Bruno Braga.
Uma
das estratégias da propaganda abortista é denunciar – de maneira dissimulada –
que o debate público sobre o tema está pautado na obscuridade da “fé”, e não nos
termos da “razão”. Com esta artimanha, os abortistas se autoproclamam os portadores
da “luz” e denunciam a religião – a judaico-cristã - como o tenebroso “inimigo”
das mulheres. A Igreja Católica – por sua representatividade - é acusada de ser
o “monstro opressor” que impede a “emancipação” do sexo feminino: ela “proíbe” a
mulher de “decidir sobre o seu próprio corpo” quando censura o aborto. Um mergulho
na História, porém, até o surgimento do Cristianismo, desfaz esta caricatura
construída para fins panfletários e expõe a face macabra do abortismo, que é maquiada
com “autonomia” e “liberdade”, com nobres princípios abstratos.
No
mundo greco-romano, o abandono de crianças indesejadas do sexo feminino – e de
crianças deficientes do sexo masculino – era permitido e moralmente aceito. O
infanticídio foi adotado por todas as classes sociais [1]. O mesmo acontecia
com o aborto, que foi a principal causa de morte entre as mulheres nessa época
[2].
“O
aborto não só impedia a ocorrência de muitos nascimentos, como também levava à
morte grande número de mulheres, antes que pudessem dar sua contribuição à
fertilidade. O resultado dessa prática era uma incidência significativa de
casos de infertilidade nas mulheres que sobreviviam aos abortos” [3].
Morte
ou infertilidade. Estes, os prováveis resultados da prática do aborto, que era
realizado com a aplicação de técnicas primárias: ingestão de doses pequenas de
veneno; introdução de substâncias tóxicas no útero; utilização de grampos,
ganchos e facas para dilacerar o feto, a criança.
As taxas
de aborto eram elevadas. Para o sociólogo Rodney Stark isto tem uma explicação.
Eram os homens, e não as mulheres, que na maior parte dos casos tomavam a
decisão de abortar. Nos termos da lei romana o chefe da família detinha o
“poder de vida ou de morte”, e podia determinar que a sua mulher abortasse [4].
Com
o Cristianismo houve uma mudança radical. Desde o seu surgimento ele proibiu categoricamente
o infanticídio e o aborto. “Não assassineis uma criança por meio do aborto nem
a mateis ao nascer” – ensinava o “Didaqué”, manual da Igreja Católica redigido provavelmente
no século I. No século II, Atenágoras escreveu para o Imperador Marco Aurélio:
“Dizemos
que as mulheres que usam drogas para provocar aborto cometem assassinato, e
terão de prestar conta a Deus pelo aborto [...], [pois] consideramos o próprio
feto no útero como um ser criado e, portanto, como objeto da solicitude de Deus
[...] e [não] abandonamos uma criança, porque aqueles que as abandonam podem
ser acusados de assassinos de crianças” [5].
Este
princípio da cultura cristã protegia a criança e resguardava a gestante, a
saúde e a vida da mulher, que não era exposta às assustadoras técnicas
abortivas da época.
A “modernização”
das “técnicas” não eliminou os riscos para a gestante. Pesquisas recentes
comprovam que o aborto aumenta a mortalidade materna e compromete a saúde das
mulheres [6]. Além disso, o aborto - ainda que bem sucedido – tem, por definição,
um resultado criminoso: a morte – o assassinato - de um ser humano.
Nestes
termos, o Cristianismo – e a Igreja Católica -, que a propaganda abortista
denuncia como o impiedoso “inimigo” das mulheres, surge na História como protetor
delas. E hoje, ao se opor ao aborto, reivindica o mesmo princípio inegociável
de valorização da vida para preservar, não só a mulher - a gestante -, mas também
a criança que ela carrega no útero. E o abortismo, que se autoproclama o
portador das “luzes da razão”, mostra a face macabra que esconde do público. Proclamando
princípios abstratos, ele coloca em risco a saúde e a vida da mulher, da qual afirma
ser o único e autêntico defensor. Em nome da “autonomia” e da “liberdade” ele reivindica
o “direito” de dilacerar fetos, que em sua maioria são, eles mesmos, mulheres.
Notas.
[1]. FOX 1987, GORMAN 1982, POMEROY 1975, RUSSELL 1958
– apud STARK 2006, p. 112.
[2].
Idem, p. 113.
[3].
Idem, p. 135.
[4].
Idem, p. 137.
[5]. Idem, p. 141.
[6]. BRAGA, Bruno. “Advertência para o Conselho de Medicina Abortista: aborto
aumenta a mortalidade materna e danifica a saúde das mulheres” [http://b-braga.blogspot.com.br/2013/03/advertencia-para-o-conselho-de-medicina.html].
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