério. Nenhum boletim médico preciso foi divulgado. Pouco se
sabe a respeito do tratamento ao qual se submeteu na ilha dominada pelos irmãos
Castro. Surgiram as especulações, principalmente com a mudança radical da
aparência de Chávez. Quando partiu para Cuba – para a última intervenção
cirúrgica – o retorno tornou-se incerto. Com declarações oficiais
desencontradas, a suspeita sobre a sua morte ganhou força. Documentos públicos
eram dados como prova de que o revolucionário bolivariano permanecia vivo,
embora uma pessoa sedada, submetida à traqueostomia, por óbvio, não estivesse
em condição de elaborar sequer um lembrete para os funcionários – mas Chávez
até “twittou”. Era uma peça teatral montada, que forjava a recuperação e o retorno
do “Comandante-em-Chefe” de Cuba:
A
foto em que Chávez aparece ao lado das filhas após a última cirurgia em Cuba é
uma falsificação. É o que atestam Ibrah Chaffardet, especialista em ilustração
e animação digital, e Luis Perea, fotógrafo profissional com 30 anos de
experiência [1].
As
imagens utilizadas para anunciar o retorno de Hugo Chávez a Caracas - em
Fevereiro – são de 07 de Dezembro, data em que o Presidente também retornava de
Cuba.
A
imprensa abraçou as falsificações promovidas pelo governo venezuelano, e com a
morte de Hugo Chávez reproduziu outra. A Folha de São Paulo elaborou uma
reconstituição da trajetória política do “revolucionário bolivariano”. A publicação assinalou que no ano de
2002 o governo de Chávez foi vítima de uma tentativa
de golpe [2].
Esta
tese – a do “golpe” - foi disseminada, sobretudo, pelo documentário “A
Revolução não será televisionada” (“The Revolution Will Not Be Televised” ou
também “Chávez: Inside the Coup”). O filme foi amplamente divulgado, recebeu
prêmios internacionais - no Brasil foi exibido pela TV Câmara [3]. No entanto,
o documentário é uma peça publicitária promovida e patrocinada pelo próprio
Hugo Chávez – ele recorre a distorções, manipulação de imagens, para forjar, e
depois denunciar, a tal “tentativa de golpe” de 2002.
A
farsa é desmontada por outro documentário: “X-ray of a Lie” (“Radiografia de
una mentira”, 2004).
O
filme aponta as falsificações promovidas pelo documentário que narra o tal
“golpe” contra o governo de Chávez. Por exemplo, os chavistas que aparecem armados
na Ponte Llaguno atirando no vazio - o que comprovaria a inocência deles no
tumulto - disparavam contra um carro blindado da polícia, como revelam outras
imagens. Os tanques, que teriam sido utilizados por militares “golpistas”,
estavam, na verdade, a serviço de Chávez. A televisão estatal não foi tomada
nem invadida, como foi alardeado – ela foi abandonada voluntariamente; as
emissoras particulares de televisão, acusadas de participar do “golpe”, elas
sim foram atacadas por militantes do governo, e tiveram os seus sinais cortados.
O aglomerado de pessoas que aparece em torno do Palácio Miraflores –
considerado o sinal do apoio “popular” a Chávez - era composto por partidários
chavistas; e a multidão de quase um milhão de pessoas, que marchou pelas ruas
de Caracas, pedindo a renúncia do ditador venezuelano, simplesmente não aparece
no documentário que acusa o “golpe”. A “radiografia da mentira” termina com um
discurso de Chávez, uma espécie de “confissão”. O revolucionário bolivariano
assinala a necessidade de gerar “crises” para delas sair fortalecido. E esta
foi a estratégia adotada com a ficção do “golpe de 2002” – fortalecer um regime
que teria sido vítima de forças “golpistas”.
O
governo “revolucionário” de Cuba emitiu uma declaração sobre o falecimento de
Hugo Chávez [4]. Nela, Chávez é tido como um autêntico “cubano” – um “filho
verdadeiro” de Fidel Castro, que “acompanhou” o pai. Afirma que o
“Comandante-em-Chefe” não estava a serviço apenas da Venezuela, mas também da
“Pátria Grande”. E é verdade, Chávez tinha no horizonte a mesma pátria Socialista-Comunista
idealizada por Fidel Castro. E de seu “pai” adotivo seguiu as lições, não
apenas as de falsificação e engodo – também se associou ao banditismo e ao
narcoterrorismo. Sim, morreu o “revolucionário bolivariano”, mas os seus
aliados permanecem vivos e no poder, olhando para o mesmo horizonte – e utilizando
as mesmas estratégias e artifícios – todos empenhados na construção criminosa
da “Pátria Grande”.
Notas.
[1].
Cf. Para os esclarecimentos de Ibrah Chaffardet, acessar: [http://www.youtube.com/user/ibrahx?feature=watch].
E aqui as explicações de Luis Perea: [http://www.ntn24.com/videos/fotografo-profesional-asegura-79594].
[2].
Folha de São Paulo, 05 de Março de 2013 [http://www1.folha.uol.com.br/mundo/1204523-chavez-sofreu-tentativa-de-golpe-em-2002-veja-cronologia.shtml].
[3].
Entre os “Intelectuais”, Emir Sader é um dos propagandistas do filme. Cf. BRAGA,
Bruno. “Um destrambelhado nada ingênuo” [http://b-braga.blogspot.com.br/2012/04/um-destrambelhado-nada-ingenuo.html].
[4].
Granma, 06 de Março de 2013 [http://www.granma.cu/espanol/cuba/6-marzo-declaracion-gobierno.html].
No comments:
Post a Comment