Bruno Braga.
“Habemus
Papam!” Bastou o cardeal francês Jean Louis-Tauran anunciar o argentino Jorge
Mario Bergoglio como Sumo Pontífice para que, no instante seguinte, o Papa -
agora “Francisco” – fosse acusado de colaborar com o Regime Militar em seu
país.
Os
militares assumiram o poder na Argentina em 1976. Na ocasião, Bergoglio era
Prepósito Povincial da “Companhia de Jesus”, superior da ordem jesuíta. Os
detratores o acusam de – desta posição privilegiada – ser “conivente”, e até de
“colaborar”, com a prisão de dois sacerdotes, Franz Jalics e Orlando Yori.
Bergoglio
combateu a “politização” da “Companhia de Jesus”, em um esforço de protegê-la
da Teologia “Comunista” da Libertação. Ele pretendia que os sacerdotes se
dedicassem à vocação – ao trabalho em suas paróquias -, e não à revolução [1]. Este
posicionamento, contudo, não compromete Bergoglio com a política de Estado
vigente, e nem com os eventuais crimes cometidos por seus agentes.
Sobre
a acusação contra Bergoglio, Orlando Yori não pode mais dar o seu testemunho: ele
faleceu em 2000. No entanto, Jalics está vivo - em um mosteiro na Alemanha. Ele
divulgou uma nota na qual defende o Papa: “Anos depois tive a oportunidade de
conversar com o padre Bergoglio sobre o acontecido. Depois disso celebramos uma
missa juntos, em público, e nos abraçamos solenemente. Estou reconciliado com
os eventos e considero o assunto encerrado” [2].
A
respeito das denuncias de que Bergoglio era cúmplice do Regime Militar, o argentino
Adolfo Pérez Esquivel – Prêmio Nobel da Paz, em 1980 – desmente as acusações: “havia
bispos que eram cúmplices da ditadura, mas Bergoglio não” [...] [ele] “não
tinha vínculo com a ditadura” [3].
Graciela
Fernández Meijide, que foi integrante da Comissão Nacional sobre o Desaparecimento
de Pessoas (Conadep), criada pelo governo Raúl Alfonsín em 1983, asseverou que
o nome de Bergoglio jamais foi mencionado durante as investigações [4].
Nem
mesmo o jornalista Flávio Tavares – que através de atentados, sequestros e
assaltos pretendia fazer do Brasil um país Socialista-Comunista [5] – corrobora
as acusações feitas contra o Papa. Em 1998, Flávio Tavares conheceu o então
arcebisbo Bergoglio: “a humildade no ouvir e a fala mansa ocultavam o homem
corajoso e decidido, que protegera perseguidos da ditadura quando sacerdote nos
anos 1970”. O jornalista morou em Buenos Aires nos anos iniciais do Regime
Militar (1976-77): “Bergoglio, então reitor do seminário, ajudou dezenas de
perseguidos e salvou da morte dois sacerdotes tidos pelos militares como
‘subversivos’ pelos trabalhos de catequese operária” [6].
Alicia
Oliveira – advogada, que foi secretária de Direitos Humanos da “Cancilleria”
argentina durante o mandato de Néstor Kirchner – exime Bergoglio de qualquer
responsabilidade sobre a prisão dos sacerdotes jesuítas [7]. E sobre a atuação
do Provincial superior durante o governo militar, Alicia revela: “lembro-me
muito bem do caso de um jovem muito parecido com ele, a quem o novo Papa lhe
entregou o seu próprio documento de identidade para que pudesse fugir” [...]
“tenho plena convicção sobre a honestidade de Bergoglio, não posso dizer a
mesma coisa das pessoas que o acusam injustamente” [8].
De
fato, o principal acusador de Bergoglio é Horacio Verbitsky. Ele é um ex-integrante
do grupo revolucionário Comunista guerrilheiro-terrorista “Montoneros”. Verbitsky
promovia assaltos, atentados a bomba, sequestros – ele foi o responsável por enviar
$60 milhões de dólares para Cuba, uma fortuna obtida com o pagamento do resgate
de Juan e Jorge Born, em 1974.
Em
um depoimento judicial – em 2003 -, o Coronel Horacio Losito revelou as
atividades criminosas do grupo “Montoneros” e do próprio Verbitsky [9]:
Sobre
Verbitsky, Cf. (a) 07:31, atentados terroristas; (b) 09:19, sequestro dos
irmãos Born.
