Bruno Braga.
Recentemente,
frei Clodovis Boff concedeu uma entrevista à Folha de São Paulo [1]. Ao final
do texto eu reproduzo alguns trechos dela. Clodovis diverge do seu irmão mais
famoso, o guru da imprensa brasileira para assuntos religiosos, Leonardo Boff.
Ele assume a defesa de Bento XVI – agora Papa Emérito (ou “Bispo Emérito de
Roma”) – e critica a Teologia da Libertação, da qual foi um dos principais
teóricos e missionários.
Clodovis
tem a honestidade intelectual - que falta ao seu irmão – de reconhecer a
incompatibilidade da fé católica com a Teologia “Comunista” da Libertação, e a
sinceridade para apontar a teologia revolucionária como um instrumento ideológico
– de reivindicação de poder – disfarçado de “compromisso com os pobres”.
A
propósito, Leonardo Boff, o fiel apóstolo da Teologia da Libertação, se esforça
para esconder seus objetivos e interesses, mas sempre deixa o rabo de fora. O
teólogo comunista da revolução aproveitou a oportunidade aberta pela renúncia
de Bento XVI para participar de um movimento que pretende decidir como a
autoridade da Igreja Católica “poderia” e “DEVERIA” ser [http://www.churchauthority.org/]. Para
Leonardo Boff a autoridade da Igreja DEVERIA estar subordinada aos seus
interesses e às ambições e obsessões do seu grupo.
Mas,
seguem os trechos da entrevista do outro Boff, Clodovis, mais sensato e mais honesto.
***
Folha - Bento 16 foi o grande inimigo
da Teologia da Libertação?
Clodovis Boff - Isso é uma caricatura. Nos dois
documentos que publicou, Ratzinger defendeu o projeto essencial da Teologia da
Libertação: compromisso com os pobres como consequência da fé. Ao mesmo tempo,
critica a influência marxista. Aliás, é uma das coisas que eu também critico.
No documento de
1986, ele aponta a primazia da libertação espiritual, perene, sobre a
libertação social, que é histórica. As correntes hegemônicas da Teologia da
Libertação preferiram não entender essa distinção. Isso fez com que, muitas
vezes, a teologia degenerasse em ideologia.
E os processos
inquisitoriais contra alguns teólogos?
Ele exprimia a
essência da igreja, que não pode entrar em negociações quando se trata do
núcleo da fé. A igreja não é como a sociedade civil, onde as pessoas podem falar
o que bem entendem. Nós estamos vinculados a uma fé. Se alguém professa algo
diferente dessa fé, está se autoexcluindo da igreja.
Na prática, a
igreja não expulsa ninguém. Só declara que alguém se excluiu do corpo dos fiéis
porque começou a professar uma fé diferente.
Não há margem
para a caridade cristã?
O amor é lúcido, corrige quando julga necessário. [O jesuíta espanhol] Jon
Sobrino diz: "A teologia nasce do pobre". Roma simplesmente responde:
"Não, a fé nasce em Cristo e não pode nascer de outro jeito". Assino
embaixo.
Quando o sr. se
tornou crítico à Teologia da Libertação?
Desde o início,
sempre fui claro sobre a importância de colocar Cristo como o fundamento de
toda a teologia. No discurso hegemônico da Teologia da Libertação, no entanto,
eu notava que essa fé em Cristo só aparecia em segundo plano. Mas eu reagia de
forma condescendente: "Com o tempo, isso vai se acertar". Não se
acertou.
"Não é a fé
que confere um sentido sobrenatural ou divino à luta. É o inverso que ocorre:
esse sentido objetivo e intrínseco confere à fé sua força." Ainda acredita
nisso?
Eu abjuro essa
frase boba. Foi minha fase rahneriana. [O teólogo alemão] Karl Rahner estava
fascinado pelos avanços e valores do mundo moderno e, ao mesmo tempo, via que a
modernidade se secularizava cada vez mais.
Rahner não podia
aceitar a condenação de um mundo que amava e concebeu a teoria do
"cristianismo anônimo": qualquer pessoa que lute pela justiça já é um
cristão, mesmo sem acreditar explicitamente em Cristo. Os teólogos da libertação
costumam cultivar a mesma admiração ingênua pela modernidade.
O
"cristianismo anônimo" constituía uma ótima desculpa para, deixando
de lado Cristo, a oração, os sacramentos e a missão, se dedicar à transformação
das estruturas sociais. Com o tempo, vi que ele é insustentável por não ter
bases suficientes no Evangelho, na grande tradição e no magistério da igreja.
Quando o sr.
rompeu com o pensamento de Rahner?
Nos anos 70, o
cardeal d. Eugênio Sales retirou minha licença para lecionar teologia na PUC do
Rio. O teólogo que assessorava o cardeal, d. Karl Joseph Romer, veio conversar
comigo: "Clodovis, acho que nisso você está equivocado. Não basta fazer o
bem para ser cristão. A confissão da fé é essencial". Ele estava certo.
Assumi postura
mais crítica e vi que, com o rahnerismo, a igreja se tornava absolutamente
irrelevante. E não só ela: o próprio Cristo. Deus não precisaria se revelar em
Jesus se quisesse simplesmente salvar o homem pela ética e pelo compromisso
social.
Bento 16
sepultou os avanços do Concílio Vaticano 2º?
Quem afirma isso
acredita que o Concílio Vaticano 2º criou uma nova igreja e rompeu com 2.000
anos de cristianismo. É um equívoco. O papa João 23 foi bem claro ao afirmar
que o objetivo era, preservando a substância da fé, reapresentá-la sob
roupagens mais oportunas para o homem contemporâneo.
Bento 16
garantiu a fidelidade ao concílio. Ao mesmo tempo, combateu tentativas de
secularizar a igreja, porque uma igreja secularizada é irrelevante para a
história e para os homens. Torna-se mais um partido, uma ONG.
Mas e a
reabilitação da missa em latim? E a tentativa de reabilitação dos
tradicionalistas que rejeitaram o Vaticano 2º?
Não podemos
esquecer que a condição imposta aos tradicionalistas era exatamente que
aceitassem o Vaticano 2º. O catolicismo é, por natureza, inclusivo. Há espaço
para quem gosta de latim, para quem não gosta, para todas as tendências
políticas e sociais, desde que não se contraponham à fé da igreja.
Quem se opõe a
essa abertura manifesta um espírito anticatólico. Vários grupos considerados
progressistas caíram nesse sectarismo.
Esses grupos não
foram exceção. Bento 16 sofreu dura oposição em todo o pontificado.
A maioria das
críticas internas a ele partiu de setores da igreja que se deixaram colonizar
pelo espírito da modernidade hegemônica e que não admitem mais a centralidade
de Deus na vida. Erigem a opinião pessoal como critério último de verdade e
gostariam de decidir os artigos da fé na base do plebiscito.
Tais críticas só
expressam a penetração do secularismo moderno nos espaços institucionais da
igreja.
[...].
Como vê o futuro da igreja?
A modernidade
não tem mais nada a dizer ao homem pós-moderno. Quais as ideologias que movem o
mundo? Marxismo? Socialismo? Liberalismo? Neoliberalismo? Todas perderam
credibilidade. Quem tem algo a dizer? As religiões e, sobretudo no Ocidente, a
Igreja Católica.
***
Referências.
[1].
Folha de São Paulo, 11 de Março de 2013. “Irmão de Leonardo Boff defende Bento
XVI e critica Teologia da Libertação” [http://www1.folha.uol.com.br/mundo/1244071-essencia-da-teologia-da-libertacao-foi-defendida-pelo-papa-diz-irmao-de-leonardo-boff.shtml].
Leituras sugeridas.
BRAGA,
Bruno. “O engodo da libertação e o poder” [http://b-braga.blogspot.com.br/2012/10/o-engodo-da-libertacao-e-o-poder.html].
______.
“A corrupção da consciência” [http://b-braga.blogspot.com.br/2012/10/a-corrupcao-da-consciencia_21.html].
______.
“O parasita da terra” [http://b-braga.blogspot.com.br/2012/10/o-parasita-da-terra.html].
______.
“Gato escondido com o rabo de fora” [http://b-braga.blogspot.com.br/2012/10/gato-escondido-com-o-rabo-de-fora.html].
______.
“Leonardo BofFETADA” [http://b-braga.blogspot.com.br/2012/10/leonardo-boffetada.html].
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