Verbitsky,
hoje, é apresentado como “jornalista”. No entanto, ele é um “agente político”
de Cristina Kirchner. Verbitsky é uma espécie de “ideólogo” – um “Intelectual”
- do Kirchnerismo. Exerce forte influência nas decisões do governo argentino, e
é conhecido como “Consejero” da Presidente – é “el hombre del crépusculo”, por
conta de suas reuniões com ela ao entardecer.
Quando
Bergoglio se tornou Papa – “Francisco” -, o mundo soube das relações tensas e
conflituosas entre ele e a Presidente da Argentina, Cristina Kirchner.
Bergoglio acusou o populismo do governo, mas o enfrentou, sobretudo, por causa
da aprovação da lei que instituiu o casamento gay, em 2010.
Um
Papa tem uma importância espiritual – religiosa, para os fiéis da Igreja
Católica. No entanto, ele também tem uma representatividade político-social. Sob
esta perspectiva, as acusações infundadas contra o Papa Francisco – conduzidas,
principalmente, por um agente do kirchnerismo – adquirem significado. Mas, não
apenas dentro de um contexto local, o da Argentina. Francisco é um Papa
latino-americano – e em um continente dominado pelos revolucionários
Socialistas-Comunistas, ele se torna uma ameaça para todos eles.
O
jornalista Kennedy Alencar – que tem trânsito dentro do PT, pois foi assessor
de imprensa de Lula – afirma que o “Palácio do Planalto respirou aliviado com a
escolha de um Papa argentino”. Porque, fosse escolhido Dom Odilo Scherer, o
“Governo Dilma” teria que enfrentar uma “voz forte e conservadora para opinar
sobre a política brasileira”. Nas eleições de 2010, “Dilma e o PT” tiveram
atritos com a Igreja Católica por causa do aborto. Portanto, conclui o
jornalista, “um Papa brasileiro seria fonte certa de conflito”.
Porém,
Cristina Kirchner defende praticamente as mesmas “bandeiras” que Dilma Rousseff.
Aliás, elas são aliadas, compõem o grupo que governa a América Latina. Por
isso, “Francisco” não é uma “preocupação” apenas para a Presidente da Argentina,
mas para todos os governos revolucionários Socialistas-Comunistas do Continente,
que têm uma “agenda” incompatível com os princípios do Papa, com os da Igreja Católica. As acusações – as denúncias rasteiras – contra Francisco
têm um propósito: proteger um ambicioso e funesto projeto de poder, que tem
dimensões continentais. Porque Bergoglio pode ter – para a América Latina – o
mesmo significado que Wojtyla para a Polônia e para o Leste Europeu [10].
Notas.
[2].
Clarin. Suplemento Especial, “El Papa del fin del mundo”, 17 de Março de 2013, p.
20 [http://contenidos2.clarin.com/edicion-electronica/20130317/index.html#/20/zoomed].
[3].
Clarin, “Pérez Esquivel: Bergoglio no tenia vínculo con la dictadura”, 14 de
Março de 2013 [http://www.clarin.com/mundo/Perez-Esquivel-Bergoglio-vinculo-dictadura_0_882511909.html].
[4].
O Globo, “Visões opostas sobre o papel na ditadura”, 15 de Março de 2013 [http://oglobo.globo.com/mundo/visoes-opostas-sobre-papel-na-ditadura-7846164].
[5].
BRAGA, Bruno. “Surto infausto” [http://b-braga.blogspot.com.br/2012/01/surto-infausto.html].
[6].
Flávio Tavares, “Abençoado seja! O abençoado”, 17 de Março de 2013 [http://wp.clicrbs.com.br/opiniaozh/2013/03/17/artigo-abencoado-seja-o-abencoado/?topo=13,1,1,,,13].
[7].
Clarin, “Cuando la dictadura me echó, él estuvo permanentemente conmigo”, 14 de
Março de 2013 [http://www.clarin.com/mundo/dictadura-echo-permanentemente-conmigo_0_882511915.html].
[8].
Cf. Nota [4].
[9].
O depoimento do Coronel Horacio Losito é um documento valioso. Não apenas para
esclarecer o contexto político e social da Argentina durante o Regime Militar. Ele
é um alerta para os militares brasileiros. O Coronel Losito foi processado e
condenado por “violação dos direitos humanos”. Ele foi julgado por um tribunal
“revisionista”, forjado para transformar a versão revolucionária na História
oficial de um país. Este é exatamente o propósito da “Comissão da Verdade” –
quer dizer, da mentira – no Brasil. Cf. BRAGA, Bruno. “Inspirando-se nos
‘hermanos’” [http://b-braga.blogspot.com.br/2012/04/inspirando-se-nos-hermanos.html].
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